As eleições regionais e locais na
Ucrânia, realizadas no passado Domingo, são mais um sinal preocupante de que ou
os actuais dirigentes tomam medidas reais para arrancar o país da crise em que
se encontra, ou assistiremos novamente a trágicos incidentes nas cidades
ucranianas.
As autoridades ucranianas foram
incapazes de elaborar uma lei eleitoral clara e capaz de pôr fim às
irregularidades que os observadores registaram durante a campanha eleitoral e o
escrutínio.
O sistema eleitoral é muito
complicado. Por exemplo, os eleitores têm de votar por um partido e por um
candidato a um determinado cargo nas estruturas regionais ou municipais do
poder, mas contam apenas os votos no partido. Se um candidato de um partido for
o mais votado, mas a força política que o apoia não ultrapassar a barreira dos
5%, necessária para eleger deputados, ele não será eleito.
Mais de um milhão de deslocados de
guerra não tiveram direito a participar na votação por questões burocráticas e,
pelo mesmo motivo, não se realizaram eleições em Mariupol e Krasnoarmeisk,
cidades de importância estratégica situadas na fronteira com as regiões
separatistas pró-russas do Leste da Ucrânia. As eleições nessas duas
localidades não se realizaram devido à disputa entre grupos oligárquicos. Foram
registadas centenas de violações da lei eleitoral durante a campanha e o
escrutínio, desde a compra de votos até à possibilidade de votar sem documentos
de identificação.
Quanto aos resultados, tudo aponta
para que o partido do Presidente Petro Porochenko e dos seus aliados não tenham
conseguido alguns dos seus mais importantes objectivos. Não conseguiram vencer
numa cidade estratégica como Kharkov, no Leste do país, onde a vitória absoluta
foi alcançada pelo anterior presidente da câmara Guennadi Kernes. Em Odessa,
espera-se uma segunda volta renhida entre o candidato de Kiev e o actual
dirigente da cidade. Em Dniepropetrovsk e noutras regiões vizinhas, o oligarca
Igor Kolomoysk luta por manter as suas posições, mas terá de enfrentar forte
oposição na segunda volta. O Bloco da Oposição, financiado pelo oligarca Renati
Akhmetov e que defende um diálogo mais intenso com a Rússia, reforçou as suas
posições na região de Donetsk que não está controlada pelos separatistas e
venceu em algumas cidades do Leste do país, nomeadamente em Lissitchansk.
Segundo os observadores do Comité de
Eleitores da Ucrânia, a realização da segunda volta em algumas regiões, que
terá lugar a 15 de Novembro, poderá transformá-las em “pontos quentes”, em
disputas entre os vários grupos oligárquicos.
Alguns analistas ucranianos
consideram que a “parte lírica” da “revolução de Maidan” há muito terminou e que
Petro Porochenko tem rapidamente de passar das promessas e passar a actos
concretos.
Iúri Lutzenko, dirigente do grupo
parlamentar Solidariedade, principal base de apoio do Presidente da Ucrânia,
atira as culpas do fracasso para cima da política do primeiro-ministro e
prognostica a demissão de Arseny
Iatzeniuk e do governo durante o mês de Novembro.
“Enquanto dirigente do Bloco Petro
Porochenko, declaro: terá de haver uma
conversa muito dura com o primeiro-ministro, ele responderá pela política no
campo dos serviços comunais, pelos graves erros na indexação de pensões e
ordenados e por outras coisas que ouvi das pessoas durante as eleições”,
declarou ele após conhecidos os resultados das sondagens à boca das urnas, e
frisou: “Penso que podemos prever sérias mudanças no Gabinete de Ministros
ucraniano, incluindo mudanças globais já em Novembro”.
A popularidade de Porochenko e
principalmente de Iatzeniuk tem sofrido uma brusca descida entre os ucranianos,
pois continuam por resolver os problemas mais importantes do país. É verdade
que Kiev conseguiu travar a ofensiva russa no Leste do país e não deixar
transformar a Ucrânia num satélite de Moscovo, mas também é evidente que a
corrupção não diminui e que os oligarcas continuam a reinar no país a seu bel prazer,
que o nível de vida dos ucranianos não pára de descer.
Os ucranianos olham cada vez com mais
cepticismo para o futuro europeu do seu país, pois muitos deles esperavam que a
União Europeia e os Estados Unidos iriam resolver os problemas por eles, mas
devem ser eles a exigir dos seus dirigentes o fim da corrupção e das
oligarquias.
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