Manifestações não visam os exercícios, mas o cargo de primeiro-ministro da Ucrânia
A Rada Suprema (Parlamento) da Ucrânia irá decidir hoje quem deverá dirigir o novo governo do país. O mais lógico parece ser a formação de uma coligação laranja, constituída pelas forças políticas pró-ocidentais que elegeram Victor Iuschenko para a presidência e têm a maioria dos assentos na Rada. Neste caso, a futura primeira-ministra poderá vir a ser Iulia Timochenko.Porém, a oposição pró-russa, representada no Parlamento pelo Partido das Regiões, do antigo primeiro-ministro, Victor Ianukovitch, ainda não perdeu a esperança de obrigar Iuschenko a aceitar uma coligação com esta força política, influente no Leste e no Sul da Ucrânia.Esta é uma das razões que explicam a intensidade e organização dos protestos contra as manobras militares em curso na Crimeia. Quando o Presidente pró-russo Leonid Kutchma dirigia o país, os protestos contra exercícios internacionais não eram particularmente visíveis. Agora, as forças de esquerda e pró-russas bloqueiam o porto de Feodossia e os hotéis onde se encontram a viver os soldados estrangeiros.Os adversários das manobras, baptizadas Brisa Marítima, alegam que não receberam o aval da Rada Suprema, como exige a legislação, mas Kiev responde que essa autorização será obtida hoje, tanto mais que as forças pró-ocidentais detêm a maioria nesse órgão legislativo. Os manifestantes acusam também o Governo de querer integrar o país na NATO e criar bases militares na Crimeia, mas Kiev responde que as manobras Brisa Marítima nada têm a ver com a Aliança Atlântica e que, nelas, além de tropas dos EUA e da Ucrânia, participam também representantes da Turquia, Grécia, Macedónia, Geórgia e Espanha.Victor Iuschenko já deu ordens às forças de segurança para desbloquearem a situação e deportarem os cidadãos estrangeiros, leia-se russos, que participam nas manifestações.
Proibições e expulsões
No sábado, o Serviço de Segurança da Ucrânia proibiu a entrada na Crimeia do deputado russo Konstantin Zatulin, conhecido pelas suas ligações aos serviços secretos russos e adepto da "restituição" da Crimeia à Rússia. Moscovo respondeu com a expulsão de um conselheiro do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano.A Crimeia é um dos muitos territórios disputados no antigo espaço soviético. Parte do Império Russo desde 1774, essa península foi oferecida à Ucrânia pelo dirigente soviético Nikita Khrutchov, em 1954. Em 1991, aquando da desintegração da União Soviética, Moscovo reconheceu que esse território faz parte da Ucrânia, mas, na semana passada, alguns deputados da Duma Estatal (câmara baixa) do Parlamento russo propuseram a revisão desse acordo. Estas forças alegam que os princípios que nortearam a independência do Montenegro, e, no futuro, do Kosovo, deverão ser aplicados à Crimeia na Ucrânia, bem como à Ossétia do Sul e à Abkházia na Geórgia.
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