O Presidente russo, Vladimir Putin, iniciou ontem em Dresden, a cidade onde nos finais de 1980 trabalhou para os serviços secretos soviéticos (KGB), uma viagem de dois dias à Alemanha. Na capital da Saxónia, encontrou-se com a chanceler, Angela Merkel, com quem discutiu o abastecimento de gás à Europa.
Os últimos acontecimentos em Moscovo e no mundo introduziram questões complicadas no diálogo entre Putin e Merkel: o assassínio da jornalista Anna Politkovskaia e a liberdade de expressão na Rússia, as tensas relações russo-georgianas, os "dossiers nucleares" do Irão e da Coreia do Norte.
Segundo o diário russo Nezavissimaia Gazeta, ao contrário do anterior chanceler alemão, o social-democrata Gerhard Schroeder, a conservadora Merkel não foge dos "problemas difíceis" nas relações entre a Rússia e a União Europeia. No entanto, alguns analistas russos constatam que a "firmeza" dos dirigentes da UE tem vindo a dimiuir rapidamente devido à dependência energética dos seus países em relação a Moscovo.
O problema energético estará no centro das conversações de Putin com dirigentes alemães no segundo dia da sua visita, na Baviera. O diário Kommersant tem informações de que o dirigente russo deverá fazer uma proposta de grande envergadura a Merkel: "Tornar a Alemanha o principal parceiro da Rússia na Europa no campo da energia e seu principal representante na UE."Na segunda-feira, Alexei Miller, presidente da Gazprom, a maior empresa pública russa, anunciou que Moscovo alterou a sua estratégia energértica e irá fornecer à Alemanha gás da jazida Schtokman, através de um novo gasoduto que irá ligar os dois países. O gás natural, que antes estava destinado aos Estados Unidos, garantirá à Alemanha fornecimentos anuais de 25.000-45.000 milhões de metros cúbicos durante 50-70 anos. Em troca, a Alemanha contribuirá para a criação de uma "área energética comum" e a sincronização dos sistemas energéticos da Rússia e da União Europeia.
Vladimir Putin poderá também propor a gigantes industriais alemães - Siemens, RWE e E.ON - que participem na integração dos sistemas energéticos russos nos da UE. Isto é de extrema importância para a Alemanha, visto que este país pretende, até 2018, encerrar a exploração do carvão e várias centrais nucleares, o que irá exigir o aumento dos fornecimentos de gás russo.
A política de Putin poderia conduzir à criação de um eixo energético russo-alemão, olhado com desconfiança pelos países vizinhos.
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