segunda-feira, fevereiro 16, 2009

O primeiro índio no Kremlin


O Presidente russo, Dmitri Medvedev, manifestou ao seu homólogo boliviano, Evo Morales, que se encontra na capital russa em visita oficial, vontade em cooperar com a Bolívia na luta contra o narcotráfico.
“A Rússia considera importante a coordenação das relações com a Bolívia no campo internacional. Claro que, nalguns casos, das nossas posições conjuntas depende a solução de grandes tarefas globais, estamos prontos para desenvolver esses contactos”, declarou o Presidente Medvedev, ao receber, hoje, Evo Morales no Kremlin.
“Nomeadamente, a Rússia está pronta a cooperar com a Bolívia em questões como a luta contra o narcotráfico e da elaboração de abordagens comuns face à luta contra as alterações climatéricas”, precisou.
Evo Morales não esconde o seu descontentamento face às actividades dos Estados Unidos no campo do combate ao tráfico de drogas na América Latina e defende a sua substuição pela Rússia nesse campo.

Medvedev defende que a Rússia e a Bolívia devem incrementar a troca de mercadorias através do aumento de contactos bilateriais no campo da energia, das indústrias mineira e técnico-militar,
“Infelizmente, por enquanto, o nível do comércio bilateral continua a não ser significativo, mas, não obstante, considero que seremos capazes de dar um impulso complementar, durante a sua visita, em diferentes áreas”, começou Medvedev.
“Podemos avançar nas questões energéticas, na cooperação na esfera mineira e no campo da agricultura. Podemos voltar a uma série de projectos do passado”, precisou.
“Ambos os presidentes reconhecem os êxitos conseguidos no campo da cooperação energética e encarregaram os respectivos ministros de, em breve, assinarem um acordo-quadro sobre a integração na cooperação na esfera energética com vista a utilizar os recursos energéticos nos interesses dos Estados”, lê-se na declaração conjunta de Medvedev e Morales.

Em 2008, as trocas comerciais entre a Rússia e a Bolívia atingiram os 5,5 milhões de dólares.
O dirigente russo anunciou também que a a cooperação técnico-militar entre a Rússia e a Bolívia irá ser “uma direcção importantíssima”, sublinhando que o seu país irá fornecer “um grande número de helicópteros” à Bolívia.
“Esperamos que, nos tempos mais próximos, comece a realização do primeiro grande contracto de fornecimento de helicópteros à Bolívia”, declarou Medvedev, na conferência de imprensa realizada após as conversações.
“E estamos prontos a realizar conversações nesta área no futuro”, acrescentou.
Viatcheslav, Davidenko, porta-voz do consórcio Rosoboronexport, reconheceu que a Bolívia está interessada em adquirir armamentos russos, nomeadamente helicópteros Mi-17B-5.
Evo Morales, antes da visita a Moscovo, manifestou interesse nesses helicópteros, que poderão ser usados para destruir plantações ilegais de coca na Bolívia.
Mikhail Dmitriev, director do Serviço Federal da Rússia para Cooperação Técnico-Militar, não excluiu, em declarações à imprensa, a possibilidade de Moscovo vir a conceder à Bolívia umm empréstimo para adquirir armamentos russos.
“É uma questão que está em análise”, declarou.
O Presidente da Rússia sublinhou também a importância do incremento de contactos no campo da ajuda humanitária e ensino, acrescentando que “na URSS foramaram-se numerosos especialistas bolivianos”.
Evo Morales foi o primeiro chefe de Estado de origem índia a visitar a Rússia e mostrou-se supreendido com a recepção.
“Eu pensava que um índio não fosse alvo de semelhante recepção na Rússia, estou-lhe muito grato por isso”, reconheceu o dirigente boliviano na conferência de imprensa.
Dirigindo-se a Medvedev, Morales acrescentou: “Nunca imaginei que uma grande potência como a Rússia recebesse a mim, que, frequentemente, é chamado de traficante e terrorista”.
“A Rússia é uma potência mundial e tem importância na consecução do mundo multipolar. Apoiamos a disposição pacifista da Rússia”, sublinhou.
“O regresso da Rússia à América Latina é de extrema importância”, rematou Morales.

11 comentários:

Hugo Albuquerque disse...

A Bolívia é o país mais pobre da América do Sul - e o é justamente pelo fato de possuir a mais exploradora elite do continente.

É inacreditável a quantidade de quarteladas e golpes de todas as naturezas que se abateram sobre aquele país desde a sua fundação - e de como alguns poucos membros da elite conseguiram concentrar as rendas provenientes da mineração.

