domingo, julho 15, 2012

O Exército Vermelho no dealbar da 2ª Guerra Mundial



Texto escrito e enviado pelo leitor Pippo:

"Ao entrar na 2ª Guerra Mundial, em 1939, o Exército Vermelho dos Trabalhadores e dos Camponeses (RKKA - Рабоче-Kрестьянская Красная Aрмия) era a maior força armada do Mundo, apenas rivalizando com a Wehrmacht em termos de número de soldados e equipamento ao seu dispôr. Contudo, quer nas campanhas contra o Japão em 1939 e contra a Finlândia em 1940, e sobretudo aquando do ataque alemão à URSS em 1941, o desempenho do RKKA foi, na melhor das hipóteses, pobre, e na pior, desastroso. Qual a razão para esta fraca prestação? É isso que pretendo explicar com este artigo.
1ª Parte - Organização
Entre 1930 e 1941, o Exército Vermelho passou por enormes transformações, mas nunca eliminou deficiências endémicas motivadas, sobretudo, por razões políticas.
Nascido da Guerra Civil que entre 1917 e 1922 devastou o antigo Império Russo, o RKKA contava nas suas fileiras, no final da guerra, com cerca de três milhões de homens. Ainda antes do término da Guerra Civil, contudo, a necessídade imperiosa de reconstrução do país ditou a restruturação e um enorme desinvestimento nas Forças Armadas.
Nos princípios dos anos 20, o governo soviético enfrentava o dilemma sobre que tipo de exército é que o seu país iria possuir, se um exército permanente, se um exército miliciano. No X Congresso do Partido, em 1921, optou-se por um sistema misto, no qual haveria um pequeno exército permanente, composto preferencialmente por operários e trabalhadores escolarizados recrutados por um período de dois anos, e um exército territorial, formado por unidades cujo núcleo era composto por homens do quadro permanente e os restantes efectivos eram compostos por homens aptos recrutados localmente para servir durante um período de tempo limitado (três meses no primeiro ano, e um mês nos seguintes), durante cinco anos. Com este sistema misto pretendia-se formar um núcleo de exército consistente auxiliado, em caso de necessidade, por uma força de reserva composta por homens detentores de alguns conhecimentos militares ministrados por oficiais do quadro permanente, que aumentaria rapidamente a força disponível para o Estado soviético. Em 1925, o Exército Territorial constituía 53% do RKKA e em 1935, pouco antes da sua extinção, já era 74% do total.
Este sistema, no entanto, tinha dois problemas básicos: em primeiro lugar, as unidades permanente e territoriais, e estas entre si, tinham características demasiado díspares como, por exemplo, o grau de escolaridade dos seus efectivos (o exército permanente era tecnicamente muito mais apto do que o territorial, e as unidades territoriais urbanas eram mais escolarizadas do que as recrutadas em zonas rurais). Em segundo lugar, como este era um sistema novo e os oficiais do quadro permanente não o compreendiam, a instrução que era suposto ser ministrada aos recrutas – oficiais de baixa patente incluídos – era frequentemente falha ou até inexistente, pois os homens eram utilizados para outras tarefas que não as militares, situação, aliás, que se arrastou ao longo das décadas de 20 e 30.
O desinvestimento nas Forças Armadas soviéticas também ocorreu a nível orçamental. Até 1930, o orçamento nacional de defesa da URSS rondava o 1,5%. Só em 1935 é que o orçamento ultrapassou os 10%, e isto numa época em que já se sentiam claramente os ventos da guerra que se aproximava. Em 1938 o orçamento da defesa era de 18,7%, basicamente similar ao alemão. Mas apesar das semelhanças em termos orçamentais, havia grandes diferenças entre os dois países, uma vez que no Exército alemão foi dada grande ênfase à qualidade, quer do equipamento, quer no treino de soldados e oficiais.
Uma das principais razões para o aumento do investimento prendeu-se com o aumento dos efectivos do Exército, que em menos de oito anos passou de 500.000 para um milhão e meio de homens (1938) e, de súbito, para quase cinco milhões de homens (Primavera de 1941).
A partir de 1931 e sobretudo de 1935, as unidades do Exército Territorial começaram a ser convertidas em unidades permanentes através do aumento dos seus quadros e do recrutamento, nos moldes do exército permanente, de novos efectivos.
Infelizmente, o aumento súbito dos efectivos foi efectuado de uma forma pouco eficiente. Por norma, as divisões de infantaria soviéticas não conseguiam formar com mais de 90% dos efectivos (nalguns casos, só chegavam aos 80%). Ora, em lugar de se completarem os efectivos das Divisões, beneficiando assim de um Estado-Maior e de serviços de apoio já constituídos e devidamente formados, a URSS optou por criar, basicamente, novas Divisões, com novos quadros, frequentemente deficitários quer em número quer em treino, sobretudo ao nível do oficialato."
(continua...)

1 comentário:

GEOBLOG disse...

Na atualidade, após a crise da dissolução da URSS, a Rússia perdeu significativamente seu poder de dissuasão nuclear (que praticamente não mais existe). Com isso os desmandos da política externa estadunidense se impõe.