A visita de Paulo Portas, vice-primeiro-ministro
português, à Rússia realizou-se no início da semana, mas só agora tento fazer
um balanço para dar tempo a “baixar a poeira” e esperar que alguma coisa fosse
publicada na imprensa russa.
Depois de uma busca pela Internet, constatei que os
médias russos praticamente deixaram passar despercebida uma visita de Paulo
Portas com um grupo de cerca de 50 empresários portugueses. Apenas a Rossiskaia
Gazeta, órgão oficial do Governo russo, lhe dedicou um pequeno texto, bem como
o sítio electrónio da rádio Voz da Rússia em português.
Segundo os políticos portugueses que dirigiram a
comitiva, os “resultados foram muito positivos”, mas, na realidade, viagens
deste tipo não conseguem justificar o dinheiro que se gasta nelas.
A imprensa portuguesa noticiou que Paulo Portas acenou
com a Autorização de Residência para a Atividade de
Investimento (ARI) para atrair investimentos russos, mas não ficou claro
em que sectores. Pelo que escreve o Rossiskaia Gazeta, ter-se-ia falado de
propostas para atrair investimentos russos para a extracção do volfrâmio
português e para a prospecção de gás e petróleo em Portugal (sobre isto não
encontrei referências na imprensa portuguesa).
Muito se falou de turismo, mas os resultados também
não são visíveis. Escreveu-se sobre dois projectos no Algarve que poderiam
trazer mais 20 mil turistas russos, mas não foram revelados pormenores.
Não se compreende também porque é que se continua
exclusivamente a apostar no turismo para Lisboa, Algarve e Madeira, esquecendo
o restante país. Os russos que apenas gostam de praia e Sol, vão para países
com águas mais quentes. Grande parte dos turistas russos vêm a Portugal não só
apanhar Sol, mas também conhecer a nossa História, vinhos, culinária, etc. Por
isso, outras regiões do país têm grandes potencialidades de captar turistas
russos, bastando que a informação lhes chegue aos ouvidos.
Também não foi resolvido o problema do número de voos
da TAP entre Lisboa e Moscovo. A companhia aérea portuguesa queria aumentar de
seis para nove o número de voos semanais, mas as autoridades russas há quase
dois anos que recusa esse pedido, embora o acordo assinado entre a União Soviética
e Portugal em 1975 preveja a realização de até 13 voos semanais.
Era de esperar que Paulo Portas tivesse, desta vez,
solucionado esse problema, que é uma das principais barreiras ao aumento
significativo do número de turistas russos que pretendem visitar Portugal, mas
tal não aconteceu.
Se precisamos de mais turistas russos, temos de
investir mais na publicidade do nosso país, mas, até agora, a maioria dos
investimentos neste campo são feitos pelos operadores turísticos russos. E como
as despesas com esta visita não foram pequenos, receio que não irá haver mais
meios para financiar campanhas no mercado russo.
Quanto ao aumento significativo das exportações de
produtos portugueses, ele também não se deve aos esforços dos governos
portugueses, mas à luta diária dos empresários lusos no terreno.
O governo português, se quiser realmente apoiar esses
empresários, deve prestar esse apoio diariamente, prestando atenção às queixas
e sugestões dos empresários português.
Além disso, é também preciso apostar no apoio à
difusão da cultura e língua portuguesas na Rússia. O que faz o governo
português para ser mais conhecido nesse país? Praticamente nada, pois não há
meios para se fazer o que quer que seja. E quando aparece, é investido em
programas de utilidade duvidosa.
Desta vez, graças a Deus, a visita oficial não foi
acompanhada de corridas na Praça Vermelha, nem de dormidas no Kremlin, mas os
resultados irão ser os mesmos.
P.S. Não é porque se trata do José Milhazes (a minha
relação com a Lusa terminou e não sou pessoa de ajustar contas), mas é difícil
compreender como é que o Estado Português tem milhares para visitas tão
pomposas, mas depois não tem tostões para que a Agência Lusa tenha um
correspondente permanente num país que o ministro Paulo Portas diz ser
estratégico. Ou será que a mão esquerda deste governo não sabe o que faz a mão
direita.
Caro José,
ResponderEliminarNão podia estar mais de acordo. Da primeira palavra até à última, tudo é verdade, infelizmente. O dinheiro gasta-se de uma forma tão pouco produtiva, e para o que é realmente necessário e importante, não há meios. Dizer que o encontro foi positivo é mesma coisa que não dizer nada. Estas visitas de alto nível passam absolutamente despercebidas e sem efeito.
JM, tem na sua frente um governo de Portugal que prima pela cegueira e pela mais absoluta incompetência. Esperava o quê?
ResponderEliminarE quanto a dinheiro, já se sabe que não pode haver capital para Lusas ou salários pois, em primeiro lugar, urge respeitar compromissos com as PPP e os contratos de swap (entre outras coisas), que isso sim é que são coisas importantes!