Na carta, intitulada “Apelo a todos os filhos fiéis da Santa Igreja Ortodoxa”, o bispo acusa os sacerdotes ortodoxos de “rezarem em conjunto com os heréticos, seguidores do ecumenismo”, “estarem de acordo com a política antipopular do regime existente” e de se sujeitarem a ele “em prejuízo da liberdade espiritual”.
O bispo Diomid condena o facto de a Igreja Ortodoxa Russa ter aceite a imposição do número de identificação fiscal e de ter relações com o G-8, que considera “um órgão do governo maçónico mundial, que prepara a vinda do líder mundial único, ou seja, do anti-Cristo”.
Depois de condenar os contactos com esses “representantes de satanãs”, o bispo acusa os dirigentes da sua igreja de “apoiarem a democracia” .
Além disso, o hierarca ortodoxo também está descontente com “a cooperação com os inimigos de Cristo”.
“Nao consideramos ter um “Deus” comum com os judeus, muçulmanos e outras religiões e doutrinas” – assinala ele ao comentar o teor de um comunicado aprovado numa reunião de dirigentes religiosos da Rússia, recentemente realizada.
“Estamos preocupados e não estamos de acordo com a violação do princípio comunitário provocada pela longa ausência de convocação de um Concílio Universal” – escreve Diomid depois de sublinhar a necessidade de discussão dos problemas colocados num Concílio Universal da Igreja Ortodoxa Russa.
Esta carta, assinada também por mais cinco hierarcas ortodoxos, está a ser difundida através da internet e já chegou às mãos de Alexis II, Patriarca de Moscovo e de toda a Rússia.
“Vejo no conteúdo da carta falta de informação e ignorância, porque todas as questões aí colocadas são discutidas há muitos anos na IOR, incluindo o problema do número de identificação fiscal”- comentou Vladimir Viguilianski, porta-voz da Igreja Ortodoxa Russa, acrescentando: “considero que há forças que lutam sempre contra a união da Igreja e utilizam estes casos para dividi-la”.
Esta carta foi publicada na véspera da assinatura da “Acta de Reunificação” da IOR e da Igreja Ortodoxa Russa no Estrangeiro (IORE), marcada para o próximo 17 de Maio.
A cisão entre estas duas igrejas ortodoxas ocorreu depois da revolução comunista de 1917 na Rússia. Se a primeira, seguindo a fórmula de que “todo o poder vem de Deus”, reconheceu o poder comunista, a IORE excomungou os comunistas e os ortodoxos que com eles colaboraram, preferindo continuar a sua acção apostólica clandestinamente no interior do país (Igreja das Catacumbas) e no estrangeiro.
Findo o regime comunista, as duas igrejas, impulsionadas pelo Presidente Putin, decidiram reunificar-se depois de demoradas conversações, mas os sectores mais conservadores da IOR e da IORE poderão não aceitar a reunificação.
Gleb Iakunin, sacerdote expulso da IOR pela sua actividade em defesa da democracia e dos direitos humanos, considera que a carta de Diomid “abala fortemente a unidade do Patriarcado de Moscovo”.
Por um lado, Iakunin considera que a carta expõe a posição de “obscurantistas medievais” e “empurra a ortodoxia para o passado”. Mas, por outro lado, a missiva poderá ter consequências positivas, porque “nela colocam-se questões que o Patriarcado de Moscovo tenta esconder”.
Sem comentários:
Enviar um comentário