quinta-feira, julho 16, 2015

EUA trocam Ucrânia por Irão e Síria



Como é sabido, em política externa não há amigos, mas interesses concretos, tanto mais quando se trata de super-potências como os Estados Unidos.
Andrei Ilarionov, antigo conselheiro do Presidente russo Vladimir Putin, avança uma tese com a qual não posso deixar de concordar. Para receber o apoio da Rússia nos casos do Irão e da Síria, os EUA estão dispostos a entregar a Ucrânia a Moscovo.
O Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, tinha feito a proposta de uma nova Constituição que previa a descentralização de poderes, mas sem qualquer concessão de “estatutos especiais” às chamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk. Porém, agora, foi publicado o mesmo documento, mas que concede estatutos especiais aos territórios controlados por separatistas pró-russos. Esta mudança foi feita sob pressão dos Estados Unidos, na pessoa da Sra. Victoria Nuland, figura influente na política externa de Barack Obama.  O Presidente norte-americano quer terminar o seu mandato com êxitos no campo da diplomacia e a Ucrânia pode ser perfeitamente uma boa moeda de troca. Hoje, 16-07-2015, Nuland e representantes da União Europeia estiveram presentes na sessão do Parlamento ucraniano, mas a maioria dos deputados não apoiou a decisão de Poroshenko e decidiu enviar para o Tribunal Constitucional as alterações por ele propostas.
Se às regiões separatistas pró-russas for concedido “estatuto especial”, o Kremlin ficará com uma alavanca decisiva sobre a política interna e externa do governo de Kiev. Caso este dê um passo que não agrade Moscovo, os separatistas lá estarão para o neutralizar. No fundo, deverá significar o fim da Ucrânia como Estado e a sua desagregação.
Em troca, a Rússia fez sérias cedências no dossier nuclear iraniano. Se o acordo que foi assinado em Viena for avante, Moscovo pouco irá ganhar. Pelo contrário, quando as sanções internacionais forem levantadas, o petróleo iraniano irá entrar no mercado internacional e provocar a queda do preço desse combustível (o que já está a acontecer ainda sem o fim das sanções). Ora, isto é extremamente prejudicial para a economia russa, que se mergulha numa crise cada vez maior.
Além disso, Moscovo não viu aprovada a exigência do Irão de levantamento das sanções à venda de armas num prazo de seis meses. O Kremlin terá de esperar alguns anos antes de poder vender armas a Teerão.
Quanto à Síria, Moscovo parece disposto a deixar cair o regime do Presidente Assad ou a reservar para este um papel insignificante no futuro daquele país do Médio Oriente.
Esperemos que o problema da autoria do derrube do Boeing 777 malásio não seja incluído neste “pacote de acordos” e que a sua revelação não seja mais uma vez adiada. Os Estados Unidos podem possuir dados precisos sobre os autores da tragédia e utilizá-los nos seus interesses próprios. Ou vice-versa.

Enquanto isso, a União Europeia continua afogada no “problema grego”, revelando uma incapacidade total de resolver os seus problemas internos. Pelos vistos, o problema da Grécia não será resolvido antes de uma intervenção séria dos Estados Unidos, o que constituirá mais uma vergonha para a UE.
No que respeita à Ucrânia, a desestabilização provocada por manobras externas e internas aumenta, não se prevendo nada de bom. 

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