domingo, dezembro 31, 2006

Rússia prepara-se para as eleições com envenenamentos e assassinatos



O veneno e a pistola voltaram a tornar-se argumentos na luta política na Rússia e a aproximação das eleições parlamentares (Dezembro de 2007) e presidenciais (Março de 2008) fazem prever uma agudização da situação. Winston Churchill, antigo primeiro ministro britânico, definiu a política do Kremlin como uma “luta de buldogues por debaixo do tapete”, fórmula que conserva toda a actualidade.

As investigações do assassinato da jornalista Anna Politkovskaia, do envenenamento do antigo agente russo Alexandre Litvinenko e de outros casos que abalaram a vida política russa continuam, mas sem resultados visíveis. Os políticos pró-Kremlin acusam Boris Berezovski, oligarca que encontrou refúgio político em Londres, ou avançam versões extravagantes. Gueorgui Kaurov, director do Instituto de Micro-Partículas de Moscovo, declarou ao canal de televisão público “Rossia” que Litvinenko teria “lambido” o polónio ao mostrá-lo a um cliente: “é um caso clássico de não cumprimento da técnica de de segurança pelo próprio Litvinenko. O mais provável é que ele mostrou que tinha polónio e queria ganhar dinheiro com isso”.

A casa de jogo Gol+Pas aceita apostas sobre os resultados das investigações e a maioria dos apostadores não acredita que seja desvendado o mistério do envenenamento.

Enquanto a responsabilidade material desse e outros crimes não for determinada, o responsável político será sempre Vladimir Putin. “Ao concentrar todo o poder nas suas mãos, o Presidente chamou a si todas as responsabilidades” – considera o jornalista russo Vladimir Dolin.

“A quantidade de versões sobre o envenenamento de Alexandre Litvinenko, algumas extremamente exóticas, multiplicam-se diariamente” – acrescenta Vladimir Dolin, ligando isso “à luta no Kremlin em torno da sucessão de Putin no cargo de Presidente”.

A mesma opinião tem Serguei Mulin, jornalista do bissemanário Novaya Gazeta, concretizando que se trata de um reflexo da luta entre grupos no Kremlin, entre os que querem “a transmissão democrática controlada do poder do soberano ou o terceiro mandato”.

Segundo a Constituição da Rússia, o Presidente do país só pode ocupar esse cargo durante dois mandatos. Por isso, se a lei suprema não for alterada, Putin terá de entregar o cargo ao sucessor.

“O problema – continua Vladimir Dolin – é que o direito de propriedade não está garantido e os grupos dominantes temem pelo seu futuro. A vitória de um deles poderá significar uma nova redistribuição de propriedade. Por isso, alguns preferem que Putin continue no Kremlin, para que tudo fique na mesma”.

A fim de evitar surpresas em qualquer um dos cenários descritos, o Kremlin criou um “tripé partidário” para conquistar a maioria dos lugares na Duma Estatal: a Rússia Unida ocupa o centro, a Rússia Justa situa-se à esquerda e a Rússia Livre à direita.

Mas a oposição a este esquema conquista também um leque cada vez mais amplo de adeptos. “Contra o Kremlin unem-se todos os humilhados: políticos, oligarcas, elites regionais, liberais, nacionalistas desiludidos e até comunistas” – constata Serguei Mulin.


5 comentários:

Anónimo disse...

É curioso de se notar que os países mais a oriente na Europa encaram a Rússia como um verdadeiro gigante. Em Dezembro entrevistei os embaixadores da Roménia e da Bulgária em Portugal, a propósito da adesão à União Europeia e uma das questões que coloquei tanto a um como a outro embaixador foi se, dado o actual momento nas relações UE-Rússia, é possível ser-se pró-Europa sem se ser anti-Rússia. Esperava um resposta politicamente correcta, mas acabei por ser confrontado com duas abordagens quase temerárias ao tema.

Diogo disse...

Foi a Rússia Livre, situada à direita, ou a Rússia Justa, situada à esquerda, que entregou três quartos da riqueza do país aos Khodokorvskys?

Anónimo disse...

Caro José Milhazes.

Deixar o blog abandonado por tanto tempo, deixando como cabeçalho o título deste artigo, é um bocado preocupante.

Abraço.

x disse...

São muitos dias sem textos. Vamos lá contar mais coisas que os leitores são exigentes. :-)

Marx disse...

Descobri só agora este blog. Através da pista deixada pelo BLOGS E SITES POVEIROS. Passarei a frequentador assíduo, certamente. Aproveito para deixar os meus sentimentos ao Jose Milhazes pela sua perda recente.