quinta-feira, novembro 29, 2007

Kasparov denuncia conformismo do Ocidente


Garri Kasparov, antigo campeão do mundo de xadrez e dirigente da Frente Cívica Unida (FCU), acusou os dirigentes dos países ocidentais de terem dado “carta branca” ao Presidente Putin para reprimir a oposição.
“Elas (autoridades) já não reagem às críticas externas. A carta branca que Putin recebeu dos dirigentes dos países democráticos nas várias cimeiras dos sete leva-as a fazer o que querem. Não se sabe até onde irão” – declarou aos jornalistas que se reuniram junto do edifício onde reside o ex-campeão do mundo de xadrez, no centro de Moscovo.
Garri Kasparov saiu para a rua e falou com os jornalistas durante cerca de vinte minutos.
Uma das mais conhecidas figuras da oposição ao Presidente Putin considerou a sua detenção “uma violação sem precedentes da lei e da Constituição”.
“Trata-se de um sinal de que o poder não travará perante nada. Iremos exigir a abertura de processos-crime quanto a todas as violações da lei” – declarou Kasparov.
Garri Kasparov considerou que as autoridades violaram a lei quando “impediram o encontro do meu advogado comigo” e quando o tribunal se recusou a ouvir testemunhas que “podiam provar que eu não desobedeci às autoridades”.
“Fica-se com a impressão de que não há controlo sobre o que se passa nas esquadras da polícia, de que teve lugar um golpe constitucional e que todo o poder na Rússia está nas mãos de pessoas vestidas à civil, sem nome, mas perante os quais tremem os chefes da polícia” – frisou.
A polícia que se encontrava no local obrigou os jornalistas e manifestantes a dispersarem, ameaçando fazer novas detenções porque “está a ser realizado um ajuntamento não autorizado”.
A fim de evitar novas detenções, Kasparov retirou-se para casa, mas antes anunciou que pretende amanhã dar uma conferência de imprensa. Antes de entrar em casa depois de ter saído da prisão, Kasparov chamou a atenção para o facto de o seu país estar a avançar para uma ditadura.
“O regime entra numa fase muito perigosa de regresso à ditadura” – declarou o líder da oposição aos jornalistas e manifestantes que o esperavam junto da sua residência, no centro de Moscovo, após ter abandonado a prisão.
“Não me deixarei desencorajar na minha determinação de combater este regime. Entramos numa nova fase de oposição ao regime” – acrescentou o dirigente da organização Outra Rússia, que reúne várias forças da oposição a Vladimir Putin Kasparov tinha sido detido no passado sábado durante a “Marcha dos Discordantes” pela polícia de choque e condenado a cinco dias de prisão por “perturbar a ordem pública” e “organizar uma manifestação não autorizada”.
“Ele foi libertado um pouco antes do que nós pensávamos” – declarou aos jornalistas Marina Litvinovitch. A saída da prisão de Garri Kasparov, um dos principais adversários políticos do Presidente Putin, estava prevista para as 16.30 horas (13.30 TMG), mas isso acabou por ocorrer meia hora antes, o que foi inesperado para os seus correlegionários. Como era desconhecido estabelecimento prisional onde se encontrava detido este dirigente da oposição russa, dezenas de jornalistas e de apoiantes seus reuniram-se junto do edifício onde reside Kasparov a fim de ouvir as suas declarações.
A detenção de Kasparov, que já anunciou que irá lutar pelo cargo de Presidente da Rússia nas eleições de 02 de Março, foi condenada por numerosos políticos e organizações internacionais.
“As acções das autoridades russas – desde a detenção infundada do dirigente da oposição Garri Kasparov até ao espancamento de jornalistas, defensores dos direitos humanos e ao emprego de força exagerada em relação a manifestantes pacíficos – contribuiram para o estabelecimento de uma atmosfera em que é complicado ou mesmo impossível exprimir desacordo e falar das violações dos direitos do homem” – declarou Nicola Duckworth, directora da Amnistia Internacional para a Europa e Ásia Central.

quarta-feira, novembro 28, 2007

Até as cadeiras de ginecologia ganham votos na Rússia


As autoridades russas recorrem às mais insólitas iniciativas para atrair os eleitores no domingo, o que levou a imprensa a organizar o rating das propostas mais atraentes.
As sondagens apontam para uma afluência às urnas de cerca de 60% dos inscritos, mas como se torna cada vez mais evidente o resultado do escrutínio, as autoridades receiam que os russos prefiram ficar em casa e estraguem uma “grande vitória” da Rússia Unida, ou seja, do Presidente Putin.
“Seria desejável que, nos restantes dias, os dirigentes das regiões, das comissões eleitorais e dos órgãos de poder local se dirigissem uma vez mais aos eleitores para que participem na votação” – pediu Vladimir Tchurov, dirigente da Comissão Eleitoral Central da Rússia.
O diário russo Trud encontrou as propostas mais originais nas regiões siberianas de Tchita e Omsk, onde os eleitores poderão ter acesso a consultas grátis de ginecologia e urologia no local onde exercerem o seu dever cívico.
Além disso, eles poderão adquirir, com descontos de 05 a 15 %, todo o tipo de mercadorias, desde livros a produtos de limpeza. Em Barnaul, no Sul da Sibéria, os eleitores poderão provar gratuitamente queijo nas mesas de voto, e, em Kemerovo, no centro da mesma região, também sem pagar um cêntimo, cortar e pentear o cabelo , encomendar uma saia a costureiros profissionais, cantar karaoke.
Os eleitores que votarem até às 13 horas, as autoridades de Kemerovo municipais prometem bilhetes para jogos de hóquei no gelo, piscinas e teatros para toda a família. Os jovens poderão optar por entradas livres nos night-clubes. “Se encontraste tempo para votar, encontra para dançar!” – eis a palavra de ordem.
Mas se os eleitores de Kemerovo optarem por fazer uma revisão ao seu corpo, podem consultar, nos locais onde votam, médicos terapeutas, bem como ginecólogos e urólogos. Além disso, podem fazer radiografias, electrocardiogramas, mamografias e análises de sangue.
Em várias regiões da Rússia, as autoridades vão realizar lotarias entre os eleitores, podendo estes ganhar valiosos prémios como computadores, frigoríficos, máquinas de lavar, etc. No Círculo Autónomo dos Khanti e Mansi, nos Urais, as autoridades vão ainda mais longe e prometem oferecer um apartamento “aos melhores eleitores”.
Em Tiumen, na Sibéria Ocidental, há 137 mil prendas para oferecer aos melhores eleitores. “Vai reinar em todos os bairros da cidade uma atmosfera festiva: concertos, concursos e sorteios de prémios” – informa a agência TASS, citando as autoridades locais.
“Entre os prémios há automóveis e apartamentos, telemóveis e televisores” – acrescenta a agência.

terça-feira, novembro 27, 2007

O meu amigo Rachid Kaplanov partiu


Para a esmagadora maioria dos leitores deste blogue, o nome de Rachid Kaplanov pode não dizer nada, mas sei que era amigo muito grande de alguns.
Kaplanov faleceu hoje de manhã no Instituto de Cardiologia de Moscovo aos 58 anos de idade. Um ataque cardíaco ceifou-lhe a vida. Morreu com aquele sorriso nos lábios com que viveu, com que recebia e ajudava os amigos.
Foi das primeiras pessoas que conheci e com quem fiz amizade quando cheguei à União Soviética em 1977. Imaginam um soviético a falar correctamente português e com um conhecimento fundamental da nossa história!? Mas o melhor veio depois, Rachid, filho de pai muçulmano e mãe judia, falava 36 línguas estrangeiras, tinha uma bagagem intelectual única, mas não era invejoso, partilhava a sua sabedoria com todos. Além disso, na era comunista, não escondia as suas ideias liberais e democráticas, o que lhe trouxe grandes dissabores, por exemplo, não lhe era permitida a saída ao estrangeiro.
Mas nunca desanimava, acreditava, ao contrário de muitos, que o fim do comunismo na Rússia estava para breve. Quando a cortina de ferro caiu, desforrou-se a viajar, queria consultar arquivos, bibliotecas, conhecer os países que tinha estudado. A doença apanhou-o numa dessas viagens pela Ucrânia.
Não exagero se disser que Rachid Kaplanov era um dos intelectuais que na União Soviética e na Rússia mais fizeram pela divulgação da História e da Cultura Portuguesas. Era o maior conhecedor das relações entre Portugal e a Rússia, principalmente no que dizia respeito ao papel dos judeus nesse processo. Não existia especialista igual no estudo da vida e obra de Ribeiro Sanches, médico judeu português que trabalhou 27 anos na Corte russa.
Além disso, era um grande especialista em separatismos na Europa, dedicando grande parte da sua vida ao estudo dos chamados "pequenos povos". Um dia, perguntei-lhe porque é que ele se interessou pela língua mirandesa e ele respondeu: "Por solidariedade, para ser mais um a falar".
"E basco?" - perguntei-lhe noutra ocasião. "- Porque devem ser as únicas cartas que escrevo para o estrangeiro que não são controladas pelo KGB (polícia política soviética), pois eles não devem ter tradutor dessa língua".
Se consultarem a enciclopédia soviética "Povos do Mundo" ou outras obras de divulgação científica, poderão constatar que Rachid foi o autor de entradas sobre portugueses, bascos, brasileiros, etc.
Rachid era um cidadão do mundo. Em Moscovo, eu vivia num edifício onde residiam dezenas de pessoas das mais variadas nacionalidades, éramos tradutores. Quando nos juntavamos, ele falava em português com os portugueses, em italiano com os italianos, em dinamarquês com os dinamarqueses, em sérvio com sérvios, etc.
Tudo o que se pode dizer numa ocasião destas é pouco, quase nada...
Grande Rachid, ficam os teus textos, artigos, a tua memória... E para os teus amigos serás sempre o Príncipe.



