Texto envido pelo leitor João Gil Freitas:
"A anexação de facto da península da Crimeia e a eternização do conflito com a Ucrânia
na região do Donbass levam a crer que Moscovo não desistiu do objectivo primordial
de manter uma importante posição de controlo sobre a Ucrânia, país que considera
fulcral para a sua posição no continente europeu. A Rússia de Putin, mau grado o
agudizar da crise económica interna, persiste numa estratégia mais alargada, cujo
vértice central assenta em se afirmar internacionalmente enquanto player global.
Neste sentido, a assertividade da política externa russa ganhou um novo impulso com
a recente aprovação de uma nova doutrina militar, que vem sustentar oficialmente o
que tem sido o comportamento do país face a assuntos sensíveis na sua vizinhança
próxima. Ao contrário do que acontecia previamente, a Rússia de Putin referencia os
EUA e a OTAN como os grandes desafios à sua integridade territorial e ao seu estatuto
internacional. O que em tempos recentes era identificável mas implícito tornou-se,
mais do que nunca, explícito.
Uma explicação pode residir no centralismo autoritário de Putin, que corporiza uma
expressão de grandeza do país. A ideia imperial, advinda do nacionalismo e do discurso
anti-ocidental é intrínseca à ideologia prevalecente no Kremlin e continua a ser bem
acolhida no país. A projecção de uma imagem de liderança esclarecida por parte do
Presidente ajuda a minar o papel da oposição como contrapeso ao actual poder. A
postura da actual liderança está estreitamente ligada ao estado de acossamento do
país em assuntos internacionais, motivado por dois factores fundamentais, um de
ordem interna e outro de ordem externa: o estado de estagnação económica e o
permanente estado de alerta que o país vive desde a eclosão da crise ucraniana.
Se olharmos para a crise económica que vem afectando a Rússia, e se vem agravando
desde o último ano, conclui-se que é o corolário do rumo que o país vem seguindo nos
últimos quinze anos. A aposta no sector energético é basilar e vital para a economia
russa, pelo que a tendência de descida dos preços das matérias-primas energéticas nos
mercados internacionais tem acarretado consequências muito negativas para a
economia russa. Para 2015, está prevista uma contracção da do PIB de
aproximadamente 4%, e não há garantias de que em 2016 seja ainda um ano de
retoma. Perspectivas preocupantes para um país que necessita de uma economia
vigorosa para sustentar uma estratégia internacional de projecção de poder na sua
vizinhança próxima.
É neste quadro de deterioração do clima político e económico interno que Putin tem
actuado no quadro das crises ucraniana e síria. Putin sabe que é fundamental para a
sua posição enquanto Presidente centralizar tanto quanto possível o papel
desempenhado pela Rússia na resolução das grandes questões internacionais do
momento. Pelo mediatismo incontornável que ganhou desde os acontecimentos de
Paris, olhemos para o contexto sírio.
Para Moscovo, é fulcral estar no centro da decisão relativamente a este conflito, tendo
sido essa a principal motivação para o aprofundamento da sua intervenção militar. O
objectivo é ser chamado ao palco de decisão, em paridade com as potências
ocidentais, em relação a um futuro roteiro para a paz na Síria. Isto é, assegurar-se de
que não há solução pacífica com hipóteses de sucesso para o maior conflito do nosso
tempo que não passe também por Moscovo.
Uma outra motivação não despicienda prende-se com o facto de a Rússia pretender
substituir o problema ucraniano pelo problema sírio, uma via a explorar tendo em vista
o melhoramento das relações com o Ocidente. Por outras palavras, a estratégia russa
passa por esperar que intervenção na Síria obrigue à secundarização do impasse
diplomático ditado pela guerra na Ucrânia, com consequências positivas não apenas
para o estado das relações externas do país, mas também para a evolução da sua
situação económica, a partir de uma possível suavização das sanções internacionais.
Os recentes atentados de Paris e a consumação da prova de que o Daesh esteve por
detrás da queda do avião russo de passageiros veio dar força a esta política, tendo-se
verificado um maior alinhamento da acção militar russa no terreno com a que tem sido
encetada pelos intervenientes ocidentais, nomeadamente pela França e pelos EUA, o
que até recentemente não acontecia.
Vários Estados-membros da UE têm chamado a atenção para a necessidade de separar
o contexto sírio do contexto ucraniano. Essa posição tem partido de países que
tradicionalmente assumem uma posição mais dura relativamente a Moscovo. A divisão
no seio da UE é também algo que a Rússia procura explorar em seu proveito. Neste
contexto, uma possível divisão interna da UE pode fazer com que a aplicação dos
Acordos de Minsk soçobre definitivamente perante a sua fragilidade, em prol de um
tratamento bilateral das questões internacionais do topo da agenda – designadamente
com Paris e Washington – o que atiraria uma solução pacífica do conflito ucraniano
para a estaca zero. Perante o evoluir dos acontecimentos, é uma perspectiva que se
perfila no horizonte."
4 comentários:
oh ... nasceu mais um expert.
Este milhazes é mesmo uma canalha.
Dr Milhazes, precisa que lhe ofereça uma vassoura?
Cumprimentos.
Basto
" conclui-se que é o corolário do rumo que o país vem seguindo nos últimos quinze anos."
Ou seja ... para o Milhazes entre 10 de julho de 1991 – 31 de dezembro de 1999 foi a epoca de ouro da Russia, drogas , sida, mafia,bandalheira, fome e privação economica. Se fosse adorador da urss diria nos últimos 25 anos mas com esse salto de 10 anos revela que e adorador do bebado boris yeltsin (lider comunista ressabiado) de drogas , sida, mafia e bandalheira. Apreciei a mudança de forma do seu discurso mas mesmo assim continua-me a desagradar a forma basica de bicha ressabiada e nunca o contrataria para elemento de fazedor de opiniao publica. E que nos no Ocidente nao apreciamos a nada sida, mafia, homosexualidade e bandalheira que voce tando aprecia.
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