Mikhail Gorbatchov manifesta preocupações sobre o futuro da democracia na Rússia

O antigo Presidente soviético, Mikhail Gorbatchov, criticou a política do Kremlin no campo das liberdades democráticas, mas defendeu a política de Vladimir Putin.

Numa conferência sobre o resultado das eleições regionais na Rússia, realizada na Fundação Gorbatchov, o pai da “perestroika” (reestruturação) e “glasnost” (transparência) criticou a Rússia Unida, partido criado pelo Kremlin que detém a maioria parlamentar, de limitar a capacidade eleitoral dos russos.

“Utilizando o facto de ter a maioria no Parlamento, a Rússia Unida impôs à sociedade uma série de limitações” – declarou Gorbatchov, acrescentando que “acabaram com as eleições dos governadores” (das repúblicas e regiões da Federação da Rússia), “retiraram o voto contra todos dos boletins” e “restabeleceram a votação antecipada”.

Gorbatchov frisou que a retirada do “voto contra todos” do boletim de voto” é um exemplo de “falta de respeito pelos eleitores que não encontravam na lista pessoas a quem pudessem confiar o poder” e que o “restabelecimento da votação antecipada é uma possibilidade de vencer para pessoas pouco honestas, e não uma forma de conhecer a vontade do povo”.

O reformador soviético mostrou-se também preocupado com a liberdade de imprensa na Rússia.

“O recuo é evidente, em cada trimestre, um canal de televisão para a ser propriedade do Estado” – declarou Gorbatchov, considerando que hoje também não existe liberdade para criar partidos: “Tantas organizações que pretendiam ser partidos e foram encerradas, como o caso do meu Partido Social Democrático! As eleições transformam-se num jogo com apenas uma baliza. Isso é pior do que o Partido Comunista da União Soviética”.

Na sexta-feira passada, o Supremo Tribunal da Rússia dissolveu o Partido Social-Democrático, criado por Mikhail Gorbatchov depois da desintegração da URSS, obrigando-o também a pagar uma multa de “dois mil rublos” (cerca de 60 euros).

O Supremo Tribunal considerou que o Partido Social-Democrático não apresentou provas de que tem mais de 500 militantes em mais de metade dos membros da Federação da Rússia.

Porém, Gorbatchov não apoia os opositores do Kremlin, reunidos na organização Outra Rússia.

“Aí está reunida muita gente que apenas quer uma coisa: voltar ao poder” – declarou o antigo dirigente soviético, referindo-se a Mikhail Kassianov, ex-primeiro-ministro russo.

E, como tem acontecido sempre desde 2000, Gorbatchov reafirmou o seu apoio a Vladimir Putin.

“Bem ou mal, ele começou a política de modernização” – sublinhou o primeiro e último Presidente da URSS, lançando um apelo a Putin que “saia como um democrata e não anuncie o nome do seu sucessor”.

Nos últimos anos, Mikhail Gorbatchov tem estado afastado da política activa no seu país. Em parte, isso deve-se ao fraco estado de saúde do antigo dirigente soviético.