sábado, agosto 30, 2008

Oposição da Inguchétia admite exigir saída desta república caucasiana da Federação da Rússia




A oposição da Inguchétia estuda a possibilidade de lançar um apelo à opinião pública com o pedido de “separar” a república da Rússia, declarou Magomed Khazbiev, dirigente do Comité da Manifestação Nacional de Protesto, principal força política que contesta a política do Presidente inguche, Murat Ziazikov.
“Precisamos de pedir à Europa ou América para que nos separem da Rússia. Se não somos desejados nesse país, não sabemos o que fazer mais”, declarou Khazbiev aos microfones da Rádio Eco de Moscovo.
“É necessário travar o genocídio do povo inguche realizado pelo Kremlin”, acrescentou.
Magomed Khazbiev anunciou que a oposição inguche irá discutir, numa reunião especial, que acções empreender depois do assassinato de Magomed Evloev, dono do jornal electrónico Ingushetiya.ru, pela polícia da Inguchétia.
Evloev, foi assassinado, no domingo, com um tiro na cabeça depois de ter sido detido pela polícia no aeroporto de Margas, capital da Inguchétia.
Khazbiev declarou que algumas centenas de pessoas se juntaram para sepultar Evloev, que foi a enterrar antes do pôr do Sol do dia em que faleceu, cumprindo assim a tradição islâmica.
“Na véspera do assassinato do dono do sítio Ingushetiya. Ru, Magomed Evloev, o parlamento popular da Inguchétia (órgão de poder paralelo criado pela oposição ao Presidente Ziazikov) tinha aprovado, na véspera, uma declaração sobre a saída da Inguchétia da Rússia, no sítio foi publicada, na véspera à noite, essa infornação, mas hoje de manhã foi destruída”, escreve o diário electrónico Caucasus Times.
O assassinato de Evloev pode desestabilizar ainda mais a situação na Inguchétia, onde actua uma forte guerrilha independentista, muito activa.




A Inguchétia está situada no Cáucaso do Norte e faz fronteira com a Geórgia, Tchetchénia e Ossétia do Norte.

Cinco princípios da política externa do Kremlin


O Presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, revelou os “cinco princípios” em que se irá basear a sua política externa.
Numa entrevista transmitida por três canais televisivos russos, o Presidente Medvedev enunciou, pela primeira vez depois do reconhecimento da independência da Abkházia e da Ossétia do Sul, os cinco princípios da política russa no campo internacional.
”Antes de tudo, a Rússia reconhece a primacia dos princípios fundamentais do Direito Internacional que definem as relações entre os povos civilizados”, começou Dmitri Medvedev.
“Segundo, continua o Presidente russo, o mundo deve ser multipolar. A unipolaridade é inaceitável”.
“A Rússia jamais aceitará uma organização do mundo em que todas as decisões sejam tomadas apenas pelos Estados Unidos. Semelhante mundo só provocará conflitos”, explicou o dirigente russo.
“Terceiro, a Rússia não quer confronto com nenhum país. A Rússia não tenciona isolar-se. Nós iremos desenvolver, até onde for possível, as nossas relações de amizade com a Europa, os EUA e outros países do mundo”, acrescentou.
“Quarto, a defesa da vida e da dignidade dos cidadãos russos, estejam onde estiverem, é uma prioridade incondicional da nossa política externa”, declarou Medvedev.
“O quinto princípio são os interesses da Rússia nas regiões amigas”, juntou.

Por "regiões amigas", o Kremlin tem em vista os países da Comunidade de Estados Independentes.
Dmitri Medvedev ameaçou que “a Rússia, em caso de necessidade, está pronta a aprovar leis sobre sanções contra outros Estados, mas isso não é produtivo”.

Assassinato com consequências imprevisíveis para o Cáucaso


Magomed Evloev, proprietário do jornal electrónico independente Inguchétia.ru, foi assassinado depois de ter sido detido pela polícia no aeroporto de Margas, Inguchétia, noticiou a rádio Eco de Moscovo citando fontes da redacção do jornal.

Segundo a Eco de Moscovo, Evloev, um dos mais fortes e influentes adversários de Murat Ziazikov, Presidente da Inguchétia, república caucasiana da Federação da Rússia, voou no mesmo avião do dirigente inguche e foi detido após o aparelho ter aterrado no aeroporto de Margas, capital dessa república.

“Murat Ziazikov foi recebido pela sua comitiva e, depois, um grupo dirigido pelo ministro do Interior da Inguchétia, deteve Evloev quando este descia as escadas do avião”, relatou a fonte da Eco de Moscovo.

Segundo essa fonte, “foram feitos disparos de aviso na direcção das pernas”.

A agência Ria-Novosti informou que Evloev foi transportado em estado grave para um dos hospitais da capital inguche, mas os médicos nada puderam fazer.

Segundo essa agência, uma das balas disparadas atingiu-o na cabeça.

Evloev era um dos adversários políticos mais fortes do presidente da Inguchétia, Murat Ziazikov, antigo general dos serviços secretos soviéticos e russos.

O sítio electrónico Inguchétia.ru era praticamente o único órgão de informação independente dessa república vizinha da Tchetchénia e acusava Ziazikov de “estar por detrás do rapto e desaparecimento de adversários políticos” e de “estar a empurrar a Inguchétia para a guerra civil”.

O Tribunal da Cidade de Moscovo ordenou o encerramento do jornal electrónico, acusando-o de “publicar matérias de cariz extremista”.

A redactora-chefe, Rosa Malsagova, viu-se obrigada a fugir da Rússia e a pedir refúgio político em França.

O assassinato de Evloev pode desestabilizar ainda mais a situação na Inguchétia, onde actua uma forte guerrilha independentista, muito activa nos últimos meses.

Pouca gente se recordou de Anna Politkovskaia


Texto escrito para a Agência Lusa

Cerca de 150 pessoas manifestaram-se no Sábado no centro da capital russa a fim de assinalar o 50º aniversário de Anna Politkovskaia, conhecida jornalistas assassinada em condições não esclarecidas.
A manifestação, convocada por organizações de defesa dos direitos humanos, realizou-se na Triunfalnaia Plochad (Praça do Triunfo), junto do monumento ao conhecido poeta soviético Vladimir Maiakovski. Entre os políticos conhecidos estavam Garri Kasparov, antigo campeão do mundo de xadrez e actual adversário da política do Kremlin, e Lev Ponomariov, dirigente do movimento “Pelos Direitos Humanos”.
Junto de um dos numerosos retratos de Anna Politkovskaia, jornalista assassinada, a 07 de Outubro de 2006, por publicar artigos sobre os crimes das tropas russas na Tchetchénia, os manifestantes acenderam velas e depositaram flores. Nos rostos de alguns manifestantes corriam lágrimas.
“No dia 30 de Agosto, Anna Politkovskaia faria 50 anos. Queremos recordar que ela foi uma excelente jornalista e desempenhou um papel substancial na vida social do país. Exigimos que se faça justiça e os culpados sejam condenados”, frisou Lev Ponomariov.
“É muito triste constatar que só tão poucas pessoas saiem à rua na Rússia para recordar uma jornalista tão destemida como Anna Politkovskaia. Isto é mais um sinal de que a nossa sociedade está enferma”, declarou Mikhail, estudante russo, à agência Lusa.
Após o comício, algumas dezenas de pessoas dirigiram-se para a Rua Lesnaia, onde residia Anna Politkovskaia. À porta viam-se cartazes da jornalista, flores e velas.
Um representante da Procuradoria Geral da Rússia revelou à Interfax de que está para breve o início do julgamento dos suspeitos desse crime.
Três cidadãos russos de origem tchetchena: Serguei Khadjikurbanov, Djabrail e Ibraguim Makhmudov, vão sentar-se no banco dos réus.
“É ainda muito cedo pôr um ponto final neste caso. A investigação do caso foi feita em 15-20 por cento. Algumas personagens ou fugiram, ou encontram-se em local desconhecido”, declarou Serguei Sokolov, vice-director da bissemanário Novaia Gazeta, onde a jornalista trabalhava.
Além disso, Sokolov defende que o julgamento deve ser feito à porta aberta”.
P.S. Não posso deixar uma nota de indignação pelo facto de tão poucas pessoas terem participado na manifestação acima descrita. Como é que poderão ser bem informadas se aceitam de ânimo leve o assassinato de uma jornalista de investigação de alta qualidade.

Danny, o português que se transformou em herói nacional da Rússia


Artigo escrito para Agência Lusa


Poucos eram aqueles que na Rússia acreditavam que o Zenit de São Petersburgo pudesse derrotar o Manchester United na Super Taça da UEFA ou que o português Danny jogasse de forma tão brilhante poucos dias depois de se ter transferido do Dínamo de Moscovo.
“O tempo e o local para a estreia do mais caro futebolista do campeonato da Rússia parecem ter sido feitos por encomenda”, escreve hoje o diário desportivo russo Sport-Express.
“Danny, que a equipa de São Petersburgo adquiriu esta semana depois de pagar a importância recorde de 30 milhões de euros, vestiu pela primeira vez a camisola do Zenit no jogo da Super Taça da UEFA. E esse encontro, precisamente frente ao Mancherter United, devia dar a primeira resposta aproximada à pergunta de como Advocat tenciona integrar o português nos esquemas táxticos da equipa”, acrescenta.
O diário electrónico rbc.ru, escreve a propósito: “O jogo provocou um interesse acrescentado devido ao facto de se estrear Danny...”
“ Não foi curioso assistir ao jogo do português que agora já vale 30 milhões?”, pergunta o diário
“No 59º minuto, Danny mostrou e provou a tudo e todos porque é que pagaram 30 milhões por ele... O português assinalou a sua estrondosa transferência com um remate que fez o 2:0”, sublinha o jornal desportivo electrónico Sport.ru.
A euforia face ao jogo do jogador português está também patente nos comentários escritos nos sítios desportivos russos.
“Felicito pela vitória! Queria um jogo bonito, mas recebi muito mais. Será que ainda temos receio de alguém?.. Danny, ai grande Danny. Continua assim. Felicidades para todo o Zenit”, escreve o leitor Shurik_1982 no sítio do Sport.ru.
O diário electrónico Newsru.com chama a atenção para o facto de Dmitri Medvedev ter telefonado ao treinador holandêx Dick Advocat para felicitar os jogadores do Zenit pela vitória.
Quando o Zenit venceu a Taça da UEFA, a Câmara de São Petersburgo agraciou o treinador com o título de Cidadão Honorífico da cidade, tendo sido o primeiro estrangeiro a merecer esse título.
Depos da vitória no Mónaco, o canal desportivo Sport não excluiu a possibilidade de esse título ser atribuído a outros jogadores estrangeiros do Zenit: Danny (Portugal), Timachuk (Ucrânia), Dominguez (Argentina)...
Essa decisão poderá ser anunciada hoje, quando a equipa do Zenit for recebida por Valentina Matvienko, presidente da Câmara de São Petersburgo.
É de assinalar também que São Petersburgo é a terra natal da parte mais influente da actual élite política russa: Dmitri Medvedev, Vladimir Putin...
Os telespectadores mais atentos notaram que Danny porta ainda no braço direito a tatuagem do emblema do Dínamo de Moscovo.
“Será que ele a vai mandar apagar e substituir pelo emblema do Zenit? Ou será que vai desenhar noutro lugar o emblema do novo clube?”, pergunta, Beniamin Kuznetsov, jornalista desportivo russo, talvez na esperança de que algum colega português consiga obter de Danny resposta a essa pergunta.

