terça-feira, agosto 20, 2019

OLHAR DA RÚSSIA PARA O MUNDO - 6

Palestra proferida no EMGFA (continuação)

A política de dois padrões ou de vários padrões continua a ser a política atual e é ela que funciona. O que temos hoje? 
Putin e Trump, na Cimeira de Osaca do G20, encontraram-se, mas sem qualquer resultado palpável. 
Mas em termos de desarmamento, não se antevê nada de positivo ou a ocorrer será muito pouco, porque o senhor Trump “jogou” uma carta importante em cima da mesa que foi “nós agora de desarmamento não vamos falar a dois, vamos falar a três” e acrescentou a China, e a China responde “mas isso não é nada connosco, nós não fazemos parte desse clube”… e este vai ser outro grande problema se se começar um novo desanuviamento e uma nova etapa de desarmamento. 
Há problemas gravíssimos, a questão da Síria e do Irão que poderão, de um modo ou de outro, fazer mudar bruscamente ou fortemente as relações entre os EUA e a Rússia, mas na minha opinião, penso que vamos continuar a ter tempos de guerra-fria, ou seja, a guerra-fria nunca acabou, só que havia altos e baixos e neste momento estamos numa situação em que a guerra-fria está a subir de tom. 
Em relação à Europa e à Rússia, tendo em conta que a Europa faz parte da NATO, e esperamos que a NATO esteja atenta ao que se passa à sua volta, acho que chegou a hora de existir uma coordenação muito maior entre as Forças Armadas dos países europeus, não de Forças Armadas únicas mas quase de… ou seja, a Europa tem que estar pronta a enfrentar determinados desafios e a ter uma politica de defesa e de segurança, própria. 
Em conversa com o senhor Almirante, antes de entrarmos, foi abordada uma questão/problema que a meu ver é fundamental, que é… há muita gente que não entende porque é que os Polacos, os Estónios ou os Lituanos, ficam aterrorizados com a Rússia… não entendem porque não leem a História, porque se lessem, entendiam rapidamente, se a Europa não entender estes povos e não for ao encontro deles, estes povos vão diretamente aos Estados Unidos, como faz agora a Polónia e dizem “mandem mais gente para cá”… Porque a senhora Merkel até pode dizer, ela sabe muito bem russo, conhece muito bem os russos, conhece o senhor Putin… - eu conheço bem os russos e falo bem russo, mas não conheço o senhor Putin só o vi ao longe, mas posso dizer que estou de acordo com a senhora Merkel ao dizer que os russos são pessoas simpáticas, são simpatiquíssimas, não há dúvida absolutamente nenhuma-, mas isso não é política externa. 
A política externa é uma coisa muito mais complicada, a política externa tem uma carga histórica enormíssima, daí que nós temos que dar aos nossos amigos da Europa de Leste garantias de que não vamos fazer acordos abstractos, sem a intenção de os cumprir… 
Outra coisa muito importante é que só prestamos atenção quando a casa já está a arder, quando já funcionam as formas de influência que a Rússia leva a cabo para atingir os seus objetivos no estrangeiro. 
Estimados, nós já sabemos há muito tempo, não é segredo para ninguém, que a União Soviética fazia, e a Rússia continua a fazer, como faz qualquer potência que tenha interesses: comprar pessoas, infiltrar agentes, minar o território do potencial adversário. 
Por exemplo, agora há pouco tempo veio-se a saber que a filha do porta voz de Putin, trabalhava como secretária de uma deputada do Parlamento Europeu da extrema direita francesa, e que tinha acesso a documentos classificados. 
Ora, estimados amigos, depois disto, só apetece rir… isto são coisas elementares. Dou-vos outro exemplo… se Inglaterra não fosse tão invejosa quando entrava o dinheiro sujo dos oligarcas russos, e não foi investigar mortes estranhas em Inglaterra, nomeadamente, de alguns oligarcas russos, que até se conseguiram “matar” a si próprios sozinhos com um cinto, quando acordou com Skripal (o espião russo que foi envenenado no Reino Unido), já a casa estava a arder… não sabemos se vão levar a investigação até ao fim das consequências ou se vão considerar que é um acontecimento passageiro e que vai passar e vai voltar tudo ao normal, como acontece maioritariamente… 
Ou seja, nós estamos efetivamente perante uma política externa revisionista com interesses claros na zona da antiga influência Soviética.

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