Uma das personagens de um célebre western soviético “O Sol branco do
deserto” pronunciou um frase que ficou para a história: “O Oriente é coisa
delicada!”.
Lembrei-me desta frase a propósito da Cimeira da Organização para a
Cooperação na Região da Ásia e do Pacífico, que se realizou na Indonésia,, ou
melhor, dos encontros que decorreram à marcha dessa reunião.
O Presidente russo, Vladimir Putin, encontrou-se com o primeiro-ministro
japonês Sendzo Abe e, como não podia deixar de ser, um dos temas centrais das
conversações foi a discussão sobre a posse de quatro ilhas da cordilheira das
Curilhas.
Este problema é uma constante nas relações russo-nipónicas depois da
Segunda Guerra Mundial e parece não ter fim à vista, não obstante todos os esforços
de Tóquio com vista a reaver as citadas ilhas. O Japão defende que as ilhas
devem ser devolvidas pela Rússia, mas Moscovo afirma que tal problema não
existe.
Um impasse, eu diria, um beco sem saída, não obstante a nova solução
apresentada pelo primeiro-ministro nipónico. Este propõe que o problema dos “territórios
setentrionais”, como são conhecidas as ilhas litigiosas no Japão, seja
resolvido na base do reconhecimento de que “depois da guerra, não há
vencedores, nem vencidos”.
A Rússia aceitou que o problema fosse retirado da “Comissão de Anciões” ,
que não conseguiu progresso algum na solução, e passasse para as mãos dos
ministros da Defesa e Negócios Estrangeiros dos dois países, mas nada comentou sobre vencedores e vencidos.
O mais provável, é que esta história se irá arrastar por muitos anos ou
até gerações, porque o mais relevante é que esse conflito não impede o crescimento
impetuoso das relações comerciais entre os dois países. Segundo alguns
analistas, o gás, petróleo, peixe, etc. atiram o problema territorial para
segundo plano.
Mas é quase para dizer também que “não há bela sem senão”, porque a China
não olha com bons olhos para a aproximação russo-nipónica e tenta dificultá-la. Como dizem
os russos: não se pode impedir ninguém de ser rico, mas pode-se criar
dificuldades nisso, e Pequim lançou a ideia da celebração conjunta com Moscovo
do 70º aniversário da vitória na Segunda Guerra Mundial, em resposta à tese nipónica
de que não há vencedores, nem vencidos.
“A Rússia e a China sofreram pesadas baixas na guerra. A Rússia sofreu
muito para vencer e a China deu também o seu contributo para a vitória, e jamais esqueceremos isso!”, declarou o dirigente chinês Si Zin Pin.
Esta proposta chinesa vem colocar Moscovo numa situação desconfortável,
porque a URSS e a Rússia nunca concentraram os festejos da vitória na Segunda
Guerra Mundial no Extremo-Oriente, ou seja, sobre o Japão, mas sobre o nazismo alemão.
Vamos ver como é que a Rússia vai conseguir evitar esta “ratoeira” da
diplomacia oriental.
Proposta interessante essa, a dos chineses.
ResponderEliminarMas mais interessante ainda é essa teoria nipónica do "não há vencedores nem vencidos"! Ai não há? Então quando o Japão aniquilou Nanquing, os chineses (e sobretudo, as chinesas!) que foram apanhados na voragem, foram quê? Não foram vencidos, e de caminho, violados e chacinados? E o Japão, que tinha conquistado a Manchúria aos russos e anexado a Coreia e a Formosa, e que depois conquistou todo o Sudeste asiático, não foi ele vencido por americanos, britânicos, chineses e soviéticos? Que bela teoria essa!
O Japão ter de perceber que na 2ª GM todos perderam, e muito mas houve quem tivesse perdido mais do que os outros. As Kurilas foram território japonês perdido e anexado em favor da URSS e que passaram a ser parte integrante da Rússia. Ponto final. Não queriam perder essas ilhas? Não tivessem atacado a URSS.