P.S. Apenas uma proposta para a Ilha Madeira: se quiserem que o número de turistas russos aumente seriamente, façam uma campanha publicitária com o Danny Miguel na Rússia. Vão ver que os resultados serão surpreendentes, principalmente entre os habitantes de São Petersburgo.

Claro que, para isso, é preciso também aumentar as ligações aéreas directas entre estas paragens e Portugal. E, não se esqueçam, "trabalhem o ferro enquanto está quente!".

Reflexões nas vésperas da Cimeira da UE sobre a Rússia


Caros leitores, estou farto, mas farto até aos cabelos, de escrever sobre a guerra entre a Rússia e a Geórgia. E, como se costuma dizer na nossa terra, "a procissão, infelizmente, ainda só vai no adro". Por isso, só resta uma coisa: "aguentar a vaga de mar" e continuar.
Não alimento grandes expectivas a respeito dos resultados da Cimeira da União Europeia sobre a Rússia, que se irá realizar na segunda-feira, porque há todas as razões para pensar assim.
A UE está profundamente dividida nas medidas a tomar. Se a Velha Europa não quer levantar a espada das sanções, os países da Nova Europa (antigos satélites da União Soviética) , apoiados pelos Estados Unidos, estão dispostos a “dar uma lição à Rússia”.
(Uma nota a este propósito. Talvez porque sejam mais dinâmicos e desenrascados (o socialismo a isso obrigava), os cidadãos dos países da Nova Europa rapidamente ocuparam cargos importantes não só na UE, mas também noutras organizações europeias como a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, Parlamento Europeu, etc.
Nada tenho contra a entrada de sangue novo na Europa, pelo contrário, mas gostaria de chamar a atenção para o facto de, no campo das relações com a Rússia, esses cidadãos, muitas das vezes, não tomam decisões com a razão, mas com o coração. Isto é extremamente perigoso, porque muitos deles se regem pelo ódio cego em relação aos russos (sentimento igualmente existente entre os russos em relação a eles). Ora, o ódio não é bom conselheiro.
Tive a oportunidade de assistir a esse duelo durante a revolução laranja de 2004 na Ucrânia, quando este país se tornou num palco de combate (felizmente, dessa vez, as armas ficaram caladas) entre o Ocidente e a Rússia.)
Seria bom que, desta vez, o bom senso e a frieza vençam entre os membros da UE e não enveredam pela via das sanções económicas, o que contistuiria um erro diplomático grave.
Penso que Bruxelas também não se decidirá pelas sanções, porque as economias europeias se encontram em crise e a maioria dos europeus não parecem muito dispostos a sacrificar o seu bem-estar.
Além disso, o receio de que Moscovo possa recorrer ao corte dos fornecimentos de gás e petróleo à Europa “gela” o poder de decisão de alguns dirigentes europeus.
O facto de no interior da UE existirem fortes divergências forte à proclamação unilateral da independência do Kosovo irá dificultar seriamente a tomada de uma posição una e coerente face ao reconhecimento da Ossétia do Sul e da Abkházia pela Rússia.
Não obstante a UE tem de elaborar posições claras e firmes face ao conflito entre a Geórgia e a Rússia.
Bem ou mal, mas foi a UE, na pessoa do Presidente francês Nicolas Sarkozy, que conseguiu um acordo de cessar de fogo com Moscovo.
(Ainda não entendi porque é que Durão Barroso ou Javier Solana não apareceram, talvez tivessem achado por bem não interromper as férias. Afinal, não se trata uma guerra nuclear, mas de um conflito no Cáucaso).
Mas chega de ironia.
Além disso, Bruxelas tem que deixar um sinal claro que de que a UE depende tanto da Rússia, como esta esta depende da UE. A economia russa baseia-se e sobrevive quase exclusivamente à exportação de hidrocarbonetos. Por isso, se não os vender à Europa, não terá muitas alternativas.
Podem dizer-me que a China comprará tudo, mas não é bem assim. Além de não existirem ainda gaso- e oleodutos para transportar rapida e rentavelmente o petróleo até território chinês, o Império do Meio passará a necessitar de muito menos petróleo para a sua indústria se as economias da União Europeia e dos Estados Unidos se aprofundarem numa grave crise.
A Rússia importa da Europa grande parte do que consome, nomeadamente produtos de luxo. (Como irá viver a élite russa sem os luxos ocidentais?) Isto é tanto mais verdade se se tiver em conta uma frase de um incógnito oligarca russo: “Putin quer governar como Estaline, mas viver como Abramovitch”).
Excusado será dizer que Bruxelas tem de finalmente passar aos actos na procura de alternativas aos hidrocarbonetos russos, não só através da construção de novos tubos, mas também no investimento em energias alternativas.
Numa entrevista à televisão alemã ARD, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, declarou: “se os países europeus continuarem a realizar assim a sua política, então teremos de conversar com Washington sobre os assuntos europeus”.
É impossível não dar razão ao primeiro-ministro russo quando fala da fraqueza da Europa, mas também não posso deixar de assinalar que Vladimir Putin tenta, desse modo, ressuscitar um dos objectivos da política externa soviética: separar a Europa dos Estados Unidos.

segunda-feira, agosto 25, 2008

Sanções económicas russas começam pelas "coxas de Bush"


A exclusão de 19 empresas norte-americanas da lista de empresas autorizadas a exportar carne de frango para a Rússia terá lugar no dia 01 de Setembro, lê-se num comunicado do Controlo Agrícola da Rússia hoje publicado.
Essa decisão foi anunciada ontem por Vladimir Putin, primeiro-ministro russo, numa entrevista ao canal televisivo CNN.
Putin sublinhou que essa decisão não está ligada à posição dos Estados Unidos face ao conflito entre a Geórgia e a Rússia, mas ao não cumprimento das normas sanitárias e veterinárias por parte das empresas norte-americanas.
O primeiro-ministro russo acrescentou que nessa lista poderão ser incluídas mais 29 empresas norte-americanas se elas não tiverem em conta os avisos das autoridades sanitárias de Moscovo.
Segundo o Controlo Agrário da Rússia, “em Julho e Agosto foi realizada uma inspecção conjunta russo-americana em aviários, que constatou que, numa série de casos, não são plenamente cumpridas as exigências apresentasas aos fornecedores que trabalham no mercado russo”.
Serguei Lissovski, vice-presidente do Comité Agrícola do Senado russo, considera que essa decisão de Moscovo não provocará o aumento de preços da carne de frango no mercado russo.
“Na Rússia há um excesso de carne da ordem das cerca de quatro mil toneladas e os importadores já tinham decidido, há um mês atrás, reduzir as compras em 180 mil toneladas”, declarou.
Além disso, o senador defende que a redução da importação irá “influir consideravelmente na qualidade no melhor sentido”.
“Na carne desses aviários, além de antibióticos e cloro, foi detectado arsénio, numa quantidade duas vezes superior ao nível autorizado na Rússia”, acrescentou.
Porém, Alexei Portanski, director do Bureau de Informação para a Adesão da Rússia à OMC, considera que a decisão do Governo russo pode provocar o aumento de preços da carne de frango no país.
“Por enquanto, não podemos satisfazer todos os níveis de preços. A Rússia produz frangos, de melhor qualidade que os importados, mas nem todos têm dinheiro para os comprar, falta carne de frango no segmento da carne barata”, explicou.
A carne de frango norte-americano começou a entrar na Rússia nos finais dos anos 80 na qualidade de ajuda humanitária. Como era vendida no mercado russo a baixo preço, gozava de tal procura entre as camadas mais desfavorecidas da população que foi baptizada de “coxas de Bush”, em honra de George Bush sénior, então Presidente dos Estados Unidos.Nos últimos anos, os produtores russos têm vindo a exigir a redução da importação de coxas norte-americanas, pois não conseguem concorrer ao nível de preços.
P.S. As pessoas que passaram por este país na fase final da URSS e anos 90 do séc. XX, sabem muito bem a importância fundamental que tiveram as "coxas de Bush" na alimentação dos mais necessitados. Era só descongelar, temperar e pôr a assar no forno. Sabia-se da sua qualidade duvidosa, tão baixo era o preço, mas não havia outro remédio em momentos de crise. Fui dos que as consumiu muitas vezes.

