Se Viktor Tsoi estivesse vivo, hoje comemoraria o seu 45º aniversário. Para a maioria dos meus leitores, este nome poderá pouco dizer, mas é recordado com muito carinho pela maioria dos que passaram pela Rússia ou se interessam pela cultura deste país.
O texto que vem a seguir foi escrito pela minha filha, que é grande fã do Viktor Tsoi:
“Líder do grupo KINO, Tsoi é considerado, juntamente com o lendário grupo Akvarium, um dos pais do Rock Russo. Nascido a 21 de Junho de 1962
Porém, é no início dos anos 80 que Tsoi se encontra com Aleksei Ribin e formam, sob “direcção artística” de Boris Grebenchikov (Vocalista do grupo Akvarium), o grupo KINO.
A voz melancólica e as letras profundamente críticas nos planos social e político ganham imediatamente uma imensa legião de seguidores, apesar da sua proibição pelas autoridades soviéticas.
De nada valeram todas as tentativas das autoridades de fazerem “calar” essa jovem geração de “Peter”, como era conhecida carinhosamente a segunda capital russa. Começaram a formar-se bandas e a serem gravadas cassetes que eram vendidas no mercado negro. Não podendo ser publicitados, as datas e locais dos concertos passavam de boca em boca entre os jovens e surgiram na cidade garagens e “bares”, que se transformaram em verdadeiros locais de culto.
Só no final dos anos 80, os KINO são “legalizados” e passam a ter direito a realizar concertos. Em Junho de 1990, o KINO dá o seu maior , mas derradeiro concerto, no Estádio Olímpico de Lujniki, que tem capacidade para albergar cerca de 85.000 pessoas, e que quase rebentou pelas costuras.
Porém, Viktor Tsoi não aproveitou a fama durante muito tempo. No dia 15 de Agosto de 1990, adormeceu ao volante do seu automóvel que se despistou e foi embater contra um autocarro, matando o condutor. Viktor Tsoi está sepultado no cemitério de Bogoslovsk, tornando-se a sua campa num verdadeiro local de culto.
O que tornou tão especial Viktor Tsoi aos olhos dos seus seguidores e o que o mantém hoje actual?
Não só a novidade do punk-rock na URSS, onde, obviamente, esse estilo de música era proibido, mas principalmente a poesia das suas letras, a crítica da guerra, da falta de liberdade de expressão, o amor, os problemas quotidianos próximos de qualquer cidadão comum, como a viagem diária para o trabalho descrita na canção Trólei:
O meu lugar é o da esquerda, e eu tenho de aí me sentar
E não entendo, porque tenho tanto frio aí
Não conheço o meu vizinho, apesar de já andarmos juntos um ano,
E afogamo-nos, apesar de sabermos onde fica a margem
E cada um de nós olha com esperança para o tecto
Do Trólei que vai para o Ocidente…
Viktor Tsoi e os Kino foram os arautos da “perestroika” na
União Soviética,compondo uma canção que se tornou o hino das
transformações: “Mudança!”
“Mudança! – exigem nossos corações.
Mudança! – exigem nossos olhos.
Está no nosso riso, nas nossas lagrimas,
E no pulsar das veias:
Mudança!
Esperamos mudança!”
Перемен! - требуют наши сердца.
Перемен! - требуют наши глаза.
В нашем смехе и в наших слезах,
И в пульсации вен:
"Перемен!
Мы ждем перемен!"
Os leitores que quiserem ouvir as canções de Viktor Tsoi,ou ler
as letras e cantá-las,aqui ficam dois links:
http://www.zvezdi.ru/catalog/K/kino_tsoy_mp3.html
8 comentários:
Nunca tinha ouvido falar do Viktor Tsoi, mas conheço bem o Boris Grebenshikov e os Akvarium de quem sou grande fã. Tenho a discografia toda em MP3 e realmente ele(s) tem músicas fabulosas.
Kapitam Varonin; Kogda Pridiot Bol; Poezd v Ogne; Nikita Ryzanskiy, são algumas das minhas favoritas.
Gosto do estilo melancólico e instrumental algo étnico e popular das músicas dos Akvarium, é o que eu chamo de rock-rural, do qual os ingleses Jethro Tull são talvez o maior exemplo, embora as semelhanças sejam só instrumentais e de apenas uma certa época dos Tull.
