quinta-feira, julho 24, 2014

Sobre a oportunidade de algumas das decisões das autoridades ucranianas


Há coisas que é difícil compreender. Porque é que a Rada Suprema da Ucrânia proibiu, hoje, o grupo parlamentar do Partido Comunista da Ucrânia e porque é que o Ministério da Justiça pediu aos tribunais que tomassem também uma decisão do mesmo sentido?
A Rada proibiu, mas o tribunal ainda não tomou uma decisão sobre o caso, mas o que me faz confusão é a oportunidade do desencadear deste processo.
Os apoiantes da proibição apresentam numerosos motivos, nomeadamente a política pró-russa do PCU, o apoio à anexação da Crimeia pela Rússia, o seu apoio aos separatistas e participação de militantes seus nos combates contra as Forças Armadas da Ucrânia no Leste. Isto são acusações muito sérias que poderão ser analisadas, mas não numa situação como a presente, em que o país vive uma guerra civil.
As autoridades ucranianas têm outras tarefas muito mais importantes a resolver, sendo a mais importante a defesa da integridade territorial deste país, bem como a difícil situação económica, social e política.
Por isso, não encontro uma explicação racional para estas acções contra o Partido Comunista Ucraniano. Faz-me lembrar a decisão das novas autoridades de Kiev, depois dos acontecimentos na Praça da Liberdade, de alterarem o estatuto da língua russa no país. Então considerei e continuo a considerar que foi um dos principais erros delas e uma excelente prenda ao presidente de um dos países vizinhos. Foi talvez o mais importante dos “argumentos” que faltavam para a anexação da Crimeia e a criação de altas expectativas entre os separatistas do Leste do Ucrânia.
Nos próximos dias, o Presidente da Ucrânia, Petro Porochenko, deverá dissolver a Rada e anunciar eleições antecipadas para o Outono. Se assim for, e tudo indica que sim, esse acto eleitoral poderia servir para avaliar o poder de influência do PCU na sociedade ucraniana. Se o PCU for impedido de participar nele, será mais uma nódoa na biografia do novo regime ucraniano.

Se querem ser europeus e democratas, os dirigentes ucranianos não devem usar os métodos do presidente russo, repeti-los de forma quase simétrica. Hoje, um tribunal de Moscovo considerou Serguei Udaltsov, dirigente da organização “Frente de Esquerda” (força política que, em Portugal, pode ser comparada ao Bloco de Esquerda), e Leonid Razvozhaev, seu adjunto, culpados da organização de desordens em massa a 6 de maio de 2012 na Praça Volotnaia de Moscovo. Ambos poderão passar na prisão os próximos 8 anos. 

8 comentários:

ANTI-COWBOY disse...

Ora o seu artigo,JM, ia tão bem e vai estragá-lo no fim em relação à Frente de Esquerda da Rússia, que não foi proibida mas que organizou desordens impedidas pela lei russa.Só têm que ser condenados por isso de acordo com o estabelecido pela própria lei.Este partido é um partido de extrema esquerda que deve ter o seu direito a existir mas apenas dentro dos cânones da constituição e da lei.Veja lá se existisse um movimento destes (já não falo em partido, porque isso seria impossível) nos EUA o que lhe aconteceria.Aliás mesmo os movimentos comunistas na América são altamente perseguidos como deve saber.Na Rússia há representação de todas as correntes de pensamento ideológico-político embora não estejam todas representadas no parlamento (Duma) como aliás acontece em todos os países democráticos do ocidente.Que eu saiba o partido da Rússia Justa que é um partido filiado na Internacional Socialista exerce em liberdade toda a sua acção assim como o Partido Social Democrata da Rússia, aliás fundado por Gorbachov,julgo que sem representação parlamentar,o Partido Liberal Democrata da Rússia de Vladimir Jirinovski, que me abstenho de qualificá-lo,embora com representação parlamentar,o Partido Comunista da Federação Russa e o Partido da Rússia Unida de orientação centrista,todos eles representam correntes de pensamento distintas da Rússia.Há portanto partidos para todos os gostos quase todos com representação parlamentar.Isto que se passa na Rússia de hoje seria impensável nos EUA.E eu,JM,até tenho uma orientação social democrata ou,se quiser, do socialismo democrático,embora de esquerda.Sou portanto completamente insuspeito em relação a poder-me pronunciar sobre o regime democrático que se vive hoje na Rússia muito mais que nos EUA.Agora ser democrata não significa a mesma coisa que ser parvo.No resto de todo o seu artigo estou completamente de acordo consigo.

ANTI-COWBOY disse...