Moscovo fez aposta máxima e muito arriscada no conflito do Cáucaso


Moscovo decidiu jogar no tudo por tudo e chamou a si o papel de coveiro do sistema de relações internacionais esquisito e fortemente distorcido, que se formou vinte anos após o fim da guerra fria, considera Fiodor Lukianov, redactor-chefe da revista “Rússia na Política Global”.
Lukianov enumera as razões que poderão ter levado o Kremlin a fazer uma aposta tão alta e arriscada.
“Primeiro, a direcção russa, tal como a esmagadora maioria da sociedade russa, ficou claramente chocada com a envergadura e a unanimidade do apoio que Mikhail Saakachvili recebeu no Ocidente”, escreve.
“Esta atmosfera emocional e o sentimento de que é simplesmente inútil conversar com as capitais ocidentais, tornaram a posição de Moscovo ainda mais radical”, frisa ele.
“Segundo, continua Lukianov, tornou-e claro que não é possível (à Rússia) consolidar politicamente o que foi conseguido por via militar. As acções da Rússia não tiveram apoio no mundo”.
“Terceiro, o factor interno também teve a sua importância. Na atmosfera criada em torno desta guerra, era complicado fazer cedências diplomáticas e explicá-las à população (russa), mesmo tendo a televisão sob controlo”, escreve o analista.
Fiodor Lukianov considera que: “fica-se com a impressão de que a decisão de reconhecimento foi tomada para cortar a si próprio a via de recuo e, desse modo, tornar irreversível a situação na Abkházia e Ossétia do Sul”.
“Isto não mostra confiança em si, mas significa a prontidão de avançar para um grande risco. Claro que revogar a decisão tomada só poderá ser feito em condições de capitulação total e incondicional”, frisou.
“Seja como for, começou uma nova etapa. A Rússia virou decididamente de rumo, renunciando às tentativas de receber a legitimação externa dos seus passos e, em geral, de agir no quadro da lei. A aposta foi feita apenas nas próprias forças (não nos podemos apoiar em mais ninguém) e em que os os países vizinhos pensem bem quem é o verdadeiro “boss” nessa região”, continua.
O analista político considera que o Presidente Medvedev não tem “toda a razão” ao afirmar que a perspectiva de uma guerra fria não assusta o Kremlin, chamando a atenção para o facto de, na primeira guerra fria, a Rússia/URSS ser um país diferente: “bem mais forte do ponto de vista militar e político”.
Lukianov considera que “o Ocidente se adapta com dificuldade às realidades do séc. XXI: à mudança do ponteiro da balança político-económica internacional para o lado das potências emergentes do Terceiro Mundo. O sistema tornou-se muito mais multivectorial”.
“É evidente que isto também diz respeito à Rússia, tanto mais quando dispõe de um número limitado de instrumentos. Moscovo começou um jogo extremamente arriscado e com grandes apostas. Nesse jogo, tanto a vitória, como a derrota serão demolidoras”, concluiu.

Moscovo testou com êxito míssil intercontinental


O míssil balístico intercontinental “Topol”, equipado com meios especiais para superar um sistema de defesa antimíssil, foi hoje lançado do cosmódromo Plessetsk, no Noroeste da Rússia, e, depois de voar seis mil quilómetros, acertou no alvo instalado no polígono Kura, no Extremo Oriente russo, informam os militares russos.
“A ogiva experimental do míssil de alta precisão atingiu o alvo no polígono da Península da Kamtchatcka, demonstrando assim a capacidade de garantir a destruição de locais altamente defendidos”, declarou o coronel Alexandre Vovk, porta-voz das Tropas de Mísseis de Importância Estratégica da Rússia.
O lançamento do míssil Topol ocorreu às 14.36 horas de Moscovo (11.36 em Portugal Continental) e a ogiva do míssil estava equipada com meios especiais de superação de sistemas de defesa antimíssil, cujo funcionamento foi testado neste voto, informa a agência Interfax.
“As tarefas do lançamento executado foram a confirmação da estabilidade das características aero-técnicas do míssil que se encontra em serviço há 21 anos e o teste de uma componente de combate com perspectivas para mísseis balistícos instalados em terra”, explicou Vovk.
Segundo as primeiras reacções em Moscovo, trata-se de mais uma resposta da Rússia à assinatura de um acordo entre a Polónia e os EUA sobre a instalação de um sistema de defesa antimíssil em território polaco.
Esse documento foi assinado a 20 de Agosto, mas no dia 15, Dmitri Medvedev, Presidente da Rússia, declarou: “essa decisão mostra com absoluta clareza tudo o que viemos dizendo nos últimos tempos. A instalação de novas forças do sistema de defesa antimíssil dos EUA na Europa tem como o alvo a Federação da Rússia, e o momento foi bem escolhido”.

Organização de Cooperação de Xangai toma posição ambígua face à política russa no Cáucaso

A Organização de Cooperação de Xangai (OCX), cuja cimeira se realizou hoje em Duchambém, capital do Tadjiquistão, apoiou o papel de paz da Rússia, mas defendeu o princípio da inviolabilidade das fronteiras.
Numa declaração publicada depois da reunião, os dirigentes dos Estados membros da OCX apoiam “o papel activo da Rússia na contribuição para a paz e a cooperação nessa região (Cáucaso)”.
“Os Estados membros da OCX manifestam profunda preocupação face à tensão surgida recentemente na questão da Ossétia do Sul e apelam às partes do conflito a resolverem, através de um diálogo pacífico, os problemas existentes, a fazeram esforços para a reconciliação e o início de conversações”, lê-se no documento aprovado.
“Os Estados membros da OCX saudam os seis princípios de solução do conflito na Ossétia do Sul, aprovados a 12 de Agosto em Moscovo, e apoiam o papl activo da Rússia na contribuição para a paz e a cooperação nessa região”, consideram os dirigentes da Rússia, China, Cazaquestão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Quirguízia.
Por outro lado, no comunicado sublinha-se que os países da OCX consideram “inabalável a integridade territorial dos Estados e sem perspectivas a aposta na força como meio de solução dos conflitos locais”.
No documento não se aborda a questão do reconhecimento da independência da Ossétia do Sul e da Abkházia e nenhum dos países da OCX declarou individualmente o seu apoio à decisão de Moscovo.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Cazaquistão fez hoje saber que “não é tempo para se falar nisso”.
O Presidente russo, Dmitri Medvedev, agradeceu aos seus colegas “pela avaliação objectiva dos esforços de paz da Rússia”, sublinhando que uma posição solidária dos países da OCX terá “grande ressonância internacional e servirá de sinal sério para os que tentam apresentar o preto como branco e justificar a agressão realizada pela direcção georgiana”.

Cáucaso – o “tendão de Aquiles” da Rússia



Passada que está a “fase quente” do conflito entre a Rússia e a Geórgia, os olhares dos meios de comunicação e dos analistas russos voltam a virar-se para a situação nas repúblicas caucasianas da Federação da Rússia, onde em praticamente todas se observa conflitos “em lume brando”.
A parte russa do Cáucaso é constituída pelas repúblicas da Tchetchénia, Inguchétia, Daguestão, Ossétia do Norte, Karatchaevo-Tcherkessia, Cabardino-Balkária, Adigueia e Distrito de Krasnodar.
A situação é particularmente complexa na Inguchétia, onde, nos últimos dias, se registaram ataques de grupos armados contra militares e polícias da Rússia.
É cada vez maior a contestação contra o Presidente da Inguchétia, Murat Ziazikov, antigo general do KGB; continua por resolver o problema territorial entre esta república e a vizinha Ossétia do Norte.
Em 1944, quando o ditador José Estaline deportou o povo inguche para a Sibéria e o Cazaquestão, parte do território inguche (região de Prigorod) foi entregue à Ossétia do Norte. Nos anos 90 do século passado, aquando da desintegração da URSS, os inguches tentaram recuperar as suas terras, dando início a uma guerra contra os ossetes.
As tropas russas congelaram o conflito e parte da população inguche teve de abandonar a Ossétia, mas os inguches não perderam a esperança de recuperar o território perdido.
Segundo o bissemanário Novaya Gazeta, aquando da operação militar russa contra a Geórgia, cerca de 300 polícias inguches demitiram-se dos cargos para não serem enviados “em ajuda da Ossétia do Sul”.
Na Tchetchénia e no Daguestão, os dirigentes dessas repúblicas constatam o aumento do número de jovens que fogem para as montanhas a fim de engrossar as fileiras da guerrilha islâmica.
“Há informação de que 20 raparigas, com idades entre 15 e 20 anos, fugiram para os bosques na Tchetchénia... A fuga continua. Sabemos que vão para as montanhas”, reconheceu Sulim Iamadaev, comandante militar tchetcheno pró-russo.
Viatcheslav Chanchin, chefe do Serviço Federal de Segurança do Daguestão, admitiu que “as autoridades perdem a batalha ideológica contra os bandos clandestinos de wahhabitas”.
O analista militar Pavel Felguengauer admite que “as forças que estão contra a Rússia no Cáucaso poderão utilizar esse potencial”.
Porém, Vladimir Dolin, especialistas em assuntos do Cáucaso, defende que “Moscovo poderá, pelo menos por enquanto, virar esses grupos contra a Geórgia”.
Em declarações à Lusa, Dolin acrescenta que “é pouco provável que, nos tempos mais próximos, os grupos armados consigam criar grandes problemas a Moscovo no Cáucaso”.
“No caso da Tchetchénia, por exemplo, Ramzan Kadirov (Presidente tchetcheno pró-russo) controla a situação com mão de ferro”, continua ele.
Além disso, Vladimir Dolin duvida que os Estados Unidos ou a União Europeia venham a apoiar esses grupos armados, cuja ideologia é o fundamentalismo islâmico.

Cimeira da Organização de Cooperação de Xangai sob o signo da independência da Ossétia do Sul e Abkházia


Os dirigentes dos países membros da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) reúnem-se na quinta-feira em Duchambé, capital do Tadjiquistão, devendo a cimeira ficar marcada pela posição dessa organização face à decisão do Kremlin de reconhecer a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia.
“Os dirigentes dos países da OCX deverão anunciar uma posição sobre todas as questões que têm interesse comum: luta contra o terrorismo, adesão de novos membros e situação na Ossétia do Sul” – revelou Zin Han, representante da China nessa organização.
A Organização de Cooperação de Xangai reúne a Rússia, China, Kazaquistão, Quirguízia, Tadjiquistão e Uzbequistão. A Índia, Irão, Mongólia e Paquistão são observadores.
Em Moscovo espera-se com expectativa a posição da China face à decisão do Kremlin reconhecer a independência da Ossétia do Sul e Abkházia, regiões separatistas da Geórgia.
Segundo o diário Nezavissimaia Gazeta, “a Rússia insiste em introduzir uma série de alterações (no documento final). Nomeadamente, trata-se da inclusão no documento de um parágrafo sobre a elaboração de acções de segurança e de prevenção de conflitos... A China, que tem os seus próprios problemas territoriais, bloqueou os termos “genocídio” e “agressão da parte da Geórgia”, propostos pela Rússia”.
“A China ficou preocupada com a retórica dos dirigentes russos. Trata-se das considerações sobre o genocídio, “intervenção humanitária”, “mudança de regime na Geórgia”... Pequim não aceita isso porque é precisamente com linguagem semelhante que os EUA justificam a ingerência nos assuntos internos dos Estados soberanos”, escreve Fiodor Lukianov, redactor-chefe da revista “A Rússia no mundo global”.
Este analista não exclui a possibilidade de a China e os Estados Unidos puderem organizar uma aliança para travar a Rússia.
O general na reserva Leonid Ivachov, vice-director do Instituto de Estratégia da Rússia, vê na política dos EUA uma garantia da aliança entre Moscovo e Pequim.
Caso contrário, considera, “os americanos, apoiando-se na oligarquia financeira global, darão rapidamente cabo do Irão, controlarão os jazigos de gás e petróleo, chegarão ao Cáspio e à Ásia Central, à China, o seu principal concorrente num futuro próximo”.
Moscovo terá também dificuldade em conquistar o apoio dos países da Ásia Central.
O analista Alexandre Kniaziev considera que “o conflito georgiano-ossete traz para a Ásia Central o perigo de cisões internas”, sublinhando que os países dessa região “poderão começar o processo de revisão das fronteiras existentes”.
Adjar Kurtov, analista do Instituto de Estudos Estratégicos da Rússia, defende que o principal perigo não está na revisão possível de fronteiras, mas “na possível mudança de orientação política dos Estados da região, que têm experiência de cooperação com Washington.
A cimeira da OCX irá também analisar o pedido de adesão do Irão e Paquistão a essa organização.
O Nezavissimaia Gazeta prevê a consecução de um compromisso, que não faculta uma adesão plena, mas “os candidatos receberão um novo estatuto criado: parceiro de diálogo”.

