terça-feira, agosto 18, 2009

Agosto, o mês maldito para a Rússia

Se eu fosse dirigente da Rússia e supersticioso, retiraria o mês de Agosto do calendário, pois não há mês pior do que este na história recente do país. Apenas alguns exemplos: golpe comunista de Agosto de 1991, catástrofe do submarino Kursk, incêndio na torre de televisão Ostankino de Moscovo, guerra russo-georgiana do ano passado...
Este ano, não foi excepção. Em apenas alguns dias, o número de mortos, feridos e desaparecidos sobe muito acima da centena.
Claro que tudo isto pode não passar de uma coincidência, mas é difícil acreditar nisso.
No Cáucaso do Norte, não há dia que passe sem atentado terrorista ou ataque contra a polícia por parte da guerrilha separatista islâmica.
Ontem, o Presidente da Inguchétia, acusou os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e Israel de estarem por detrás da guerrilha. Parece continuar a ser mais fácil acusar os outros do que resolver os verdadeiros problemas da região: corrupção, banditismo, raptos e assassinatos, desemprego.
Já escrevi várias vezes que os problemas do Cáucaso do Norte devem ser resolvidos de forma complexa, onde as componentes militar e policial devem ser acompanhadas de grandes investimentos no desenvolvimento da região.
Quanto à queda dos aviões Su-27 no treino de uma parada, nos arredores de Moscovo e à avaria na maior central hidroeléctrica do mundo, na Sibéria, que provocou 12 mortos, 15 feridos e 64 desaparecidos, tudo indica que ambos os acidentes se deveram ao facto de não serem renovados mecanismos e aparelhos. No caso dos aviões de guerra, antes da avaria, os pilotos já se queixavam que voavam em aparelhos que precisam de "ir para a reforma".
A propósito, os aviões que chocaram nos céus dos arredores de Moscovo foram os que sobrevoaram a Praça Vermelha no passado dia 09 de Maio.
Dois casos que se juntam aos muitos outros que mostram que os dirigentes russos não utilizaram a chuva de petrodólares na modernização do país. Infelizmente, parece que serão precisos ainda muitos outros desastres e avarias para que o Kremlin compreenda que chegou a hora de tomar medidas sérias, pensadas e abertas para resolver a situação.
Os dirigentes russos alegam que a corrupção é uma das razões que levam a que não sejam feitos grandes investimentos na modernização de infraestruturas, mas, para se combater essa chaga social, é necessário inverter a política actualmente realizada. É necessário restabelecer e reforçar a sociedade civil, permitir as actividades da oposição e discusões abertas sobre os problemas do país e sobre a sua solução, realizar eleições legítimas e transparentes, não travar a entrada de pessoas competentes nas estruturas do poder apenas porque não pertencem aos serviços secretos ou ao Partido Rússia Unida.
Além disso, talvez não fosse má ideia realizar uma política externa mais realista, sensata, e, por conseguinte, mais barata. Por enquanto, a Rússia não se pode dar a luxos de superpotência, nem de potência com sonhos imperiais no espaço post-soviético.
O Governo russo tem de deixar de ser um constante Ministério para Situações de Emergências e transformar-se num cérebro de planificação e elaboração de planos reais, transparentes e competentes de modernização do país.
No futebol, quando a equipa de futebol sofre derrota após derrota, o treinador é demitido. Na política, deve acontecer o mesmo....Penso eu.
No século XIX, a Rússia sofreu uma humilhante derrota na Guerra da Crimeia (1853-1856), o que levou o czar Alexandre II a realizar um programa de reformas gigantesco, que incluiu a libertação dos servos da gleba no país em 1861. Esta política deu um forte impulso ao desenvolvimento do Império russo.

69 comentários:

Anónimo disse...

Os aviões não avariaram. Colidiram.

Se dois aviões chocarem, pode provocar avarias e aleija.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Leitor Anónimo, os aviões colidiram, mas por alguma razão. Os pilotos deste grupo queixavam-se que os aparelhos eram obsoletos.

José Teles disse...

Comparar futebol com política é um bocado "básico" não acha?

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro José Teles, estou de acordo, mas o facto é que a política está a ser tão ou mais básica do que o futebol

Sérgio disse...

Radzikhovsky: Moscow Acts As If Ukraine Is Russia's Internal Affair

BAKU, Azerbaijan -- Underlying the current escalation of tensions between Moscow and Kiev is a fundamental difference in the way the two nations define themselves, a leading Moscow commentator says. For Ukrainians, “Ukraine is Ukraine,” but for Russians, “Russia is Russia plus Ukraine.”


Moscow commentator Leonid Radzikhovsky.

In his Ekho Moskvy blog, Leonid Radzikhovsky argues that this difference in national self-conceptions is more important than any other factor in explaining why Moscow “again and again” acts as if Ukraine is Russia’s “internal affair,” something Ukrainians quite naturally view as outside inference in their own.

Obviously, President Dmitry Medvedev hopes to win support at home by his attacks on Ukraine and Ukrainian officials, the Moscow commentator continues, but that is “secondary” as an explanation for what is going on. The “primary” factor is “the demand of society.”

