As conversações entre as numerosas partes do conflito
na Síria ainda não começaram realmente – e não sabemos quando começarão - ,
porque os intensos contactos diplomáticos não produzem o efeito desejado:
sentar à mesa todos os grupos sírios envolvidos na contenda.
As divergências são grandes quanto aos grupos que
devem ou não participar no diálogo. Moscovo defende que o problema da Síria não
poderá ser resolvido sem a participação dos curdos da Síria e aceitou com
dificuldade a presença em Genebra de organizações como o Jaysh al-Islam
(Exército do Islão), que Moscovo considera um grupo terrorista islâmico e um
dos ramos da Al-Qaida.
Por outro lado, a oposição moderada ao actual Presidente
sírio, Bashar Assad, continua a acusar a Força a Aérea russa de atacar as suas
posições, provocando destruição e morte em zonas por ela controladas. Por isso,
exige a sua suspensão imediata.
Além disso, a disputa entre os “jogadores externos” no
conflito sírio, por exemplo, entre a Rússia e Turquia, dificulta ainda mais o
já penoso trabalho de diálogo levado a cabo pelas Nações Unidas.
A julgar pelo ambiente que se vie, as conversações
entre as partes do conflito deverão falhar ou demorar uma eternidade, daí não
se pôr de lado a possibilidade de, se algum dia se chegar a acordo, ele será
sobre a divisão da Síria.
Praticamente todas as partes envolvidas no conflito
sírio defendem que um dos objectivos das conversações deve ser a conservação da
unidade da Síria como Estado único. Moscovo diz ser importante a conservação de
uma Síria unida não tanto como forma de manter um aliado, mas para impedir que
o precedente sírio provoque o efeito do dómino e a revisão de fronteiras no
Médio Oriente, processos violentos que se aproximarão cada vez mais das
fronteiras russas. O Irão, a Jordânia, a Arábia Saudita e a Turquia também não
deverão estar interessados nesse cenário pelas mesmas razões.
Porém soa com cada vez maior intensidade o termo
“federalização” em relação ao futuro da Síria.
Não se pode pôr de parte a hipótese de que esse
cenário já está a ser levado à prática pelo regime de Assad, Rússia e Irão. Com
o apoio dos bombardeamentos massivos da avião russa, Damasco tenta controlar as regiões que dão saída para o Mar
Mediterrâneo, Damasco e as zonas do país onde vivem os alavitas, uma das
principais bases de apoio de Bashar Assad.
Se não for possível dominar tudo, como parece ser o caso, tenta-se
controlar o mais possível.
A ser realizada esta política, ela não é propriamente
uma novidade. No antigo espaço soviético, o Kremlin tem-na empregue com
bastante êxito. Recordemos o enclave de Nagorno-Karabakh entre a Arménia e o
Azerbeijão, que é controlado pelos arménios graças ao apoio significativo de
Moscovo, as duas regiões separatistas pró-russas na Geórgia: Ossétia do Sul e
Abkhásia, o enclave pró-russo na Moldávia: a Transdnístria, e a ocupação por
forças militares russas de duas regiões orientais da Ucrânia: Lugansk e Donetsk.
A julgar pelos “progressos” nas conversações no quadro
do Processo de Minsk, tudo caminha para o congelamento do conflito no Leste da
Ucrânia. Nas conversações, os separatistas apoiados por Moscovo e o Kremlin
defendem a “federalização” da Ucrânia, que lhe permitirá manter Lugansk e
Donetsk como alavancas de pressão sobre o governo de Kiev caso este ouse entrar
na NATO ou aproximar-se demasiadamente da União Europeia.
A política de ocupação e divisão da Síria parece
também já ser um objectivo também da Arábia Saudita e Turquia. Se estes países
avançarem tropas no terreno, o perigo de confronto com a Rússia e o Irão
aumentarão fortemente.
2 comentários:
E você gostou do documentário da France 4 ? ... acho que a Ucrania cansou os Europeus, vamos esperar que não a atirem para baixo do autocarro.
Ainda há que mencionar o exclave de Kalinigrado, que é usado para pressionar antigos satélites da União Soviética na zona Ocidental. A sua análise da situação é pertinente, e vem reforçar ainda mais a noção da necessidade imperiosa da 'fronteira próxima' da política russa.
Do ponto de vista militar, Tartus (e agora Lakatia), bem como Sevastopol, são essenciais para a manutenção de um certo equílibrio militar no Mar Negro, permitindo aos russos algum controlo a Sul dos Dardanelos e a Norte do Bósforo, sem ficarem 'presos' no Mar de Azov ou encurralados contra a costa este do Mar Negro - cenários que desequilibrariam totalmente o cenário de 'equilibrio nuclear' que ainda vigora actualmente.
A questão política ucraniana é já uma causa perdida para o Ocidente, que se encontra mais necessitado de tentar criar atrito como manifestação de coesão política, mas que gorou completamente com a crise dos refugiados sírios, e com sucessivos países a suspenderem o Tratado Shengen.
Vivemos tempos interessantes...
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