Rússia isolada no campo internacional


Há mais de 24 horas que o Presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, reconheceu a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia, mas, até agora, ainda nenhum país apoiou esse passo do Kremlin.

Apenas o movimento terrorista palestiniano do Hamas e a direcção da Transdniestria, região separatista da Moldávia apoiada pela Rússia, apoiaram a independência dos dois territórios da Geórgia.

Até Cuba não se apressa a apoiar o Kremlin, tal como fez no início da campanha militar russa contra a Geórgia.

Dizem as más línguas em Moscovo que Havana teme pela própria integridade do seu país. Como é sabido, no território da base militar de Guantanamo, a maioria da população é de nacionalidade norte-americana. Por isso, os irmãos Castro receiam que ela proclame a independência e peça a adesão aos Estados Unidos da América.

O enclave tem todas as possibilidades de seguir o exemplo do Kosovo, Ossétia do Sul e da Abkházia.

Caros leitores, será isto mais um acesso de loucura? Sei lá, já vi tanta coisa neste mundo...

Nem tudo é guerra na Rússia, também há futebol...


Os adeptos do Dínamo de Moscovo, clube onde jogava o futebolista português Danny, pediram ao Tribunal de Contas da Rússia que investigue como é que o Zenit de São Peteraburgo conseguiu 30 milhões de euros para pagar a sua transferência.
Num apelo enviado a Serguei Stepachin, presidente do Tribunal de Contas e personalidade muito ligada ao Dínamo, lê-se: “Os adeptos do Dínamo receberam com tristeza e indignação as acções dos dirigentes do Zenit de São Petersburgo, os métodos não desportivos, desleais, que visam enfraquecer o nosso clube e levar para a sua equipa o jogador do Dínamo, Miguel Danny”.
As partes da transferência não esconderam que o Zenit pagou 30 milhões de euros pelo futebolista português, o que constitui a maior transferência na história do futebol russo.
Os adeptos do Dínamo consideram que o Zenit está a utilizar dinheiros públicos para adquirir Danny.
O clube de São Petersburgo é patrocinado pela companhia gasífera Gazprom, a maior empresa pública da Rússia e a quarta maior do mundo.
“Teoricamente, as acções do Zenit estão conforme a letra da lei. Mas não devemos esquecer-nos que o clube de São Petersburgo encontra-se em condições incomparavelmente mais vantajosas em relação aos outros clubes”, lê-se no apelo do clube de adeptos do Dínamo.
Segundo essa organização, “na situação criada, pedimo-lhe que dê início a uma investigação do Tribunal de Contas da Rússia e descobrir com que fundamento o clube Zenit gasta impunemente muitos milhões do orçamento da Gazprom, de facto, do Orçamento de Estado”.
Os adeptos querem saber como é que a direcção do clube pode gastar “o dinheiro ganho com a venda de matérias-primas que, em conformidade com a Constituição da Rússia, são património de todo o povo”.
A imprensa russa revela também perplexidade face a essa milionária transferência.
O diário Vremia Novostei escreve que não são claras as razões que levaram o Zenit a comprar Danny.
“Não se trata de Cristiano Ronaldo. Ele não joga mal no centro e no ataque, mas é instável. Quando se enerva, corre logo o risco de ver o cartão vermelho. Desconhece-se a forma como irá jogar na Liga dos Campeões... pois não tem experiência de jogos de nível internacional sério”, escreve o jornal.
“Só o Zenit pode pagar semelhante quantia por Danny, pois é apoiado pela Gazprom”, declarou ao diário Vedomosti Maksim Belitski, agente desportivo do Brand Action Group.
Mas toda esta discussão parece não preocupar o futebolista português.
“Isso só mostra que as minhas qualidades são reconhecidas. É lógico que o Dínamo tenha pedido essa importância pela minha saída, porque ele investiu muito dinheiro no meu desenvolvimento”, declarou ele ao diário Kommersant.

Decisão do Kremlin de reconhecer independência da Ossétia do Sul e Abkházia provoca divergências na Rússia

Artigo escrito para Lusa

A decisão do Kremlin de reconhecer a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia está a ser recebida de forma diferente no interior da própria Rússia, embora a maioria dos comentários sejam favoráveis à decisão do Presidente Medvedev.
“Depois do reconhecimento da independência da Abkházia e Ossétia do Sul, o respeito pela Rússia aumentará incomparavelmente”, declarou à Lusa Alexei Ostrovski, dirigente do Comité da Duma (câmara baixa) do Parlamento russo para as Relações com os Países da CEI.
“Todos os Estados compreenderam que a Rússia pode e irá defender os seus cidadãos, embora parte da comunidade internacional, hipnotizada pelos médias ocidentais, não irá compreender a nossa decisão, muitos habitantes do planeta não irão sentir amor pelo nosso país”, acrescentou.
“A posição de todos os ramos do poder na Rússia está mais consolidada do que nunca”, concluiu.
Gleb Pavlovski, politólogo pró-Kremlin, declarou que o reconhecimento permite criar um sistema novo, mais firme de segurança no Cúcaso.
“Esse passo foi para a Rússia uma medida inevitável. Isto não é de forma alguma uma demonstração da nossa força e uma pretensão ao território da Geórgia, que não discutimos e não pomos em causa. A Rússia simplesmente esgotou todas as possibilidades de outro modelo de regularização”, explicou o analista político à Lusa.
“O reconhecimento da independência da Ossétia do Sul e da Abkházia pela direcção russa põe em dúvida a integridade territorial da Rússia”, considera Ussam Baissaev, membro da Memorial, organização de defesa dos direitos humanos.
“O que aconteceu hoje dá bases políticas, jurídicas para, no futuro, a República da Tchetchénia exigir a independência”, acrescentou.
Segundo Baissaev, de origem tchetchena, “esta decisão de Medvedev era esperada pela maioria dos habitantes da Tchetchénia. Se a Ossétia do Sul e a Abkházia têm direito à autodeterminação, os tchetchenos também têm”.
“Eu apoio decididamente o documento hoje assinado pelo Presidente da Rússia. Estou convencido que se trata de uma decisão completamente sábia e correcta”, considera Ramzan Kadirov, presidente pró-russo da Tchetchénia.

Rússia “enterra” princípio da inviolabilidade das fronteiras


O reconhecimento pela Rússia da independência da Abkházia e Ossétia do Sul “acelerará fortemente os processos de revisão da geografia política”, declarou Nikolai Zlovin, director do Instituto de Segurança Mundial.
“A Rússia, que era o mais forte adepto da renúncia à revisão das fronteiras políticas, enterrou essa política. E, agora, ser-lhe-á muito difícil regressar a essas posições”, sublinhou.
Quanto à posição do Ocidente face ao passo do Kremlin de reconhecer a independência da Abkházia e Ossétia do Sul, ele afirmou: “Por um lado, irão haver emoções, acusações de desrespeito pelo Direito Internacional. Mas, por outro lado, muitos respirarão de alívio, porque essa decisão liberta os braços dos que pretendem rever muitas das realidades do mundo actual”.
Os analistas consideram que o número de países que irão apoiar a Rússia será muito menor do que aqueles que apoiaram a independência unilateral do Kosovo.
À excepção da Bielorrússia, e só depois de fortes pressões de Moscovo, nenhum país da Comunidade dos Estados Independentes apoiou a intervenção militar russa na Geórgia e nenhum terá pressa em reconhecer a independência da Ossétia do Sul e Abkházia.
“Praticamente todos os países da CEI têm problemas territoriais, de separatismo e, por isso, não se apressam a apoiar Moscovo”, declarou à Lusa uma fonte diplomática na capital russa.
“Além disso, acrecenta a fonte, praticamente todos os países do antigo espaço soviético receiam o reforço exagerado da Rússia, porque, depois da Geórgia, poderá vir a Ucrânia, países do Báltico e todos os que ousarem opor-se ao Kremlin”.
Anatoli Adamich, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, acrescenta que a decisão do Kremlim irá também desagradar a China, “porque para ela a integridade territorial é um problema”, e terá problemas com a Sérvia.“Consideramos sempre que o Kosovo é um erro crasso de Washington e seus aliados, e evocamos o cenário kosovar”, precisa.
Leonid Slutski, vice-chefe do Comité para Relações Internacionais da Duma Estatal (câmara baixa) do Parlamento russo, revelou-se mais optimista, prevendo que a decisão do Kremlin “terá, no mínimo, o apoio de Cuba, Venezuela, Bielorrússia, Irão, Síria e Turquia”.

Rússia não receia guerra fria


Dedico este post a todos aqueles que acreditavam que Dmitri Medvedev seria um Presidente mais "flexível" do que Vladimir Putin


A Rússia não se assusta com a perspectiva de uma nova guerra fria, declarou Dmitri Medvedev, Presidente da Rússia, ao canal televisivo russo em língua inglesa “Russian Today”.
“O Ocidente deve compreender as razões que levaram Moscovo a reconhecer a independência da Abkházia e Ossétia do Sul”, acrescentou.
“Nesta situação, tudo depende da posição dos nossos parceiros no campo internacional. Se eles quiserem conservar boas relações com a Rússia, eles compreenderão a nossa decisão e a situação será calma”, declarou Medvedev.
“Se eles optarem pelo cenário do confronto, então que fazer? Já vivemos em condições diversas, viveremos também nessa”, frisou.
Medvedev considera que este problema não deverá influir nas eleições presidenciais norte-americanas.
“Durante as eleições nos Estados Unidos, os eleitores olham de forma indiferente para os acontecimentos no estrangeiro. SE algum dos candidatos conseguir utilizar esta questão, como se costuma dizer, Deus o ajude”, acrescentou.
“O principal é que isso não provoque tensão internacional”, sublinhou.

