As eleições do novo dirigente do PSD mostraram que o
escrutínio foi realizado com ilegalidades tão flagrantes que apenas podem
desacreditar ainda mais o actual regime político e ferir a legitimidade de Rui
Rio. Isto se ainda resta alguma vergonha aos políticos e eleitores.
Não sou militante do PSD, não tenho simpatias especiais por
nenhum dos candidatos, mas já sei que, nas próximas eleições, terei menos possibilidade
de opção consciente e cívica. Depois de ver a forma como decorreu a campanha
eleitoral e a votação, tenho dúvidas de que algum dia irei votar em Santana
Lopes ou Rui Rio numas eleições nacionais.
Enquanto decorriam debates acesos mas pouco claros e
construtivos entre os dois candidatos, surgiam notícias de que estavam a ser
feitos pagamentos de quotas à pressão para aumentar o número de militantes do
Partido Social-Democrata que pudesse votar. O Observador denunciou que “nesta
eleição, as provas do tradicional caciquismo abundaram. Desde logo, o pagamento
massivo de quotas nas últimas horas: a 15 de dezembro, antes do fecho dos
cadernos eleitorais, no último dia para o pagamento de quotas, havia cerca de
50 mil inscritos, segundo a sede nacional do PSD; nos momentos derradeiros
foram saldadas mais de 20 mil quotas e os militantes ativos dispararam para
mais de 70 mil. A quota é de 1 euro mensal, 12 euros por ano” ”( http://observador.pt/especiais/video-como-os-caciques-de-ovar-angariaram-votos-para-rio/).
Não li nem ouvi qualquer tipo de desmentido, embora se trate
de uma violação clara das regras democráticas, que não pode ser justificada por
argumentos do tipo “noutros partidos fazem o mesmo”.
Mas a batota não ficou apenas por aí. O mesmo texto publicado
pelo Observador é acompanhado de um vídeo que mostra a forma como venceu Rui
Rio em Ovar. Nesta situação, o mínimo que se exige é uma investigação deste
caso de flagrante caciquismo e, se se constatar que os episódios descritos são
verdadeiros – pessoalmente, não tenho dúvidas de que são -, repetir o
escrutínio pelo menos nas regiões onde foram detectadas acções ilegais e, no
máximo, repetir a eleição com toda a transparência e legalidade. O PSD e a
democracia portuguesa só ganhariam com isso.
Durante os muitos anos que vivi na Rússia, tive a
oportunidade de assistir a eleições e, principalmente durante a era de Vladimir
Putin, que já dura há mais de 17 anos e sem fim à vista, tive a oportunidade de
assistir a esse tipo de truques para não só aumentar a afluência às urnas, mas
destacar a “popularidade crescente” dos líderes russos.
Quando isto acontece em regimes como o de Vladimir Putin, são
muitas as vozes que justamente se levantam para criticar a “democracia
soberana”, mas o mesmo não deverá ser válido para as eleições de dirigentes
partidários portugueses? Será que voltámos ou nunca saímos da política de “dois
pesos, duas medidas”?
A credibilidade dos actuais partidos políticos portugueses já
não é grande e certamente que não aumentará com dirigentes partidários eleitos
da mesma forma como foi eleito Rui Rio.
Os partidos políticos deveriam ser escolas da democracia,
mas, pelos vistos, parecem ser mais universidades de caciquismo, clientelismo,
batota e corrupção. Penso que não vale a pena enumerar exemplos, pois
arriscar-me-ia a ocupar demasiado espaço.
Mas os eleitores portugueses têm também sérias
responsabilidades nesta situação, pois os políticos que temos, graças a Deus e
à democracia, não nos são impostos por ninguém, somos nós que os escolhemos livremente.
P.S. Recorri ao exemplo de “eleições livres” na Rússia não
porque pretenda denegrir o Presidente Putin (os russos que resolvam os seus
problemas internos), mas porque é o país que melhor conheço. Mas poder-se-ia
recorrer a outros exemplos como a realização de eleições na Ucrânia, onde, pela
primeira vez na história, se realizou, em 2004-2005, uma terceira volta para se
eleger um Presidente.
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