terça-feira, dezembro 06, 2011

Votos na oposição são votos de indignação face ao actual poder na Rússia

Um dos comentadores do meu blog pediu-me para comentar a vitória eleitoral do Partido Comunista da Federação da Rússia, num tom que parece querer dar a entender que não fiz isso por ser tendencioso.
A explicação é muito mais simples: se eu tivesse apenas de escrever para este blog, claro que já teria feito essa análise, mas ele não permite dar de comer à família.
Mas passemos então à análise. O Partido Comunista aumentou o seu número de deputados na Duma Estatal, câmara baixa do Parlamento Russo, de 57 para 92. Ou seja, tratou-se de um aumento muito sensível.
Mas é de sublinhar também que outros partidos da oposição: o Rússia Justa e o Partido Liberal-Democrático, também aumentaram significativamente as suas representações parlamentares. A primeira força política aumentou o número de deputados, em comparação com as parlamentares de 2007, de 38 para 64 e a segunda de 40 para 56.
O aumento da votação nos partidos da oposição foi, em medida significativa, uma forma de protesto contra a arrogância e a pouca vergonha dos dirigentes da Rússia Unida, mais precisamente de Vladimir Putin e Dmitri Medvedev.
Muitos russos consideraram um insulto inaceitável a troca de cargos feita por eles no congresso do Rússia Unida.
Por isso, parte significativa dos eleitores votou nos partidos da oposição não porque apoiavam os seus programas políticos, mas porque pretendiam pôr em minoria o partido de Putin-Medvedev, o que quase conseguiam.
Por conseguinte, trata-se de um "eleitorado volátil".
E, neste sentido, o Partido Comunista volta a não saber aproveitar a sua vitória. Em vez de avançar para o cargo de Presidente da Rússia um candidato novo, que possa conquistar novos apoiantes na esquerda, aposta novamente no seu líder, Guennadi Ziuganov, estalinista intragável para a esmagadora maioria do eleitorado russo.
Este político, que perdeu as presidenciais em 1996, 2000, 2004 e 2008, é extremamente sectário e com um programa político inaceitável no séc. XXI. Não esconde as suas simpatias pelo ditador comunista José Estaline, ou seja, não tirou lições da história.
Deste modo, o Partido Comunista contribuirá para a vitória presidencial de Vladimir Putin a 4 de Março de 2012. Porque, em caso de segunda volta com a participação de Ziuganov e Putin, a maioria vai engolir um sapo e votar pelo actual primeiro-ministro russo.
A derrota de Putin só será possível se a oposição encontrar um candidato consensual, com ideias novas, capazes de juntar em torno de si diferentes sectores políticos.


 

25 comentários:

Europeísta disse...

Já libertaram o tal blogueiro? Ele acabara, infelizmente, sendo assassinado como muitos que se atrevem a dsafiar o poder na Rússia. Milhares de jornalistas antiKremlin foram assassinados.

Anónimo disse...

Liberdade para Alexey Navalny! Corruptos russos na prisão e déspotas (Putin e Medvedev) depostos! Viva a democracia! Viva a primavera russa! A Rússia será livre!

Europeísta disse...

Quando as manifestações contra a corrpção eleitoral tentaram marchar pacificamente em direção ao Kremlin, os manifestantes foram reprimidos brutalmente. No entanto uma manifestação pró-Kremlin nos muros do Kremlin não recebeu o mesmo tratamento, foi amplamente apoiada. Agora quero ver se a EU e a os EUA terão peito para declararem que a eleição na Rússia não foi livre nem limpa. Tá na hora de dar aos dirigentes russos o mesmo tratamento dispensado ao ditador bielorusso Lukashenko. Sanções devem ser discutidas e pra já!

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Navalnii, está a ser julgado e deverá ser condenado a 15 dias de prisão por desobediência à polícia. O Iachin já foi condenado a essa pena.

PEDRO disse...

Não entendo.
Será que os que andam excitados com esta agitação das eleições querem o regresso dos comunistas ao poder?
Parecer parece!
Se alguma vez o Rússia Unida perder é para o PCFR. Ou julgam que vão perder para os partidos neo-liberais dos oligarcas?
Era isso que o ocidente sonharia, mas está longe.
Ou levam com Putin ou com Ziuganov.

Habituem-se a não meter o bedelho nos assuntos dos outros. A Rússia é uma nação com 1000 anos de História e está ai para continuar, enquanto que os Yanques é uma nação jovem, formada a partir do genocidio em massa dos indios americanos.