História da Humanidade entra numa nova fase

Tal como previa ontem, a Rússia deu hoje um passo que tem consequências gigantescas para o Direito Internacional e o futuro da Humanidade. Se o reconhecimento da independência do Kosovo foi uma machada no sistema de relações internacionais na Europa e no mundo, a decisão do Kremlin de reconher a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia enterrou-o definitivamente.
O desenvolvimento dos acontecimentos irá mostrar quem tem razão, mas cheira-me a que a Rússia cometeu um "erro de palmatória" no plano interno e externo.
Moscovo começou por afirmar que respeita a integridade da Geórgia, mas o resultado está à vista. Agora, o Kremlin promete não anexar a Ossétia do Sul e da Abkházia, mas todos sabem que é mentira.

Será que Medvedev vai dar ouvidos aos deputados?

A Duma Estatal da Rússia, câmara baixa do Parlamento, aprovou hoje, por unanimidade, um apelo ao Presidente do país para que reconheça a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia.
Algumas horas antes, o Conselho da Federação da Rússia, câmara alta do Parlamento, aprovou um apelo no mesmo sentido.
Além disso, os deputados da Duma aprovaram também um “apelo aos parlamentos dos Estados-membros da ONU e às organizações parlamentares internacionais” para apoiar o reconhecimento da independência da Ossétia do Sul e da Abkházia.
“A actual escalada do conflito é... o resultado trágico de um confronto de muito séculos entre os povos que vivem na região (Cáucaso), que os dirigentes da Geórgia, nem os passados, nem os actuais, não souberam superar”, lê-se no apelo.
As autoridades georgianas já vieram declarar que essas decisões “não podem ter quaisquer consequências jurídicas para a Geórgia”.
Kakha Lomaia, secretário do Conselho de Segurança da Geórgia, afirmou, aos microfones da rádio Eco de Moscovo, que o reconhecimento da independência da Ossétia do Sul e Abkházia “poderá ter consequências pesadíssimas para a própria Rússia”.
“Desse modo, a Rússia isola-se ainda mais da comunidade internacional, viola grosseiramente o acordo assinado por Medvedev e Saakachvili, tendo como intermediário o Presidente de França, e instala uma mina de acção retardada para as as suas autonomias”, frisou.
Os analistas políticos divergem quanto às consequências deste passo.
“A Rússia deve reconhecer a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia para assinar com elas acordos jurídicos internacionais válidos sobre a permanência das nossas tropas nesses territórios”, defende Gleb Pavlovski, analista pró-Kremlin.
“Agora é necessário decidir uma tarefa prática: como garantir a segurança da Rússia, da Abkházia e da Ossétia do Sul no Cácaso? O único instrumento são as forças armadas e isto predeterminará tudo”, acrescenta.
Alexei Malachenko, analista do Centro Carnagie de Moscovo, defende, pelo contrário, que o Kremlin deverá “deixar isso (reconhecimento da independência) como instrumento político”.
“Penso que a situação não se manterá tão nervosa e aguda... Mais tarde ou mais cedo, vamos voltar ao problema da independência e, então, Moscovo terá no bolso mais um trunfo”, declarou.“Se se utilizar agora esse trunfo, restará apenas o vazio”, concluiu

quinta-feira, agosto 21, 2008

Rússia não receia corte de relações com NATO

25/08/2008
Dmitri Medvedev, Presidente da Rússia, considera que a cooperação entre o seu país e a NATO é mais importante para aliança do que para a Rússia.
“E se eles (NATO) forem até à ruptura total das relações, isso nada trará de terrível para a Rússia”, declarou Medvedev, num encontro com Dmitri Rogozin, representante de Moscovo junto da Aliança Atlântica.
“Nos últimos tempos, depois do conflito armado na Ossétia do Sul, desencadeado pela agressão da Geórgia, as nossas relações com a Aliança Atlântica complicaram-se. Teve lugar uma deterioração grave das nossas relações, mas não somos os culpados”, acrescentou.
Rogozin entregou a Medvedev uma série de propostas sobre as mudanças a fazer na cooperação com a NATO, tendo em conta a agudização das relações devido às acções militares russas na Ossétia do Sul.
“Estou pronto para informar sobre o estado das coisas, sobre as mudanças do volume e da qualidade da cooperação”, declarou Rogozin.
As declarações duras de Medvedev coincidem com a acusação do Kremlin de que a NATO concentra no Mar Negro uma força ofensiva.
“Os navios da NATO que entraram no Mar Negro estão equipados com mais de cem mísseis de cruzeiro “Tomagavk”, bem como com mísseis do tipo “Harpun”, informa a agência Ria-Novosti, citando fonte da espionagem militar russa.
“A bordo do navio americano “Macfaal”, que se encontra actualmente no porto georgiano de Batumi, estão cerca de 50 mísseis de cruzeiro “Tomagavk”. Estes podem transportar ogivas nucleares que podem atingir alvos terrestres”, explicou a fonte.
“Os restantes navios da NATO no Mar Negro têm 64 mísseis anti-barco do tipo “Harpun” e cerca de oito helicópteros de diferente tipo”, continua.
“No fundo, a NATO está a formar no Mar Negro um grupo de choque de navios”, concluiu a fonte da Ria-Novosti.
A Aliança Atlântica afirma que esses navios transportam ajuda humanitária para a Geórgia.

Reconhecimento da independência está por horas ou dias

25/08/2008
Pelas conversas que tenho tido em Moscovo e pelo que ouço na rádio e televisão russos, o Kremlin deverá reconhecer a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia nas próximas horas ou dias.
Se assim for, entramos numa nova fase do conflito. E se algum país ou Governo se lembrar de reconhecer "o Governo da Tchetchénia no exílio". O ministro dos Negócios Estrangeiros da Tchetchénia-Itchekéria, Ahmed Zakaev, encontra-se em Londres.
A continuar assim, temos garantida uma nova "Crise das Caraíbas", também conhecida por "Crise dos Mísseis".

Precipitação do Kremlin pode ter consequências catastróficas

25/08/2008

A Rússia tem o direito moral total de reconhecer a independência da Abkházia e da Ossétia do Sul, mas este passo terá consequências catastróficas para Moscovo, considera Anatoli Adamichin.
“Os dias passados mostraram que a Rússia não deixou dúvidas que responderá de forma extremamente dura a qualquer atentado aos seus interreses. Os militaristas georgianos receberam uma lição pesada. O mundo reagiu de forma diferente a ela, mas ela foi compreendida por todos”, escreve o antigo vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia no diário electrónico Gazeta.ru.
Defendendo que a Rússia tem todo o direito de apoiar a Ossétia do Sul e da Abkházia, chama a atenção para que “do ponto de vista do Direito Internacional (DI),isso é mais complicado, porque ele apresenta dois princípios: integridade territorial e direito dos povos à autodeterminação, não dando prioridade a nenhum”.
Segundo ele, “os Estados Unidos e outros países ocidentais, sozinhos ou nas fileiras da NATO, violaram tanta vezes o DI que este se dividiu em dois: o direito dos compêndios e da Carta da ONU e as regras de comportamento que são estabelecidos para os países da NATO (mas não para os outros) pelos próprios”.
“No presente caso, a Rússia jogou segundo as regras ocidentais, adaptando o DI às suas acções”, considera.
O diplomata russo defende que, não obstante o direito moral e “as novas regras internacionais”, a Rússia não deve reconhecer a Ossétia do Sul e a Abkházia “quando tem lugar uma polémica agudíssima entre a Rússia e o Ocidente... próxima do confronto aberto ”.
Anatoli Adamichin frisa que a precipitação da Rússia terá consequências pesadas para o país.
“Provocaremos um trauma sério nos georgianos simples... As pessoas podem estar descontentes com o seu Governo, mas ficam do lado dos seus dirigentes se uma potência estrangeira se ingere nos assuntos do país”, enumera ele.
“A nossa decisão, continua, não agrada a muitos na Comunidade dos Estados Independentes e, antes tudo, agudizará as relações com a Ucrânia”.
A decisão de Moscovo poderá também aumentar a campanha anti-russa nos EUA e contribuir para a vitória do republicano MacCain sobre o democrata Obama.
“A agudização joga sempre a favor dos “facões republicanos””, sublinha.
“Não se pode desprezar também a reacção da União Europeia, o nosso principal parceiro económico no Ocidente. Numa situação de “cabeça contra cabeça”, é difícil esperar que a UE vai neutralizar as surpresas americanas”, acrescenta.
Adamichin prevê que o Kremlin irá desagradar a China, “porque para ela a integridade territorial é um problema”, e terá problemas com a Sérvia.
“Consideramos sempre que o Kosovo é um erro crasso de Washington e seus aliados, e vamos seguir o cenário kosovar”, precisa.
“Por fim, considera, a nossa decisão precipitada de reconhecer a Ossétia do Sul e da Abkházia pode provocar uma onda de separtismo e terrorismo no Cáucaso”.
“Resumindo, não vale a pena forçar os acontecimentos”, conclui o diplomata russo.
P.S. Apenas quero recordar que Anatoli Adamich, no final dos anos 80 e início dos anos 90, desenvolveu um grande trabalho no processo de busca de paz em Angola.

