sexta-feira, junho 16, 2006

Moscovo reforça posição no xadrez mundial da energia



Gazprom e Lukoil expandem-se para a América Latina e o Norte de África, "desafiando" Washington e Bruxelas

Os planos da Rússia no mercado internacional dos combustíveis são cada vez mais ambiciosos. Empresas como a Gazprom ou a Lukoil já não se limitam aos seus mercados tradicionais, mas avançam com planos gigantescos para a América Latina e África.
A Gazprom, a maior empresa pública russa, é responsável pela exportação de 20 por cento do gás natural no mundo e anunciou planos ambiciosos para a América Latina, continente que passou a fazer parte dos seus interesses estratégicos.
Jorge Alvarado, presidente do consórcio energético público boliviano Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos (YPFB), anunciou que o gigante russo se prepara para investir na Bolívia mais de três mil milhões de euros na construção de gasodutos e na prospecção de novos jazigos de gás na Bolívia. Um dos projectos prevê a construção de gasodutos que vão ligar a Bolívia ao Paraguai e Uruguai.
Deste modo, Moscovo abre um novo campo de concorrência com os Estados Unidos da América (EUA) e a União Europeia (UE), aproveitando a "onda de esquerda" na América Latina. O Presidente boliviano, Evo Morales nacionalizou a indústria do petróleo e do gás no país, fazendo, desse modo, com que o consórcio YPFB se tornasse dominante nessa esfera e este factor está a ser aproveitado pela Gazprom.
Outra empresa russa, a petrolífera Lukoil, aumenta a sua presença na Venezuela.
As empresas russas estendem também as suas actividades à Argélia, no Norte de África, o que pode vir a complicar os planos da UE de diversificação dos mercados de importação de petróleo e gás. Na sua última visita a Argel, o Presidente russo, Vladimir Putin, conseguiu para as empresas russas o monopólio da prospecção do petróleo no Sara. A Argélia, que é o terceiro país africano - depois da Líbia e Nigéria - na extracção de petróleo e o sétimo em reservas de gás, assinou um acordo com a Rússia que prevê uma ampla cooperação entre a Gazprom e o consórcio estatal argelino Sonatrak.A Gazprom e a Lukoil estão também presentes na Líbia e no Egipto, respectivamente.
Divergências com UE
Estes processos de expansão das empresas russas têm como pano de fundo as fortes divergências entre Moscovo e Bruxelas quanto às regras no campo da exploração e exportação do gás russo. Actualmente, a UE importa da Rússia 49 por cento do gás que consome e, em 2030, esse número deverá crescer até aos 80 por cento.
Alexandre Medvedev, vice-presidente da Gazprom, considera "inadmissíveis" a ingerência da UE nos negócios europeus do consórcio russo e a exigência de que seja posto fim ao monopólio da Gazprom na exportação de gás. Ao mesmo tempo, defende o sistema de contratos de fornecimento de gás a longo prazo, que a UE considera violar as normas da concorrência, e que o gaseoduto que vai ligar a Rússia à Alemanha pelo Mar Báltico não deve ser abrangido pelas normas anti-monopolistas da UE.Além disso, a Rússia também se recusa categoricamente a ratificar a Carta Energética, que prevê, por exemplo, o acesso das companhias que extraem petróleo e gás na região do Mar Cáspio ao sistema russo de condutas de transporte desses combustíveis.

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