Jest nas Wielu disse...

Comício em Moscovo: 200 mil visitas, 35 mil on-line! A multidão grita “Rússia sem Putin!”
http://www.ustream.tv/channel/ridus

Européista disse...

O povo russia não iria mesmo aguentar viver em uma ditadura por tanto tempo. Já posso até imainar as vozes furiosas de usuários como Pippo ou Portugueseman fazendo suas defesas inconteste do ditador Putin. Pra essa gente faça o que fizer, o Kremlin estará sempre certo mesmo que esteja evidente a fraude na eleição.

Jest nas Wielu disse...

O escritor russo Boris Akunin (Grigory Shalvovich Chkhartishvili) sobre as eleições: “Primeiro, “partido dos aldrabões e dos ladrões”, mesmo pelos dados oficiais, perdeu 12 milhões de votos...

http://borisakunin.livejournal.
com/44822.html

2 Pedro 14:38

o genocídio dos povos siberianos, claro que não conta para nada...

Anónimo disse...

Em uma cidade de milhões de habitantes, dez mil insatisfeitos, vamos dar "corda" para esses 10 mil e ignorar os milhões que não reclamam, afinal é assim que a democracia funciona, não é? Opoio a minoria em detrimento da maioria!

Anónimo disse...

Oh, Zé Milhazes:

Obrigado, por responderes ao meu post.

Em qualquer caso ninguém acredita que prefiras Ziuganov a Putin !!!

O pré-anunciado regresso dos bolchevistas ao poder, após a era Putin, deve pôr-te os cabelos em pé.

Falso ou verdadeiro ?

Esclarece(-me/nos), se fazes favor.

Edmundo Dantas

Anónimo disse...

"Habituem-se a não meter o bedelho nos assuntos dos outros. A Rússia é uma nação com 1000 anos de História e está ai para continuar, enquanto que os Yanques é uma nação jovem, formada a partir do genocidio em massa dos indios americanos."

Pedro,

Isso só vale pra quando estar criticando o país? E quando se estar eleogiando e defendendo seus interesses? Ora, não se intrometa em assuntos de um país que não é o seu! Viva na prática o que vc defende! Só o fato de vc frequentar um blog que trata de outro país, vc já está se contradizendo.

Europeísta disse...

As eleições estão sendo escancaradamente fraudadas e é impressionante a quantidade de pessoas que entram aqui pra defender isso!

Europeísta disse...

As eleições estão sendo escancaradamente fraudadas e é impressionante a quantidade de pessoas que entram aqui pra defender isso!

PEDRO disse...

<>

Já muito tempo que não ouvia um disparate tão grande!!!!

Postar num blog sobre a Rússia é interferir nos assuntos da Rússia?
Se eu disse aqui coisas boas ou más sobre o pais qual o efeito que isto tem na pratica?

Enquanto que os EUA enviam dinheiro a ONG's para estes organizarem protestos e campanhas, isto sim é interferir na pratica. E mandar bitaites pela imprensa como fez aquele Nazi Senil do McCain também é interferência, pois é um politico que foi senador, sempre tem algum impacto na opinião publica.

Pippo disse...

Muita conversa anda aqui sobre as eleições russas! Até há um blogueiro que já "imagina" o que eu irei aqui escrever... deve-se achar muito inteligente! :o)

Mas alguém tinha dúvidas sobre quem iria ganhar? Com ou sem "fraudes"? Há realmente alguma alternativa credível a Putin?

Vamos admitir por um momento que as eleições foram fraudulentas. Vamos admitir também que elas eram repetidas e eram, como diria a Hilária Clinton, "livres e justas".

Quem ganharia?

Os "democratas" que arrastaram a Rússia para o abismo nos anos 90?
Ou os comunistas que... enfim, são comunistas?
Ou será que, mesmo assim, ganharia o partido de V. Putin?

Penso que todos sabem a resposta.

Quanto à questão das "interferências",com ONG e blogueiros à mistura, para o "Ocidente" (entre aspas!), ou melhor dizendo, para os EUA, a Rússia de Putin é uma ameaça porque se tornou forte e afirmativa.
A partir do primeiro mandato de Putin, operou-se a reconsolidação do Estado e o fim do regabofe económico (que destruiu a economia e originou as criminosas "terapias de choque", etc.), permitindo-se o ressurgimento da Rússia na arena internacional como contra-poder aos EUA e como "igual" (com um marcado ascendente) em relação à EU-ropa.