P.S. Talvez esta não seja a melhor hora para escrever o que vou escrever, mas não posso deixar de o fazer. Um dos maiores desgostos de Rachid foi ter trabalhado, durante muitos anos, com um português na recolha de cartas e documentos de e sobre a vida e obra de Ribeiro Sanches e o português ter desaparecido depois de se apoderar do trabalho feito. Rachid esteve várias vezes em Portugal, tentou encontrar-se com ele, mas tudo em vão. Uns dias antes de morrer, durante uma das visitas que lhe fiz ao hospital, Rachid disse que não tinha perdido a esperança de que o português lhe telefonasse ainda para continuarem o trabalho. Eu disse-lhe que há muito tempo que ele deveria ter esquecido essa pessoa desonesta e indigna, mas ele sorriu e retorquiu: ainda não perdi a esperança. Por isso, se dentro de algum tempo, essa pessoa publicar alguma coisa, que não se esqueça pelo menos de citar o nome do mestre... E que não receie nada, porque o Rachid não lhe vai exigir direitos de autor, pelo menos neste mundo.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Testemunho da Marcha dos Discordantes em S.Petersburgo


Francisco Martinez, jovem jornalista espanhol e leitor deste blogue, enviou-me o seu testemunho directo dos acontecimentos em São Petersburgo, quando, no Domingo, manifestantes anti-Putin tiveram de enfrentar uma vez mais a polícia.

"El domingo 25 tenía prevista una entrevista con Kasparov. Su jefa de prensa me confirmó unas horas antes que estaba encerrado en una cárcel de Moscú. Aun así, me pasé por la marcha de protesta en Píter. Mera curiosidad. Ya al salir de mi casa -fontanka- empecé a notar que había mucha militsia en mi calle, algo inhabitual porque es bastante tranquila. Conforme voy llendo a la plaza del Ermitaje -donde estaba convocada la marcha- aparecen más y más policías, hasta llegar a la plaza (15min.), que estaba bloqueada en todas sus entradas con camiones quitanieve y furgones de los antidisturbios. Alrededor de la plaza ya encuentro a los Omón –antidisturbios-. Nunca he visto tanta policía junta, miles. Al principio voy con cuidado no hago fotos, aunque tampoco se ve movimiento por la entrada de arriba. Decido ir a la entrada de Nevsky, y efectivamente allí estaba el lío, junto al puente. Muchos policías, muchos periodistas y poca gente. Con cuidado voy para el lío. Estoy unos minutos mirando, hablo con algún periodista y veo a gente haciendo fotos, con acreditación de prensa y sin ella. También veo cómo van metiendo a muchas personas en furgones o en autobuses, dependiendo del ruído que hicieran. Decido hacer algunas fotos, con cuidado. Todo está rodeado de policía. Cruzo al otro lado de la calle, que es donde estaban los más jóvenes, pero procuro mantener cierta distancia. No hay enfrentamiento, pero aun así la policía detiene a mucha gente. A los que se resisten los cojen del pescuezo o los arrastran por las patas. Hago 6 o 7 fotos y de repente dos polis me cojen por detrás y me llevan a uno de los autobuses, sin preguntar. 12 personas en el fondo del bus y 8 policías. Nadie explica nada. Claro, guardé la cámara rápido en la mochila. Hablo con los que están ahí. Vi cómo engancharon al chico de mi derecha, no estaba haciendo absolutamente nada. A mi izquierda hay un periodista. Pregunta a los policías que nos custodian por qué nos tienen ahí, ¿qué hemos hecho?, los policías nos dicen que ellos no saben nada, y que tendremos de explicarlo en la comisaría. Él les dice que es periodista, y entonces los polis se ríen y dicen: "¿todavía preguntas por qué te hemos cogido? Siendo periodista tenemos aun más motivo. Sólo publicáis tonterías". Yo les cuento que soy estudiante y no tengo nada que ver con todo esto. Me preguntan que de dónde soy. Les digo que español, y contestan "Para qué has venido aquí con lo bien que se vive en España. Allí hace calor verdad?". Por la ventana vemos cómo cojen a más y más gente; indiscriminadamente, sin preguntar, incluso a periodistas con acreditación oficial y chaleco. Mi compañero de la derecha les pregunta si disfrutan haciendo eso, si se sienten realizados. Los policías rien, me miran y prenguntan "¿En España no pasa esto?". Tras 45 minutos de espera, sin que nadie explique nada, llega el jefe. Le cuentan que soy estudiante extranjero. Le enseño los documentos y me dejan salir, a mí y a otro chico. Al resto se los llevaron. La manifestación se está acabando, y los antidisturbios empiezan a coger a todos los que todavía rondaban por ahí. Eso sí, no tocan ni a las chicas ni a los ancianos. Salgo del bus y encuentro a un amigo alemán. Le estoy contando lo que me ha pasado y de repente llegan cuatro policías y nos detienen por detrás, llevándonos los brazos a la espalda. Al alemán se lo llevan, a mí me da tiempo a sacar el carnet de estudiante y le digo "pero si acabo de salir del furgón!" ..otro policía llega por detrás y saluda a los que me sujetan. "Cuánto tiempo hace que no nos vemos". Se ponen a hablar y me dejan ir. Mi amigo alemán estuvo media hora en el bus. Se encontró con cuatro turistas finlandeses que querían ver el ermitaje y también fueron detenidos. El canal Rossiya dio un especial por la noche, una especie de documental en el que decía que este fin de semana EEUU había intentado organizar premeditadamente una "Revolución Naranja" en Rusia, ridiculizaba a todos los líderes de la oposición, y hablaba del caos actual en Ucrania y Georgia. También decía que los manifestantes estaban entrenados, y que contrataban a gente -sobre todo ancianas- para provocar a la policía. La incertidumbre que existe cara a la salida de Putin está haciendo con que aumenten el control sobre el devenir político (asegurar la Duma) y repriman cualquier movimiento social que les quite capacidad de maniobra. Nadie en el Kremlin quiere que se vaya Putin porque temen una feroz lucha interna por el poder. Una lucha que ya ha empezado, como ejemplifica el encarcelamiento de Storchak, y el acorralamiento de Kudrin y Cherniakov".

Não metam aqui os vossos narizes ranhosos!


"Precisamos de tantas armas e de um Exército que sejam suficientes para garantir a própria segurança e nada mais", declarou Putin em São Petersburgo.
"Pois bem, devemos criar um Exército que evite que outros tenham a tentação de meter o seu nariz ranhoso aqui!" - dixit

domingo, novembro 25, 2007

Quem vê TV, ....


Se não me engano, foi o grupo de rock "Táxi" que cantava a canção "Quem vê TV, está pior que no WC".
Esta canção veio-me à cabeça ao ler e analisar os dados abaixo publicados. As coisas são feitas de tal forma que os eleitores começam a ter alucinações e afirmam ter visto o que não poderiam.

Os eleitores russos não prestam grande atenção aos debates eleitorais televisivos e entre os que assistem há os que dizem ter visto o que não podiam ver, revelam estudos da opinião pública.
No dia 02 de Dezembro, onze partidos disputam 450 assentos na Duma Estatal (câmara baixa do Parlamento) da Rússia.
Uma sondagem do Centro de Estudo da Opinião Pública (VTSIOM), realizada em 17 e 18 de Novembro, mostra que entre 74 a 87 por cento dos russos não vêem os debates parlamentares.
Uma semana antes, esse indicador era ainda maior: entre 84 e 92 por cento.
Os debates que suscitaram maior interesse contaram com a participação do Partido Liberal Democrático, Partido Comunista e Rússia Justa.
O auditório mais reduzido foi registado nos debates em que estiveram o Partido da Justiça Social, o Partido Agrário e o Partido Democrático.
Ao mesmo tempo, 08 por cento dos respondentes afirmaram ter visto debates na televisão com a participação da Rússia Unida, embora este partido, cujo cabeça de lista é o Presidente Putin, se tenha recusado a participar nesses debates.
Uma semana antes, o número de respondentes que dizem ter assistido a esses debates inexistentes era ainda maior: 13 por cento.
A sondagem do VTSIOM mostra ainda que 69 por cento dos respondentes que dizem ter visto esses debates deram a vitória ao partido de Putin.
“Já antes, nos órgãos de informação foi posta em causa a integridade dos métodos de trabalho do VTSIOM, em cujo conselho de directores estão representantes da Presidência. Eles são também os principais encomendadores, não só dos estudos, mas, como se disse, igualmente dos resultados” – escreve o jornal electrónico newsru.com.
Segundo outro estudo, realizado pelo Levada Tsentr entre 09 e 13 de Novembro, 64 por cento dos inquiridos não acompanharam os debates televisivos e 43 por cento estão convencidos que os debates “não exercem qualquer influência na escolha do partido”.
A mesma sondagem mostra que 48 por cento dos inquiridos consideraram que as eleições parlamentares “não passa de imitação de luta e a distribuição dos assentos no Parlamento depende da vontade do poder”.
34 por cento acreditam que tem lugar “uma luta real pelos assentos parlamentares”.