Morales, amparado pelos movimentos indígenas e pelos setores progressistas da burguesia do país, formou o chamado governo do "poncho e da gravata" e está capitaneando o país de forma equilibrada, responsável do ponto de vista econômico, moderado politicamente e engajado fortemente na criação de uma rede de proteção social.

Até agora, há um certo esnobismo por parte da elite conservadora do país contra ele e o espasmo golpista de alguns departamentos - a Bolívia é um Estado unitário - que foi, felizmente, suprimido democraticamente, tanto pela ação do governo - com o presidente Morales sendo o primeiro líder local a não fazer o uso de armas para resolver problemas políticos na história boliviana - quanto pela atitude da União de Nações Sul-Americana (UNASUR) em defesa da democracia.

A sua recente vitória com a aprovação de uma Nova Constituição foi relevante e ele está com força no poder. Claro, há problemas como a questão das limitações do presidencialismo plebiscitátio, mas creio que o seu partido (MAS) tem bases mais sólidas que o chavismo na Venezuela.

Creio que uma parceiria com a Rússia seria interessante para ambas as partes no momento.

Anónimo disse...

O meu urso favorito mandou mais um quente abraço, desta vez a um índio. Continua, Dima!Que os braços nunca te doam, rapaz.

Unknown disse...

Caro José Milhazes,
Está visita á Rússia,revestisse de umamatiz Política muito importânte para a gestão Morales.seu governo,de inspiração nos idéias da antiga URSS,vem tentando através do Estado do Bem estar Social,diminuir a crônica pobreza na qual vive seu povo e seu país.
A Bolívia,rica em Hidrocarbonetos,busca na Rússia,financiamentos para o desenvolvimento de jazidas de Gás e Petróleo no Norte do país,área difícil de ser explorada e que demandará vultosos investimentos.
Os diversos jornais brasileiros noticiam esta visita e afirmam que a Estatal petrolífera boliviana YPFB propoz a moscou a criação de uma Joint Venture com a homologa GAZPROM,para a exploração de Petóleo em solo boliviano.
A bolívia possui um dos maiores indíces inflacionários da América Latina(36% ao ano) e um crescimento ecônomico de 2%.
Para a Rosoboroexport a possibilidade de vender Helicopteros a Bolivia é positiva,porém afirmar que o mesmo será para combater o Narcotráfico é um grande engano,pois está atividade depois da exploração do Petróleo,constitui a base economica desse pequeno país.

Unknown disse...

Prezado Amigo José milhazes,Cumpre salientar,que bubliquei neste domingo no meu blog,matéria comentando as duas visitas que o Presidente do Brasil,Lula,fa´ra a Rússia em 2009.
Caso queira conferir,será satisfatório receber sua visita em meu blog.
Grande abraço

Hugo Albuquerque disse...

Meu caro Thiago Pires, não creio que o governo Morales tenha inspiração nos ideais da antiga URSS. Na verdade, ele é uma espécie de social-democracia com contornos nacionalistas - o que na Bolívia é um conceito um tanto confuso, porque "nação" por lá sempre se materializou como um amontoado de nativos submetidos à vontade da elite hispânica (uns 15% da população) dentro de uma organização política à européia.

Anónimo disse...

Ao Hugo de Albuquerque

"não creio que o governo Morales tenha inspiração nos ideais da antiga URSS. Na verdade, ele é uma espécie de social-democracia com contornos nacionalistas "

Essa afirmação faz de sí um observador com gabarito muito acima da média, direi mesmo uma definição do verdadeiro "Study case" da politica latino-americana!

E nós aqui na Europa, qual bando de distraídos, nem reparava-mos que a social-democracia vivia e se rejuvenessee no interior da revolução "bolivariana" entre campos de coca na selva amazónica ou mesmoais entre os montanhosos caminhos palmilhados pelas tribos do povo aymara para almejado futuro democrático, livre da sombra dos filhos de Pizon.

Por favor não ofenda os sociais democratas, nem faça descer o conceito da social democracia para conceitos que só devem existir na sua própria cabeça.

O regime actual é apenas e só Morales (ista) e não caresse de melhor definição.

Hugo Albuquerque disse...

Inácio Cristiano,

Quando resolvi comentar esse post já imaginei que algo semelhante pudesse acontecer, não me abalo. E claro, longe de mim querer dizer que alguém é ou não distraído onde quer que seja.

