sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Notas na véspera do "dia do silêncio"


A campanha eleitoral na Rússia termina hoje e, amanhã, é o chamado "dia do silêncio". Por isso, aproveito as horas que restam para fazer algumas considerações.
Primeiro, Romeu e Julieta continuam retidos no aeroporto Domodedovo de Moscovo (ver postagem anterior).
Segundo, a campanha eleitoral terminou da mesma forma que começou. O cenário traçado no Kremlin foi cumprido à linha e, com tanta precisão, que ninguém duvida que o novo Presidente da Rússia será Dmitri Medvedev. Por isso, nos últimos dias, as autoridades esforçam-se para não deixar descer a afluência às urnas, temem que muitos dos eleitores fiquem em casa por considerarem que tudo já está decidido. Mas exemplos como os da Tchetchénia, Inguchétia e Mordóvia mostram que as autoridades conseguem fazer com que a afluência seja quase ou mais do que total. Nas parlamentares passadas, na Mordóvia votaram 104% dos eleitores, tendo os resultados sido emendados depois para "resultados humanos".
Terceiro, visto que os dados estão lançados e já se sabe o resultado, começa-se a pensar no futuro. E aqui há algumas incógnitas, pequenas, mas suficientes para alimentar acesas discussões. O que esperar de Medvedev no Kremlin. Para uns, é possível o "cenário espanhol", em que o novo Presidente é uma espécie de Juan Carlos depois de Francisco Franco. Para outros, é provável o "cenário português": Putin passa a ser uma espécie de Salazar e Medvedev será um Craveiro Lopes ou Américo Tomás. Para terceiros, a Rússia será governada no sistema de duarquia, em que Putin e Medvedev, dois políticos iguais, saberão coordenar as suas acções e manter a estabilidade.
Eu estou entre os que pensam que o "cenário português" é o mais provável. Não porque seja patriota (sou, mas dentro da racionalidade), mas porque considero que se Putin optou por continuar na esfera do poder, pretende continuar a ser o principal. No entanto, tudo pode acontecer... Vamos ver.
Para que qualquer um dos cenários corra bem, é fundamental que o preço do petróleo se mantenha alto e a crise financeira internacional não vá muito longe...

4 comentários:

Anónimo disse...

Claro que Putin vai continuar a ser o líder. Mais do que nunca. O que é que o presidente Medvedev pode fazer contra ele? Nada, mas também não quer... E daqui a uns aninhos, se a constituição deixar, Putin recandidata-se a prezidyent. Olaré! Toma qu'é democrático! - como se dizia naquela revista do Parque Mayer dos anos 70.

kaprov disse...

É duro para alguns países do Ocidente reconhecerem os progressos da Rússia, e para desprestigiar sua ascensão, questionam sua democracia.Como se lá fora fosse mais perfeita.

kaprov disse...

02/03/2008 - 16h41
Russos em Portugal votam com expectativa em Medvedev

Lisboa, 2 mar (Lusa) - Os eleitores russos residentes em Portugal parecem ter seguido o exemplo dos seus compatriotas na Rússia, comparecendo em grande número às urnas instaladas em Lisboa e outras cidades do país e votando majoritariamente no candidato do presidente Putin, Dmitri Medvedev.

Dos 12 mil pessoas pertencentes à comunidade russa em Portugal, apenas 4.000 estão inscritas nos cadernos eleitorais dos consulados russos do Porto, Albufeira e Aveiro.

Neste domingo, na Embaixada da Rússia em Lisboa, foi a vez dos demais eleitores exercerem o seu direito de voto nas eleições presidenciais russas, que tiveram início às 8h (5h de Brasília).

Até ao fim da manhã, já haviam votado 158 eleitores, informou o ministro conselheiro da embaixada e presidente da Comissão Eleitoral em Portugal, Mikhail Ledenev.

Ledenev acrescentou que fluxo de eleitores começou a ser mais intenso a partir das 11h (8h, em Brasília). "Na primeira fase das votações em Portugal [em 24 de fevereiro], nos consulados do Porto, Albufeira e Aveiro, votaram 200 pessoas, duas vezes mais do que nas [eleições] parlamentares de dezembro", afirmou.

A totalidade dos votos será contabilizada logo após o fechamento das urnas e, segundo a assessora de imprensa do embaixador, Elena Viksne, os resultados serão conhecidos segunda-feira.

Quatro candidatos participam da corrida eleitoral ao cargo de presidente da Rússia: Dmitri Medvedev, candidato apoiado pelo Kremlin e mais que provável vencedor, Guennadi Ziuganov, dirigente do Partido Comunista, Vladimir Jirinovski, líder do Partido Liberal Democrático, e Andre Bogdanov, candidato do Partido Democrático.

Expectativa

À saída de uma das três cabines que se encontravam na ampla sala escolhida para as votações, a russa Galina Egereba, há 30 anos em Portugal, disse acreditar no candidato Medevedev.

"O país vai melhorar com Medvedev. Tenho esperança nesta união [entre Putin e Medvedev], acho que estão no caminho certo", afirmou à Agência Lusa.

Há oito anos em Portugal, Elena Fomicheva votou em Medvedev e diz ter esperança que este "melhore o país".

Tatiana Ohoiko, apenas há dez meses em Portugal e simpatizante do atual presidente russo, confessa querer "estabilidade" para o seu país e espera que o vencedor "continue a linha política de Putin", pois "os problemas sociais e os problemas das mulheres estão a ser resolvidos de uma maneira muito boa".

O casal Yulia e Valery Tkachenk, que também votou em Medvedev, espera que este continue a política que Putin tem desenvolvido desde o início do seu primeiro mandato, em 2000.

Há seis anos em Portugal, Lilia Swrikova disse desejar que a Rússia seja mais respeitada no mundo. Além disso, espera que as relações entre o seu país e Portugal sejam fortalecidas.

Lali Chumburidze, há sete anos em Portugal, pediu um "futuro melhor" para a Rússia e disse esperar que "os problemas econômicos sejam resolvidos", pois poderia voltar para a sua terra natal "daqui a uns anos".

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http://noticias.uol.com.br/ultnot/lusa/2008/03/02/ult611u77020.jhtm

Anónimo disse...

Setenta por cento (70%) parece demasiado para ser realmente democrático, caramba! Não chegava 58,93% ou até mesmo 53,44%? Parece que estão a abusar da sorte. Medvedev teve mais votos e maior percentagem do que o próprio Putin. Já não há respeito...