"Paradoxos eleitorais"


As sondagens e estudos da opinião são unânimes a mostrar que, no próximo Domingo, o Partido Rússia Unida, cujo cabeça de lista é o Presidente Putin, vencerá as eleições parlamentares com uma maioria confortável. Resta saber se a vitória será por 56 ou 70% e quantos partidos superarão a barreira dos 07%, que permitirá eleger deputados da Duma Estatal: um, dois ou três.
Como já escrevi, a campanha eleitoral faz lembrar o teatro do absurdo. Todos os meios trabalham para a vitória de um homem, cujo nome todos conhecem.
Durante a campanha presidencial de 1996, o candidato comunista, Guennadi Ziuganov, dizia em relação aos meios empregues pelo seu principal adversário, que acabou por o derrotar: "Acordamos com Ieltsin e deitamo-nos com ele". Eu acrescentaria que, desta vez, além do acordar e do deitar, deve haver muitos russos que também vêem Putin durante os sonhos ou pesadelos.
Não obstante toda a confiança na vitória, o Kremlin envia para as ruas milhares de polícias de choque para reprimir as manifestações da oposição, que o poder diz não passar de "um grupo de marginais". Será isto um sinal de receio? Ou será um sinal de que quero, mando e posso?
Posso enganar-me, mas receio que Vladimir Putin está a edificar uma "vertical do poder" que lhe pode vir a cair em cima. Se ele cumprir a palavra dada e não se recandidatar ao cargo de Presidente da Rússia, o seu sucessor (mesmo que por ele apoiado) irá aceitar repartir o poder com Putin? Formar uma espécie de poder bicéfalo?
Na História da Rússia não conheço precedente. O único ser bicéfalo neste país está representado no seu escudo: a águia com duas cabeças, que olham em sentidos opostos.

sábado, novembro 24, 2007

Marcha dos Discordantes termina em confrontos


Cerca de três mil manifestantes participaram na “Marcha dos Discordantes” na capital russa, tendo a manifestação terminado com confrontos com a polícia e detenção de líderes da oposição ao Presidente Putin.
Os participantes da marcha, organizada pela Frente Cívica Unida, União das Forças de Direita e outras organizações da oposição liberal ao Presidente Putin, tinham recebido autorização para se manifestarem num comício na Avenida Sakharova, mas tentaram romper os cordões policiais para chegarem ao edifício da Comissão Eleitoral Central da Rússia e entregar a resolução aprovada no comício.
“Quando o comício terminou, dirigimo-nos para o edifício da Comissão Eleitoral Central para entregar a resolução do comício. Fomos recebido pela polícia de choque (OMON). Começaram a espancar pessoas. Fomos empurrados para o outro lado da rua e empurrados para autocarros” – declarou por telefone Garry Kasparov, antigo campeão do mundo de xadrez e um dos dirigentes da oposição, depois de ter sido detido.
“Na rua trataram-nos muito mal – continuou Kasparov -, mas no autocarro nada nos fizeram por enquanto. Na rua, tentaram ferir-nos, a polícia de choque espancou”.
Além de Kasparov, a polícia deteve Eduard Limonov, dirigente do Partido Nacional-Bolchevique, Ilia Iachin, dirigente da organização juvenil do Partido Iabloko, Lev Ponomariov, membro da organização “Pelos Direitos Humanos”, e Maria Gaidar, filha do antigo primeiro-ministro russo, o liberal Iegor Gaidar.
A polícia de choque russa não poupou os representantes da imprensa, que estavam devidamente identificados com coletes especiais, tendo sido ferido o correspondente do jornal electrónico Lenta.ru.
Não obstante o grande aparato policial, alguns dos dirigentes da oposição conseguiram chegar ao edifício da Comissão Eleitoral Central e entregar a resolução aprovada no comício.
“É preciso compreender que se não tivermos receio e sairmos para a rua, o regime começará a ter medo e a não aguentar a pressão da sociedade. Ou se conserva o regime criminoso, ou se conversa o país” – declarou Kasparov ao discursar no comício.
“Os preços do petróleo aumentaram dez vezes, mas o nível de vida das pessoas não melhorou, pelo contrário, deteriorou-se com o actual aumento dos preços” – frisou.
Boris Nemtsov, dirigente da União das Forças de Direita, acusou Putin de “crueldade” e “cinismo”.
“A sua crueldade e cinismo revelaram-se no Teatro da Dubrovka, em Beslan, na tragédia do submarino Kursk” – declarou Nemtsov.
Respondendo às críticas que Vladimir Putin faz em relação à situação na Rússia nos anos 90 e ao poder dos pligarcas, o líder liberal declarou: “Nós lutavamos contra os oligarcas, enquanto que ele era amigo deles”.
“A Rússia anda para trás segundo todos os parâmetros. Encontra-se no 143º lugar quanto à corrupção, o exército de burocratas sofreu um aumento de seiscentas mil pessoas” – frisou.
“Olé, olé, olé! Em frente Rússia! Olé, olé, olé! Em frente sem Putin!” – concluiu Nemtsov.
A “Marcha dos Discordantes” deveria ter-se realizado noutras regiões da Rússia, mas isso não aconteceu devido às medidas tomadas pela posição, que deteve antecipadamente alguns dirigentes da oposição.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Contributo para História


Por uns bidões de aguardente brasileiro

Artigo de Serguei Kolomin, veterano soviético da guerra em Angola, num dos sítios electrónicos de veteranos de guerra.

"O tenente-coronel Mbeto Traça, chefe do Estado Maior da Força Aérea e da Defesa Anti-Aérea de Angola no início dos anos 80, queixou-se, certa vez, de que o Exército angolano tinha falta de bombardeiros para a frente de combate e propôs ao seu conselheiro, ao coronel Saveliev, que estudasse a questão da utilização dos aviões de transporte Antonov-26 para bombardear a toca de Savimbi em Jamba.
Todas as explicações de que esse avião não servia para tais fins apenas irritavam o angolano. Ele exigia insistentemente que se equipasse aviões com mecanismos especiais para pendurar bombas FAB-250 e FAB-500, que havia em quantidades suficientes nos arsenais. Mas viu-se que os Antonov-26 eram fornecidos a Angola não pelo Ministério da Defesa, mas pela Aviação Civil. Esta instituição puramente civil considerava com razão que ela nada tinha a ver com o reequipamento dos aviões para fins militares.
As discussões entre as partes realizaram-se vários vezes, mas não deram resultados. Embora os nossos especialistas considerassem possível o reequipamento dos aviões, havia uma causa importante que travava esse processo.
Em 1981, ainda não havia pilotos angolanos para os Antonov-26 (nos finais dos anos 80, quando já havia pilotos suficientes para os Antonov-26, eles bombardeavam com êxito as bases da UNITA). Mas os então conselheiros do comandante e chefe do Estado Maior da Força Aérea e da Força de Defesa Anti-Aérea de Angola, coronéis Kislitsin e Saveliev, depois de puxar pela cabeça, concluíram que os angolanos, depois do reequipamento dos aviões de transporte em militares em bombardeiros, darão o seguinte passo lógico: exigirão dos nossos pilotos voar para bombardear Savimbi. E então? Como reagirá a opinião pública mundial?
Nessa altura, um avião soviético Antonov-26, que fazia um voo de transporte para Menongue, capital da província Cuando-Cubango, foi derrubado por um míssil da UNITA e dois pilotos soviéticos foram feitos prisioneiros. O serviço de imprensa da UNITA apresentou as coisas como se eles tivessem bombardeado cidades pacíficas que se encontravam sob o controlo de Savimbi. Não se podia permitir semelhante desenrolar dos acontecimentos.
Mbeto Traça, entretanto, já tinha informado as “cúpulas” da sua ideia prometedora de eliminar Savimbi com a ajuda dos Antonov-26 e não tencionava dar marcha atrás. Sem o conhecimento do seu conselheiro, ele ordenou ao tenente Michael, comandante de uma base aérea em Luanda, que preparasse mecanismos para pendurar as bombas nas oficinas locais. A falta de perspectivas desta alhada era evidente. Porém, ela quase foi realizada na prática!
O que fez Michael, guerrilheiro emérito do MPLA, que tinha uma ideia muito pouco aproximada da aviação, depois de receber a ordem? Foi ter directamente com técnicos soviéticos que prestavam assistência aos aviões angolanos Mig-17 e cubanos Mig-21 bis. Em compensação, prometer trazer dois bidões de excelente álcool brasileiro bebível, que os angolanos tinham adquirido para a realização de trabalhos de afinamento em substituição do álcool soviético para rectificação que há muito tinha sido bebido pelos nossos. Os nossos técnicos, impulsionados por perspectiva tão atractiva (já corriam lendas entre o pessoal técnico soviético sobre o aguardente brasileiro, produzido a partir de uvas naturais e com um odor divino do bagaço georgiano, que tinha recentemente entrado nos armazéns), puseram as mãos ao trabalho.
Engenheiros e técnicos, durante uma semana, faziam feitiçarias nas oficinas da base aérea em Luanda, até que isso acabou de chegar aos ouvidos do coronel Saveliev, conselheiro do chefe do Estado Maior da Força Aérea e da Defesa Anti-aérea. O engenheiro principal junto da secção de exploração técnica “apanhou nas orelhas” e ordem para esquecer essa “ideia delirante”. Os restantes tiveram de esquecer o milagroso álcool com “cheiro a aguardente”.
Este caso serviu de pretexto para fazer “um ponto da situação”. Felizmente para os técnicos, a chefia não soube nada do álcool. Mas a reunião seguinte do grupo de conselheiros e especialistas da Força Aérea e da Defesa Anti-aérea de Luanda foi totalmente dedicada ao “reforço da interacção dos elos superior e inferior do aparelho de conselheiros”.
Entretanto, o comando da Força Aérea angolana não conseguia acalmar-se na sua intenção de bombardear Savimbi. Depois do fiasco com o reequipamento do Antonov-26, o tenente-coronel Mbeto Traça teve mais uma “ideia genial”. Num encontro com o seu conselheiro, ele declarou, inesperadamente, que o seu país irá pedir à URSS para submeter a Jamba a “bombardeamentos em tapete" por aviões estratégicos soviéticos Tupolev-95”. Mas teve mais uma desilusão. O tenente-coronel, que não tinha instrução militar, ficou muito surpreendido ao saber que os voos regulares da URSS para Luanda, através de Havana, e de volta não eram bombardeiros, mas de reconhecimento. Depois de pensar um pouco, disse: “Mas pode-se pendurar bombas neles?”. Quando recebeu mais uma resposta negativa, entre o conselheiro e o aconselhado “atravessou um gato preto” e as relações ficaram estragadas durante muito tempo."