And that demand, Radzikhovsky continues, is not so much about rebuilding the empire or supporting Yanukovich whom, the Moscow writer suggests, “80 percent of the population of the Russian Federation” haven’t heard of, but rather about the feeling among most Russians that “without Ukraine, Russia is incomplete!”

To feel itself whole, he says, “Russian society doesn’t need alien Central Asia. And it doesn’t need the alien Baltic. And it does not need the unloved Transcaucasus” – although the North Caucasus, Radzikhovsky continues, is “an anything but simple” matter. “But [Russian society] needs Ukraine! Even more than it does Belarus.”

Given their interwoven history as Slavs, given Russia’s self-definition of its history as beginning with Kievan Rus’, and given their religion, Russians are inclined to see Ukraine and Ukrainians as part of themselves, failing to acknowledge to anyone including themselves that Ukrainians do not see the Russians in the same way.

Because Ukraine means so much more for Russians than Moscow means for Ukrainians, he continues, Russians feel that their love is “unrequited,” and consequently, their feelings have shifted toward “a cruel jealousy” in which Russians are demanding something that the Ukrainians are not in a position to give.

“Note,” Radzikhovsky continues, “Russia is not able to formulate its real pretensions toward Ukraine … The transit of gas, NATO, the Black Sea fleet, and the terror famine are just details. With whom are there no such details?” But Russia’s obsession with them is because it cannot say in full voice “Love me!”

And because this cannot be said openly, there is all the continuing blather about “fraternal peoples" or even about "a divided people.” What makes this so disturbing is that it is not just a question of Kremlin PR. This is how millions, even tens of millions of people in Russia feel.”

But the situation in Ukraine is very different. Despite frequent Russian suggestions that Ukraine will fall into pieces, that has not happened. And while “the Russian and Russian- speaking population of Ukraine does not want to join NATO, [those same people] do not want to join Russia either.” Instead, they like others in Ukraine "want to join Europe.”

“Many Ukrainians do business in Russia, and all want to travel there without visas, but with this, the ‘list of their desires’ is exhausted.” They do not want more from Russia, but Russia very much wants more from them, Radzikhovsky says.

Sérgio disse...

“Russia and the Russian people need Ukraine for their own self=identification. Russia equals great Russia equals Russia plus Ukraine,” the Moscow analyst suggests. “They are consumed with an unsatisfied feeling of great powerness. Given Russian history, it could not be otherwise.”

But “Ukraine and its people including both ethnic Russians and ‘Russian Ukrainians’ for their self-identification need … only Ukraine.” For them, “Ukraine equals Ukraine. They do not have a Great Power sense of themselves. They are satisfied with the sense of being a ‘middle size power.’”

As a result, Ukrainians will ‘never unify with anyone else into a single whole.” (Joining the EU is an entirely different thing, Radzikhovsky says.) “Russia in general understands this. But it cannot accept it,” and consequently, Moscow will continue to talk about a “divided” nation when Russia should be talking about two.

Radzikhovsky says that talk of that kind could have “an enormously positive meaning” if it were directed to dealing with “the various forms of separatism inside Russia because then it would promote a sense of the “solidity of the nation” and the “value of each individual.”

But if such discussions among Russians remain focused on Ukraine, not only will the Russians further alienate Ukrainians, Radzikhovsky suggests, but they will fail to address the very problems within their own borders that a more adequate understanding of themselves and of Ukrainians would permit.

Source: Window on Eurasia

Luciano disse...

Compreendo que o Sr. Milhazes sonhe com uma Rússia diferente daquilo que foi, desde Ivan a Putin. Também não acredito em determinismos civilizacionais, mas diga-me, Sr. Milhazes, acredita realmente na possibilidade de um governo tipo ocidental na Rússia? Estarão os seus cidadão preparados para isso? Não assentará, grande parte das suas desgraçadas, na sua obstinada recusa de um compromisso com o poder político?

Cumprimentos

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Luciano, não se trata de crença. Eu considero que os dirigentes russos se devem concentrar na solução dos problemas do país. A Rússia não é os EUA ou a UE, por isso terá originalidades, mas sem transparência, pluripartidarismo e competência, o país não irá longe.

Anónimo disse...

"Leitor Anónimo, os aviões colidiram, mas por alguma razão"

A única razão possível terá sido os pilotos terem manobrado os aviões nesse sentido (de colidirem).

Sejam aviões novos ou antigos.

PortugueseMan disse...

Sim,

Também foi o que pensei, com esta série de acidentes e incidentes ocorridos: "Bem podem ir à bruxa..."

Em relação aos aviões, não me parece correcto apontar para um problema de aviões velhos. Estamos a falar de aviões com quantos anos?

Além disso esta equipa possui os novos SU-35, porque razão não andam a voar com estes? alguma razão existe e possivelmente haverá frustração por parte dos pilotos em não usar estes.

Dada a natureza do acidente (colisão), parece-me mais um erro humano do que uma falha técnica.