O readquirido poder russo na cena internacional poderá não ser algo de permanente, pois para já baseia-se, a nível económico, na indústria extractiva e na exploração de recursos próprios.
A Rússia também tem graves problemas demográficos o quais lhe poderão ditar a fortuna. Mas por enquanto, e sobretudo numa altura de nítida contracção do "Império" e reordenamento das prioridades de Washington, o “contrapeso” que é uma Rússia liderada por V. Putin acaba por se tornar uma ameaça aos interesses norte-americanos.

Ora, qual é o interesse de certos pesonagens “internacionais” virem à praça pública dizer que as eleições russa foram “isto” ou “aquilo”? Será que eles estão realmente preocupados com a democracia russa? Tretas! Aquilo com que eles se preocupam, logicamente, é com as repercussões que tais votações poderão ter ao nível da política internacional. E assim sendo, eles deveriam era ficar caladinhos, pois se as eleições tivessem sido "livres e justas", como eles disseram que não foram, quem ganharia seria, ou Putin, ou então os comunistas.

Alguém quer Ziuganov a liderar a Rússia?

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Pippo, caramba, fiquei a compreender que a Rússia só pode optar entre Putin e Ziuganov, entre o partido dos vigaristas e ladrões e o partido dos violadores e assassinos! Afinal os descontentes são comandados do exterior, etc., etc.
Volto a repetir, ao não permitir o aparecimento de alternativas credíveis (como você já deve saber, eu não considero grande coisa os actuais dirigentes da oposição parlamentar e extraparlamentar), Putin enfia-se num beco sem saída.
Estou de acordo que os EUA e a UE não estão em condições de dar lições a quem que seja estando na situação em que estão, mas considero que o Kremlin não deve desprezar as opiniões dos seus cidadãos e respeitar as minorias.

MSantos disse...

Eu não fui incluído nos furiosos defensores de Putin.

Sinto-me ofendido!

MSantos disse...

Pippo.

Concordo a 100%

E quais seriam as alternativas credíveis, José Milhazes?

Nemtsovs e companhia?

Cumpts
Manuel Santos

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro MSantos, eu disse que só não há boas alternativas porque o Kremlin não permite. Mas será que entre 140 milhões de pessoas não há alternativas a Putin?
Há muita gente nova, inteligente e competente, mas que não chega ao poder, porque este está ocupado por Putin e companhia.
Foi você que citou Nemtsov, não fui eu.

Pippo disse...

JM, penso que actualmente não há forma de impedir o surgimento de grupos que apresentem alternativas ao poder a não ser com a repressão pura e dura, como acontece na China, Irão, etc. E como sabe, nem mesmo nesses países as coisas são como eram.

Portanto, entre a população russa podem surgir alternativas de poder, pessoas com novas ideias, mais competentes, etc., tal como acontece nas restantes democracias.

E depois, ou essas pessoas entram nos partidos e são "engolidas", ou formam novos partidos que têm de concorrer contra as “máquinas” já instaladas, ou então actuam na sociedade civil e têm hipóteses de manter sua coluna vertebral erecta e as mãos limpas.

Cá, como em muitos países, a política é dominada pelos grandes partidos políticos, que são violentas máquinas de poder, devoradoras de todos os princípios morais, diria mesmo autênticas máfias. Aliás, as escandaleiras que têm preenchido os nossos noticiários testemunham o baixo nível dos nossos políticos e da canalha endinheirada com quem eles se misturam. A ausência de princípios faz parte da política. Nem todos são capazes de aguentar isso no seu dia-a-dia. Eu não fui.

Mas são os partidos de poder que dominam as políticas nacionais. Por cá são o PS e PSD, na Rússia serão o Rússia Unida e o PC, com a diferença que (felizmente) o PC não acede ao poder.
Aos pequenos partidos, os recém formados os sem expressão, acontece quase sempre o mesmo: são ignorados.

Para lhe dar um exemplo, nas últimas eleições em Portugal concorreram uns 17 partidos. Apenas 5 tiveram mais de 5% dos votos. O MRPP teve 1,12%, um pouco à frente do Partido pelos Animais e pela Natureza. Os restantes 10 não tiveram sequer 0,5% dos votos. Já ouviu falar do Partido Humanista, ou do Movimento Esperança Portugal? Chegou a ouvir falar do Movimento Mérito e Sociedade, aka Partido Liberal-Democrata? Provavelmente não. Será que eles têm boas ideias? Não se sabe, pois nem sequer são ouvidos. Não houve debates entre o PPCoelho, o Sócrates e os líderes do PPM, PRN, PTP ou do MPT.
Se isso fosse na Rússia, seria "vergonhoso, anti-democrata, blablabla"; como foi cá, não há problema, "é normal!".