O fato central é o que seria a social-democracia? É uma ideologia política que visa a conquista da justiça social por meio de processos que fortaleçam o Estado acompanhadamente de uma democratização do mesmo; buscando, incessantemente, a construção de uma rede de proteção social sem eliminar a eliminar o elemento privado, mas conciliando-o com o público. É isso que Morales tem feito desde o primeiro dia - se terá ou não exito, veremos, por enquanto não é um fracasso.

Daí você coloca:

E nós aqui na Europa, qual bando de distraídos, nem reparava-mos que a social-democracia vivia e se rejuvenessee no interior da revolução "bolivariana" entre campos de coca na selva amazónica ou mesmoais entre os montanhosos caminhos palmilhados pelas tribos do povo aymara para almejado futuro democrático, livre da sombra dos filhos de Pizon.

Não há revolução na Bolívia e o bolivarianismo é uma idéia venezuelana que incide lateralmente naquele país - no tangente ao norteador integracionista que tem sido consensual tanto em Caracas quanto em La Paz -; por outro lado, mais que plantações de coca - inofensivas sem a tecnologia dos países desenvolvidos e, em especial, sem os viciados dos países desenvolvidos - em meio à floresta e montanhas, a Bolívia tem cidades e uma população semelhante a muitos países europeus além de riquezas que vão desde de hidrocarbonetos a minérios. Também não se resume a Bolívia aos aymarás, pois conta com uma variedade étnica que envolve desde quechuás a hispânicos passando por mestiços. Quanto a se livrar da "sombra dos filhos de Pizon", é razoável que nenhum povo viva à sombra do outro, mesmo que claramente desde o início de seu mandato, Morales tem deixado claro o desejo de refundação nacional, o que passa sim pelo crivo de uma aliança com a parte progressista dos hispânicos de lá - como o vice-presidente local, Garcia Linera.

Anónimo disse...

Ao Hugo Albuquerque

Agradeço a sua esclarecedora forma de replicar.
Alguns "pormenores" que descreve ajudam-me a perspectivar melhor o eventual papel e contributos que E.Morales possa dar na geo-politica da América do Sul.

Talvez por informação inviezada eu via Morales mais como um comissário de Chavez, do que na realidade possa ser o verdadeiro designio de uma original politica Latino Ameríndia a ser conduzida por um "filho da terra".
Mas por favor, não sejamos maniqueistas nas definições politicas, já nos bastaram as "caricaturas" das repúblicas populares, democráticas e socialistas e afims.

A Social Democracia existe algures no mundo, está viva e recomenda-se e não tem condições de implementação na actual Bolivia.

Pelos vistos, no caso de E.Morales as perspectivas são "épicas", o caminho só pode ser original, que não lhe falte engenho e arte para a prosecução dos seus objectivos.
É na simbiose dos genes que Morales herdou do seu povo, com a acumulação do aporte latino que Morales poderá descobrir o "caminho" e não com receitas pré existentes avançadas por comissários politicos estrangeiros.

A perspectiva de uma politica Latino Amaríndia começa a deixar rasto...(e não será pouco, o elogio a E.Morales, mas é longo o caminho)
M.Cumprimentos

Hugo Albuquerque disse...

Inácio Cristiano,

O fato é que a social-democracia é uma construção. Na Europa ocidental ela foi fruto de lutas e mais lutas, na Bolívia, só há um embrião, mas ele existe, está lá.

Quando Morales expande alguns benefícios sociais, quando começa a pagar benefícios para os mais velhos - em uma país onde não há ainda uma rede de seguridade social - ao mesmo tempo em que leva à cabo uma política econômica responsável, ele está fazendo isso.

É disso que vem o meu apoio ao seu governo - além do meu obvio repúdio em relação à lógica golpista e racista da oposição. O fato é que o próprio presidente dos EUA, Barack Obama já percebeu isso quando o parabenizou por ter conseguido aprovar a nova constituição daquele país.

Seja como for e conhecendo a história bolviana como eu conheço, creio que a Bolívia será um país melhor depois de Morales.

Anónimo disse...

Ao Hugo Albuquerque

"O fato é que a social-democracia é uma construção. Na Europa ocidental ela foi fruto de lutas e mais lutas, na Bolívia, só há um embrião, mas ele existe, está lá."

-Mesmo que eu argumentasse que apenas descortinava algumas células do referido Embrião, o Hugo não deixaria de ter razão.

...não há machado que corte a raíz ao pensamento, porque é livre como o vento...porque é livre!

Cumprimentos

Sergei Korolev disse...

da-lhe Evo, America para os americanos, os verdadeiros americanos, os índios.