E este nem é o acidente mais grave que esta equipa teve, como deve de saber.

Anónimo disse...

Não se cansem. Já ninguém leva o Milhases a sério.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Leitor anónimo, então que vem fazer a este blog?
Caro PM, vamos esperar as conclusões dos especialistas, mas a colisão de aviões pode não se dever só a erros humanos, mas também a falhas técnicas. Os próprios pilotos queixam-se do estado obsoleto dos aparelhos.
Por que é que não utilizam aviões mais modernos, é porque o Governo os exporta para outros países, esquecendo-se dos seus militares.

Anónimo disse...

"Por que é que não utilizam aviões mais modernos, é porque o Governo os exporta para outros países, esquecendo-se dos seus militares."

Se se investe na tropa é mau porque se esquece a sociedade civil etc.

Se a tropa está obsoleta é porque não há investimento etc.

Sinceramente acho que já é o puro prazer do bota abaixo

Anónimo disse...

Visto o acidente ter envolvido elementos de uma equipa acrobática, nada obsta a que tenha sido erro humano. É muito fácil aquelas velocidades.

PortugueseMan disse...

Pode claro ser falhas técnicas. Mas este tipo de colisões são quase sempre falhas humanas.

Relativamente aos aviões novos, meu caro, esta equipa tem mais aviões (os SU-35) do que aqueles que aparecem a voar e possuem aviões mais modernos, mas pelo o que sei não voam com eles e apenas aparecem nas exposições estáticas. desconheço a razão.

...porque o Governo os exporta para outros países, esquecendo-se dos seus militares...

Você não seja assim. Você acredita mesmo no que está a dizer? Puxe lá duma cadeira, agarre esse teclado e diga-me lá o que o faz dizer isso. Quer apostar em como consigo mostrar que está errado?

Anónimo disse...

Milhazes, se a Rússia tivesse sido derrotada por Napoleão em 1812, hj seria uma democracia liberal, com Constituição, leis e liberdades respeitadas. Esse país não viveu o iluminismo, n sabe o que são direitos individuais. Inclusive, não teria havido o golpe de 1917. Mas um dia chega lá. A globalização e as pressões que ela recebe serão suficientes para que em 30 anos a Rússia passe a ser uma democracia exemplar, e quem sabe, parte da UE.

Anónimo disse...

Parece-me óbvio que os pilotos sabem do que falam. O desgaste dos materiais nos aviões em especial esses de guerra é muitp grande. Não há milagres quando o material devia ir para a sucata.

José Milhazes tem toda a razão. Além disso existe uma outra grande potência que se pode comparar com a Rússia. A China em vez de se armar nos melhores do mundo tem trabalhado e o resultado está à vista. Experimentem ver no dia-a-dia a quantidade de produtos chineses, se calhar até muitos dos computadores de quem lê este blogue tem muitos componenetes chineses. Quanto ao russos em contrapartida, uma tristeza. A Rússia precisa de mais trabalho, menos corrupção e menos armarem-se em fortes. JP

Anónimo disse...

"A globalização e as pressões que ela recebe serão suficientes para que em 30 anos a Rússia passe a ser uma democracia exemplar, e quem sabe, parte da UE."

Apoiado Ítalo.

E que a Rússia democrática aliada da UE aniquile de vez os Estados Unidos.

Anónimo disse...

Já agora esqueci-me duma coisa. Rússia e Ucrânia, ou por aqui Espanha e Portugal.
Tem havido sempre sectores reacionários na Espanha de desejam anexar Portugal. Não é por acaso que Franco se chegou a encontrar com Hitler no intuito de anexar Portugal em 1941. Ainda bem que não se entenderam!
Portugal não é Espanha por muitas e boas razões. Os espanhóis só se podem queixar de si próprios e da sua arrogância imperial.
Depois do reino visigótico nunca mais fez sentido falar em Hispânia ou Ibéria. É preciso aceitar a evolução histórica e não ficar em atitudes revanchistas em relação a povos vizinhos. "Mutatis mutandis" o mesmo se aplica à Rússia e Ucrânia. JP

Anónimo disse...

Quanto comecei a ler este blogue, alimentei por algum tempo esperanças de que os comentários que surgiriam relativamente às peças publicadas se tornariam num fórum de debate, com contrapontos de ideias muito ao estilo do que acontece na edição online do Economist (curiosamente, o correspondente deste jornal para a Rússia, Edward Lucas, segue uma linha editorial e partilha opiniões muito em consonância com as do José Milhazes). Muitas vezes, os comentários conseguem ultrapassar em interesse as ideias do artigo original, atingindo o objectivo, que é acrescentar valor à peça publicada.

A este respeito, a minha desilusão foi quase total. Na esmagadora maioria dos casos, os comentários não passam de peças de duelo a roçar o boçal-futebolismo, com posts que não dizem mais do que “a minha é maior do que a tua” ou “se a minha não presta a tua também não”. No pior dos casos, o “debate”, se assim o posso chamar, acaba em trocas de insultos. Insultos esses que, ao aparecerem, atingem também, em última análise, o trabalho do jornalista.

