sexta-feira, julho 25, 2008

Celebrações do Baptismo da Rus de Kiev ofuscadas por cismas


A Ucrânia celebra os 1020 anos do baptismo da Rus Kiev, Estado medieval que, mais tarde, deu origem à Bielorrússia, Rússia e Ucrânia, no meio de cismas entre igrejas ortodoxas.
Em 988, o príncipe Vladimir, que reinava a Rus de Kiev, optou pelo cristianismo de rito bizantino (ortodoxia) e começou a baptizar os seus súbditos. Com o andar da história, a Rus de Kiev deu origem à Rússia de Moscovo, ao Império Russo e União Soviética, evolução que se reflectiu na situação religiosa dos três países ortodoxos que se formaram depois da desintegração da URSS em 1991.
Na Ucrânia, actualmente, existem três igrejas ortodoxas: a Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscovo, que depende do Patriarca russo Alexis II e reúne o maior número de fiéis no país, principalmente na parte oriental; a Igreja Ortodoxa Autocéfala Ucraniana, criada em 1917, quando a Ucrânia conseguiu uma efémera independência depois da desintegração do Império Russo; a Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Kiev, criada em 1992, depois da proclamação da independência da Ucrânia.
Além destas igrejas ortodoxos, na Ucrânia há um rebanho considerável de fiéis da Igreja Greco-Católica, que segue o rito oriental, mas reconhece o primado do Papa de Roma, e é particularmente numeroso na parte ocidental do país.
Victor Iuschenko, Presidente da Ucrânia, não esconde o seu objectivo de reunir as três igrejas ortodoxas numa só.
“Acredito que o 1020º aniversário do Baptismo da Rus de Kiev irá dar um impulso aos processos unificadores na ortodoxia ucraniana. Sei que os crentes, o povo ucraniano, a lógica do nosso desenvolvimento histórico exigem isso” – declarou o dirigente ucraniano.
Se Iuschenko conseguisse essa reunificação, isso poderia aumentar a sua popularidade na véspera das eleições presidenciais, que estão marcadas para 2009, e enfraqueceria um dos canais de influência da Rússia na Ucrânia: a Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscovo.
A fim de conseguir esse objectivo, Iuschenko convidou para as celebrações Bartolomeu I, Patriarca de Constantinopla e, nomimalmente, considerado o primeiro entre os primeiros na Igreja Ortodoxa Universal.
O Patriarca Bartolomeu I poderia dar guarida à nova igrega ortodoxa nacional, pondo assim fim ao cisma na Ucrânia.
Porém, esta ideia do Presidente ucraniano esbarra com a resistência da Igreja Ortodoxa Russa, que considera a Ucrânia seu “território canónico”, e acusa de “cismáticas” as duas igrejas ortodoxas ucranianas.
Alexis II, Patriarca de Moscovo da Igreja Ortodoxa Russa, aceitou participar nas celebrações, mas com a condição de nelas não participarem os “cismáticos”.
O arquimandrida Kirill, dirigente do Departamento de Relações Internacionais do Patriarcado de Moscovo, ameaçou que a tentativa de unir as igrejas ucranianas segundo o plano de Iuschenko pode “conduzir a uma nova etapa de violência religiosa, como no início dos anos 90 do século passado”.
Nesta luta, o Patriarcado de Moscovo conta com o apoio do Kremlin.
O diário russo Kommersant fala mesmo de mais uma “frente de combate” entre Moscovo e Kiev. A outra frente consiste na luta incetada por Victor Iuschenko com vista à retirada da Armada Russa das bases navais na Ucrânia.
Segundo esse jornal, graças a conversas telefónicas de Dmitri Medvedev e Vladimir Putin, Presidente e primeiro-ministro russos, com os seus homólogos cipriota, egípcio e grego, os Patriarcas ortodoxos do Chipre, Grécia e Egipto recusaram-se a participar nas celebrações em Kiev.
O Patriarca russo Alexis II tem também o apoio dos partidos pró-russos, nomeadamente do Partido das Regiões, a maior força da oposição a Iuschenko.
Neste conflito, a primeira-ministra ucraniana, Iúlia Timochenko, mantém-se neutra, porque, embora seja fiel da Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscovo, não quer cortar relações com as outras igrejas e confissões, pois também irá precisar de apoio nas eleições presidenciais.
Iuschenko tem o apoio de Leonid Kravtchuk, primeiro Presidente da Ucrânia independente, que acredita que os patriarcados de Moscovo e de Constantinopla devem chegar a um acordo sobre a criação de uma Igreja Ortodoxa Ucraniana una e independente.
“Eles devem ver o desejo dos crentes de ter uma igreja unida. 30 por cento dos ucranianos são paroquianos da Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Kiev. E perguntam-me: “Qual é a nossa culpa? Por que nos chamam cismáticos?”” .
Porém, Kravtchuk reconhece que o Patriarca Bartolomeu não tomará nenhuma decisão durante as celebrações.
“Nunca se tomam decisões importantes durante uma festa” – sublinhou.
A fim de evitar incidentes, as autoridades ucranianas tomaram especiais medidas de segurança, que serão realizadas por sete mil polícias.

6 comentários:

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justiça histórica! fazem bem os ucranianos!

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O problema é que parece que nem os Ucranianos sabem o que querem, quer na esfera religiosa ou politica. E isso é mau...

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Sérgio, isso é principalmente válido em relação à elite política