Após os atentados terroristas, uma das questões fundamentais
é saber como resolver os problemas da Síria e liquidar os bandos armados do
Estado Islâmico. Pode-se organizar todo o tipo de coligações internacionais,
mas nada poderá ser solucionado sem a participação activa dos próprios sírios.
Escrevo isto a propósito das declarações de Witold
Waszczykowski, novo ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, que defendeu
que os refugiados sírios que entram diariamente na Europa podem ser treinados
para formar um exército e regressar para libertarem a sua terra natal.
“Centenas de milhares de sírios chegaram recentemente à
Europa. Podemos ajudá-los a formarem um exército”, afirmou ele, acrescentando
que “eles podem ir lutar para libertarem o seu país com a nossa ajuda”.
Esta e outras declarações do ministro polaco, como, por
exemplo, em vez de os jovens sírios ficarem a"beber café na [icónica
avenida de Berlim] Unter den Linden ou de outras cidades europeias”, provocaram
críticas em alguns sectores políticos de esquerda, mas, se analisarmos a
História da Polónia, veremos que a proposta de treinar jovens sírios para
combaterem contra o Estado Islâmico no seu país é bem sensata.
Durante a Segunda Guerra Mundial, dezenas de milhar de
polacos, militares e civis, tiveram de procurar refúgio noutros países depois
da Polónia ter sido ocupada em 1939. Sem perderem tempo, organizaram unidades militares
nos países aliados para combater o nazismo e, desse modo, contribuir para a
libertação do seu país.
Na França, milhares de polacos combateram contra o nazismo e,
quando as tropas alemãs ocuparam esse país, cerca de 29 mil oficiais e soldados
foram retirados para a Grã-Bretanha, onde foram integrados nas Forças Armadas
Inglesas. No solo francês ficaram 4 mil mortos e 16 mil prisioneiros. Os que
não conseguiram sair do país e os que souberam fugir dos campos de concentração
nazis juntaram-se à Resistência Francesa.
Os polacos que encontraram refúgio na União Soviética também
não ficaram parados. Foram organizados dois exércitos devido às divergências
ideológicas existentes entre os polacos. As autoridades soviéticas organizaram
a 1ª Divisão de Infantaria Tadeusz Kosciuszko em 1943, que combateu ao lado do
Exército Vermelho pela libertação da sua pátria.
Outros polacos decidiram manter-se fiéis ao governo
provisório em Londres e formaram o chamado Exército do General Anders. Entre o
Outono de 1942 e a Primavera de 1943, 115 mil soldados e oficiais desse
exército transferiram-se da URSS para campos de treino no Médio Oriente e, daí,
parte foram enviados para o Sul de Itália, onde deram provas de grande coragem
nas batalhas de Monte-Cassino, Ancona e Bolonha.
Combatentes polacos participaram também no desembarque da
Normandia, integrados nas tropas aliadas, nos combates pela Holanda.
No caso dos refugiados sírios, certamente que existirão
muitos jovens e adultos ainda capazes de pegar numa arma para combaterem pelo
seu país. Afinal, o inimigo é o mesmo: o chamado Estado Islâmico. Depois de
terem passado pelo inferno da guerra e da destruição, deverão sentir-se
motivados para combater pela sobrevivência do seu país e será baixo o risco de
que eles, regressados à Síria, se queiram juntar a grupos extremistas.
Entre os refugiados sírios, há muitos que falam inglês e
mostram que têm uma instrução acima do normal, e a iniciativa de juntar
voluntários para lutar pelo seu país deveria partir deles. Isto seria um forte
argumento contra aqueles que afirmam que os sírios querem chegar à Europa
apenas por razões económicas e por subsídios nos países ricos. Além disso,
conhecem melhor o terreno do que qualquer soldado estrangeiro, sabem falar a
língua local.
2 comentários:
é uma excelente idea. pegar nos refugiados, dar-lhes treino e voltar a envia-los para a Syria (da guerra que fogem). melhor ainda seria envia-los com todos os europeus que fazem turismo "corta cabeças" na Syria ... envia-los todos no mesmo barco.
o mundo está cheio de grandes ideas e idiotas .. na mesma proporção.
São conjunturas totalmente diferentes, o que retira toda a viabilidade a esta ideia
O tipo de conflito é diferente, o tipo de refugiado é diferente, é tudo diferente. Não há paralelismo entre as duas situações. Aliás, a única solução viável está a ser aplicada, quer queiramos ou não, o Isis tem de levar com o mesmo tipo que resposta que levou a Al Qaeda, com a vantagem de que a coligação tem oportunidade de corrigir os erros que cometeu durante o combate com esta última.
Se o povo Sírio não se identifica com os ideais da Daesh, então eles próprios vão revoltar-se e ajudar a coligação. Se não o fizerem, enfim, os bombardeamentos serão, aos nossos olhos, mais indiscriminados.
P.S.
Enviar um comentário