Ucranianos festejam dia da independência com grande parada militar


24/08/2008


A Ucrânia celebrou hoje o Dia da Independência com a mais poderosa parada militar da sua história em Kiev. Milhares de soldados, dezenas de tanques e aviões voltaram à Praça da Independência, depois de um intervalo de sete anos.
Antes da parada, Victor Iuschenko, Presidente da Ucrânia, discursou para defender a acelaração do processo do seu país à NATO.
“Nós devemos acelerar o trabalho para aderir ao sistema europeu de segurança e para aumentar a capacidade de segurança do nosso país. Só esses passos garantem eficazmente a nossa segurança, a inviolabilidade das nossas fronteiras e a integridade da nossa terra”, afirmou.
“Cada um que se preocupa com a Ucrânia deve dizer abertamente: a adesão aoa sistema euro-atlântico de segurança é o único meio de defender eficazmente a vida e o bem estar das nossas famílias, filhos e netos”, acrescentou.
Iuschenko manifestou também o apoio à Geórgia no conflito com a Ossétia do Sul e da Rússia.
“A Ucrânia tudo fará para não permitir o aumento do vector da força na nossa região e para unir o mundo para a solução jurídica e justa das ameças dos “conflitos congelados” contra o “direito do forte” – concluiu o Presidente ucraniano.
A 24 de Agosto de 1991, a Rada Suprema (Parlamento) da Ucrânia proclamou a independência do país em relação à União Soviética e, num referendo realizado no dia 01 de Dezembro do mesmo ano, 90 por cento dos ucranianos apoiaram essa decisão.
Os festejos do Dia da Independência, informa a agência UNIAN, começaram com uma “Oração pela Ucrânia” na Igreja de Santa Sofia de Kiev, onde participou o dirigente ucraniano, Victor Iuschenko.
O serviço religioso foi seguido por uma parada militar na Praça da Independência, onde desfilaram cerca de seis mil soldados das mais bem treinadas unidades ucranianas.
Além disso, as ruas do centro da capital ucraniana foram atravessadas por 144 carros blindados, tanques e lança-mísseis, enquanto 08 helicópteros e 22 aviões sobrevoaram Kiev, entre os quais aparelhos Su e Mig.
A última parada militar da Ucrânia realizou-se m 2001, tendo a direcção ucraniana suspendido a realização desses eventos até este ano.
Os dirigentes ucranianos receiam que, controlada a situação no Cáucaso, Moscovo se vire para a Ucrânia, a pretexto deles terem apoiado a Geórgia, tanto mais que políticos influentes russos, como por exemplo, Iúri Lujkov, Presidente da Câmara de Moscovo, apresentam reivindicações teritoriais ao país vizinho.

O mal será dos tradutores ou das linhas telefónicas?


“A Rússia não chegou a acordo sobre a subsitituição das forças de manutenção da paz russa por forças da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, mas apenas manifestou estar pronta para interacção”, afirma o centro de imprensa do Kremlin.
Desse modo, Moscovo vem desmentir o texto publicado pela presidência francesa de que Nicolas Sarkozy e Dmitri Medvedev tinham “concordado com a urgência da entrada em funcionamento de um mecanismo internacional controlado pela OSCE que substitua as patrulhas russas na zona de segurança a sul da Ossétia".
“Durante a conversa telefónica de Dmitri Medvedev e de Nicolas Sarkozy, não se falou da substituição das forças russas de manutenção da paz na zona de segurança por forças da OSCE”, sublinha-se no comunicado publicado pelo Kremlin.
Esta é a segunda vez que o Kremlin vem desmentir o conteúdo de conversações entre Medvedev e Sarkozy realizadas por telefone.
No passado dia 18 de Agosto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia desmentiu a notícia difundida pelas autoridades francesas de que Nicolas Sarkozy “teria prevenido o Presidente D.A. Medvedev das consequências pesadas” para as relações entre a Rússia e a União Europeia” se Moscovo não começasse a retirar as tropas da Geórgia.
“Esse tema nem sequer soou na conversa telefónica entre os presidentes”, lê-se numa nota publicada hoje na capital russa.
Segundo a diplomacia russa, “a União Europeia foi recordada apenas uma vez nas palavras de N.Sarkozy, que disse que gostaria de começar as conversações sobre as relações Rússia-UE e que a Rússia e França não devem ter divergências devido a extremista.


Caros leitores, não acham que este tipo de desencontros já é rídiculo? Isto é tanto mais grave quando se trata de um estado de guerra.

O diário Kommersant escreve...

“Ontem (sexta-feira), a Rússia demonstrou que não tenciona aceitar qualquer compromisso com o Ocidente no actual confronto” – escreve o diário Kommersant.
Segundo este jornal, “a NATO recebeu do Ministério da Defesa da Rússia a informação da suspensão completa da cooperação militar com a aliança, os militares russos detiveram o embaixador da Geórgia à entrada de Gori. Por fim, os congressos dos povos ossete e ossete apelaram à Rússia a reconhecer a independência dessas repúblicas e Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, deu a entender que esse apelo foi ouvido”.
“Com estes passos, a Rússia dá a entender que não pretende convencer sequer os países e organizações que, por enquanto, não a criticaram. A julgar por tudo, a bola está no campo dos EUA, que tem três dias para responder, até segunda-feira, quando a Duma e o Conselho da Federação se reunirem (para reconhecer independência da Ossétia do Sul e Abkházia”, conclui o jornal.

Rússia diz que retira, mas não esconde que fica


Tbilissi prepara-se para novas acções e provocações militares na na zona do conflito entre a Geórgia e Ossétia do Sul, denunciou Anatoli Nogovitsin.
Numa conferência de imprensa na capital russa, o vice-chefe do EMGFA da Rússia precisou: “as unidades militares concentram-se na parte central da república e preparam-se para posteriores acções. A fim de preparar a acção militar, agentes dos serviços secretos da Geórgia criam lugares secretos com reservas de meios, nomeadamente para a realização de acções de diversão no território da Ossétia do Sul e regiões adjacentes”.
O general russo reafirmou que o seu país cumpre os compromissos internacionais assumidos e que as tropas russas foram retiradas da Geórgia “para além da primeira linha dos postos de manutenção da paz na zona de segurança na fronteira com a Ossétia do Sul”.
“A retirada total das tropas russas da Geórgia terminou às 20.30 horas de Moscovo (17.30 em Lisboa)”, precisou.
“À mesma hora – frisou –, todas as estradas na zona dos conflitos da Geórgia com a Ossétia do Sul e a Abkházia foram desbloqueadas. Isso foi acompanhado por um número infinito de observadores, de cronómetro na mão”.
O general, porém, reconheceu que tropas russas irão continuar a patrulhar o porto georgiano de Poti.
“O patrulhamento é uma forma prevista no Direito Internacional. Poti não entra na zona de segurança, mas isso não significa que iremos ficar sentados atrás do muro e ver como eles (militares georgianos) passaeiam nos Hummer’s”, acrescentou.
Novogotsin informou também que Moscovo começou a instalação de postos de controlo na região do conflito.
“Já foram formados oito postos de forças de manutenção da paz na primeira linha e 10 postos na segunda”, continuou.
Segundo ele, os postos montados já dispõem de “sistemas de combate”.
Anatoli Nogovitsin acusou a NATO de aumentar o seu contingente naval no Mar Negro.
“A situação no Mar Negro tem tendência para o agravamento. A NATO continua a aumentar o contingente de forças militares navais na zona”, declarou.
Segundo ele, na véspera, dois vasos de guerra norte-americanos juntaram-se a navios da Alemanha e Espanha estacionados no Mar Negro.
O general Nogovitsin, citando dados do Ministério do Interior da Ossétia do Sul, anunciou que os confrontos armados provocaram 2.100 mortos entre a população civil ossete.
Entretanto, o Parlamento da Geórgia prolongou o “estado marcial” no país até 08 de Setembro, proposta feita pelo Presidente Mikhail Saakachvili.
“Esta medida é necessária, porque as tropas russas, violando o acordo de cessar de fogo, continuam instaladas na Geórgia” – lê-se no apelo de Saakachvili aos deputados georgianos.

Rússia termina recuo de tropas, mas deixa militares na Geórgia

“A Rússia terminou o recuo para a Ossétia do Sul das unidades que desempenharam o papel de forças de manutenção de paz”, declarou Anatoli Serdiukov, ministro da Defesa da Rússia, num encontro com o Presidente do país, Dmitri Medvedev.
Segundo Serdiukov, o recuo começou às 06.00 horas (03.00 horas em Portugal) e terminou às 19.50 horas (16.50).
“O recuo das tropas russas com funções de manutenção da paz significa o cumprimento incondicional pela Rússia do plano “Medvedev-Sarkozy””, frisou o ministro russo.
Serdiukov informou também Medvedev, que é igualmente comandante-supremo das Forças Armadas da Rússia, que parte das unidades militares russas já foram retiradas da Ossétia do Sul para os seus quartéis na Rússia.
Kakha Lomaia, secretário do Conselho Nacional de Segurança da Geórgia, declarou hoje aos jornalistas que “as unidades militares russas abandonaram completamente os arredores da cidade de Gori, bem como as cidades de Khachuri, Kaspi e Zugdidi”.
Segundo ele, os militares russos ainda não desbloqueram a estrada que liga Tbilissi, capital do país, à cidade de Sinaki, onde se encontra uma importante base militar georgiana, que os generais russos afirmaram continuar a ocupar.
Serguei Lavrov, ministro dos Negícios Estrangeiros da Rússia, declarára antes que o seu país deixará no território da Geórgia propriamente dito 08 postos de observação com um número de soldados até 500.

Tropas ruas recuam, mas não retiram


Anatoli Nogovitsin, vice-chefe do Estado Maior General das Forças Armadas da Rússia, declarou que as “zonas-tampão” instaladas na zona do conflito entre a Geórgia e a Ossétia do Sul são “legítimas”.
“Não iremos perguntar a Saakachvili sobre as zonas-tampão acordadas. A Geórgia não tem direito moral, nem nenhum para ditar as suas condições. Não vemos forças da paz georgianas aqui. Saakachvili teve a possibilidade de as utilizar aqui, mas renunciou a isso”, declarou o general russo, numa conferência de imprensa na capital russa.
“Actuamos no quadro dos acordos existentes e não tencionamos renunciar a eles”, sublinhou.
O acordo Medvedev-Sarkozy prevê a retirada das tropas das partes do conflito para as posições ocupadas no início da guerra entre a Geórgia e a Rússia, mas Moscovo declara que o Presidente francês assinou um documento que prevê a continuação de tropas russas em território georgiano, a fim de criar um cordão de segurança que impeça os militares georgianos de bombardear a Ossétia do Sul.
Anatoli Nogovitsin precisou que as tropas russas não abandonarão a base militar georgiana de Senaki.
“Foram realmente colocadas perguntas sobre o aeródromo de Senaki. Ele faz parte das fronteiras da responsabilidade (das forças russas de manutenção da paz)”, acrescentou.
Segundo ele, os militares russos instalaram 18 postos de seus capacetes azuis na fronteira entre a Ossétia do Sul e da Geórgia.
“Os postos são instalados em duas linhas. A tarefa das forças de manutenção da paz é não permitir a entrada de pilhadores e o transporte de armas e munições através da fronteira”, declarou.
O general anunciou também que serão instalados outros 18 postos russos na fronteira entre a Geórgia e a Abkházia, precisando que aí se encontram 2 142 capacetes azuis e que os postos montados pela parte georgiana “foram desmantelados”.
Nogovitsin considerou que a Rússia está a cumprir o gráfico de retirada das suas tropas da Geórgia, precisando que “já regressaram aos seus aeródromos três caças e 25 bombardeiros russos”.
Porém, o general frisou que Moscovo poderá aumentar, a qualquer momento, o seu contingente militar na região.

