quarta-feira, dezembro 20, 2006

Dirigente comunista russo recupera “Piscina no Harém” (Notícia romanceada)



“É do gabinete de Guennadi Andrevitch?” – perguntou uma voz desconhecida quando o dirigente do Partido Comunista da Rússia, Guennadi Ziuganov, levantou o auscultador do telefone.
“O próprio. Com quem estou a falar, camarada?” – perguntou Ziuganov.
“Tenho o original de um quadro que foi roubado do Museu Hermitage há cinco anos atrás. Trata-se da tela ”Piscina no Harém”, do pintor francês Jean-Léon Gérôme. E quero devolvê-la ao povo” – respondeu o desconhecido com uma voz firme.
Ziuganov, homem calejado por ter visto muitas provocações organizados pelos agentes da burguesia russa, ficou pensativo a olhar para o retrato de Lénine, que se encontra pendurado na parede do seu gabinete, em frente de um gigantesco mapa da União Soviética.
Talvez por descarga de consciência, o marxista-leninista entrou na Internet - meio de comunicação burguês, mas cada vez mais utilizado pelas forças proletárias e anti-imperialistas - para confirmar se o desconhecido falava verdade ou não.
“Chiça! (Supomos que o dirigente operário tenha utilizado palavras mais fortes, mas escolhemos o chiça por ausência de provas) A tela foi realmente roubada,a 22 de Março de 2001, do Museu Hermitage de Leninegrado! Porra, o homem não está mentir!” – exclamou Ziuganov e olhou para o relógio.
“Sacha, Sacha! Anda cá, rápido!” – gritou o dirigente comunista para o seu camarada Alexandre Kulikov, que se encontrava na sala ao lado.
“Vais à passagem subterrânea que fica na Praça do Teatro Bolshoi e lá encontrarás um homem de estatura média que te deve entregar um saco de papel. Cuidado, porque, como sabes, os provocadores são muitos” – deu instruções Ziuganov.
Kulikov dirigiu-se a correr para o túnel e não teve dificuldade em determinar o homem que procurava, pois, nessa altura, a passagem subterrânea estava quase vazia, apenas se via mais uma mulher a vender cerveja e águas . Este estendeu-lhe um pacote de papel e apenas pronunciou: “A tela está aí dentro”, tendo-se posto em fuga imediatamente.
Regressado ao gabinete de Ziuganov, Kulikov abriu o pacote na presença do dirigente comunista e extraiu dele um saco de plástico que continha quatro pedaços de tela. O dirigente comunista juntou-os, mas o seu estado de conservação era tão mau que Ziuganov pensou tratar-se de alguma reprodução barata.
“Mais uma brincadeira de mau gosto, filhos da mãe dos burgueses! (Em russo, a expressão seria um pouco mais dura)” – pragejou ele, passando a mão por cima dos pedaços mutilados.
“Mas isto é mesmo uma tela!” – exclamou Ziuganov, coçando a careca, e continuou: “Deixa-me telefonar ao Ministério da Cultura! Que mandem os peritos!” – continuou o sexto Secretário-geral do Partido Comunista da Rússia depois de Lénine.
Os peritos chegaram rapidamente, pois Ziuganov continua a ter camaradas em muitas instituições e tratava-se de um acontecimento insólito. Não é todos os dias que alguém decide devolver uma obra de arte, muito menos através de um dirigente comunista.
“Eles deram uma opinião prévia: consideram que se trata da tela original e já deram a notícia a Mikhail Piotrovski, director do Hermitage” – declarou Ziuganov aos jornalistas, com o ar de quem tinha cumprido o dever.
Assim (ou quase assim) foi recuperado o quadro “Piscina no Harém”, obra do pintor francês Jean-Léon Gérôme (1824-1904). A tela foi desenhada em 1876 e adquirida por Alexandre III, Imperador da Rússia. Segundo os peritos, a obra foi avaliada em mais de 700 mil euros.

3 comentários:

Diogo disse...

Bravo Milhazes! A riqueza de pormenores com que você acompanha este facto histórico, só atesta, ainda mais, a sua veracidade.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Sofocleto e outros leitores deste blog. A notícia é mesmo verdadeira e aconteceu hoje em Moscovo. As personagens e os factos são reais, só com uma pequena pitada literária.

Anónimo disse...

O Sofocleto está a perder qualidade.

"apenas se via mais uma mulher a vender cerveja e águas"

Está mesmo a ver-se: coisa da CIA.