Comentário enviado por mail por João Mendonça: "Pessoalemente, Viktor Tsoi teve uma importancia significativa na minha relacao com a Russia, e nos primeiros passos dessa relacao. As primeiras frases ( e as seguintes) que aprendi em russo, aprendi-as com Viktor Tsoi, tendo-me sido oferecida uma cassete dele ao vivo em Tallin em 1988. Nunca mais me recompus de tal descoberta. Agarrei logo na viola e saquei os acordos de temas que nao podiam ser meras cancoes, mas sim o maior tecido de vivencias quotidianas e filosoficas de um mundo em colapso. Devo a descoberta ao meu velho amigo Andrei Pankrev de Sao Petersburgo, que o Senhor Milhazes conhece, e que para alem de me ter oferecido a preciosa cassete, me explicou as letras. Ainda hoje me arrepio de ouvir temas como "spokoinoi nochi" e outros que citou. Aconselho o Viktor Tsoi a todos aqueles que querem aprender russo e que querem perceber este povo. Em termos de fonetica e uma mina, tal como em termos de fraseologia. As letras contem todas as idiossincracias do povo sovietico avido de mudanca. Viktor Tsoi nao foi mero fenomeno de adolescencia, apesar de hoje em dia aparecer estampado nas t-shirts das camadas etarias da puberdade. Qualquer pessoa que tenha vivido o periodo da perestroika se identifica com as suas letras.
Comemorei em Franca na altura com amigos russos os dez anos da morte dele, com velas e guitarradas no meio do mato.
Os direitos de autor da perestroika pertencem ao Gorbatchev, mas quem lhe deu expressao foi Tsoi."
Caro José Milhazes,
Obrigado por me ter dado a conhecer Viktor Tsoi.
Estando a aprender russo há três anos (em Setembro farei um curso de língua russa na MGU) e tendo um carinho especial pela história russa em geral, esta foi uma descoberta que apreciei imenso.
Só lamento não ter encontrado forma de adquirir algum CD em Portugal.
Já conhecia, ainda que muito pouco, Boris Grebenshikov e Okudjava.
Aproveito para divulgar que a partir de Outubro deste ano haverá uma disciplina de História da Rússia (Século XIX) na Universidade Internacional para a Terceira Idade, em Lisboa.
Mensagem enviada por Pedro Reis via mail com pedido de publicação:
"O sentimento que o João Mendonça coloca na sua história é algo parecido com o meu e faz-me pensar como é tão verdadeiro o axioma do José Milhazes neste blogue: "Rússia, com a razão não te podem compreender..."
Muitas vezes me perguntaram porque gosto tanto da Rússia, mas eu nunca soube explicar, nunca fui militante de algum partido de esquerda, não tenho ninguém na família relacionado com a Rússia, apenas sei que me identifico imenso com essa cultura e esse povo, pelo qual sinto uma enorme atracção e admiração cultural...
Mensagem enviada por Pedro Reis via mail com pedido de publicação.
Talvez nós, como indivíduos tenhamos certo tipo de características e gostos que nem sempre são aquelas dominantes do nosso país natal, mas antes que se aproximam mais de outros povos e culturas. Isso talvez explica algo..."
P.S. Caros leitores, alguns de vocês têm dificuldade em publicar comentários, mas desconheço a razão. Por isso, podem enviar por mail que serão prontamente publicados".
Obrigado. José Milhazes
Caro Leitor Filipe Caldeira, fico contente por saber que vai abrir um curso de História da Rússia na Universidade Internacional para Terceira Idade, mas não compreendo porque é que se vai abordar o séc. XIX. Já existem cadeiras sobre os séculos anteriores? Se não existirem, será difícil aos alunos começar no séc. XIX. Pelo menos é necessário começar do séc. XVIII para que alguma
coisa seja compreendia. A partir de Pedro, o Grande.
Mas esta é apenas a minha humilde opinião.
Cumprimentos
Olá, sou Vladimir. Conheco as cançoes do Viktor, melodia bonita. Até.
Muito boa esta publicação.
Passe pelo nosso canal por favor e veja o nosso vídeo com 7 fatos sobre Viktor Tsoi.
https://www.youtube.com/watch?v=9vEbiazwO0I
Enviar um comentário