O actual cessar-fogo
anunciado conjuntamente pela Rússia e os Estados Unidos para o próximo Sábado
para a Síria parece estar melhor preparado do que o anterior, porém, continua a
ser difícil acreditar que este novo vá ter maior êxito.
Incute algum
optimismo o facto de se criar uma “linha de emergência” entre militares
norte-americanos e russos a fim de coordenarem as operações no terreno, de
determinarem quais os grupos e territórios que não serão abrangidos pelo
cessar-fogo. Além disso, os Presidentes Putin e Obama comprometeram-se a
influenciar nos grupos por eles controlados com vista ao respeito do
cessar-fogo. É de sublinhar que Vladimir Putin veio à televisão russa explicar
pormenorizadamente a sua conversa com o seu homólogo norte-americano e as
medidas acima citadas. Desse modo, o dirigente russo pretender dar a entender
que o Kremlin está mesmo interessado no fim da guerra na Síria e no combate ao
terrorismo, embora à sua maneira.
Porém, este
acordo tem várias fragilidades e estas estão nos pormenores (como é sabido, é
nos pormenores que se esconde o diabo). Ao falar de organizações terroristas
que devem continuar a ser combatidas, Putin citou o Estado Islâmico e o Jebhat an
Nursa, braço armado da Al-Qaida na Síria, etc. Ora este “etc.” poderá ser um
problema para ambas as partes, pois, como é sabido, no conflito sírio participam
mais de duas dezenas de grupos armados. Isto será um teste ao poder de
influência de Washington e de Moscovo sobre as partes do conflito. Embora nos
últimos dias tenha amaciado o seu discurso, o Presidente sírio Bashar Assad
defende que não há outra opção “além da vitória na guerra”. Por outro lado, a
oposição tem uma série de exigências que poderão não ser satisfeitas:
libertação dos presos, fim dos bombardeamentos e abertura de corredores
humanitários.
O acordo prevê
também que as várias partes podem recorrer à “autodefesa”. Como é bem possível
que após o cessar-fogo ocorram incidentes, a “autodefesa” pode pôr tudo a
perder.
A Turquia
aprovou o acordo russo-americano, mas irá respeitá-lo em relação aos curdos no
território da Síria? E o Irão e a Arábia Saudita não irão continuar a fazer o
seu próprio jogo?
Não compreendi
a ideia de Assad de convocar eleições parlamentares para 13 de Abril. Ele
poderá tentar legitimar o seu poder, mas será possível fazer um escrutínio a
sério na actual Síria, praticamente reduzida a escombros e com milhões de
refugiados?
Se, não
obstante tudo, o cessar-fogo vigorar, isso servirá apenas para dar início ao
diálogo entre as várias partes do conflito, processo que não será mais fácil.
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