sexta-feira, maio 24, 2013

Ninguém sabe ou ninguém quer saber o que fazer com a Síria





O conflito na Síria dura há mais de dois anos, tendo provocado milhares de mortos, mais de um milhão de refugiados e destruições incalculáveis.
A comunidade internacional, aparentemente, não se cansa de mexer para pôr fim a mais um massacre e à destruição de um importante Estado do Médio Oriente, mas os resultados não são nenhuns, porque são muito diversos os interesses em jogo.
 Damasco confirma estar pronto a participar numa conferência internacional com vista a pôr fim à guerra civil na Síria, anunciou hoje Alexandre Lukachevitch, porta-voz da diplomacia russa.
“Constatamos com satisfação que recebemos de Damasco a confirmação da prontidão de princípio do Governo da Síria em participar numa conferência internacional nos interesses da consecução, pelos próprios sírios, da vida de regularização do conflito destrutivo para o país e a região”, declarou.
A convocação desta conferência internacional sobre a Síria foi decidida a 7 de maio, num encontro de Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, com o seu homólogo norte-americano John Kerry.
“Ao mesmo tempo, temos de constatar que nesta via há momentos que complicam. É lamentável o facto de, não obstante os nossos insistentes apelos a vários parceiros, à sessão da Assembleia Geral da ONU, depois da apresentação da iniciativa russo-americana, ter sido imposta uma resolução sobre a Síria, unilateral pelo seu caráter e que contradiz o consenso que se forma no mundo a favor da normalização nesse país”, considera o diplomata russo.
Moscovo condena também a resolução que foi proposta na 23ª sessão do Conselho da ONU para Direitos do Homem em Genebra, considerando que se trata de passos para impedir a realização da decisão russo-americana.
“As citadas tentativas enviam um sinal prejudicial aos destacamentos da oposição, empurrando-os de facto para a renúncia às conversações”, frisa Lukachevitch, acrescentando que “a tarefa principal consiste em fazer com que a oposição forme uma equipa para participar no fórum sem condições prévias”.
A Rússia considera que “não pode ser levada a sério a proposta de marcar uma data concreta para a conferência sem que esteja claro quem e com que poderes irá falar em nome da oposição”.

A Coligação Nacional síria já veio responder que quer ouvir a promessa da boca de Assad.
A Coligação Nacional da Oposição síria considerou hoje que o anúncio por Moscovo de um acordo de princípio de Damasco sobre a sua participação numa conferência de paz era “vaga” e apelou ao regime de Assad a pronunciar-se sobre isso.
“Nós queremos ouvir essa declaração da boca do governo de Assad… Queremos saber se eles têm verdadeiramente intenção de negociar a transição para um governo democrático que inclua a demissão de Bashar Assad”, declarou à AFP Louay Safi, porta-voz da Coligação.
Interrogado sobre a participação da Coligação, enquanto principal grupo da oposição síria, na conferência internacional “Genebra-2”, ideia lançada por Estados Unidos e Rússia para encontrar uma solução política no conflito, Safi considerou que os opositores têm necessidade de “maior clareza” para se decidir.
“Tudo isso é ainda muito vago e o governo de Assad foi muito evasivo quando se tratou de fornecer declarações ou informações sobre soluções políticas”, disse ele, à margem de uma importante reunião da Coligação em Istambul.
“Os russos já disseram que o governo sírio tinha uma equipa para negociar, mas não sabemos em que termos. Eles têm mandatos para negociar de boa-fé a transição ou não?”, acrescentou.
A oposição síria exige que qualquer solução política passe pela demissão de Assad e dos membros do seu regime mais implicados na violência.

A julgar por estas declarações, se a conferência “Genebra-2” se chegar a realizar, será mais um falhanço, tal como foi a primeira.
Se o impasse continuar, ele será útil ao regime Assad e a Moscovo, pois, a julgar pelos combates dos últimos tempos, as tropas sírias têm vindo a recuperar posições e continuam a receber armamentos russos em quantidade suficiente para permitir a sobrevivência do regime.
Entretanto, além das fortes divergentes entre a oposição síria, os países ocidentais estão com receio de fornecer armamentos modernos aos rebeldes, pois receia que eles poderão ir cair nas mãos dos radicais islâmicos.
Quanto à possibilidade de uma intervenção militar direta da NATO ou de alguns países ocidentais, não parece ser provável nos próximos tempos, até porque os resultados de operações semelhantes realizadas antes deram aquilo que todos sabemos.

