quinta-feira, agosto 15, 2013

Egito: mais uma dor de cabeça também para o Kremlin


O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia recomendou hoje aos seus cidadãos russos a evitar visitas ao Egito devido aos confrontos nesse país.
“Os confrontos e desordens, que começaram na capital, alastram rapidamente a outras cidades e regiões do Egito, incluindo as visitadas por turistas. Nesta condições, o MNE da Rússia recomenda hoje aos seus cidadãos russos a evitar visitas ao Egito”, declarou Alexandre Lukachevitch, porta-voz da diplomacia russa.
A Embaixada do Egito na Rússia considerou, num comunicado publicado na capital russa,  “sem fundamento” as recomendações da diplomacia de Moscovo, sublinhando que “não se compreende como foi tomada semelhante decisão se não houve nenhum ataque contra turistas”
Irina Turina, porta-voz da Associação de Industriais do Turismo da Rússia, disse à agência Interfax que no Egito descansam, atualmente, entre 40 a 60 mil russos.
Esta associação aconselha os turistas russos a “não saírem do território dos hotéis”.
O Presidente russo, Vladimir Putin, ordenou ao Serviço de Fronteiras do Serviço Federal de Segurança (ex-KGB) da Rússia para prestar especial atenção à guarda das fronteiras do Sul, Extremo Oriente e no Ártico.
“Claro que é preciso prestar atenção especial… ao Sul, ao Cáucaso do Norte, à cooperação com os colegas nas repúblicas da Ásia Central, tendo em conta a situação no Afeganistão, e claro, ao Extremo Oriente e região do Ártico”, afirmou ele num encontro com Vladimir Kulichov, dirigente desse serviço.
Vladimir Putin não falou concretamente da situação do Egito, mas parece-me evidente que as ordens por ele dadas para o flanco meridional da Rússia estão diretamente ligadas com esse perigoso foco de tensão no Norte de África e Médio Oriente.
Parece não haver dúvidas de que a situação no Egito está para durar. O mais provável, considero eu, é que este conflito se transforma numa longa guerra civil como já aconteceu na Argélia há alguns anos atrás.
Juntando esta “potente carga explosivo” à já gravíssima situação no Norte de África e no Médio Oriente, conclui-se que os dirigentes russos receiam que as chamas se alastrem rapidamente ao Mar Cáspio e ao Cáucaso do Norte.
O Cáucaso do Norte continua a ser o “tendão de Aquiles” da Federação da Rússia, sendo a situação particularmente instável no Daguestão. Além disso, Vladimir Putin prevê – e com toda a razão – a desestabilização da situação na Ásia Central depois da retirada das forças da NATO Afeganistão em 2014.
Se olharmos para o mapa, A Rússia arrisca-se a ver grande parte da sua fronteira meridional numa zona de forte turbulência político-militar. Por conseguinte, as tropas fronteiriças do FSB (Serviço Federal de Segurança) têm um papel de primordial importância na tarefa de impedir infiltrações islamitas a partir do exterior, bem como não permitir o abastecimento dos destacamentos separatistas no interior da Rússia com armas.
Quanto ao Extremo Oriente, a Rússia tem de estar atenta à situação cada vez mais instável na região, rica em potenciais conflitos provocados por disputas territoriais.
No Ártico, Moscovo pretende que a rota marítima do Norte, com perspetivas de desenvolvimento cada vez maiores, não lhe fuja das mãos, não deixe de ser uma “rota marítima russa” para se transformar numa passagem internacional. Além disso, o Kremlin pretende controlar as riquezas incalculáveis que essa região esconde.
Xadrez internacional muito complicado para a direção de um país em estado de estagnação económica. Vamos ver como é que Vladimir Putin vai controlar estas e outras situações da política externa, num momento em que as relações com os Estados Unidos e a União Europeias estão tensas.

1 comentário:

Ricardo disse...

Quem está acompanhando a situação vê claramente o exército massacrando pessoas desarmadas. O estranho de tudo isso é o silêncio do ocidente diante de tal violação dos direitos humanos. É por isso que UE e EUA perdem credibilidade, acham um escândalo uma lei que proíbe propaganda homossexual na Rússia, mas considera "normal" um governo assassinar cidadãos desarmados. Quando incoerência.