terça-feira, fevereiro 23, 2016

Será desta vez que o cessar fogo irá ser implementado na Síria?


         O actual cessar-fogo anunciado conjuntamente pela Rússia e os Estados Unidos para o próximo Sábado para a Síria parece estar melhor preparado do que o anterior, porém, continua a ser difícil acreditar que este novo vá ter maior êxito.
         Incute algum optimismo o facto de se criar uma “linha de emergência” entre militares norte-americanos e russos a fim de coordenarem as operações no terreno, de determinarem quais os grupos e territórios que não serão abrangidos pelo cessar-fogo. Além disso, os Presidentes Putin e Obama comprometeram-se a influenciar nos grupos por eles controlados com vista ao respeito do cessar-fogo. É de sublinhar que Vladimir Putin veio à televisão russa explicar pormenorizadamente a sua conversa com o seu homólogo norte-americano e as medidas acima citadas. Desse modo, o dirigente russo pretender dar a entender que o Kremlin está mesmo interessado no fim da guerra na Síria e no combate ao terrorismo, embora à sua maneira.
         Porém, este acordo tem várias fragilidades e estas estão nos pormenores (como é sabido, é nos pormenores que se esconde o diabo). Ao falar de organizações terroristas que devem continuar a ser combatidas, Putin citou o Estado Islâmico e o Jebhat an Nursa, braço armado da Al-Qaida na Síria, etc. Ora este “etc.” poderá ser um problema para ambas as partes, pois, como é sabido, no conflito sírio participam mais de duas dezenas de grupos armados. Isto será um teste ao poder de influência de Washington e de Moscovo sobre as partes do conflito. Embora nos últimos dias tenha amaciado o seu discurso, o Presidente sírio Bashar Assad defende que não há outra opção “além da vitória na guerra”. Por outro lado, a oposição tem uma série de exigências que poderão não ser satisfeitas: libertação dos presos, fim dos bombardeamentos e abertura de corredores humanitários.
         O acordo prevê também que as várias partes podem recorrer à “autodefesa”. Como é bem possível que após o cessar-fogo ocorram incidentes, a “autodefesa” pode pôr tudo a perder.
         A Turquia aprovou o acordo russo-americano, mas irá respeitá-lo em relação aos curdos no território da Síria? E o Irão e a Arábia Saudita não irão continuar a fazer o seu próprio jogo?
         Não compreendi a ideia de Assad de convocar eleições parlamentares para 13 de Abril. Ele poderá tentar legitimar o seu poder, mas será possível fazer um escrutínio a sério na actual Síria, praticamente reduzida a escombros e com milhões de refugiados?

         Se, não obstante tudo, o cessar-fogo vigorar, isso servirá apenas para dar início ao diálogo entre as várias partes do conflito, processo que não será mais fácil.

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