O Teatro Nacional de São João do Porto "entrou com o pé
direito" no Festival Internacional de Teatro Tchekhov, em Moscovo, com a
representação de "Sombras", peça de Ricardo Pais recebida com muitos
aplausos e "bravos" por uma sala repleta.
Diz um ditado russo que
"a primeira panqueca cozinhada sai sempre mal", mas os atores
portugueses desmentiram isso, embora tenham arriscado ao extremo:
apresentar uma peça com base em episódios da História de Portugal,
perante um público que, na sua grande maioria, os desconhece.
Mas o
trabalho dos atores, dos músicos, dos técnicos de luz e som e do
tradutor da peça de português para russo, Vitaly Gnatiuk (numa
legendagem que surgiu num quadro colocado acima do palco), foram mais do
que suficientes para superar qualquer barreira.
"Trata-se de um
verdadeiro cabaret europeu, onde se entrelaçam géneros, empurrando-se
uns aos outros, onde os atores portugueses manobram habilmente entre
épocas históricas, ou contando pela milésima vez a sua principal lenda
sobre o amor maravilhoso e trágico de Inês e Pedro, ou ironizando
clichés primitivos. Um leque de géneros: de monólogos românticos a
anedotas modernas escabrosas", declarou à Lusa Ksenia Larina, conhecida
crítica russa de teatro.
A crítica destaca dois momentos: "o
contrabaixista salta da orquestra para o palco e transforma-se num
fantástico bailarino: atraente, provocante, gracioso. Ele pisca o olho à
sala em delírio e, ao som de fortes aplausos, volta para o
contrabaixo".
"E a cena de amor entre Pedro, louco de amor, e a
sua amada morta Inês! Nem uma palavra, nem um som, um silêncio selvagem
de dois corpos cruzados por abraços: a vida e a morte, arrepiante!",
acrescentou a crítica.
"Apenas se pode comparar as "Sombras" com o
jazz, onde uma melodia é seguida de outra, a disposição muda
rapidamente e a satisfação vem da improvisação", considerou Alexei
Zotov, crítico do canal televisivo russo ORT.
A crítica de teatro
do diário Moskovskii Komsomolets destaca duas figuras no grupo: "O
teatro português oferece-nos uma ‘mistura’ emocional. Os atores e
músicos no palco eram 12, entre os quais Mário Laginha, estrela do jazz
mundial, e Raquel Tavares, mulher bonita e estrela do fado".
Quando
o pano caiu, os fortes e longos aplausos das mais de mil pessoas que
enchiam a sala do Teatro Mossoviet, uma das melhores salas de teatro da
capital russa, surpreenderam claramente os atores e músicos portugueses.
Não estavam à espera que a sua mensagem fosse tão bem recebida pelo
exigente público moscovita.
"Espetáculo emocionante! Foi um grande
prazer! Até senti calafrios. Se tiverem oportunidade, não percam este
espetáculo", comentou Sasha Khozina, aluna do Instituto de Relações
Externas de Moscovo.
A peça "Sombras", trazida pelo primeiro grupo
de teatro português a representar na Rússia, irá ser exibida hoje e no
sábado na mesma sala de teatro e contará novamente com casa cheia.
1 comentário:
Fico muito satisfeito pelo sucesso alcançado em Moscovo pelo grupo do Teatro Nacional de S. João do Porto. É reconfortante obter na primeira actuação uma sala repleta.
Espero que as relações culturais entre os dois países continuem a intensificar-se. A impressão que tenho é que há ainda muito a fazer, e não só na área cultural, para que as relações a todos os níveis entre Portugal e a Rússia se tornem mais intensas e os dois povos tenham um maior conhecimento um do outro. Por isso, notícias como esta são bem vindas.
Jorge Ramalheira
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