quinta-feira, novembro 22, 2007

Gás natural mostra dependência entre vodka e caviar

As empresas russa Gazprom e italiana Eni assinaram hoje (quinta-feira) um acordo sobre a formação de uma empresa conjunta que deverá construir o gasoduto South Stream, que poderá fornecer gás natural da Rússia à Europa.
O acordo foi assinado na presença de Vladimir Putin, Presidente da Rússia, e de Romano Prodi, Primeiro-ministro italiano, no Kremlin de Moscovo.
Segundo o projecto já elaborado, o novo gasoduto, que ligará a corta russa do Mar Negro e Itália, terá uma capacidade de transporte anual de 30 mil milhões de metros cúbicos de gás e custará mais de 07 mil milhões de euros.
A Gazprom e a Eni dividirão a meio as acções da nova empresa, mas os seus directores anunciaram que o capital da empresa poderá ser aberto a empresas dos países atravessados pelo gasoduto.
O South Stream deverá ser instalado através das profundezas do Mar Negro para ligar as costas russa e búlgara. Depois, há dois possíveis trajectos para a continuação da construção por terra.
O primeiro prevê a construção através da Grécia, Albânia, Mar Adriático e Sul de Itália. O segundo prevê a instalação através dos Balcãs até ao Norte de Itália e Sul da Alemanha, podendo os dois trajectos ser complementares.
Este projecto é semelhante à ideia de construção do Nord Stream, gasoduto que irá ligar a Rússia à Alemanha através das águas do Mar Báltico.
“O projecto South Stream tem uma importância estratégica para a segurança energética da Europa, baseada nos princípios da transparência e da tomada em conta dos interesses dos fornecedores e consumidores de energia. Manifestamos o nosso reconhecimento à Comissão Europeia pelo seu apoio a este projecto” – declarou Vladimir Putin depois da assinatura do acordo.
“A União Europeia precisa da Rússia tal como a Rússia necessita da Europa, os nossos destinos estão ligados” – respondeu Roman Prodi.
O Primeiro-ministro italiano recordou que, quando era presidente da Comissão Europeia, disse que a “Rússia e a UE são como a vodka e o caviar”. “Agora, sinto mais profundamente essa interdependência” – concluiu Prodi.

КУРС ПУТИНА


As autoridades policiais russas iniciaram um processo administrativo contra Ella Kessaeva, dirigente da organização social “Voz de Beslan”.
O motivo foi a instalação, perto da Escola Nº 1 de Beslan, de uma tabuleta de madeira que aponta para o edifício em ruínas e onde está escrito “Kurs Putina” (Rumo, Direcção ou Política de Putin).
A 01 de Setembro de 2004, alunos e professores da Escola Nº 1 de Beslan, na Ossétia do Norte, foram feitos reféns por terroristas que exigiam a retirada das tropas russas da Tchetchénia.
Dois dias depois, durante a operação de resgate, foram assassinadas 334 pessoas, das quais 186 eram crianças.
Nurpachi Kulaev, o único terrorista que ficou vivo, foi condenado a prisão perpétua.
Os parentes e amigos das vítimas criaram duas organizações: “Voz de Beslan” e “Mães de Beslan”, a fim de exigirem uma investigação independente da forma como foi realizada a operação de resgate.
As autoridades acusam Ella Kessaeva de ter “instalado um sinal de trânsito sem o acordo com a Polícia de Trânsito”. “Absurdo, porque a tabuleta não é um sinal de trânsito. Não conseguiram inventar algo melhor e mais sensato e não me quiseram castigar por eu ter expresso a minha opinião sobre o Presidente do país” – precisou Kessaeva.
A dirigente da “Voz de Beslan” manifestou perplexidade pelo facto de a tabuleta ter sido instalada durante um comício realizado no dia 07 de Novembro e a polícia ter reagido apenas 15 dias depois.
Segundo Kessaeva, isso mostra que a ideia de a castigar não partiu das autoridades locais. A ideia de instalar a tabuleta foi provocada pelas iniciativas de apoio ao “Kurs Putina”, realizadas na Ossétia do Norte e em toda a Rússia durante a campanha eleitoral.
“A tabuleta de madeira de dois metros foi solidamente feita e para aguentar muitos anos” – lê-se numa declaração de Kessaeva, publicado no sítio da “Voz de Beslan”.
“Se alguém o retirar, voltaremos a colocá-lo no mesmo lugar para que os forasteiros vejam que os cidadãos da Ossétia do Norte não esquecem a tragédia e não a deixarão esquecer. Para que as pessoas vejam onde conduz a política de Putin” - conclui.
O julgamento de Ella Kessaeva deverá ter lugar durante um mês e ela poderá ter de pagar um multa.

Campanha eleitoral reduzida a um jogador e uma baliza sem guarda-redes


O Zé não é cidadão do país X e, por conseguinte, no dia das eleições parlamentares, não terá direito a voto, mas a sua ligação a esse país dá-lhe o direito, pelo menos ele assim considera, de compartilhar com os leitores a sua opinião (subjectiva) sobre a campanha eleitoral.
Evgueni Koliuchin, membro da Comissão Eleitoral Central do X, caracterizou a campanha eleitoral com o adjectivo "убогий", que para português pode ser traduzido por "deplorável", "miserável".
O Zé considera que não se pode encontrar palavras melhores para descrever a luta eleitoral, embora, talvez influenciado pelos últimos acontecimentos futebolísticos, arrisca ainda outra imagem: a campanha assemelha-se a um jogo de futebol num campo com uma baliza e onde só joga um craque. E para que nada falhe, a baliza está sem guarda-redes.
Vocês sabem tão bem como o Zé o nome do craque e qual será o resultado do jogo, mas o que
(ainda!) o espanta é a forma grosseira e descarada como as coisas são feitas (Qual Apioto Dourado!).
Será que, por exemplo, a selecção portuguesa de futebol, mesmo não estando na sua melhor forma, necessitaria de pôr em campo Cristiano Ronaldo frente à baliza deserta da selecção do Cazaquistão (com o devido respeito pela selecção do país "cantado" por Borat) para conseguir qualificar-se para a final do Euro-2008?
O craque do país X parece necessitar não só disso, mas também da ajuda de algumas pessoas que transportem a baliza ao encontro da bola para que o remate não falhe.
Ontem, estava o Zé a ver o telejornal do primeiro canal de televisão do país X e decidiu medir o tempo dispensado ao craque e ao seus opositores. Pois é, o primeiro teve direito a vinte dos trinta minutos que durou o programa informativo; os dez partidos da muita e da pouca oposição conseguiram quatro minutos, tendo os restantes seis minutos sido dedicados ao futebol, ou não fosse um dia decisivo para a selecção do país X.
O craque do país X falava perante cinco mil apoiantes vindos dos mais remotos cantos do seu território. Na organização do evento notou-se a mão de alguma agência de comunicação estrangeira, pois o comício deixou de se assemelhar a um congresso comunista para se aproximar daquelas conferências que os republicanos e democratas organizam durante as campanhas eleitorais nos Estados Unidos.
Foram revelados os nomes dos inimigos do país X, ou seja, aqueles que, nos anos 80, privaram o povo de "fósforos e sal" e acabaram por levar à queda de uma superpotência chamada CCCP, bem como os que, nos anos 90, pilharam o povo e ajudaram os oligarcas a apoderarem-se das riquezas nacionais.
As más línguas da oposição lembraram que o craque fez parte de ambas as equipas adversárias citadas, tendo ocupado posições de relevo em campeonatos passados. Muito dos actuais colegas do craque também fizeram parte das citadas equipas, mas essas declarações venenosas não chegam às televisões.
Os estudantes da opinião pública prognosticam que o craque consiga marcar 371 dos 450 golos possíveis, ficando os restantes para a obediente selecção vermelha. Porém, se as regras de jogo continuarem a ser cumpridas com tanto afinco, o craque arrisca-se a marcar os golos todos.
Poderão os leitores perguntar ao Zé: "mas isso não é feio?", "Será que não se podem fazer as coisas de forma mais inteligente?"
Se calhar, o craque não precisava de regras tão estranhas para vencer o jogo, mas, não vá o diabo tecê-las, ele não acredita nos apoiantes e, por isso, não perde também a oportunidade para se reunir com hierarquias ortodoxas e muçulmanas.
E mais uma notícia de última hora: um instituto de investigação científica de Zurique decidiu apresentar a candidatura do craque a Prémio Nobel da Paz pelo apoio dado ao desenvolvimento da nanotecnologia. Mas esta ciência não tem mais a ver com a Física?