Mikhail Saakachvili foi o autor do primeiro tiro e arrisca-se a cair



O vice-ministro da Defesa da Geórgia, Batu Kutelia, reconheceu, numa entrevista concedida ao The Financial Times, declarou que o seu país não estava preparado para a forma como a Rússia respondeu às acções militares georgianas na Ossétia do Sul.
Segundo ele, Tbilissi decidiu atacar Tskhinbali, não obstante o governo georgiano não dispôr de forças suficientes para enfrentar as consequências.
Estas declarações vêm ao encontro da ideia revelada pelo embaixador norte-americano na Rússia, John Beierly (na foto), que declarou hoje que as tropas russas tiveram razões para responder ao ataque de forças armadas georgianas contra a Ossétia do Sul
“Vemos que as tropas russas tiveram toda a razão ao responder ao ataque (do exército georgiano) contra as forças de manutenção da paz da Rússia na Ossétia do Sul”, declarou o diplomata ao diário russo KommersantEste ponto de vista diverge da posição da Casa Branca, que considera que o conflito na Ossétia do Sul não passou de uma agressão militar da Rússia contra a Geórgia.
Se o vice-ministro da Defesa da Geórgia e o embaixador dos EUA em Moscovo não vierem agora dizer que os jornalistas não entenderam correctamente as suas declarações (coisa muito comum), conclui-se que Mikhail Saakachvili, não obstante todos os avisos em sentido contrário, decidiu envolver-se numa grande aventura, cujas consequências são bem conhecidas.
A oposição georgiana está à espera que as tropas russas se retirem do território da Geórgia para pedir contas a Mikhail Saakachvili e a factura, no mínimo, deverá ser a deminsão do cargo de presidente do país.
A Rússia poderá aproveitar mais estas declarações em favor das suas posições, mas, para isso, deverá retirar rapidamente do território georgiano (o que não está a acontecer) para tentar mostrar que a sua política não visa ocupar ou anexar territórios de outros países.


Será que a inteliguentsia não pode criar em liberdade?

Descansando um pouco da guerra no Cáucaso - se é que tal coisa é possível com o telefone a não parar de tocar -, estava eu a ver, no canal Cultura, um filme soviético com a participação do grande actor, Leonid Filatov. Veio-me à cabeça uma conversa que tive com um amigo meu, um russo de origem judaica, em Portugal, num dos poucos dias que aí passei em Agosto. A guerra no Cáucaso fez-me regressar apressadamente a Moscovo, obrigando-me a deixar a ele e à filha ao cuidado da minha esposa e filhos, não restava outra saída.
Estavamos em Santa Teresa, ali para os lados de Aljubarrota, sentados no jardim, e ele pergunta-me: mas por que é que te preocupas com a situação na Rússia? Com o desaparecimento da democracia no meu país? É sinal de que voltaremos a ver bons filmes e a ler bons livros...
Levou algum tempo para que eu compreendesse a "piada", mas, pensando bem, ele até parece ter razão. Na era soviética, não obstante a censura comunista, foram produzidas obras-primas no campo do cinema, literatura, pintura, teatro, etc. Pena é que os portugueses, brasileiros, etc. desconheçam uma parte significativa das grandes obras criadas na União Soviética, ou cheguem aos nossos países com muito atraso.
E, nos últimos 17 anos, o que foi criado na Rússia e noutros países da antiga URSS? Pouca coisa de qualidade! No caso concreto da Rússia, a cultura de massas, no pior sentido que esta expressão possa ter, conquistou completamente o país. E o mais curioso é que a direcção política, não obstante todas as suas declarações anti-americanas, vai buscar a Hollywood o que pior se faz por aquelas bandas. A falta de originalidade, qualidade que abundava na URSS, é gritante!
Resumindo, no que respeita ao cinema e televisão, copiam-se os piores modelos, embora haja excepções. Se os meus leitores puderem ver filmes de realizadores como Pavel Lunguin, principalmente a sua última película "Ilha", aconselho vivamente, mas é mesmo excepção.
Mas será verdade que o poder autoritário, a censura "estimulam" a criatividade da intelectualidade?
Talvez o meu amigo tenha razão, mas não interpretem isso como um desejo de ver a Rússia mergulhada num novo período de repressão... Nem o meu amigo quer tal coisa, talvez tenha sido apenas um desabafo numa época em que a guerra volta à ordem do dia neste país.

A Rússia não tenciona “fechar as portas” ao diálogo com a NATO


Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, declarou hoje que o seu país não tenciona “fechar as portas” nas relações com a NATO e acrescentou que “a cooperação com a Rússia não é menos significativa para a Aliança”.
“A Rússia, tanto como a NATO, necessita de cooperação mútua”, afirmou Lavrov aos jornalistas.
“A NATO precisa muito mais do apoio da Rússia nas acções no Afeganistão, onde, no fundo, se decide o destino da Aliança Atlântica”, frisou.
A Rússia mantém aberto, no seu território, um corredor para a passagem de produtos e armamentos dos países membros da NATO para as tropas da Aliança que combatem no Afeganistão. Alguns analistas avançaram a possibilidade do Kremlin encerrar esse corredor, mas Lavrov desmente isso.
“A ajuda da Rússia é crítica para a NATO”, considerou.
Lavrov sublinhou: “não tencionamos bater a porta”, acrescentando que “a NATO declara que pode fechar essa porta”.
“Tudo depende das prioridades da NATO: se as prioridades forem o apoio incondicional ao regime falido de Saakachvili em prejuízo da parceria com a Rússia, a culpa não é nossa”, sublinhou.
O chefe da diplomacia russa declarou também que o desenvolvimento posterior da situação em torno da independência da Ossétia do Sul e da Abkházia é da responsabilidade de Mikhail Saakachvili, Presidente da Geórgia.
Durante a “fase quente” do conflito entre a Rússia e a Geórgia, o dirigente do Kremlin, Dmitri Medvedev, reafirmou que “o destino da Ossétia do Sul e da Abkházia depende da decisão dos seus povos”.
Serguei Lavrov anunciou também que as tropas de manutenção da paz russas continuam a tomar medidas para garantir a segurança na zona do conflito.
“Trata-se de medidas suplementares que prevêem a conservação e precisão das fronteiras em torno da zona de segurança e da Ossétia do Sul. O trabalho irá ficar pronto amanhã”, declarou.
“Segundo o plano dos nossos militares, amanhã irõ ficar prontos cerca de oito postos na fronteira externa ao longo da zona de segurança, em cada um dos quais será aquartelado um contingente, de forma a que na zona de segurança não haja mais de 500 capacetes azuis”, precisou.
Lavrov informou também que a Rússia vai continuar a fornecer armamentos à Síria e “alguns dos mais modernos”, mas sublinhou que se trata de “armamentos exclusivamente defensivos”.

OSCE sabia data de ataque georgiano, mas não preveniu a Rússia


“A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa sabia da data do ataque da Geórgia contra a Ossétia do Sul, mas não preveniu as forças de manutenção da paz russas”, acusou Anatoli Nogovitsin, vice-chefe do Estado Maior General das Forças Armadas da Rússia.
Numa conferência de imprensa realizada na capital russa, o general Nogovitsin anunciou que a Rússia não tenciona criar obstáculos no acesso das organizações internacionais ao território do conflito controlado pelas tropas russas, mas sublinhou que todas as viagens devem ser previamente acordadas com Moscovo.
“Existem regras internacionais que seguimos. No que respeita ao cumprimento das funções de controlo que serão realizadas nas zonas da responsabilidade das forças de paz russas, vamos estabelecer contacto com as organizações internacionais e não tencionamos levantar obstáculos”, declarou.
O general russo reconheceu que as tropas de Moscovo impediram, ontem, observadores internacionais de entrar na cidade georgiana de Gori.
“Somos responsáveis pela vida de cada um. Não se trata de caprichos. A nossa posição consiste em que todos têm direito à realização das suas funções, mas no quadro das exigências existentes”, observou.
Anatoli Nogovitsin reafirmou que a Rússia não quer ver forças de paz georgianas na zona do conflito.
“Nessas fronteiras de responsabilidade, hoje apenas têm direito de cumprir a missão de paz as Forças Armadas da Rússia, que cumpre pontual e esforçadamente os acordos de 1992. A Geórgia, que violou de facto esse estatuto, não tem direito a cumprir funções de manutenção de paz”, explicou.
O general anunciou também que todas as tropas russas serão concentradas nas fronteiras da responsabilidade das forças de manutenção de paz do seu país na Ossétia do Sul até ao fim do dia 22 de Agosto.
Comentando as informações de que Moscovo poderá reforçar as suas forças navais no Mar Negro devido ao aparecimento de navios norte-americanos na região, Nogovitsin sublinhou que elas não correspondem à verdade.
“A Armada do Mar Negro não necessita de reforço. As unidades dessa Armada da Rússia são suficientes para a região”, frisou.

quinta-feira, agosto 14, 2008

“Guerra quente” ameaça transformar-se em nova “guerra fria”