Mas o mais chocante é a série de “comentadores” que, por mais que se lhes explique, ainda não conseguiu entender o conceito de sociedade civil e a importância que o jornalismo opinativo tem na construção de uma sociedade livre e democrática. Estes “comentadores” não compreendem que, ao confundirem críticas a um regime com críticas a um país, estão, ao final do dia, a dar um tiro no pé e a prestar um desfavor colossal às pessoas que pretendem defender. Isto, claro, assumindo que quem querem defender é a sociedade e não o regime…

De facto, é difícil encontrar exemplo mais adequado para ilustrar o significado da expressão “idiotas úteis” atribuída a Lenine.

Num país governado por uma clique cleptocrática incompetente que continua a sufocar a liberdade de imprensa e a criar mecanismos para se auto-perpetuar e desresponsabilizar, jornalismo de opinião como o do José Milhazes constitui um pilar fundamental da tentativa legítima de responsabilizar o governo pelas consequências das suas políticas. Jornalismo como o do José Milhazes representa o cão-de-fila em perigo de extinção no panorama jornalístico russo. Uma espécie de versão portuguesa da “Novaya Gazeta”, um jornal russo crítico do regime, quase impossível de encontrar porque ninguém tem coragem de o distribuir.

Criticar ou sufocar os críticos do regime é contribuir para passar carta branca ao governo para fazer o que lhe dá na gana sem receio de ser responsabilizado. Como jornalista no seu blogue, o José Milhazes tem o direito (e diria mesmo o dever) de manifestar a sua opinião crítica do regime, mostrando com isso que o povo russo (e não o regime) ocupa pelo menos metade do seu coração português.

António Campos

Anónimo disse...

Os aviões não eram velhos, está mal informado.
Quanto a demissões, concordo perfeitamente que Medvedev se deve demitir.A Rússia só piorou desde que putin deixou de ser presidente.Mandou 5 navios à cata de um cargueiro com 15 homens e madeiras' O rapaz tem as prioridades muito baralhadas.

Anónimo disse...

A situação na Inguchétia e no Daguestão só piorou desde que Medvedev acabou com as operações especiais. Mais uma. Será que acertará em alguma?

Pippo disse...

"A China em vez de se armar nos melhores do mundo tem trabalhado e o resultado está à vista."

Na realidade, Anónimo das 17:58, isso não poderia estar mais afastado da realidade.

A China tem-se armado a uma escala alucinante. Tem estado a modernizar a sua Força Aérea e a sua Armada com armas russas, e a Norinco investiu fortemente na produção de blindados de todo o tipo, em novas armas de pequeno calibre (a nova espingarda automática do EPL baseia-se na FAMAS francesa) e inclusive exporta baterias de artilharia autopropulsada inteirinhas, "chave na mão".

Estrategicamente, os chineses procuram, para já, garantir a supremacia no Mar da China e uma capacidade de dissuasão aeronaval contra o seu competidor directo, os EUA. Por outro lado, em termos terrestres, os chineses preparam-se para assegurar a capacidade de projecção de tropas a longa distância (talvez para a Ásia Central?).

Em suma, os chineses não são assim tão pacíficos.

MSantos disse...

Já para não falar das condições em que o dito "trabalho" chinês é feito.

Somos tão rigorosos para com umas coisas e tão laxistas noutras...enfim!

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

José Milhazes
Para um piloto de caça, o perigo é verdadeiramente a sua profissão. Para pilotos de caça de patrulhas aéreas de acrobacia a profissão é o máximo perigo por si só.

Tal como o avião militar que caiu noutro dia, estes acidentes acontecem quase numa base mensal nas melhores forças aéreas do mundo, nos melhores países do mundo. Tomando o actual estado da tecnologia por muito avançada que seja e o factor humano é impossível não acontecerem.

Dado que este tipo de acrobacia reside na perícia do piloto sendo os meios técnicos além do avião a coordenação via rádia e nada mais, muito improvável será que uma colisão não tenha sido mais que eventual erro ou descoordenação dos pilotos.

E sinceramente, não é o JM que anda sempre a dizer que a Rússia investe de mais nas FAs?
(e olhe que nisso até concordo consigo)

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

"Criticar ou sufocar os críticos do regime é contribuir para passar carta branca ao governo para fazer o que lhe dá na gana sem receio de ser responsabilizado"

Caro António Campos

Independentemente de concordar ou não (ou as duas coisas) da generalidade do seu comentário há para mim algo de muito incongruente neste seu parágrafo não na parte em que refere que não se deve sufocar os críticos, em que concordo em absoluto, mas sim em que estes não podem ser criticados.

Gostaria que me explicasse, se se quiser dar ao trabalho, como é que num diálogo plural e democrático que muito bem advoga, existam críticas que não devam ser feitas e como essas mesmas críticas sendo só isso mesmo, podem ser prejudiciais a alguém.