quarta-feira, novembro 21, 2007

Rússia esgotou reservas soviéticas no campo da tecnologia espacial



“As reservas científicas e tecnológicas criadas nos anos 80 do século passado já se esgotaram. A indústria nacional perdeu, na realidade, a capacidade de fabricar uma parte significativa dos aparelhos e peças. Os fabricantes de complexos espaciais vêem-se, agora, obrigados a comprar no estrangeiro os aparelhos de que necessitam” – declarou Serguei Ivanov, primeiro vice-primeiro-ministro do Governo russo.

Intervindo na reunião da comissão militar-industrial junto do Governo da Rússia, realizada na cidade de Samara, Ivanov reconheceu também que, actualmente, o seu país “sente grande falta de naves espaciais, aparelhos de espionagem óptico-electrónica, geodésicos e meteorológicos”.
“Os aparelhos que hoje se encontram em órbita não podem cobrir completamente as nossas necessidades no que respeita à obtenção de informação espacial” – sublinhou, acrescentando que, em algumas áreas, “a cobertura é de 20-25 %”.
Segundo Ivanov, o prazo médio de exploração dos satélites russos de comunicação e televisão é de seis anos e meio, enquanto que os satélites estrangeiros “vivem na órbita” entre 12 a 18 anos.
“Gostaria de sublinhar especialmente que a Rússia não se deve transformar num país que presta apenas serviços de lançamento de foguetões, numa espécie de agente de transportes espacial” – acrescentou o ministro russo.
“Isso pode-se tornar realidade se não forem tomadas as medidas necessárias para o desenvolvimento de todos os componentes da actividade espacial” – concluiu.

O segundo rapto da Europa?

O boicote das eleições parlamentares no Kosovo por parte da maioria dos sérvios da região põe em causa a legitimidade política dos órgãos de poder que vierem a ser formados, considerou Mikhail Kaminin, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia.
“Sem dúvida que se coloca a questão de que até que ponto serão legítimos os órgãos de poder que forem formados sem a participação dos sérvios. Serão eles capazes de interagir construtivamente com a segunda comunidade étnica no Kosovo, sem a qual é impossível garantir a estabilidade e a perspectiva de desenvolvimento da região?” – questiona Kaminin.
Segundo ele, os sérvios protestaram dessa forma contra a incapacidade das estruturas internacionais que se encontram na região, que não conseguem eficazmente realizar o previsto na resolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU, principalmente no que respeita à defesa dos direitos dos representantes das minorias nacionais.
“Claro que o protesto vai também contra as declarações cada vez mais frequentes dos kosovares albaneses sobre a prontidão de proclamar unilateralmente, nos tempos mais próximos, a independência do Kosovo” – acrescentou o porta-voz da diplomacia russa.
Mikhail Kaminin sublinhou também que a campanha política que antecedeu às eleições passadas no Kosovo reflectiu-se de forma negativa no avanço das conversações directas entre Belgrado e Pristina.
Segundo ele, considerações eleitorais levaram os dirigentes políticos kosovares albaneses que participaram nas conversações a competir “quando ao nível de dureza na defesa da exigência da soberanização incondicional do Kosovo”.
“Desse modo, foi causado um prejuízo sensível aos esforços da comunidade internacional com vista a levar Belgrado e Pristina a uma saída mutuamente aceitável para o estatuto da região” – frisou Mikhail Kaminin.
No passado sábado, realizaram-se eleições parlamentares no Kosovo. Segundo dados prévios, na votação participaram 45% dos inscritos e a população sérvia boicotou praticamente o escrutínio.
O problema do futuro estatuto do Kosovo é, talvez, um daqueles que piores consequências poderá trazer para a Europa no início do séc. XXI.
Pode-se afirmar mil vezes que a solução deste problema não constitui precedente, mas os defensores desta tese não conseguem apresentar argumentos sérios para a validar. Se os kosovares podem tornar-se independentes, porque é que... (aqui segue-se uma longa lista de povos europeus) não têm o mesmo direito?
Na segunda metade do séc. XX, a inviolabilidade de fronteiras foi um dos principais garantes da paz no Velho Continente. Se o direito à autodeterminação dos povos imperar no caso do Kosovo, o que acontecerá na Europa? Não tenho só em vista a União Europeia, mas todo o espaço europeu.
A Rússia tenta impedir a separação do Kosovo em relação à Sérvia, mas se perder a contenda, não será a potência que sairá mais prejudicada. Pelo contrário, Moscovo, que já controla de facto territórios georgianos como a Abkházia e Ossétia do Sul, ou moldavo como a Transdnistria, fica com mais um argumento para não abandonar essas terras. Basta recordar que 80% dos habitantes da Abkházia e Ossétia do Sul são já cidadãos da Federação Rússia.
Os oponentes desta tese poderão retorquir que a Rússia tem pontos fracos nesta área, mas não nos podemos esquecer que este país não se encontra no mesmo estado em que se encontrava há 10 anos atrás. A forma como foi resolvida, por exemplo, a questão do separatismo tchetcheno tira a vontade a qualquer outro povo da Federação da Rússia de tentar experiência semelhante.
Muito vai depender do rumo que as relações internacionais
vão tomar. Talvez valha a pena não precipitar uma solução unilateral do problema do Kosovo a fim de evitar o aparecimento de problemas idênticos na Europa.
A propósito, convém que a União Europeia desempenhe um papel sensato em todo este processo, porque os problemas estão também dentro dela, não tem um oceano pelo meio para a proteger de aventuras e passos errados.


terça-feira, novembro 20, 2007

Putin contra o crescimento de "músculos" da NATO


A Rússia irá aumentar a capacidade de defesa das forças nucleares estratégicas para desferir um golpe rápido e adequado a qualquer agressor, declarou Vladimir Putin, Presidente da Rússia, numa reunião com o comando do Ministério da Defesa do país.
“A Rússia não pode ficar indiferente ao aumento evidente de músculos da NATO nas fronteiras com a Federação da Rússia” – sublinhou o dirigente russo.
Segundo ele, a o cumprimento da moratória do Tratado sobre Tropas Convencionais na Europa, a que a Rússia dará início no próximo dia 13 de Dezembro, será uma das “medidas adequadas para responder ao aumento de músculos por alguns países da NATO”.
“Sublinho que se trata de uma medida forçada e necessária. Os nossos parceiros não só não ratificaram o tratado, como também não aderiram a ele. Logo que os nossos parceiros adiram na prática ao Tratado adaptado e, o que é principal, o comecem a cumprir, a Rússia analisará a possibilidade de voltar a cumprir os seus compromissos” – frisou Putin.
“Violando os acordos conseguidos, alguns Estados e países da NATO aumentam os recursos militares junto das nossas fronteiras” – acrescentou o dirigente russo, sublinhando também que “as propostas russas sobre, por exemplo, a criação de um sistema único de defesa anti-míssil acessível igualmente a todos os participantes, continuam, infelizmente, sem resposta”.
“Será que vamos ficar a esperar anos?” – perguntou Putin e respondeu: “É impossível continuar eternamente nesta situação”.
O Tratado sobre Tropas Convencionais na Europa foi assinado pela União Soviética e NATO em Paris, em 1990. Depois da desintegração da URSS, foi elaborado um Tratado adaptado, mas este só foi ratificado pela Rússia, Ucrânia, Bielorrússia e Cazaquistão. A 13 de Julho passado, Vladimir Putin anunciou a moratória desse documento, decisão que recebeu o apoio unânime das duas câmaras do Parlamento russo: Duma Estatal e Conselho da Federação, e entrará em vigor a 13 de Dezembro.
O Presidente Russo defendeu também a necessidade de aumentar a luta contra o terrorismo e o extremismo, justificando isso com a existência da “ ameaça séria de grupo terroristas e extremistas, bem como pontos quentes perto das fronteiras russas”.
É de assinalar que estas declarações são feitas durante a campanha eleitoral no país, que tem como um dos componentes centrais o anti-ocidentalismo. A maioria do eleitorado russo gosta que o seu dirigente fale assim.
Porém, esta política externa será para continuar se as relações entre a Rússia e o chamado Ocidente se continuarem a deteriorar. A nova "guerra fria" já começou, embora muitos dos políticos de ambos os lados não queiram reconhecer isso.
Desta vez, a "guerra fria" tem diferenças substanciais da primeira (1945-1989), sendo a principal: a Rússia está cada vez mais integrada no mercado mundial, o que não acontecia com a União Soviética. É verdade que a URSS, tal como a Rússia moderna, dependia fortemente do preço mundial dos hidrocarbonetos, mas o seu mercado interno era mais fechado e menos exigente. O actual mercado russo está já fortemente integrado no mundial e, em alguns campos, por exemplo, na importação de alimentos, a Rússia perdeu aquilo a que se chama a "segurança alimentar", ou seja, quando um país não depende das importações alimentares para satisfazer o seu mercado.
Além disso, as autoridades russas não conseguem travar a crise demográfica, o que será mais um sério entrave ao futuro desenvolvimento do país.
E continua a ser uma grande incógnita a capacidade dos actuais dirigentes da Rússia de modernizar tecnologicamente o país, transformando a sua indústria, à excepção da exploração de hidrocarbonetos e fabrico de armamentos, competitiva.
Por outro lado, se a Europa precisa de uma Rússia estável e previsível, tem de encontrar uma fórmula nova de coexistência com ela.

