Depois da
aprovação na generalidade pelo Parlamento da Ucrânia de alterações
à Constituição propostas pelo Presidente Petro Poroshenko com
vista à descentralização no país, militantes da extrema-direita
ucraniana tentaram invadir o edifício do Parlamento, empregando very
lights e pelo menos uma granada de combate. Três polícias morreram
e mais de cem pessoas ficaram feridas.
As
autoridades ucranianas anunciaram ter detido o presumível autor do
lançamento da granada, afirmando tratar-se de um combatente de um
destacamento de voluntários do partido nacionalista Sbovoda
(Liberdade), que regressára da frente leste para descansar. Mais
tarde, o ministro do Interior veio precisar que um dos polícias
mortos foi atingido por um tiro disparado do meio dos manifestantes.
Não há
dúvidas que as alterações à Lei Suprema da Ucrânia, previstas
pelo Acordo de Minsk 2, transportam riscos para a integridade do
país. O Presidente Poroshenko garante que a nova redacção da
Constituição não cria regiões autónomas em Donetsk e Lugansk,
territórios controlados por separatistas pró-russos, nem permite a
federalização da Ucrânia, mas parte importante dos políticos
ucranianos receiam que os resultados sejam exactamente opostos aos
anunciados pelo líder do país.
Estas
apreensões são tanto maiores se tivermos em conta as declarações
dos dirigentes russófonos do Leste da Ucrânia, que prometem
eleições na auto-proclamada República Popular de Donetsk no
próximo mês de Outubro, constituindo isso mais um passo para a
separação desses territórios .
Num país
que atravessa uma profunda crise como a Ucrânia, este tipo de
discussões é absolutamente normal, pois trata-se, nem mais nem
menos, do futuro do país. Porém, é inadmissível pressionar o
poder ou tentar impor as suas posições através de actos violentos
como aquele que foi na segunda-feira realizado no centro de Kiev.
Poroshenko
considerou os incidentes “uma facada nas costas”, prometendo
castigar exemplarmente os organizadores dessa “acção
anti-ucraniana”.
Estes
incidentes mostram uma vez mais que se torna imperativo desarmar os
destacamentos da extrema-direita ucraniana e centralizar a defesa da
integridade do país nas mãos das Forças Armadas da Ucrânia.
Ao mesmo
tempo, não permitir que os nacionalistas ditem a política no que
diz respeito à solução do problema do separatismo no país. Por
vontade deles, a guerra teria continuado, sem olhar a meios e
vítimas.
Os
nacionalistas do Pravy Sektor e do Svoboda não têm apoio popular
significativo nas urnas e tentam exercer pressão sobre o poder
através da violência. Por isso, as autoridades de Kiev devem deixar
bem claro que não permitirão esse cenário. Caso contrário
Poroshenko poderá ter o mesmo destino do seu antecessor: Victor
Ianukovitch.
A União
Europeia deve também condenar firmemente e demarcar-se dessas forças
radicais que podem contribuir para uma desestabilização ainda maior
no centro da Europa.
É de
salientar que esta agudização tem lugar numa altura em que
dirigentes de países como a Alemanha, França e Ucrânia tentam dar
um novo impulso ao processo de Minsk, vendo nele a única forma de
resolver o problema.
De Moscovo
chegam sinais ambíguos. Por um lado, o Kremlin afirma-se disposto a
contribuir para o êxito do Processo de Minsk, mas, por outro,
continua a apoiar, directa ou indirectamente, os separatistas
pró-russos. Além disso, as acções dos extremistas ucranianos são
uma verdadeira prenda e um grande contributo para a política do
Presidente russo que visa enfraquecer o país vizinho.
No entanto,
é de assinalar que, na segunda-feira, o Serviço Federal de
Segurança (FSB) da Rússia anunciou a construção de um muro
metálico de mais três quilómetros de comprimento na fronteira
russa com a região de Donetsk. Segundo alguns analistas, esta
decisão poderá visar o controlo da passagem de mercenários através
da fronteira.
Na actual
situação, as autoridades de Kiev precisam de manter a estabilidade
nos territórios por elas controlados, pois essa estabilidade reforça
o poder negocial da Ucrânia. Os confrontos internos apenas
contribuirão para um maior enfraquecimento político dos líderes
ucranianos. Os resultados do Processo de Minsk são uma incógnita e
o Inverno começa a aproximar-se. Por isso, Poroshenko necessita de
uma rectaguarda consolidada.
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