Análise escrita para Agência Lusa
"O acordo de paz Medvedev-Sarkozy está a ser implementado com dificuldade, mas parece já ter conseguido travar a guerra entre a Rússia e a Geórgia. Resta saber como solucionar o problema, isso irá depender do desenvolvimento das relações entre Moscovo e o Ocidente.
Os analistas políticos russos consideram provável uma nova guerra fria.
“Depois da vitória militar, a Rússia, pelo menos nos próximos meses, não deverá fazer cedências. O Ocidente tomou uma posição firme face à política de Moscovo no Cáucaso. É de prever uma nova guerra fria” – declarou à Lusa Vladimir Dolin, especialista em assuntos do Cáucaso.
Ilia Kramnik, analista militar da agência noticiosa Ria-Novosti, tem a mesma opinião e prognostica o alargamento do conflito a novas regiões.
“A Rússia conduz claramente as coisas para o reconhecimento da independência da Ossétia do Sul e da Abkházia... Para a órbita do conflito são atraídos também os países vizinhos, por exemplo, a Ucrânia, onde se desenha o aprofundamento de uma crise política” – considera ele.
Segundo Kamnik, “nem a Rússia, nem os Estados Unidos tencionam recuar e, partindo dessa circunstância, pode-se prognosticar uma nova etapa da guerra frio e do confronto global das duas potências, desde o espaço post-soviético e até à América Latina”.
Gennady Charodeev, jornalista do diário Trud, prevê mudanças substanciais na política externa russa, algumas inesperadas.
“Como uma das saídas possíveis, o Kremlin estuda a possibilidade de reconhecimento do Kosovo a fim de justificar o seu apoio à separação da Ossétia do Sul e da Abkházia em relação à Geórgia”, declarou o jornalista à Agência Lusa.
“O Kremlin reconhece a independência do Kosovo e, logo a seguir, a separação da Ossétia do Sul e da Abkházia” – acrescentou.
Segundo ele, “Moscovo deverá reforçar o vector asiático da sua política externa também com o objectivo de evitar o seu isolamento internacional”.
No próximo fim de semana, Duchambé, capital do Tadjiquistão, vai receber as cimeiras da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) e da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), onde poderão ser tomadas medidas importantes para o futuro das relações internacionais.
Gennady Charodeev não exclui a possibilidade de a OCX, organização constituída pela Rússia, China, Cazaquistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Quirguízia, aceitar o Irão no seu seio.
“Teerão já pediu a adesão à OCX. Esse passo poderá ser dado em Duchambé” – considerou.
Quanto à cimeira da CEI, considera que irá ser uma reunião difícil para a Rússia.
“Moscovo tenciona que a CEI tome uma posição comum face ao conflito, mas é mais provável que a Ucrânia anuncie a sua vontade de abandonar a organização, em solidariedade com a Geórgia” – concluiu o jornalista.
Ilia Kramnik prevê o fim da CEI, sublinhando que “os países aliados da Rússia podem aprofundar a cooperação no quadro da Organização do Tratato de Defesa Colectiva e da OCX, que, dentro em breve, poderão ver alargadas as suas fileiras”."

Contra-respostas e mais respostas


O Presidente da Síria, Bashar Assad, que chega hoje à Rússia para uma visita oficial, mostrou-se aberto à instalação de uma base militar e de mísseis russos no território do seu país.
Numa entrevista ao diário russo Gazeta, Bashar Assad apoiou a operação militar de Moscovo na Geórgia e afirmou esperar que “a Rússia não se aproxime mais do Ocidente e da parceria com países da NATO”.
“Consideramos que o que a Rússia fez visava defender os seus interesses”, declarou Assad.
O dirigente sírio reconheceu que o Kremlin ainda não fez proposta alguma no sentido de utilizar o território da Síria para responder à instalação de elementos do sistema antimíssil norte-americano no Leste da Europa, mas sublinhou que está aberto ao diálogo.
“A nossa posição consiste em que estamos prontos a cooperar com a Rússia em tudo o que poderá reforçar a sua segurança” , sublinhou.
A imprensa russa admite a possibilidade do Kremlin vir a instalar sistemas de defesa antimíssil Izkander na Síria.
Bashar Assad admite ceder também portos marítimos sírios para instalar bases militares russas. Moscovo herdou da União Soviética um estaleiro naval instalado no porto sírio de Tartus.
“Os navios russos entram nos nossos portos. Há possibilidade de desenvolver a cooperação nesta esfera, estamos abertos a propostas” , acrescentou.
O Presidente sírio revelou que, no encontro com o seu homólogo russo, Dmitri Medvedev, irá levantar a questão do “papel desempenhado por Israel nessa guerra (na Geórgia).
Moscovo acusou Israel de ter fornecido armamentos e ter treinado as forças armadas georgianas.

Respostas e contra-respostas

Não é preciso ser bruxo para prever que, nos próximos tempos, iremos assistir a uma verdadeira guerra de respostas e contra-respostas entre a Rússia e o Ocidente. Por enquanto, trata-se de uma disputa verbal. Se este duelo continuar na prática, poderemos não ter guerra entre as partes, mas teremos certamente uma nova corrida aos armamentos.
A corrida aos armamentos na era da "guerra fria" foi uma das causas da queda da URSS, que não aguentou o ritmo. Desta vez, vamos ver...
A Rússia e a Bielorrússia irão assinar no Outono um acordo sobre a criação de um sistema único de defesa anti-aérea, anunciou Serguei Prikhodko, assessor diplomático do Presidente russo.
Prikhodko declarou aos jornalistas que essa decisão foi tomada no encontro de Dmitri Medvedev, Presidente da Rússia, com o seu homólogo bielorrusso, Alexandre Lukachenko, realizado na cidade de Sotchi, costa russa do Mar Negro.
“Os dois presidentes acordaram realizar no Outono a reunião do Conselho Supremo de Estado da União Rússia-Bielorrússia e preparar até lá o acordo sobre a criação de um sistema único de defesa anti-aérea, que irá ser assinado nessa reunião” – acrescentou.
Fontes militares contactadas pela Lusa em Moscovo considera que esse sistema único de defesa anti-área é um dos elementos da resposta russa ao acordo assinado entre Washington e Varsóvia, que prevê a instalação de parte do sistema de defesa antimíssil norte-americano na Polónia e na República Checa.
O acordo entre os Estados Unidos e a Polónia foi assinado em Varsóvia na semana passada.

Operação cuidadosa e bonita


Texto escrito para a Agência Lusa


Alexandre Lukachenko, Presidente da Bielorrússia, considera que “a Rússia, durante a agressão da Geórgia, fez tudo bem, de forma calma e silenciosa”.
Durante um encontro com o seu homólogo russo, Dmitri Medvedev, realizado na cidade de Sotchi, na costa do Mar Negro, Lukachenko agradeceu à Rússia “pela sabedoria revelada durante a agressão da Geórgia”.
“Gostaria – continuou o líder bielorrusso – de agradecer também pela sabedoria que Você revelou nos últimos dias, particularmente durante a agressão empreendida pelo Estado vizinho”.
“Tratou-se de uma reacção calma, silenciosa, que levou ao estabelecimento da paz na região, agora por muito tempo. Isso foi feito com muito cuidado e de forma bonita”, frisou.
Lukachenko declarou também que “o Ocidente não poderia ter agido tal como a Rússia na solução do conflito”.
Alexandre Lukachenko foi o primeiro chefe de Estado de um país da Comunidade de Estados Independentes a manifestar publicamente apoio à acção militar da Rússia na Ossétia do Sul.
Desse modo, a Bielorrússia junta-se à Venezuela e a Cuba no apoio ao envio de tropas russas para a Geórgia.
Fonte diplomática contactada pela Lusa em Moscovo chamou a atenção para o facto de Lukachenko apenas agora ter feito declarações de apoio a Moscovo.
“É evidente que o dirigente bielorrusso foi duramente apertado pelo Kremlin para apoiar a acção militar russa no Cáucaso. Este encontro em Sotchi foi organizado precisamente para isso”, acrescenta a fonte.
No próximo fim de semana, a cidade de Duchambém, capital do Tadjiquistão, irá receber uma cimeira da Comunidade de Estados Independentes.
Os analistas russos concordam em que essa reunião irá ser difícil para o Kremlin e decisiva para o futuro da organização que reunia 13 das 15 repúblicas da União Soviética. Os três Estados do Báltico: Estónia, Letónia e Lituânia preferiram a União Europeia à CEI.
No início do conflito na Ossétia do Sul, a Geórgia revelou a intenção de abandonar essa comunidade.
“Moscovo tenciona que a CEI tome uma posição comum face ao conflito, mas é mais provável que a Ucrânia anuncie a sua vontade de abandonar a organização, em solidariedade com a Geórgia”, declarou à Lusa Gennady Charodeev, jornalista do diário russo “Trud”.

Saakachvili dá mais "um tiro no pé"


No conflito na Ossétia do Sul, nem autoridades georgianas, nem russas, nem ossetes "ficaram bem na fotografia". O facto de não terem usado o período entre 1992 e 2008 para resolver o conflito por via diplomática e terem sacrificado centenas de vidas inocentes em prol das suas ambições políticas mostra é sintomático.

Mas ainda é mais grave o facto de os dirigentes das partes da guerra continuarem a empolar a situação, com declarações e actos cada vez mais explosivos.

Hoje, dia 19 de Agosto, o Presidente georgiano, Mikhail Saakachvili, deu mais "um tiro no pé" ao fazer calar no seu país um dos poucos canais de informação independentes da Rússia: a RTVi.

O Governo georgiano bloqueou a transmissão do canal televisivo RTVi, o único canal em língua russa cuja transmissão não foi proibida por Tbilissi depois do início do conflito na Ossétia do Sul.
As autoridades georgianas enviaram uma carta à direcção do canal, onde comunicaram a decisão de suspender a transmissão do sinal televisivo, depois desse canal ter emitido uma entrevista com Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia.
Nessa entrevista, Lavrov fez duras críticas à política de Mikhail Saakachvili, acusando o Presidente da Geórgia de ser “um projecto virtual dos Estados Unidos”.
A RTVi foi criada em 1997 pelo magnata russo de origem judaica, Vladimir Gussinski, adversário de Vladimir Putin que encontrou refúgio político em Israel.
Este canal de televisão, que chega aos telespectadores da América, Europa, Médio Oriente, Norte de África e Austrália, através de cabo e satélite, é uma das poucas vozes independentes do Kremlin em língua russa.
A RTVi realiza vários programas conjuntos com a estação de rádio Eco de Moscovo, que também destoa na onda de propaganda anti-georgiana dos media russos.
Em declarações à imprensa, Alexei Venediktov, redactor-chefe da Eco de Moscovo, considerou a suspensão da transmissão desse canal e de outros meios de informação na Geórgia uma tentativa de “esconder a verdade dos seus cidadãos e salvar a cara”.
“Só regimes autoritários e totalitários receiam meios de informação independentes e profissionais” – concluiu.
No início da guerra, os dirigentes georgianos impediram a transmissão, por cabo e satélite, de quase todos os canais de televisão em língua russa, bem como cortou o acesso aos sítios russos na Internet.