quarta-feira, janeiro 28, 2009

Eleição de Patriarca Ortodoxo 5


A política do Partido Comunista da Rússia de “extinção total das superstições religiosas", fixada no programa do seu VIII Congresso em Março de 1919, teve consequências tenebrosas para a Igreja Ortodoxa. Entre Fevereiro de 1919 e Março de 1920, foram profanados 63 túmulos de santos ortodoxos. Entre 1918 e 1921, foram encerrados 1113 asilos e 772 dos 1253 mosteiros, tendo os restantes sido extintos até 1934. Durante a guerra civil, foram assassinados cerca de 10 mil clérigos ortodoxos. (16)
Depois da morte do Patriarca Tikhon, a direcção da Igreja Ortodoxa Russa passa para as mãos do Metropolita Serguei (1867-1944), que dá um novo passo para a aproximação ao regime comunista. Em 29 de Julho de 1927, publica um documento de extrema importância que se tornou conhecido por “Declaração do Metropolita Serguei”: “Não precisamos de provar em palavras, mas na prática que cidadãos fiéis da União Soviética, leais ao Poder Soviético, podem ser não só as pessoas que olham para a Ortodoxia com indiferença, não só os que traíram, mas também os seus crentes mais fervorosos, para os quais ela é cara como verdade, como vida, com todos os seus dogmas e tradições, com toda a sua bagagem canónica e teológica. Queremos ser ortodoxos e, ao mesmo tempo, ter consciência da União Soviética como nossa Pátria cívica, cujas alegrias e êxitos são as nossas alegrias e êxitos, enquanto que os fracassos são os nossos fracassos”(17).
A Declaração do Metropolita Serguei provocou uma profunda cisão na Igreja Ortodoxa Russa. O clero e os crentes que conseguiram fugir da Rússia Soviética não acataram essa decisão e formaram a Igreja Ortodoxa Russa no Estrangeiro. Parte do rebanho ortodoxo no interior do país passou à clandestinidade e criou a Igreja das Catacumbas.
As cedências do chefe da Igreja Ortodoxa Russa não foram suficientes para inverter a política realizada face à religião por José Estaline, que sucedeu a Vladimir Lénine à frente do Estado Soviético a partir de 1924.
O princípio ideológico: “a luta de classes aumenta à medida que o socialismo avança”, criado por José Estaline, justificou as mais cruéis atrocidades cometidas contra todas as camadas sociais, incluindo clero e crentes ortodoxos.
O ponto de partido foi o relatório político apresentado por ele ao XV Congresso do Partido Comunista da Rússia, realizado nos finais de 1927. Então, José Estaline afirmou: “Temos ainda mais um aspecto negativo como o abrandamento da luta anti-religiosa.
O plano estalinista de luta contra a religião começou a ser energicamente realizado no ano seguinte e, a partir do início de 1930, tornou-se num verdadeiro programa nacional. A 2 de Janeiro desse ano, um decreto governamental privava o clero de parte dos seus direitos cívicos, levando à expulsão dos sacerdotes e suas famílias de suas casas, à privação de senhas de racionamente e de assistência médica.(18)
Outro decreto secreto do Presidium do Comité Executivo Central “Sobre o lançamento de impostos sobre os actuais e antigos servidores do culto durante 1930-1931” foi mais um potente instrumento para obrigar o clero e os seus familiares a renunciarem a Deus. O clero foi sujeito ao pagamento de pesados impostos e, caso não fossem pagos, os padres e membros da direcção das paróquias eram presos e os templos encerrados. (19)

6 comentários:

Jacob disse...

Entendo que faltou ao texto dizer os motivos que levaram a essa perseguição, seguramente ela foi feita em virtude do comportamento pregresso da religião e dos religiosos.
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Veja o Brasil de hoje: aqui temos numerosos crentes, são pessoas sem acesso a educação de qualidade e sem condições economicas de acesso a saúde, o que faz com que convivam com a doença. Ganham quantias irrisórias pelo seu trabalho, mal podem se alimentar, são subnutridas, percebe-se isso facilmente pela fisionomia sempre triste e pelas marcas da subnutrição. Não vivem como gente, vivem pior que muitos animais.
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O que fazem essas igrejas de culto evangélico com essas pessoas ? Criam uma religião que prega a prosperidade da seguinte forma: quanto mais dinheiro der a título de dízimo, mais o Senhor lhe ajudará. Vemos assim pessoas sem as menores condições economicas serem enganadas por essas igrejas da prosperidade. O cidadão não tem dinheiro para pagar uma consulta médica, mas entrega suas economias na sacola da igreja. Algumas delas já foram proibidas no Chile e na França.
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Por hipótese, se um político brasileiro agisse da mesma forma como agiu Stálin; ele estaria cometendo atrocidades ou fazendo justiça ?

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Leitor Jacob, espere até que seja publicado o artigo todo. Lá estarão os motivos das perseguições, mas digo-lhe, desde já, que nenhum regresso, nem reaccionarismo chega para explicar o animalismo da repressão estalinista.
Quanto às "igrejas" de que fala, as autoridades devem tomar medidas para travar os seus negócios escuros.

Anónimo disse...

A laicização do Estado chegou muito tarde à Rússia, o que a tornou mais facturante e violenta. No resto da Europa esse movimento já tinha começado no século anterior. Em Portugal teve duas fases. Em 1834 com a extinção e confiscação das ordens religiosas e em 1910 com a separação oficial da Igreja e do Estado. Mesmo em Portugal isto também não se fez sem repressão (à escala do país obviamente).

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Leitor José Manuel, não há justificação nenhuma para crimes como os que foram praticados por Estaline. Leia o meu artigo até ao fim, se tiver paciência, e tire as conclusões no fim, mas posso dizer-lhe desde já: se justificarmos os crimes de Estaline, Hitler acabará também por ser justificado. Cuidado!

Anónimo disse...

Eu não estava a querer justificar nada.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Leitor homónimo meu, ainda bem