RECORDAR O HOLODOMOR


A Ucrânia está a assinalar mais uma das datas negras da sua História: Holodomor, fome que, em 1932 e 1933, ceifou a vida de milhões de pessoas. Antes de endereçar os leitores para dois trabalhos escritos em português sobre o tema, gostaria apenas de deixar aqui umas notas. Estou entre os que consideram que o Holodomor não é um genocídio, pois as acções do regime comunista, dirigidas pelo ditador José Estaline, não tinha como objectivo liquidar os ucranianos como povo. Além disso, outros povos da antiga União Soviética foram atingidos da mesma forma e com as mesmas dimensões catastróficas.
Porém, não há dúvidas que o Holodomor é um crime contra a Humanidade e, como tal, merece uma condenação geral e incondicional. Trata-se um dos muitos crimes pelos quais a ideologia comunista deveria ser levada a um Tribunal Internacional, tal como foi levado o nazismo.
Recomendo a leitura dos artigos abaixo indicados, pois considero um contributo bastante completo em português para a história desse hediondo crime estalinista:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Holodomor e http://ucrania-mozambique.blogspot.com


segunda-feira, novembro 19, 2007

Bailado moderno português "patina" na capital do bailado clássico



A Companhia Nacional de Bailado exibiu na capital russa, no âmbito do Festival Dance Inversion, o bailado “Pedro e Inês”, que foi recebido com reticências pelos críticos de arte russos.
Limito-me a publicar algumas das críticas da imprensa russa especializada, pois tenho de reconhecer que não sou profundo conhecer de bailado moderno. Antes de passar às críticas, apenas gostaria de sublinhar que se tratou de um grande risco trazer uma companhia de dança moderna para uma das capitais do ballet clássico.
“Só um louco ou um português pode levar ao palco a história verdadeira dos principais amantes portugueses” – escreve Tatiana Kuznetsova, crítica de dança do diário Kommersant. Segundo Tatiana Kuznetsova, no espectáculo encenado por Olga Roriz, “o elo mais fraco é a longa dança inicial: “O Sono de Inês”, rico em movimentos estáticos”.
“Sete bailarinas (sete imagens da beldade castelhana) vivem, em sete monólogos, uma visão profética: a própria morte. As artistas bem ensinadas desempenham os seus solo com uma expressão fanática, mas a sua verbosidade patética parece demasiadamente longa e exageradamente melodramática” – considera a crítica.
“O rei Afonso acrescenta dissonância: durante todo esse tempo, o monarca, em convulsões no trono e fazendo caretas terríveis à própria coroa, desempenha o papel de mau no estilo do antigo teatro de pantonímia” – acrescenta Tatiana Kuznetsova.
A crítica considera, porém, que “o espectáculo é salvo precisamente pelas cenas mais arriscadas”, sublinhando momentos como o “adágio de amor de Pedro e Inês” e “a exumação encantadoramente bela do cadáver (de Inês)”.
“No entanto – sublinha ela – está longe de ser perfeita. A longa procissão do rei com o cadáver de Inês e a cena igualmente longa da coroação da morta são muito estragadas pelo “trono” idiota... parecido com uma cadeira de estomatologia ou ginecologia”.
“Mas todas as falhas deste bailado “incorrecto” são compensadas pela simplicidade e sinceridade dos sentimentos de que são capazes só os habitantes da Península Ibérica, periferia europeia da dança moderna que ainda não foi atingida pelo reflexo auto-destruidor dos vizinhos setentrionais mais apurados” – conclui ela.
Anna Gordeeva, crítica do diário Vremia Novostei, é menos clemente para com o bailado encenado por Olga Roriz.
Segunda ela, várias vezes a música parece não coincidir com a dança no palco. “A música aqui (uma mistura de sete autores...) estremece monotonamente, não coincidindo de forma alguma com a expressão dolorosa do pesadelo nocturno” – escreve a crítica, referindo-se a “O Sono de Inês”.
“A cena impressiona novamente, mas uma vez mais não coincide de tal forma com a música que parece que puseram a tocar outro fonograma por engano” – acrescenta ela, sobre a cena do assassinato de Inês.
“No fim de contas, a nossa versão sobre os sofrimentos do monarca por uma pessoa perfidamente assassinada também não pode ser considerada feliz: “Ivan, o Terrível” poderá ser ainda mais tenebroso” – conclui Anna Gordeeva, comparando o drama português ao assassinato do filho do czar Ivan, o Terrível pelo próprio pai.
“Talvez valesse mais se o bailado de Portugal trouxesse obras de coreógrafos cujos nomes provocam inveja dos amantes de teatro de Moscovo” – considera o diário “Vedomosti”.

domingo, novembro 18, 2007

Maior desastre na história das minas ucranianas



Uma explosão provocada por gás metano na mina Zassiadko, na região hulhífera de Donetsk, fez pelo menos 63 mortos, desconhecendo-se o destino de 37 mineiros.
No momento da explosão, que ocorreu cerca das 03 horas da madrugada (01 TMG) a uma profundidade superior a um quilómetro, encontravam-se na mina 457 trabalhadores.
“O incêndio foi localizado. 350 membros de brigadas de salvação trabalham na mina” – anunciou Andrei Kliuev, vice-primeiro-ministro do Governo da Ucrânia, sublinhando que há ainda possibilidade de encontrar mineiros vivos, porque “está-se a fornecer ao interior da mina uma quantidade suficiente de ar”.
Porém, Iúri Zaets, presidente do comité sindical da mina, considera que “são muito poucas as esperanças de salvar os restantes mineiros que se encontram debaixo da terra”.
Segundo ele, as brigadas de salvamento têm de “superar os obstáculos criados pela queda de terras e pelas máquinas destruídas pelo acidente”.
“Chamo a vossa atenção para o facto dos esforços insuficientes do Governo na reorganização da indústria do carvão, particularmente no que respeita a medidas para aumentar a segurança do trabalho nas minas” – assinala o Presidente da Ucrânia, Victor Iuschenko, numa carta enviada ao Primeiro-ministro, Victor Ianukovitch.
Segundo estatísticas oficiais, as minas de carvão ucranianas são as mais perigosas do mundo. As principais causas de tão grande sinistralidade são as particularidades da disposição das camadas de carvão e as condições geológicas e térmicas extremamente complexas, que não têm análogo no mundo. A profundidade média das minas é de cerca de um quilómetro.
A alta sinistralidade nas minas ucranianas está também ligada ao facto de as empresas não investirem na sua modernização. Um terço das 165 minas em funcionamento na Ucrânia começaram a ser exploradas há mais de 100 anos e muitas delas não são modernizadas há muitos anos. Nos últimos 20 anos, apenas oito minas foram reconstruídas.
Segundo dados do Departamento de Estado de Vigilância Industrial e Mineira da Ucrânia, 75 por cento das minas desse países encontram-se na primeira categoria de perigo de explosão de metano e 35 por cento, de perigo de explosão de pó carbonífero.
Entre Janeiro e Julho do ano corrente, 150 mineiros morreram devido a acidentes em minas ucranianas e seis mil ficaram feridos. Segundo dados da Organização Mundial dos Mineiros, anualmente, dois mineiros perdem a vida por cada milhão de toneladas de carvão extraído.

sábado, novembro 17, 2007

Contributo para História de Portugal


Continuação (4ª parte) da publicação do artigo "Estado Novo do Doutor Salazar", da autoria de Nikolai Skirdenko, ideólogo da Unidade Nacional Russa.
A terceira parte foi publicada a 10 de Novembro de 2007.

