domingo, fevereiro 19, 2017

Será possível discutir sem insultos em Portugal?

Foto do Arquivo do Jornal Público

A propósito da publicação do meu novo livro: "As minhas aventuras no País dos Sovietes", cabe deixar aqui algumas considerações. Nas críticas e insultos publicados ou enviados, notam-se duas claras abordagens: a dos que já tiveram oportunidade de ler e a dos que já decidiram não lê-lo, mas que não perdem a oportunidade para opinar.
Aceito e estou disposto a dialogar e a discutir, aqui ou em qualquer lugar público, com aqueles que já tiveram a paciência de o ler. Essa discussão será particularmente importante com pessoas que passaram por experiências de vida semelhantes à minha, porque, como escrevo no título do livro, são as "minhas aventuras" a forma como vi e vivi. Por conseguinte, o meu livro poderá ser um desafio, por exemplo, para que pessoas que tiveram outras vivências na URSS, Rússia, China, etc. etc.
Porém, há uma série de "comentadores" que, ainda antes do livro chegar às livrarias, já escrevem, gritam e insultam não o conteúdo do livro, mas a figura do autor.
Isto por várias razões:
1) Se o autor foi um dia do Partido Comunista e decidiu abandoná-lo, só pode ser traidor, renegado, etc. Isto faz-me lembrar a lógica do KGB soviético/FSB russo, de onde se sai apenas em posição horizontal e com os pés virados para a porta (na tradição russa, assim se faz com o transporte dos mortos).
2) Quando eu saí do seminário comboniano e aderi à União dos Estudantes Comunistas, ninguém me chamou traidor ou vira casacas, embora, ideologicamente, eu tenha feito uma mudança radical. Mas se alguém faz o contrário, duvida de verdades absolutas, cai o Carmo e a Trindade. O ódio e a raiva vêm à tona.
4) Continuam a destilar ódio e raiva aqueles que ouviram falar do meu livro "Brejnev, Cunhal e 25 de Abril" (não o leram mas ouviram dizer), onde publiquei documentos que provam que o PCP se vendia por dinheiro, era e é um partido servil a quem paga, mesmo que sejam tarefas tão sujas como o desvio de parte do arquivo da PIDE para Moscovo.
3) Há pessoas que estudaram na URSS e, quando chegaram a Portugal, conseguiram arranjar emprego nas autarquias comunistas, onde dizem que não há boys. Compreendo que esses estejam entre os mais ferrenhos críticos, porque têm um emprego a defender e uma família para alimentar.
4) Há outros que têm simplesmente dor de cotovelo.
Um conselho a todos, independentemente de ideologias e crenças, não cometem sobre o que não sabem ou não lerem. Isso não é sinal de inteligência, mas de ignorância.
Desejo a todos (e não só aos meus leitores) boas leituras e tolerância.
Quando eu vivia na URSS/Rússia, notava que o meu país: Portugal, avançava, tornava-se mais moderno. Porém, quando cá cheguei, constatei que nenhuma modernização conseguiu diminuir (não digo acabar porque não acredito em milagres) a mesquinhez, a tacanhez e a inveja. Recentemente, voltei a reler os "Maias" e a constatar que alguns portugueses se estão nas tintas para a sabedoria e os conselhos de Eça de Queirós. Isto porque ele continua a ter razão. Já diz o ditado russo: se tens a cara torta, não culpes o espelho.

5 comentários:

Anónimo disse...

já o Portugues diz que o nasce torto, jamais se endireita !

Lura do Grilo disse...

Vou comprar o livro. Confesso que gostaria de saber o que leva um jovem a ligar-se ao comunismo e fazer o percurso inverso.

Pio Moa também fez um percurso idêntico e é um historiador clarividente.

Unknown disse...

Consegui adquirir desde o Brasil pelo Google Play! Obrigado Sr. Milhazes por compartilhar sua experiência! Não poderia imaginar que as músicas do Teixeirinha tivessem alcançado Portugal naquela época!

Pedro Leite Ribeiro disse...

Infelizmente, tudo o que diz aqui é verdade e, se calhar, até poderia dizer mais. A par disto, gostaria de notar que a internet tem favorecido a produção de insultos fáceis, a expressão de sentimentos mesquinhos, a exteriorização de variadas e iradas frustrações. É fácil escrever no conforto do lar ou na mesa do café, escondido atrás do anonimato. Todos podemos instantaneamente publicar opiniões ou o que quer que seja. Todos podemos ser uns valentes só com a exercitação de alguns dedos. A democratização global tem aspetos positivos mas também contrapartidas. Eu já fechei o meu blogue há anos mas admiro quem ainda persiste neste meio de comunicação que, por ser acessível a todos sem necessidade de pertença a uma qualquer rede social, creio ser o mais democrático que existe.

Unknown disse...

Será realmente possível?