Ora bem.O grande político ucraniano,Arseni Yatseniuk,1º ministro da Ucrânia vai embora.Aquele que chamou de animais aos separatistas do leste da Ucrânia criado da alta finança americana e portanto do governo dos EUA resolveu ir embora.Claro,a situação económica está de rastos.Gás não existe,dinheiro para pagar pensões também está a acabar.Os militares estão na contigência de deixar de receber.O poder da Ucrânia está a esboroar-se.O melhor é ir embora e o mais depressa possível se não quiser acabar os seus dias de apenas 40 anos pendurado numa qualquer árvore.Dinheiro da América está bem está,da Europa,está bem está.Vai embora meu filho antes de morreres e rapidamente.Os russos devem estar a pensar:"não sabíamos que isto ia acabar tão depressa".Afinal os "animais" do leste que não são gente têm alguma força.Não desanimes Yatseniuk.Enquanto há vida há esperança.Vai fazer umas férias para a América.Pode ser que isto passe.Ainda podes levar com o avião em cima da cabeça.Deixa passar algum tempo.O milagre vai acontecer.Os teus esforços não terão sido em vão.ESPERAMOS TODOS QUE VOLTES UM DIA mas debaixo de um poder que perceba a importância que a Rússia pode ter no desenvolvimento da Ucrânia.E que venhas a perceber o que é a Europa amiga que iria encher de dinheiro os bolsos de todos os ucranianos.Não te formaste na Universidade mais importante que há,a Universidade da vida que os desgraçados dos ucranianos estão a começar a conhecer tão bem.Vai embora enquanto é tempo e em paz.Mas os teus,esses vão ficar em guerra que tu ajudaste a comprar.

Pippo disse...

Por momentos nem queria acreditar no que os meus olhos viam e liam: o JM a criticar o regime de Kiev! Incrível!
Estaria eu a viver um sonho?

Mas depois li o último parágrafo e percebi que afinal estava bem acordado...

Anónimo disse...

Justino disse:

Derrubar pela arruada um primeiro ministro legitimamente eleito, segregar a língua dos russófonos como medida primordial após tomada do poder, agressões a director de jornal e a deputados no uso da palavra, ligações inequívocas de elementos do novo poder a grupos extremistas pouco recomendáveis, banir um partido legalmente constituído e histórico, a desorientação e as lutas pelo poder que levaram à recente demissão do primeiro-ministro em momento determinante em que era mais necessária a união, são traços que evidenciam bem a natureza do novo poder em Kiev e que dispensariam mais palavras.

Se a Ucrânia já era um estado inconsistente mergulhado em sucessivas revoluções coloridas, os grupos em que assenta novo poder em Kiev vêm agora demonstrar ao mundo que continuam mais concentrados na contemplação do seu umbigo do que partilharem, com estratégia e bom senso, a emergência de um união em torno de uma causa comum.

Aliás, demonstram, se dúvidas houvessem, que são a essência do problema e não a solução.


Muito em breve, em plena campanha eleitoral para as legislativas, tais grupos trucidar-se-ão mutuamente, fragilizando ainda mais uma governação demissionária e em gestão corrente, deixando o presidente isolado na sua campanha de recuperação do Donbass, presidente que, a exemplo do primeiro-ministro, acabará igualmente trucidado se as coisas não correrem de feição.

Com este “curriculum vitae” à vista de todos, o novo poder não pode arvorar-se em qualquer superioridade moral sobre regime da Federação da Rússia, ao invés, fornece o combustível às campanhas de desinformação promovidas por esta.

Os revoltosos do Donbass terão um balão de oxigénio que não contavam para gáudio da dupla Putin/Lavrov.

Uma trágica realidade para a Ucrânia cujo novo poder não merecerá “um granadeiro da Pomerânia” e, sabendo-se que este novo poder foi apoiado pelas democracias ocidentais, sou levado a pensar até onde chegam as malhas do império da “real politik” para atingir os seus fins, ao não haver vislumbre de pejo que obste a alianças com estas exóticas figuras, para não falar no apoio militar concedido a inenarráveis quanto brutais bandos de jihadistas noutros pontos do planeta, em ambos os casos sacrificando os povos locais inocentes destes desmandos.

Unknown disse...

Embora a comunicação social corporativa não dê eco das verdades que se vão descobrindo, o facto é que os EUA já sabem que não foi a Rússia que forneceu mísseis para mandar abaixo o avião Malaio. CIA dixit.

http://www.globalresearch.ca/us-intelligence-on-malaysian-flight-mh17-russia-didnt-do-it-us-satellite-photos-do-not-support-obamas-lies/5393053

depois disto, depois das ordens para o avião mudar de rota, baixar altitude, etc, e da censura efectuada por kiev às gravações dos controladores aéreos, tudo aponta para que o avião tenha sido abatido pelas forças neo-nazis de Kiev.

O que dizer disto? O que dizer de estratégia tão mentirosa engendrada pelos EUA e sua subserviente UE. O que dizer dos jornalistas que não divulgam estas coisas, nem como sendo, digamos, "fontes carecidas de confirmação"?

Parace que, afinal, o Putin não tem culpa de tudo.

Unknown disse...

Ah... Já agora JM. Como é que um governo de direita radical, suportado por facções neo-nazis, mas apoiado pelos EAU e UE faz uma coisa destas?

Só o admira a si JM. Era de prever e desgraçados dos Ucranianos que, se temem Putin, vão ter muito pior e, ainda por cima, sob a égide da "liberdade" e "democracia" vendida pelos EUA e UE.

É disto que quem cala o que se passa em Kiev anda fazer parte. Não se esqueça

Cancaseiro disse...

Quando alguém atinge o desespero e compreende que não tem razão, só lhe resta demonstrar quem realmente é!

Anónimo disse...

É muito facil perceber porque se proibe o PC e porque se remete para uma decisão judicial essa proibição. Tudo isso se passou na Alemanha depois da tomada do poder pelos nazis nos anos 30.
A história repete-se, a primeira vez como tragédia, depois como farsa (Marx)
FM