"Em 1926, teve lugar mais um golpe militar de direita e o novo poder mostrou uma vez mais a sua impotência de pelo menos estabilizar a situação económica e política no país. Principalmente difícil era a situação das finanças públicas.
Em 1928, os militares propuseram a Salazar ocupar o cargo de ministro das Finanças, naquela altura o cargo mais difícil no governo. Neste cargo, Salazar agiu de forma muito decidida e competente. Durante um ano foi conseguida uma viragem decisiva para melhor na situação financeira do Estado. O novo ministro revelou-se rapidamente como um líder nacional. Na defesa da sua política, ele entrava ousadamente em conflito com os dirigentes do país, na busca de apoio, dirigia-se directamente à nação sem autorização do presidente e do primeiro-ministro. Pouco tempo depois, no país foi estabelecida a ditadura do ministro das Finanças.
Em 1930, Salazar tornou-se ministro das Colónias e, de facto, a primeira pessoa no Estado. A sua nomeação para o cargo de Primeiro Ministro, em 1932, foi já o reconhecimento atrasado e formal do seus poder quase absoluto. Nominalmente, acima de Salazar estava ainda o Presidente, que podia nomear e demitir o Primeiro Ministro a seu bel-prazer, mas o general Carmona, dirigente do golpe de 1926 que ocupava essa cargo, estava completamente sob a influência da personalidade carismática do ditador. Além disso, Carmona já não se arrisca a ir contra a nação, que via em Salazar o seu chefe.
Aproximadamente a partir de 1930, quando o poder de Salazar se tornou absoluto, ele começou a realizar consequentemente os princípios da revolução nacional, cujo objectivo era a criação do “Estado Novo”. O próprio Salazar afirmou várias vezes que a lei está na origem das supremas transformações revolucionárias, depois do que são levadas à prática. Nesse sentido, a revolução nacional em Portugal era realizada a partir de cima, gozando do apoio total das amplas massas do povo português.
O nacionalismo aberto e consequente era a base da nova política de Salazar. O conceito de nação tornou-se o primeiro entre uma série de prioridades do “Estado Novo”. Em contrapeso à conhecida fórmula de Mussolini “tudo para o Estado, nada além do Estado”, Salazar apresentou a sua: “Tudo para a nação, nada contra a nação”... Esta fórmula não contrapunha a nação ao Estado, pelo contrário, estabelecia a harmonia entre esses dois conceitos. O Estado é a forma suprema de existência e de organização da nação, por isso, era próprio de cada nação activa o desejo de formar um forte Estado nacional. Se a nação está em ascensão, os interesses do Estado são automaticamente garantidos. Por outro lado, o Estado pode ser edificado em princípios artificiais, puramente racionais e não exprimir os interesses da nação. Semelhante formação não pode sobreviver, baseia-se na ideia oca e sem sentido do Estado em prol do Estado. Nele, mais tarde ou mais cedo, afirma-se um poder extra-nacional e, depois, anti-nacional. Então, ele torna-se claramente inimigo da nação, o que inevitavelmente o conduzirá à morte.
Compreendendo bem isso, Salazar concentrou toda a atenção no despertar da consciência nacional e do princípio activo, saudável na nação, na garanti da sua coesão e unidade. Com esses objectivos, no país estimulava-se o interesse para com a história antiga e medieval de Portugal, apoiava-se as investigações históricas, fazia-se propaganda das páginas gloriosas do passado. O Tesouro não poupava meios para a construção de monumentos aos grandes homens dos séculos passados, para a organização de grandiosas exposições nacionais, dedicadas às datas importantes na vida do país e do povo. Prestou-se enorme atenção à educação do orgulho e consciência nacionais da juventude. Isso era feito por escolas, universidades, clubes, etc. À organização “Mocidade Portuguesa” pertenceu um enorme papel na educação física e moral da juventude".
(continuação)

Presidente Saakachvili dá golpe populista para garantir reeleição



O Presidente da Geórgia, Mikhail Saakachvili demitiui Zurab Nogaideli do cargo de Primeiro-ministro do governo do país, substituindo-o por Lado Gurguenidzé.
Segundo fontes citadas pela imprensa georgiana, Nogaideli teria apresentado o seu pedido de demissão ao Presidente Saakachvili “por motivos de saúde”.
Na Primavera passada, o primeiro-ministro demitido foi submetido a uma complicada operação ao coração num hospital norte-americano.
Mikhail Saakachvili já anunciou o nome do político que irá substituir Nogaideli à frente do Governo da Geórgia. Trata-se de Lado Gurguenidzé, 37 anos, director-geral do Banco Nacional da Geórgia.
O anúncio da substituição do chefe do executivo foi feito pelo Presidente Saakachvili logo após o levantamento do estado de emergência no país, que tinha sido por ele imposto a 07 de Novembro, depois de graves confrontos entre a polícia e manifestantes da oposição que exigiam a demissão do dirigente georgiano.
Segundo a Constituição da Geórgia, a demissão do Primeiro-ministro implica a dissolução de todo o Governo. O Presidente Saakachvili e o novo dirigente do executivo têm agora dez dias para escolher ministros novos. Depois, o Parlamento deve, num prazo de uma semana, analisar a constituição do novo executivo e apoiá-lo ou não. Porém, tendo em conta que as eleições presidenciais antecipadas estão marcadas para 05 de Janeiro e que Mikhail Saakachvili, para se poder recandidatar ao cargo, terá de se demitir até 22 de Novembro, esses processos poderão ser acelerados.
“Nas próximas horas, a candidatura de Lado Gurguenidzé e dos novos ministros será apresentada ao Parlamento e espero que o órgão legislativo supremo confirma o novo Primeiro-ministro da Geórgia nos próximos dias” – declarou Saakachvili, numa conferência de imprensa realizada em Tbilissi.
“Precisamos de uma continuação mais activa das reformas iniciadas. Colocámos perante o novo Primeiro-ministro a tarefa de, nos próximos tempos, garantir a duplicação gradual das reformas na Geórgia, o aumento brusco dos salários dos pedagogos e da segurança social, a rápida multiplicação dos programas de emprego e uma informação maior à população sobre os resultados das nossas reformas” – acrescentou.
Segundo o Presidente da Geórgia, “isto é muito importante para que as nossas reformas adquirem um carácter mais activo e para que nós desenvolvamos ainda mais rapidamente o nosso país”.

sexta-feira, novembro 16, 2007

Todas as sondagens dão vitória a Rússia Unida

Hoje é o último dia em que a lei eleitoral russa permite a publicação de dados de sondagens sobre os possíveis resultados dos onze partidos políticos que participam na disputa de 450 assentos na Duma Estatal da Rússia (câmara baixa do Parlamento). Por isso, publicamos aqui as sondagens realizadas pelos três maiores centros de estudo da opinião pública do país.


O gráfico acima publicado reflecte os dados recolhidos pelo Levada Tsentr, que mostram que a Duma Estatal terá apenas duas cores, sendo a azul (Rússia Unida) esmagadora em relação à vermelha (Partido Comunista).
Segundo o Levada Tsentr, apenas dois partidos superarão a barreira dos 07%, que permite a eleição: o Partido Rússia Unida, cujo cabeça de lista é o Presidente Putin, conquistará 66% dos votos, o que lhe dará 371 dos 450 lugares no Parlamento e o Partido Comunista conseguirá 14%, ou seja, 79 deputados.
O Centro Nacional de Estudo da Opinião Pública dá à Rússia Unida 58,9% e ao Partido Comunista - 7,7%. O Partido Liberal-Democrático, do nacional-palhaço Vladimir Jirinovski, poderá conseguir 6,8%.
Quanto aos dados da Fundação Opinião Pública, eles dão também uma vitória clara à Rússia Unida com 53%, seguida do Partido Comunista com 09%. O Partido Liberal-Democrático poderá conseguir 07%.
Em qualquer um dos casos, a Rússia Unida conquistará mais de 2/3 dos deputados, o que lhe permitirá fazer alterações à Constituição.
Entretanto, na Rússia continua-se à procura da fórmula que permita a Vladimir Putin continuar a controlar a situação no país depois de abandonar o cargo de Presidente.


