quinta-feira, setembro 03, 2015

Desestabilizar a situação é arruinar Ucrânia



Depois da aprovação na generalidade pelo Parlamento da Ucrânia de alterações à Constituição propostas pelo Presidente Petro Poroshenko com vista à descentralização no país, militantes da extrema-direita ucraniana tentaram invadir o edifício do Parlamento, empregando very lights e pelo menos uma granada de combate. Três polícias morreram e mais de cem pessoas ficaram feridas.
As autoridades ucranianas anunciaram ter detido o presumível autor do lançamento da granada, afirmando tratar-se de um combatente de um destacamento de voluntários do partido nacionalista Sbovoda (Liberdade), que regressára da frente leste para descansar. Mais tarde, o ministro do Interior veio precisar que um dos polícias mortos foi atingido por um tiro disparado do meio dos manifestantes.
Não há dúvidas que as alterações à Lei Suprema da Ucrânia, previstas pelo Acordo de Minsk 2, transportam riscos para a integridade do país. O Presidente Poroshenko garante que a nova redacção da Constituição não cria regiões autónomas em Donetsk e Lugansk, territórios controlados por separatistas pró-russos, nem permite a federalização da Ucrânia, mas parte importante dos políticos ucranianos receiam que os resultados sejam exactamente opostos aos anunciados pelo líder do país.
Estas apreensões são tanto maiores se tivermos em conta as declarações dos dirigentes russófonos do Leste da Ucrânia, que prometem eleições na auto-proclamada República Popular de Donetsk no próximo mês de Outubro, constituindo isso mais um passo para a separação desses territórios .
Num país que atravessa uma profunda crise como a Ucrânia, este tipo de discussões é absolutamente normal, pois trata-se, nem mais nem menos, do futuro do país. Porém, é inadmissível pressionar o poder ou tentar impor as suas posições através de actos violentos como aquele que foi na segunda-feira realizado no centro de Kiev.
Poroshenko considerou os incidentes “uma facada nas costas”, prometendo castigar exemplarmente os organizadores dessa “acção anti-ucraniana”.
Estes incidentes mostram uma vez mais que se torna imperativo desarmar os destacamentos da extrema-direita ucraniana e centralizar a defesa da integridade do país nas mãos das Forças Armadas da Ucrânia.
Ao mesmo tempo, não permitir que os nacionalistas ditem a política no que diz respeito à solução do problema do separatismo no país. Por vontade deles, a guerra teria continuado, sem olhar a meios e vítimas.
Os nacionalistas do Pravy Sektor e do Svoboda não têm apoio popular significativo nas urnas e tentam exercer pressão sobre o poder através da violência. Por isso, as autoridades de Kiev devem deixar bem claro que não permitirão esse cenário. Caso contrário Poroshenko poderá ter o mesmo destino do seu antecessor: Victor Ianukovitch.
A União Europeia deve também condenar firmemente e demarcar-se dessas forças radicais que podem contribuir para uma desestabilização ainda maior no centro da Europa.
É de salientar que esta agudização tem lugar numa altura em que dirigentes de países como a Alemanha, França e Ucrânia tentam dar um novo impulso ao processo de Minsk, vendo nele a única forma de resolver o problema.
De Moscovo chegam sinais ambíguos. Por um lado, o Kremlin afirma-se disposto a contribuir para o êxito do Processo de Minsk, mas, por outro, continua a apoiar, directa ou indirectamente, os separatistas pró-russos. Além disso, as acções dos extremistas ucranianos são uma verdadeira prenda e um grande contributo para a política do Presidente russo que visa enfraquecer o país vizinho.
No entanto, é de assinalar que, na segunda-feira, o Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia anunciou a construção de um muro metálico de mais três quilómetros de comprimento na fronteira russa com a região de Donetsk. Segundo alguns analistas, esta decisão poderá visar o controlo da passagem de mercenários através da fronteira.

Na actual situação, as autoridades de Kiev precisam de manter a estabilidade nos territórios por elas controlados, pois essa estabilidade reforça o poder negocial da Ucrânia. Os confrontos internos apenas contribuirão para um maior enfraquecimento político dos líderes ucranianos. Os resultados do Processo de Minsk são uma incógnita e o Inverno começa a aproximar-se. Por isso, Poroshenko necessita de uma rectaguarda consolidada.

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