O
famoso fabricante de malas Louis Vuitton decidiu edificar uma mala
gigante com 9 metros de altura e 30 de comprimento na Praça
Vermelha, centro histórico da capital russa.
Desta
vez, os moscovitas ficaram indignados com esta “perfomance
artística” e exigem a sua desmontagem, mas situações como estas
podem repetir-se enquanto não for definido o estatuto da praça.
Alguns
leitores poderão dizer-me que essa iniciativa nada tem de
extraordinário e até pode realizar-se no centro de qualquer
capital, por exemplo, na Praça do Comércio em Lisboa. Estaria de
acordo, mas se não soubesse que na Praça Vermelha se encontra um
cemitério (!) e se, nos últimos tempos, não se tornasse
praticamente impossível observar essa praça de forma completa, sem
pavilhões no meio ou tribunas para concertos, paradas, etc.
Antes
da Louis Vuitton, a Dior já tinha erguido um enorme pavilhão no
mesmo lugar para apresentar produtos seus. Os armazéns GUM de
Moscovo, antiga loja do povo Nº1 que se encontrava na praça, é
hoje a montra das mais famosas casas de moda do mundo, mas os preços
aí são tão altos que os russos ricos preferem visitar uma capital
da Europa, pagar o bilhete de avião e fazer compras fora de casa.
Por exemplo, preferem fazer compras na Avenida da Liberdade em
Lisboa.
Os
comunistas lançaram um campanha de indignação contra a mala
gigante, pois ela está a dois passos do Mausoléu onde se encontra
embalsamado o seu dirigente Vladimir Lénine, e dos túmulos de
outros dirigentes comunistas conhecidos: Estaline, Brejnev, Suslov,
etc., bem como de heróis soviéticos.
Realmente,
todos esses dirigentes devem estar a dar voltas no caixão.
Segundo
alguns, o melhor seria retirar os restos mortais dos sepultados e
transferi-los para um cemitério condigno, mas os comunistas insistem
que na Praça Vermelha estão melhor, sendo necessário apenas
definir o que se pode fazer na praça. Na época soviética, os
mortos “podiam assistir” a paradas militares, desfiles de atletas
e até a jogos de futebol, mas agora os comunistas não gostam da
presença dos símbolos do capitalismo no coração de Moscovo.
Mas
não foram os comunistas os únicos a protestar, as críticas vieram
de todos os lados. Foram muitos que, com razão, chamaram a atenção
para o facto de iniciativas desse tipo deformar a imagem da Praça
Vermelha e não permitir de forma condigna a sua riqueza
arquitéctónica.
Era
necessário saber quem deu autorização àquela pouca vergonha.
Se
um jornalista entra com uma câmara de filmar profissional na Praça
Vermelha e tenta apontá-la para onde quer que seja, aparecem uns
“gorilas quadrados” e “convidam” a parar as filmagens, só
autorizadas pela Administração do Presidente da Rússia. Mas essa
administração diz nada ter a ver com o aparecimento da mala! Não
sabia de nada!
Depois
de intensas buscas, veio a saber-se que se trata de uma “iniciativa
de beneficência” organizada pela modelo russo Natália Vodianova
com o apoio da Louis Vuitton. São louváveis todas as iniciativas de
beneficência, mas devem ser feitas com moderação e respeito pela
história dos povos.
Mas
se alguns estiverem em Moscovo e interessados no “jogo da mal”,
onde estarão expostas 25 malas históricas da Louis Vuitton e 12
instalações de artistas modernos, poderão lá entrar até 19 de
Janeiro, isto se as autoridades russas não desmontarem a mala antes.
Hoje vi nas notícias que a mala irá ser retirada da Praça.
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