Sinceramente eu não estou a ver como isto será possível pois num díalogo, qualquer crítica venha de onde venha só poderá alimentar o debate o que é uma coisa muito salutar.

Cumpts
Manuel Santos

LUH3417 disse...

"o Presidente da Inguchétia, acusou os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e Israel de estarem por detrás da guerrilha. Parece continuar a ser mais fácil acusar os outros do que resolver os verdadeiros problemas da região: corrupção, banditismo, raptos e assassinatos, desemprego."

Não se trata de acusar os outros. Trata-se das influencias internacionais camufladas na região. Tanta coisa que se diz por aqui sobre a intervenção da Russia em países vizinhos e tudo mais, mas esquecem-se daquilo que outros países que nada têm a ver com a história destas regiões, fazem negativamente. Mas pronto, disso já não se pode falar.
Não que o facto de X ou Y intervirem num país justifique uma má política por parte do mesmo, mas pronto.
São coisas curiosas.

"No futebol, quando a equipa de futebol sofre derrota após derrota, o treinador é demitido. Na política, deve acontecer o mesmo....Penso eu."

Pensa mal e como muita gente. Por isso é que o futebol é o que é.

Anónimo disse...

Caro MSantos,

Se ler com cuidado o que escrevi no terceiro parágrafo do meu post, verificará que a minha revolta se dirige especificamente aos que equacionam “russofilia” com a apologia do regime e “russofobia” com a crítica ao mesmo. Por mais que os propagandistas oficiais se esforcem por dar a ideia do oposto, atacar o regime não é atacar o país. Muito pelo contrário.

Em vez de ajudar, levar a coisa para esse campo prejudica o debate, uma vez que desvia a discussão do tópico para uma guerrilha nacionalista, na qual se pretende desacreditar os inimigos do regime, chamando-lhes inimigos da nação. Aliás, esta é, como sabe, uma táctica típica dos tempos soviéticos, quando quem se atrevia a manifestar desagrado com a forma como o governo dirigia o país era oficialmente considerado um “inimigo do povo”, com as consequências que se conhecem.

Infelizmente, no estado actual das coisas, há infinitamente mais a criticar do que a saudar e não há volta a dar a isso. E a evolução não tem sido positiva, nem se prevê que o seja no futuro próximo.

António Campos

Pippo disse...

Já para não falar das condições em que o dito "trabalho" chinês é feito.

Dois pares de estalos e uma bola de arroz. Quem trabalhar horas extra (acima das 16 diáris) tem um aumento de um par de estalos.

E é isso que os liberalóides querem impor na Europa e resto do Mundo. Chama-se a isso "nivelamento" (por baixo).

Pippo disse...

Penso que aqui o termo russofobia é mais utilizado quando alguns intervenientes acusam, não o governo, mas a Rússia (a qual, necesariamente, inclui o seu povo) ou directamente os russos, enquanto pessoas.
Há muitos por aqui que o fazem, como o pode constatar, e a esses eu, por exemplo, não tenho problemas em chamar de russófobos, pois é isso que eles são.

Anónimo disse...

Já agora, e mais dentro do tema do post, comparar futebol com política não é de todo “básico”. Tal como nas empresas e nos governos, o clube de futebol nomeia uma equipa de gestão a quem se concede um mandato para atingir um determinado conjunto de objectivos. Se esses objectivos não forem cumpridos, o conselho de administração da empresa é demitido em assembleia de accionistas, o treinador sai e o governo é derrotado nas próximas eleições, assumindo que se trata de um país democrático.

O que é curioso é que o conceito soviético do “inimigo externo” continua ainda a ser aceite para justificar desempenhos desastrosos por parte das equipas de gestão nomeadas. É surpreendente o número de russos com formação universitária que ainda acreditam que o colapso da União Soviética se deveu a um complô bem orquestrado entre os Estados Unidos e o Vaticano para reduzir artificialmente os preços do petróleo, levando a economia à ruína.

Seria interessante então perceber como é que as “influências internacionais camufladas na região” da Inguchétia, citadas por Oh Well Okay, terão levado ao fracasso as opções estratégicas tomadas pelo governo dessa república.

António Campos

Anónimo disse...

«««««Já agora, e mais dentro do tema do post, comparar futebol com política não é de todo “básico”»»»»

