sábado, julho 21, 2012

O Exército Vermelho no dealbar da 2ª Guerra Mundial - 5




Texto escrito pelo leitor Pippo:

 
"Conclusão

Saído de uma Revolução sem precedentes na História e de uma guerra civil que devastou o país, o Exército Vermelho adquiriu características únicas que o viriam a marcas, quer positiva, quer negativamente.

O aumento dos efectivos do RKKA em 1000%, operado em menos de uma década, foi efectuado de forma pouco eficiente. As serem criadas novas Divisões, com quadros recé-formados e frequentemente deficitários quer em número quer em treino, o nível qualitativo do Exército, que nunca tinha sido exemplar, decresceu enormemente. A acrescer a isso, o equipamento, cuja qualidade e quantidade melhorava constantemente, sobretudo na década de 30, estava distribuído de forma descoordenada e não só não beneficiava de uma logística capaz de o manter operacional como, devido à falta de treino dos seus utilizadores, não podia ser utilizado no seu máximo potencial.

Ao contrário da maioria dos exércitos europeus, o Exército Vermelho estava submetido a um controlo político que o limitava seriamente ao nível da recruta e da escolha dos seus quadros. O recrutamento obrigatório de soldados e oficiais entre os estratos menos formados da sociedade afectou a qualidade técnica e de comando no seio do Exército. Apesar do aumento do número dos cursos de formação e das academias militares, a maioria dos oficiais, de baixa patente, continuou a ter um baixo nível de qualificação, o que afectava a intrução que estes poderiam dar aos seus subordinadoe e, logicamente, as prestações das unidades.

Em suma, o treino individual dos soldados e dos oficiais era normalmente negligenciado, resultando numa baixa operacionalidade do Exército Vermelho.

Para além das questões relacionadas com a expansão do Exército, com a (des)organização e com o recrutamento, as quais dependiam do poder político, houve questões que afectaram o RKKA às quais o Estado soviético dificilmente poderia ter dado resposta, pois eram questões de índole estrutural que afectavam a sociedade no seu todo.

Questões como as do analfabetismo e iliteracia, que afectavam uma percentagem impressionante da população, bem como as do alcolismo endémico, eram questões sociais de base que dificilmente poderiam ter sido solucionadas em duas décadas.

De igual modo, a inexistência de infraestruturas, quer produtivas, quer logísticas, na URSS pós-Guerra Civil, obrigaram o Estado a enveredar por um ambicioso programa de industrialização o qual estava longe de estar completo aquando do estalar da guerra. Apesar disso, a capacidade industrial soviética, aliada ao bom nível dos seus quadros técnicos, permitiu a criação de equipamento capaz de rivalizar, e em certos casos, ultrapassar o que de melhor havia do lado do Eixo.

As características da sociedade soviética, bem como as políticas do Estado, que afectaram o Exército Vermelho, são as responsáveis pelo desastre ocorrido em 1941, bem como pelas tácticas adoptadas por uma estrutura militar cuja qualidade de instrução dos seus homens deixava muito a desejar. Com tudo o que ocorreu na URSS nos anos 30 do séc. XX, é difícil imaginar o que poderia ter ocorrido de diferente de forma a alterar o curso da História da 2ª Guerra Mundial.

Em todo o caso, atendendo às enormes deficiências estruturais do Exército Vermelho, não deixa de ser digno de louvor que tenha sido este mesmo exército, volvidos menos de quatro anos, o conquistador de Berlin, a capital do Reich."



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