Durante a sua longa conversa com o povo russo, o Presidente
Vladimir esteve igual a si mesmo, mas, desta vez, foi apanhado a mentir ao comentar
sobre o caso dos Papéis do Panamá. Como não se tratou de uma mentira para
consumo interno, foi obrigado a mandar o seu porta-voz pedir desculpas.
Quando abordou essa questão, o Presidente russo não só
defendeu os seus amigos, como até fez uma “revelação bombástica”. Segundo ele,
por detrás da publicação dos Papéis do Panamá estaria o banco norte-americano
Goldman Sachs, que alegadamente é o proprietário do jornal alemão Sueddeutsche
Zeitung.
“Em toda a parte se vê as orelhas dos encomendadores”, frisou
Putin no seu estilo “popular”.
Além disso, Vladimir Putin sublinhou que a publicação dos
Papéis do Panamá visa desestabilizar a situação política interna na Rússia na
véspera das eleições parlamentares, marcadas para Setembro, acrescentando que é
de esperar novas “publicações”.
Saídas da boca do dirigente de um país que tem fama de ter
uns activos e eficazes serviços secretos, essas declarações pareciam ter como
base provas irrefutáveis, mas, neste caso, a montanha nem sequer pariu um rato,
mas apenas mais uma mentira.
Na sexta-feira, Dmitri Peskov, porta-voz de Putin, veio
declarar que a informação sobre o proprietário do jornal alemão tinha sido
levada ao conhecimento do Presidente “simplesmente não confirmada”.
Porém, Peskov, como mandam as normas do Kremlin, chamou a si
a grave imprecisão do seu chefe: “Aqui talvez o erro tenha sido meu, dos que
prepararam as informações para o Presidente”.
Os organizadores do talk-show pré-ensaiado consideraram
normal que uma criança de 12 anos, Varia Kuznetsova, perguntasse: “Se, neste
momento, Petro Poroshenko e Erdogan se estivessem a afogar, quem tentava ajudar
primeiro?”
Putin hesitou em responder e mostrou-se sobretudo admirado ao
perceber a idade da autora da questão, mas, mesmo assim, respondeu: “Se uma pessoa
decide afogar-se, é impossível salvá-la. Mas nós estamos sempre prontos a dar
uma mão e oferecer ajuda aos nossos parceiros sempre que eles a desejem.”
A maior parte da sua longa conversa de quase quatro horas foi
dedicada aos problemas internos. Resumindo, as coisas vão avançando, os
telespectadores, na sua maioria, agradeceram ao Presidente pelo seu trabalho,
mostraram-se dispostos a enfrentar dificuldades. Uma criança dispôs-se mesmo a
comer papas sem doce de fruta para “economizar”. Alguns trabalhadores
conseguiram fazer chegar a Putin a mensagem de que tinham salários em atraso,
problema que começou a ser resolvido ainda antes do fim do programa.
Este espectáculo anual visa mostrar a proximidade entre o
Presidente e o povo russo, tal como o amor entre o Partido Comunista da União
Soviética e os soviéticos no passado, mas algumas acções de Putin fazem lembrar
uma frase atribuída a Lev Trotski: “Acredita, mas volta a verificar”. O
Parlamento russo não para de aprovar leis para combater a oposição extraparlamentar
e porque será que Putin teve a ideia de criar a Guarda Nacional, constituída
por cerca de 400 mil polícias?
Certamente que essa guarda pretoriana não foi formada para
defender o Kremlin das “tentativas de desestabilização” lançadas a partir de
fora. Putin não respondeu se iria ou não recandidatar-se e 2018 ao cargo de
Presidente da Rússia, mas essa é uma das medidas que apontam para que ele
tenciona ocupar o cargo durante muitos anos.
Sem comentários:
Enviar um comentário