Pois não! É simplesmente reduzir a governação de um país à grandeza de uma equipa de futebol .Depois dá nisso que observamos no dia a dia. Também o podia ter feito com uma discoteca ou um casino! Porque não? O Moullin Rouge também funcionou ou funciona para obter resultados se as meninas não dançavam o Can Can como o exigido eram postas na rua.
Já que estamos a falar em termos de competências e de legitimidades.
____ Considera que o “senhor” Gordon Brown como primeiro ministro tem mais legitimidade democrática que Medvedev como Presidente? Ou não será o contrário?
___ Se os dirigentes Russos são incompetentes para governar e fazer sair o pais da crise como afirma . Então o que fazer a esta cambada que nos governa ao mergulharem neste pântano económico e social que estão a chafurdar? Os Russos ainda têm razão porque a tormenta deles vem de longe, mas cá do nosso lado era só amealhar!
___ Talvez se continuassem com o rumo desastroso do Yeltsinismo eram mais agraciados? Ou esquecem que além do desastre social e económico dos anos 90 a Rússia chegou a ter a maior divida externa do mundo.
___ Ainda não compreendo porque razão pessoas conhecedoras da realidade Russa se admiram das condições obsoletas em que se encontram a maioria dos equipamentos do país se durante mais de uma década não houve renovação. Além de durante esse período as receitas da venda de matérias primas eram desviadas quase na totalidade para os países Ocidentais.
___ Isso é compreensível. Aplaudiram o caos e quando apareceu alguém a pôr ordem na casa desagradou-lhe porque deixaram de viver dessa chafurdia que ajudaram a criar. Agora exigem que se façam milagres em pouco tempo?
Porque motivo são tão exigentes com o que acontece na Rússia e são complacentes com o que se passa nos vossos países? É que Putin teve a capacidade de melhorar a vida de uma parte significativa do povo Russo. Mas nós só temos visto piorar as nossas condições de vida.
Resumindo: Quando a Rússia estava transformada numa terra de ninguém onde as máfias dominavam a corrupção imperava abertamente, cientistas e professores catedráticos eram (raptados) ou para sobreviverem vendiam pastilhas elásticas à entrada o metro, as empresas estatais eram abocanhadas por oportunistas de toda a espécie. Roubaram todos os segredos do país que lhe foi possível, hordas de famintos (professores, médicos, engenheiros) espalharam-se por todos os continentes aceitando fazer as tarefas mais ordinárias, milhões de jovens foram aliciadas para a prostituição. Nessa altura a Rússia estava no caminho certo, não haviam criticas a fazer (ao menos ainda não encontrei aqui ninguém com a coragem de o fazer).
O Povo Russo tem imensa responsabilidade naquilo que lhe aconteceu, porque acreditou no canto da sereia que poderiam ser todos ricos. Hoje a maioria já compreendeu que foram enganados e talvez seja essa a razão principal que depositam tanta confiança nos seus governantes. Os Russos já passaram por situações mais dramáticas que as actuais e souberam superá-las. Desta vez também irão faze-lo se dispõem de melhores condições.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Leitor Francisco, Vladimir Putin está no poder há 10 anos. Acha isso pouco tempo? Quais são os dirigentes ocidentais que ficam 10 anos no poder, sem qualquer intervalo e sem oposição?
Quanto à classe política de outros países, eu já escrevi aqui que considero que ela se tem vindo a degradar consideravelmente, porque os políticos fazem carreira dentro dos partidos e não têm experiência da vida real. Repetem o erro da União Soviética, quando os jovens começam a fazer carreira na Juventude Comunista e, depois, no Partido Comunista, sem nunca terem trabalhado.

Anónimo disse...

Já se sabia que 90% do material militar russo está obsoleto.

E o problema do Kursk foi agravado porque os submarinos especiais necessários para as operações de salvamento do género (que eram os únicos que existiam ao serviço da Armada russa) deixaram de existir porque forma vendidos a uma empresa privada, que os passou a utilizar para passeios turísticos, incluso, visitas guiadas aos destroços do Titanic.

Não foi aquele nacionalista, Jirinowski, que criou a tese ou doutrina, de que a Rússia devia fomentar divisões, conflitos, e mesmo Guerras, entre as várias nações, povos e etnias do Cáucaso?

Igor disse...

1) Os avioes podem ser velhos ou novos mais sao nossos avioes e nossos problemas, e nos vamos resolver os nossos problemas. Se um dia necessitamos ajuda, vamor pedir a gente que pode ajudar.

2) "Milhazes, se a Rússia tivesse sido derrotada por Napoleão em 1812, hj seria uma democracia liberal, com Constituição, leis e liberdades respeitadas. Esse país não viveu o iluminismo, n sabe o que são direitos individuais."

E muito estupido falar sobre as liberdades se em vossos paises houve poder fascista (o parecido). Os avos e pais de muitos de voces viverom em esa epoca.

Nao e normal, se voces falao sobre Russia e nao tem ideia como vivemos, somos ou nao filizes, o que e que queremos da vida...

Anónimo disse...

Não, Milhazes, 10 anos para o colosso que a Rússia é e para os problemas que tinha não é nada muito tempo. Por isso, os planos de Putin são para 20 anos. Concordo perfeitamente. Deus lhe dê vida e saude e que tenha muita gente boa a trabalhar com ele. E eu que veja.
Amen!

Anónimo disse...