6 comentários:

PortugueseMan disse...

"...continuam a receber armamentos russos em quantidade suficiente para permitir a sobrevivência do regime..."

Que armas é que os russos estão a fornecer em "quantidades suficientes?"

os países ocidentais estão com receio de fornecer armamentos modernos aos rebeldes

E quem são exactamente os rebeldes naquela confusão? Existem tantas facções tantos interesses, que alguém sabe a quem exactamente vai fornecer o quê?

E porque dura o conflito há tanto tempo? Porque existe apoio externo, o que está a prolongar o conflito e a destruir completamente o país.

Pippo disse...

Duvido que as principais potência desejem realizar algum tipo de intervenção internacional. Quem é que se quer meter ali?
O problema agora é que já não há soluções aceitáveis. O Bashar al-Assa nunca poderá abdicar, caso contrário arrisca-se a ser julgado mais dia menos dia, com a pena de morte garantida para si e para os seus; o seu regime não se aguenta sozinho e se permanecer será extremamente fraco; os russos irão fornecer armas para que a situação permaneça como está, com os alauitas melhor equipados mas em desvantagem numérica; os EUA não estarão interessados em meter-se noutro vespeiro igual ao do Iraque ou Afeganistão e os turcos não hão de querer que os americanos intervenham na região (até já têm filmes patriotengos em que um Rambo turco casca nos americanos maus no Iraque e tudo, por aí já se pode ver), mas vêm-se e desejam-se para fazer alguma coisa (até já tem atentados terroristas no seu solo e tudo!), mas não devem estar muito interessados em meter-se num lodaçal agora que resolveram a questão com o PKK; Israel só deseja que não se metam com ela, para não ter chatices; a UE também terá mais do que fazer, e além disso não quererá armar gajos que comem iscas com "molho tártaro"; os EAU e a A. Saudita, esses sim, estarão interessados em meter-se no bedelho, mas não têm homens para isso. O Irão é o único Estado com capacidade e vontade para intervir à vontade sem que ninguém os chateie verdadeiramente.
Quanto às outras potências (não estatais)quem quer e pode mesmo intervir são os jihadistas internacionais e o Hizballah. Os primeiros fazem-no por motivos ideológicos "puros" e terão muitos apoios; os segundos, e isto é que é a maior revelação deste conflito, fazem-no por motivos políticos e estratégicos, e a mudança operacional e estratégica do "Partido de Deus", na verdade, até o poderá enfraquecer a nível internacional e interno, pois deixará de ser o partido/exército que "resiste à agressão sionista" e passará a ser a força opressora da Primavera Árabe e dos sunitas sírios. E esta situação de intervenção/opressão, para além de desligitimizar o Hizballah, poderá ter consequências no próprio Líbano, com xiitas e sunitas a chegarem, finalmente, a vias de facto.

PortugueseMan disse...

Syrian opposition in chaos

SYRIA'S leading opposition group is in disarray at the start of a fifth fractious day of talks in Istanbul, with discussions on participation in a US-Russian peace initiative now stalled...

http://www.couriermail.com.au/news/breaking-news/killed-as-syria-rebels-kurds-clash/story-e6freoo6-1226651019659

Iraqi Shiites fight for Syrian government

...Abu Sajad, the nom de guerre of an Iraqi militia commander who appears in the video, proudly displayed it as proof that Iraqi Shiites are playing a critical role supporting the regime of Syrian President Bashar al-Assad in what has become an increasingly sectarian and regional war...


...The role of Iraqi Shiite fighters in Syria raises questions about the possible complicity of the Iraqi government, which U.S. officials have recently criticized for allowing Iran to use Iraqi airspace for flights that allegedly transport weapons, troops and supplies to the Assad government...

http://www.washingtonpost.com/world/middle_east/iraqi-shiites-fight-for-syrian-government/2013/05/26/6c3c39b4-c245-11e2-914f-a7aba60512a7_story.html

MSantos disse...

Já cá não vinha há uns tempitos e é bom verficar que a malta amiga ainda por aqui anda.

Abraço a todos

:D

Manuel Santos

PortugueseMan disse...

Caro MSantos,

É bom vê-lo por aqui!

Eu também tenho andado muito pouco por estas bandas.

Cumprimentos,
PortugueseMan

Pippo disse...

Ab, Manuel Santos!