segunda-feira, fevereiro 11, 2019

Igreja Católica: Encobrir significa colaborar com o crime



Pode ser muito duro e politicamente incorrecto empregar o ditado português: “tão ladrão é o que vai há horta como o que fica à porta” em relação aos escândalos sexuais na Igreja Católica, mas os factos falam por si. Continuar a “esconder o lixo debaixo do tapete” significa contribuir para o avanço de um cancro que poderá ter consequências fatais para o Catolicismo.
Sou católico e, como tal, não posso deixar de apoiar a política corajosa do Papa Francisco de combate à pedofilia e aos abusos sexuais no seio da Igreja Católica, e desta vez espero que as denúncias não terminem novamente no esquecimento ou no encobrimento dos criminosos. 
Segundo a investigação realizada pelo Observador, https://observador.pt/especiais/padre-foi-denunciado-duas-vezes mas-so-a-terceira-a-igreja-agiu-agora-desapareceu/,Ooooo o padre Anastácio “foi duas vezes investigado pela PJ por alegados abusos sexuais quando era pároco da Nazaré, Funchal. A Igreja mudou-o de paróquia e só em 2018, perante uma terceira queixa, o afastou de funções”. 
Um só parágrafo deste excelente trabalho jornalístico de investigação coloca-nos várias perguntas sobre a actuação da hierarquia católica e das autoridades civis portuguesas face a um “criminoso de batina”. Os seus superiores sabiam do que se estava a passar, mas tentaram esconder o escândalo. E não só uma vez, foi precisa a terceira vez para reagir. Porque é que ficaram calados? Quiseram proteger a Igreja Católica? Pelo contrário, tornaram-na alvo de duras críticas.
Além de cidadão, um padre ou um bispo fazem juramento de obediência aos princípios da sua igreja. No fundo, são como militares que juram ser fiéis e defender a Pátria. E se tivermos em conta que os crentes têm especial confiança nos seus pastores, então os citados crimes são ainda mais hediondos, pois, nas mais das vezes, destroem a vida e a fé das vítimas.
E isto deveria ser motivo para que os superiores hierárquicos não tolerem semelhante tipo de acções, mesmo que seja pela primeira vez. Por vezes, é o encobrimento, a impunidade que faz com que alguns sacerdotes e bispos repitam crimes como a pedofilia ou abuso sexual de freiras ou de crentes. 
Faz-me confusão a “pena” ditada por certos bispos: “transferência de paróquia”. Mas será que a pedofilia se cura com a mudança de ares ou de locais? No caso concreto do padre Anastácio, ajudou a transferência da Madeira para a Suíça? Pelo contrário, trata-se apenas de uma forma de fazer esquecer o crime na esperança de que o sacerdote, na próxima vez, “tenha mais cuidado”.
Mas, na esmagadora maioria dos casos, repete-se o mesmo, pois o padre sente-se defendido pelo seu estatuto, pela vergonha dos seus superiores denunciarem os crimes e entregarem-no à justiça civil. 
Por isso, a única solução para estes crimes é mesmo a tolerância zero face a eles. Daí também ser importante que os representantes da Igreja deem ouvidos às denúncias das vítimas e denunciem os criminosos à justiça. A lei deve ser igual para todos.
No caso de abuso sexual de menores, a abolição do celibato de pouco ou nada deverá servir, mas contribuirá certamente para evitar outros escândalos sexuais no interior da Igreja. Por isso, tal como acontece noutras Igrejas Cristãs, considero que os sacerdotes deverão ter a liberdade de optar por casar ou não. No caso das Igrejas Ortodoxas, um membro do “clero branco”, chamado nos tempos passados “baixo clero”, só pode dirigir uma paróquia depois de constituir família, enquanto que o “clero negro” (“alto clero”) faz o voto do celibato. 
E claro que é necessário abrir completamente as portas da Igreja às mulheres, dando-lhes todos os direitos e deveres que têm os homens, nomeadamente o acesso ao sacerdócio. Haverá algum cristão que considere que Maria não é digna de ser um sacerdote?
Entre 21 e 24 de Fevereiro, o Papa Francisco reúne no Vaticano bispos de todo o mundo para debater os abusos sexuais na Igreja Católica. Enquanto católico, não peço apenas uma profunda reflexão sobre os problemas, mas medidas eficazes para os resolver. Coragem, Francisco.

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