Pippo,
Cada país tem de ser em primeiro lugar a sociedade civil.
Os chineses não são nenhuns santos, mas têm renovado infraestruturas e muitas outras coisas a um ritmo que não se compara com a Rússia. Quando os chineses gastam em armas não é à custa da sociedade civil.
As escolas russas não têm melhorado. Em contrapartida, as escolas chinesas têm melhorado de forma acentuada.
O cultivo do arroz criou uma ética de trabalho na China. É pena que semelhante atitude não exista na Rússia. É certo que o que é trabalho na China pode ser quase escravatura para nós, mas aqui os russos podiam fazer muito mais e melhor, em vez de haver corrupção e interesses particulares a gerirem a coisa pública.
Já agora se cem milhões de chineses fossem viver para a Sibéria, isso não teria impacto (menos de 10%) na população chinesa, mas mudaria completamente o perfil étnico da Rússia.
Já agora também a chaga social que é o alcoolismo na Rússia também demora tempo a ser corrigido, se é que é possível eles fazerem alguma coisa.

Pippo disse...

A diferença, caro anónimo, é que a China não atravessou uma experiência traumática como a da fractura da URSS nem foi alvo de experiências capitalistas ultra-liberais que lhe deixaram a economia de rastos.

Na China impôs-se um socialismo capitalista, gradual, com um forte controlo estatal. A economia é dirigida mas a sua implementação "no terreno" é deixada à iniciativa privada.

Note-se também que a China beneficia de uma cultura de "progresso familiar" (espera-se de um indivíduo que trabalhe em prol do progresso, da prosperidade, da sua família) e de uma forte comunidade chinesa na diáspora dedicada ao comércio, o que facilita as exportações de material de baixo valor acrescentado, que é o que é actualmente produzido na China.

Claro que agora esse mercado está em vias de ficar saturado, o que implica um necessário redireccionamento da produção chinesa de bens de consumo de baixa qualidade para outros continentes, nomeadamente África.

Quanto ao sacrifício da sua população, não seja tão peremptório. Está a crescer o hiato entre uma minoria urbana de classe média e uma maioria da população, rural, cujos rendimentos estão a diminuir. A exploração laboral é o que se sabe (ou pior!) e a agricultura chinesa está em perigo. Com 1/5 da população mundial mas apenas 8% das terras aráveis do planeta, os chineses estão a constatar duas coisas:
1 - os solos estão a ficar altamente contaminados, o que faz com que os produtos vegetais já estejam á beira de se tornarem nocivos para a alimentação humana (e animal);
2 - os solos estão a desaparecer devido ao avanço dos desertos do NO da China (Taklamakan, Gobi, etc.).

Ou seja, esta súbita prosperidade chinesa, alicerçada nos baixos salários e numa enorme mão-de-obra disponível, poderá ter os dias contados, sobretudo se a China for incapaz de encontrar alimentos viáveis para a sua população.

Talvez nessa altura venhamos a ver se o investimento militar chinês lhe servirá para se expandir e assim conquistar mais recursos.

Ab,

MSantos disse...

Pois, António Campos mas a sua afirmação está lá. E para um debate que se pretende livre e democrático não pode haver ninguém mas mesmo ninguém acima da crítica ou eventual julgamento.

Sobre a tática que menciona, a parte raelmente trágica é que os soviéticos foram uns dos muitos utilizadores. Infelizmente até as nossas presentes e decadentes "democracias" estão a utilizar esse argumento sempre conotando determinados sectores ou facções num todo com ideologias e crimes de alguns para que as pessoas não tenham a coragem de assumir o que realmente defendem, matando assim todo um quadrante e deixando a escolha "democrática" apenas na fresta que lhes convem, num espectro político muito reduzido e selectivo. Tudo o resto passa a ser "inimigo do povo".Ultimamente até tem havido tentativas de ilegalizações de ideologias ou partidos que até então eram toleradas e o verdadeiro perigo disto é que pode apenas ser o começo.

Um dos mais flagrantes exemplos é a economia, campo em que estes alegados "think tanks" e "opinion makers" querem nos fazer passar que o modelo único é o mercado ultraliberalizado com a sua "mão invisível" fazendo esquecer o que foi a Europa verdadeiramente democrática até aos anos 90 assim como os sistemas nórdicos e fazendo crer que o que é bom para o "povão" é o avançado e moderníssimo sistema produtivo chinês com trabalho muito mas mesmo muito "flexível".

Desculpe-me o cinismo.

Cumpts
Manuel Santos

Anónimo disse...

Parece que o mercado livre e o único modelo económico que prevaleceu incomodam muita gente.

Precisam do estado porque não conseguem viver sem ele.

Pippo disse...

Demonstrando o que eu disse ontem, esta notícia vem mesmo a propósito:

China: Envenenamento com chumbo faz adoecer 1300 crianças na província de Hunan
Pequim, 20 Ago (Lusa) - Mais de 1300 crianças ficaram doentes por envenenamento com chumbo na província chinesa de Hunan, constituindo o segundo caso a envolver grande número de crianças no último mês, noticiou a agência Nova China.
Pequim, 20 Ago (Lusa) - Mais de 1300 crianças ficaram doentes por envenenamento com chumbo na província chinesa de Hunan, constituindo o segundo caso a envolver grande número de crianças no último mês, noticiou a agência Nova China.
As crianças vivem junto de uma fábrica de transformação de manganês no aldeamento de Wenping, na província de Hunan e, segundo a agência, em 1354 foram diagnosticados níveis excessivos de chumbo no sangue.
As autoridades locais fecharam a fundição e detiveram dois dos seus executivos.
Na província de Shaanxi, no norte da China, pelo menos 615 de 731 crianças em duas aldeias junto da fundição Dongling na cidade de Changging acusaram positivo nos testes de envenenamento com chumbo, o que pode causar danos ao sistema nervoso e reprodutor, tensão alta e perda de memória.

http://aeiou.expresso.pt/china-envenenamento-com-chumbo-faz-adoecer-1300-criancas-na-provincia-de-hunan=f531798

Anónimo disse...

