65% dos inquiridos apoiaram a proposta feita pelo dirigente do Conselho da Federação (Câmara Alta) do Parlamento russo, Serguei Mironov, de permitir ao Presidente do país que cumpra três mandatos no cargo e que cada mandato seja alargado de quatro para “cinco ou até mesmo sete anos”.
Segundo os resultados da sondagem, apenas 24% dos russos se manifestam contra o alargamento dos mandatos presidenciais, enquanto que 69% dos inquiridos (mais do que querem alargar os mandatos do chefe de Estado) apoiam a introdução de alterações à Constituição que permitam ao actual Presidente continuar no Kremlin depois do segundo mandato, que termina em Maio de 2008.
Além disso, o número de adversários desta proposta desceu, no último ano, de 28 para 23%.
O diário Vremia Novostei sublinha o facto de os russos continuarem a considerar os presidentes “czares”, porque, se se for ao encontro da maioria, o chefe do Estado poderá dirigir a Rússia durante 21 anos consecutivos (três mandatos de sete anos cada um).
“No caso de Vladimir Putin, se se considerar que o primeiro mandato de sete anos terá início em 2008 (claro que se forem feitas as respectivas emendas à Constituição), ele ficará 29 anos” – escreve o Vremia Novostei, recordando que, na história soviética, só o ditador José Estaline esteve no poder mais tempo: 31 anos.
“O prazo os mandatos dos dirigentes soviéticos e dos czares russos não era limitado por algum marco legislativo. Só a morte, um golpe palaciano ou uma revolução, como aconteceu com o último imperador russo Nicolau II, os podia afastar do poder. Por isso, três mandatos de sete anos significam, nas condições russas, o poder vitalício” – conclui o diário de Moscovo.
4 comentários:
Uma das razões para este apoio pode ser a atitude firme de Putin contra o camarada Cheney. Putin recusou-se a abrir as pernas, como fez Gorbatchov.
Caro José Milhazes,
uma das coisas que mais me impressiona na Russia é a apatia política das pessoas em geral, novos ou velhos, mais ou menos instruídos. "O que é que se há-de fazer?", ouço dizer tantas vezes. Mas esta apatia, esta paradoxal sensação de falta de outras soluções (num país destas dimensões) parece-me ser antes de mais cultivada pelo próprio Kremlin, através das medidas contra algumas liberdades democráticas referidas por Gorbachov (cf. post anterior) e também pelo afastamento por diversos meios de alguns dos mais influentes críticos de Putin. É o completo desencorajamento a qualquer manifestação de descontentamento, a qualquer tentativa de mudar o que quer que seja.
Mas parece-me que a popularidade de Putin não se faz só pela apatia mas também por um certo "bater o pé" do presidente russo à administração Norte-Americana (como diria elegantemente o seu leitor Diogo :"Putin recusou-se a abrir as pernas"), uma afirmação da independencia da Rússia, do estabelecimento da sua própria agenda política, da sua não subserviência ao Ocidente. E isto cai muito bem no coração patriótico (de um certo orgulho ferido) de muitos russos.
Claro que quando pensamos neste assunto, partindo da nossa perpectiva de europeus, habituados a um certo tipo de democracia, algumas/muitas medidas de Putin nos causam desagrado, sente-se a censura bem presente. Mas há uma questão que me coloco, para a qual talvez o José Milhazes, com todo o seu conhecimento da Rússia e do povo russo, me possa dar uma resposta. Será possível governar com um tipo de democracia ocidental este país de tão grandes dimensões, com uma enorme complexidade de problemas? Será possível, pelo menos no curto e médio prazo, governar a Rússia sem uma "mão forte"? (Devo esclarecer que não sinto grande simpatia pela figura de Vladimir Putin, mas isso não tem influência na minha questão, e tento que também não tenha na procura de uma resposta)
Abraço desde S. Petersburgo,
João Santos
Caro João, estou praticamente de acordo contigo. À tua pergunta de se é possível dirigir a Rússia com uma democracia ocidental, acho que não, até porque não existe no Ocidente uma democracia, mas várias democracias, com valores fundamentais comuns e características próprias.
Por exemplo, no Japão ou na Coreia do Sul, existem democracias, mas com características muito próprias.
Porém, como vives na Rússia, sabes que conceitos como "democracia soberana" podem encobrir coisas que pouco ou nada tem a ver com os princípios básicos da cidadania, da liberdade.
Cumprimentos.
Caro João Santos, vai mandado notícias para o blog sobre São Petersburgo, sobre a tua experiência de vida. Este apelo alargar-se a todos os que vivem em países do antigo espaço soviético. Serão bem recebidos.
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