Portanto, também por cá não há ”alternativas credíveis” aos partidos do poder. Por isso é que surgem, cada vez mais, grupos apartidários, grupos de debate, grupos de pressão, em suma, a sociedade civil, que se mexe, que actua, que questiona e que põe em causa o poder instituído. Algo me diz que na Rússia também se estará a passar o mesmo, pois isto passa-se em todo o Mundo, bastando para tal haver pessoas formadas, conscientes, interventivas e com os meios de comunicação actualmente disponíveis. Por isso é que há o movimento Ocupar Wall Street (que está a ser “despachado” pela polícia); movimentos dos Indignados um pouco por toda a Europa; revoluções do Twitter no Médio Oriente (vamos ver se não vai dar buraco, eu acho que vai mas esperemos quer esteja enganado), apoios massivos ao Ai Weiwei na China, etc.

Eis as alternativas. Agora é só escolher.

João Caniço disse...

Mas em 2004 o candidato presidencial apoiado pelo PCFR não foi Nikolay Kharitonov, que até pertencia ao Partido Agrário?

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Pippo, estou fundamentalmente de acordo consigo, mas trata-se de outro tema. Eu considero que o actual sistema político de partidos está fortemente desgastado, para não dizer, completamente esgotado. Mas o problema é que ainda não foram encontradas alternativas. Os novos movimentos sociais, nomeadamente os criados com base em redes sociais, ainda não arranjar forma de organização de forma a serem alternativa aos partidos clássicos. Estamos num período de transição.

Pippo disse...

Na verdade, JM, as alternativas são precisamente essas, as das organizações cívicas, diria mesmo até de "bairro", que são as que melhor conhecem as situações locais.

Na minha óptica, o futuro da democracia passará por um sistema mais orgânico, local, no qual os eleitores poderão eleger directamente os seus representantes.

Ou seja, em lugar de termos um sistema no qual os partidos (ou melhor, as direcções dos partidos) nomeiam os seus deputados, os quais poderão ser renomeados "ad aeternum" consoante as dinâmicas partidárias; teremos deputados eleitos directamente pelos eleitores, os quais serão directamente responsáveis pelo trabalho que apresentam e só serão reeleitos se derem luta.


O problema é que os nossos partidos políticos vedam a participação política a esses movimentos e a pessoas individuais. A lei eleitoral, aprovada pelos partidos políticos, especifica que apenas partidos podem concorrer a eleições à AR.
A excepção reside nas eleições autárquicas, na qual podem concorrer formações apartidárias. Curiosamente, o que temos visto por cá é que essas formações apenas têm servido para apoiar pessoal, digamos... com problemas na Justiça (Isaltino, Felgueiras, etc.).

O intervencionismo social também tem um outro problema, que é o da desinformação generalizada aliada à existência de uma "sociedade da informação", facilmente manipulável através dos sentimentos e das meias-verdades. É o que se verifica, por exemplo, na clássica discussão israelo-palestiniana (a maior parte das pessoas toma uma posição, baseada em sentimentalismos, sem contudo conhecer a verdade dos factos), ou a das discussões que aqui temos sobre a Rússia.
Ora, o mesmo ocorre relativamente a questões de âmbito mais vasto, por exemplo a economia (nacional e internacional), a estratégia, a fiscalidade, defesa, cultura, demografia, etc.
A maioria da população desconhece estes assuntos e facilmente cai no populismo demagógico.

Não obstante, o novo activismo, extremamente interventivo e cada vez mais global, é provavelmente a única forma de resolver os problemas da partidocracia vigente e, como tal, os problemas, cada vez mais agudos, do abuso de poder e da perpetuação no poder das formações políticas do costume.

Jest nas Wielu disse...

Mas será que as matemáticas do tipo “cidade de milhões de habitantes, dez mil insatisfeitos...” só vale para Moscovo? E o movimento dos 99%?

Jest nas Wielu disse...

a famosa "carrusel" russa:
http://lenta.ru/articles/2011/12/04/carousel/