Serguei Jelezniak
A União Europeia deverá ter uma posição de condenação, clara e firme, da lei aprovada pelo Parlamento da Polónia (que necessita apenas da assinatura do Presidente da República para entrar em vigor), que pretende castigar aqueles que ousarem falar do colaboracionismo de polacos com os nazis durante a Segunda Guerra Mundial. Trata-se de uma tentativa de branquear a História, e tentativa muito absurda. Todos sabemos que os polacos, na sua grande maioria, resistiram e combateram contra o nazismo, mas não se pode negar que alguns colaboraram com os nazis no extermínio dos judeus e dos polacos resistentes.
O mesmo se pode dizer em relação ao período em que a Polónia foi subjugada pela URSS depois da Segunda Guerra Mundial. Foram muitos os que colaboraram com os comunistas, uns por convicção, outros por carreirismo, mas também foram muitos os que resistiram e não quiseram colaborar.
Sem uma discussão séria e aberta do passado, por muito dolorosa que seja, os povos não podem olhar para o futuro. É preciso enfrentar e destruir os fantasmas do passado.
Os Estados Unidos e Israel condenaram a aprovação dessa lei (se ela for interpretada à letra, muitas vítimas do Holocausto poderão ser condenadas por terem relatado episódios da sua vida), mas, por muito paradoxal que possa parecer para alguns, ela recebeu o apoio da Rússia. Eu tive dificuldade em acreditar, pois Moscovo chama a si a herança da vitória sobre o nazismo na Segunda Guerra Mundial. Como será possível?
A resposta encontra-se no ódio actualmente fomentado pelos dirigentes russos contra os ucranianos.
Vamos por partes. Serguei Jelezniak, vice-presidente do Partido Rússia Unida, força política dirigida por Vladimir Putin, manifestou apoio à decisão do Parlamento da Polónia, porque o documento sublinha que os polacos "não querem a repetição da tragédia da Segunda Guerra Mundial e protestam contra o renascimento do nazismo na vizinha Ucrânia".
Recordo que a lei aprovada pelos deputados polacos prevê castigos para os que negarem a Matança de Volinsky, massacre realizado pela Organização de Nacionalistas Ucranianos em 1943 e que provocou a morte a numerosas dezenas de civis polacos. Este crime é negado pelos actuais dirigentes ucranianos, que sofrem de igual cegueira histórica.
Não simpatizando com nenhum tipo de nacionalismo, considero que essa matança tem de ser reconhecida como uma das páginas negras da Segunda Guerra Mundial, mas não deve, nem pode servir para apoiar a parte da lei polaca que pretende castigar aqueles que ousarem falar do colaboracionismo de polacos com os nazis durante a Segunda Guerra Mundial. O dirigente russo considera que "o Parlamento da Polónia revelou sabedoria política e deu um exemplo de luta contra as manifestações de fascismo por parte de outros políticos ocidentais".
Os deputados polacos aprovam uma decisão que deve ser repudiada por qualquer pessoa de bom senso e um dos dirigentes russos bem apoiá-la? Será que o passo seguinte dos dirigentes russos será proibir a crítica dos erros cometidos por Estaline e pelos chefes militares da URSS na Segunda Guerra Mundial? Por exemplo, proibir de que se fale do Pacto Molotov/Ribbentrop - Hitler/Estaline.
Mas será que a História não ensina mesmo nada?
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