segunda-feira, outubro 26, 2015

Eleições locais mostram que Ucrânia necessita de reformas urgentes


As eleições regionais e locais na Ucrânia, realizadas no passado Domingo, são mais um sinal preocupante de que ou os actuais dirigentes tomam medidas reais para arrancar o país da crise em que se encontra, ou assistiremos novamente a trágicos incidentes nas cidades ucranianas.
As autoridades ucranianas foram incapazes de elaborar uma lei eleitoral clara e capaz de pôr fim às irregularidades que os observadores registaram durante a campanha eleitoral e o escrutínio.
O sistema eleitoral é muito complicado. Por exemplo, os eleitores têm de votar por um partido e por um candidato a um determinado cargo nas estruturas regionais ou municipais do poder, mas contam apenas os votos no partido. Se um candidato de um partido for o mais votado, mas a força política que o apoia não ultrapassar a barreira dos 5%, necessária para eleger deputados, ele não será eleito.
Mais de um milhão de deslocados de guerra não tiveram direito a participar na votação por questões burocráticas e, pelo mesmo motivo, não se realizaram eleições em Mariupol e Krasnoarmeisk, cidades de importância estratégica situadas na fronteira com as regiões separatistas pró-russas do Leste da Ucrânia. As eleições nessas duas localidades não se realizaram devido à disputa entre grupos oligárquicos. Foram registadas centenas de violações da lei eleitoral durante a campanha e o escrutínio, desde a compra de votos até à possibilidade de votar sem documentos de identificação.
Quanto aos resultados, tudo aponta para que o partido do Presidente Petro Porochenko e dos seus aliados não tenham conseguido alguns dos seus mais importantes objectivos. Não conseguiram vencer numa cidade estratégica como Kharkov, no Leste do país, onde a vitória absoluta foi alcançada pelo anterior presidente da câmara Guennadi Kernes. Em Odessa, espera-se uma segunda volta renhida entre o candidato de Kiev e o actual dirigente da cidade. Em Dniepropetrovsk e noutras regiões vizinhas, o oligarca Igor Kolomoysk luta por manter as suas posições, mas terá de enfrentar forte oposição na segunda volta. O Bloco da Oposição, financiado pelo oligarca Renati Akhmetov e que defende um diálogo mais intenso com a Rússia, reforçou as suas posições na região de Donetsk que não está controlada pelos separatistas e venceu em algumas cidades do Leste do país, nomeadamente em Lissitchansk.
Segundo os observadores do Comité de Eleitores da Ucrânia, a realização da segunda volta em algumas regiões, que terá lugar a 15 de Novembro, poderá transformá-las em “pontos quentes”, em disputas entre os vários grupos oligárquicos.
Alguns analistas ucranianos consideram que a “parte lírica” da “revolução de Maidan” há muito terminou e que Petro Porochenko tem rapidamente de passar das promessas e passar a actos concretos.
Iúri Lutzenko, dirigente do grupo parlamentar Solidariedade, principal base de apoio do Presidente da Ucrânia, atira as culpas do fracasso para cima da política do primeiro-ministro e prognostica a demissão de  Arseny Iatzeniuk e do governo durante o mês de Novembro.
“Enquanto dirigente do Bloco Petro Porochenko, declaro:  terá de haver uma conversa muito dura com o primeiro-ministro, ele responderá pela política no campo dos serviços comunais, pelos graves erros na indexação de pensões e ordenados e por outras coisas que ouvi das pessoas durante as eleições”, declarou ele após conhecidos os resultados das sondagens à boca das urnas, e frisou: “Penso que podemos prever sérias mudanças no Gabinete de Ministros ucraniano, incluindo mudanças globais já em Novembro”.
A popularidade de Porochenko e principalmente de Iatzeniuk tem sofrido uma brusca descida entre os ucranianos, pois continuam por resolver os problemas mais importantes do país. É verdade que Kiev conseguiu travar a ofensiva russa no Leste do país e não deixar transformar a Ucrânia num satélite de Moscovo, mas também é evidente que a corrupção não diminui e que os oligarcas continuam a reinar no país a seu bel prazer, que o nível de vida dos ucranianos não pára de descer.

Os ucranianos olham cada vez com mais cepticismo para o futuro europeu do seu país, pois muitos deles esperavam que a União Europeia e os Estados Unidos iriam resolver os problemas por eles, mas devem ser eles a exigir dos seus dirigentes o fim da corrupção e das oligarquias.

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