A organização "Mulheres de Vladivostoque" propõe que Vladimir Putin seja substituído no Kremlin pela sua sua esposa, Liudmila Putina.
"A Rússia é digna de ser dirigida por uma mulher série e responsável" - considera essa organização.
E se a moda argentina pega?

quinta-feira, novembro 15, 2007

"ЗА ПУТИН" - "Por Putin"








Mais de quinhentos delegados de 82 regiões da Rússia criaram hoje um movimento que visa fazer com que Vladimir Putin continue a ser o “líder nacional” da Rússia depois de abandonar a presidência do país em Março de 2008.
O congresso constituinte do movimento “Por Putin” ocorreu na cidade de Tver (160 km a Norte de Moscovo) a duas semanas das legislativas de 02 de Dezembro, que o Presidente russo, simultaneamente cabeça de lista do partido Rússia Unida, considerou um plebiscito à sua política.
“Hoje, as pessoas trouxeram 30 milhões de assinaturas de apoio a Putin. Isto são vários “camiões” – declarou o advogado Pavel Astakhov, um dos organizadores do congresso.
Ele assinalou que os membros do novo movimento, que tem o apoio de 70 por cento da população, consideram Putin um líder nacional.
“Não importa quem irá ser Putin depois de 2008: dirigente do partido do poder, presidente do parlamento, primeiro-ministro. O principal é que ele seja líder do país” – considera Astakhov.
Segundo ele, na declaração aprovada pelo congresso, os seus participantes sublinharam que o próprio Putin definirá o lugar que irá ocupar.
“O poder que não precisa de apoio é um mau poder, porque ele se afastou do povo” – frisou o advogado, mas sublinhou que não se trata do culto da personalidade.
“Não é preciso procurar baratas onde não as há. O culto da personalidade é quando atribuem a um homem méritos como o nascer do Sol. Mas quando um homem é simples, responde pelas suas palavras, não se pode falar de culto da personalidade” – concluiu Astakhov.
A sala do Teatro de Arte Dramática de Tver, onde se realizou o congresso, estava decorada com um enorme pano tricolor (com as cores da bandeira russa: vermelho, branco e azul).
Os organizadores do movimento “Por Putin” garantiram que a sua iniciativa foi espontânea e partiu de cidadãos, de organizações de veteranos de guerra, de jovens e de homens de negócios.
“Este movimento formou-se, em grande parte, espontaneamente, não é dirigido” – declarou Irina Blokhin, funcionária de Tver, citada pela Interfax.
Os partidos e imprensa da oposição russa acusam, porém, o Kremlin de ter estado por detrás da criação de este movimento de apoio a Putin, a fim de tentar mostrar que o Presidente goza do apoio da esmagadora maioria da população.
Vladimir Putin anunciou que abandonará o Kremlin em 2008, mas conservaria influência política, sem precisar qual. Ele poderá tornar-se Primeiro-ministro ou dirigir a maioria parlamentar na nova Duma Estatal.
Alguns políticos sugerem que Putin pode abandonar o Kremlin antecipadamente, tornar-se deputado e, depois, candidatar-se ao cargo de Presidente em Março de 2008. Porém, isso exige muita “ginástica constitucional”.
Na Rússia, ninguém duvida que o Partido Rússia Unida irá conquistar a maioria absoluta dos assentos na Duma Estatal, mas resta saber como é que o Presidente Putin continuará a influir nos destinos do país depois de abandonar a Presidência.

Partido da oposição exige retirada de Vladimir Putin da campanha eleitoral


O partido liberal da oposição, União das Forças de Direita, anunciou hoje ter pedido ao Supremo Tribunal da Rússia para que proíba o Presidente Putin de participar nas eleições legislativas como cabeça de lista do partido Rússia Unida, acusando-o de “abuso de poder” e “pressões sobre a oposição”.
“Ontem (quarta-feira) pedimos ao Supremo Tribunal para que retire Putin da lista dos candidatos por violações da lei” – declarou Nikita Belikh, dirigente da União das Forças de Direita (SPS), durante uma conferência de imprensa.
Nikita Belikh denunciou as perseguições e os ataques contra as sedes regionais da União das Forças de Direita em Voronej (Sul), Samara (Sul) e São Petersburgo (Noroeste), a apreensão pela polícia de 15 milhões de jornais do partido nos Urais.
“Temos problemas em toda a parte” – sublinhou ele, acrescentando que “dez pessoas decidiram abandonar a lista do SPS para não porem em perigo os seus negócios e as suas famílias”.
Segundo a lei eleitoral, quase um quarto dos candidatos de um partido abandonem a lista eleitoral, essa força política deixa de puder participar no escrutínio, marcado para 02 de Dezembro.
“Esta operação política seria impossível sem o acordo tácito da pessoa que está à cabeça das estruturas de segurança (polícia, justiça e serviços secretos), ou seja, do Presidente Vladimir Putin” – acrescentou Belikh. Ele considerou um “abuso de poder” as intervenções televisivas do Presidente Putin a favor da Rússia Unida, mas reconheceu que “é pouco provável que o Supremo Tribunal esteja do nosso lado”.
O Partido Comunista da Rússia e partido liberal Iabloko também têm denunciado acções das autoridades com vista a neutralizar a campanha eleitoral da oposição.
As autoridades de Moscovo proibiram uma manifestação da Outra Rússia, organização da oposição russa que não participa nas eleições parlamentares, marcada para 24 de Novembro. Garri Kasparov, dirigente da Outra Rússia, anunciou, ontem, que as autoridades tinham autorizado uma manifestação dessa organização, embora tenham alterado o local de realização: da Praça Pushkin para a Avenida Sakharov, ou seja, para um lugar menos central.
“O Governo de Moscovo está indignado com o facto de Kasparov ter, mais uma vez, tentado desinformar os jornalistas sobre a autorização de uma manifestação na capital” – lê-se num comunicado das autoridades moscovitas.
“Estudamos com representantes seus a escolha de um lugar na cidade para a realização de um comício, e não de uma manifestação” – afirma-se nesse documento.

Sinais contraditórios da Geórgia


O estado de emergência na Geórgia, imposto no passado dia 07 pelo Presidente Mikhail Saakachvili por um período de quinze dias, será levantado amanhã, anunciou Nino Burdjanadzé, dirigente do Parlamento georgiano.
“Fui incumbida de declarar, em nome das autoridades, que foi tomada a decisão de pôr fim à vigência do estado de emergência na Geórgia no dia 16 de Novembro” – declarou ela numa declaração transmitida pelo canal público de televisão do país.
Nino Burdjanadzé declarou também que continuam as conversações com as forças da oposição, sublinhando que “estou convencida que as eleições presidenciais serão democráticas”.
Mikhail Saakachvili impôs o estado de emergência no passado dia 07 de Novembro, depois de se terem registado fortes confrontos entre manifestantes da oposição e a polícia georgiana, que provocaram centenas de feridos.
A oposição exigia a demissão do Presidente Saakachvili, a antecipação das eleições parlamentares do Outono para a Primavera de 2008, a revisão da lei eleitoral e a libertação dos presos políticos.
Mikhail Saakachvili respondeu com a marcação de eleições presidenciais antecipadas na Geórgia para 05 de Janeiro.
O Conselho Nacional dos Partidos da Oposição, que congrega dez forças políticas, avançou a candidatura de Levan Gatchetchiladzé para disputar o cargo de Presidente. Porém, ele não é o único candidato da oposição. Além de Gatchetchiladzé, mais quatro dirigentes de partidos da oposição georgiana anunciaram a sua intenção de participar nas eleições presidenciais: Chalva Natelachvili, dirigente do Partido Trabalhista, David Gamkrelidzé, deputado do Partido Nova Direita, Gueorgui Maisachvili, dirigente do Partido do Futuro e o empresário Badri Patarkatsichvili, que se encontra refugiado em Londres.
Temur Chchiachvili, dirigente do Movimento “Em frente, Geórgia!”, também estuda a possibilidade de participar na corrida presidencial.
O actual Presidente da Geórgia, por enquanto, não anunciou se tenciona participar na luta pelo seu segundo mandato, embora tenha dado várias vezes a entender que irá participar nas eleições e vencer.
Caso Mikhail Saakachvili se decida candidatar, terá de se demitir do cargo de Presidente no próximo dia 22 de Novembro, que passará a ser exercido interinamente pela dirigente do Parlamento, Nino Burjanadzé.
Entretanto, o Tribunal de Tbilissi, depois de analisar o respectivo pedido da Procuradoria-Geral da Geórgia, ordenou o arresto dos bens e retirou a licença de transmissão ao canal de televisão Imedi, principal porta-voz da oposição georgiana.
Ao basear o seu pedido, a Procuradoria-Geral sublinhou que o canal Imédia se dedicava a “actividades anti-Estado” e permitiu “apelos ao derrube do poder legítimo existente”.
A companhia foi criada pelo empresário Badri Patarkatsichvili, que afirmou publicamente financiar as actividades da oposição ao Presidente Saakachvili. Dias antes de começarem as manifestações em Tbilissi, Patarkatsichvili informou que a companhia passaria a ser controlada, por o período de um ano, pela cooperação multinacional News Corporation, dirigida pelo famoso magnata Rupert Merdock. Desse modo, o oligarca georgiano esperava proteger o Imedia dos ataques das autoridades georgianas.
A oposição ao Presidente Saakachvili condenou essa decisão do Tribunal de Tbilissi e não exclui a possibilidade de novas acções de protesto.
“Na solução deste problema poderá envolver-se a população da Geórgia” – declarou Zviad Dzidziguri, um dos dirigentes da oposição. “Utilizaremos todos os meios políticos para que, nas eleições de 05 de Janeiro, todos os candidatos tenham condições iguais de participação. Hoje, Mikhail Saakachvili está muito satisfeito com o estado de emergência, porque só fala ele e não ouve a resposta da oposição” – sublinhou.
“Nesta situação, a realização de eleições será uma farsa e agravará ainda mais a crise política existente no país” – lê-se num comunicado do Conselho Nacional, organização que reúne vários partidos da oposição, depois de um encontro de dirigentes seus com o corpo diplomático acreditado na Geórgia.
A oposição exige o fim das perseguições políticas e do terror, a garantia da liberdade de informação, a reabertura dos canais de televisão Imedia e Kvkasia e a revisão da legislação eleitoral.