Pipo:
Como os chineses são especialistas na contra manufacturação isso só podem ser copias falsificadas da fabrica de agrotóxicos da Union Carbide em Bhopal.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Desculpe a bacorada: queria dizer contrafacção e não contra manufacturação.
Obrigado

Pippo disse...

Ahahah! Acho que sim, eles até devem fazer cópias rascas de desastres químicos ocorridos no estrangeir :o)

MSantos disse...

Não! O mercado verdadeiramente livre, justo e liberalizado dentro do razoável não assusta ninguém.

O problema é o mercado ultraliberalizado em roda livre direccionado para favorecer umas poucas nações e uns poucos mais, à custa do crescimento da miséria e do trabalho não pago a milhões.

Se dependo dos Estado e já que sabe tanto de mim pois pense o que quiser.

Melhores cumprimentos
Manuel Santos

Anónimo disse...

Caro MSantos,

Fazemos todos parte de uma sociedade livre e cada qual pode dizer o que lhe dá na gana. Tal não me impede de achar que determinados comentários são ou não contraproducentes para o debate, e não implica de todo que ache que devam ser censurados. Não sei onde é que leu tal coisa no meu post. Agora que esteja plenamente convencido de que adoptar uma postura nacionalista cega nas réplicas às críticas do José Milhazes desvia totalmente a atenção do cerne da questão, isso ninguém me tira. Mas estou plenamente de acordo que quem quiser desvirtuar a discussão tem plena liberdade para o fazer.

Não entendo porque é que as democracias ocidentais estão “decadentes”. Sistemas concorrentes tiveram a sua oportunidade e demonstraram não resultar, criando tragédias que levarão gerações a sarar. Mesmo os sistemas mistos na alçada da antiga União Soviética acabaram por colapsar. A economia da Bielorrússia está de pantanas e os economistas no poder não fazem a menor ideia como sair do atoleiro em que o país está. Por seu lado, os sistemas democráticos têm adoptado economias de mercado, que vão passando por experiências de maior ou menor liberalização, por vezes com consequências desastrosas, admito. Como sabe, a solução consensual internacional para sair da crise em que nos encontramos foi o incremento da regulamentação dos mercados de capitais. Tudo isto faz parte do processo.

Os defeitos da democracia (parafraseando Churchill, a democracia é o pior de todos os sistemas, à excepção de todos os outros) não são mais do que os defeitos da população que elege. Por definição, as pessoas podem votar independentemente do seu estado de conhecimento das alternativas, e normalmente fazem-no influenciadas unicamente pela eficácia das campanhas de quem tem mais dinheiro para investir em publicidade (ou os melhores estrategas). A reeleição de Yeltsin em 1996 é o típico exemplo disso.

Ao que sei, as tentativas de ilegalização de forças partidárias têm-se sempre relacionado com grupos que demonstram não possuir valores democráticos, tais como neonazis, xenófobos, ultranacionalistas, ou grupos que advogam o fim da separação entre estado e religião. Para evitar novos Hitlers ou Stalins, que, caso cheguem ao poder legal (no primeiro caso) ou ilegalmente (no segundo), não destruam a premissa democrática e se perpetuem no poder por usurpação do mandato popular. Se existirem casos de forças legitimamente democráticas pressionadas a desaparecer num sistema democrático, é coisa que gostaria de saber. Se conhecer algum, diga-me por favor.

Na verdade, ao que sei, a mais recente e bem sucedida tentativa de ilegalizar virtualmente uma oposição democrática foi levada a cabo pelo regime de Putin, quando estabeleceu limites mínimos eleitorais para a representatividade parlamentar, ao mesmo tempo que barrou às forças da oposição o acesso livre aos meios de comunicação. O cinismo não podia ser maior: os partidos existem e são entidades legais, mas estão virtualmente impedidos de falar. Foram tornados irrelevantes à força. Para um regime que se auto-intitula “democrático”, não há melhor exemplo de decadência.

António Campos

Pippo disse...

"Os defeitos da democracia não são mais do que os defeitos da população que elege."

Sim e não.

SIM porque os "maus cidadãos", isto é, os que não participam activamente na política (em todo o seu espectro) e não se interessam por essas coisas, preferindo falar de futebol e da vida dos "famosos", acabam por ter aquilo que merecem, ou seja, serem mandados por gente incompetente e oportunista;

Mas NÃO porque o povo não tem capacidade para impor aos seus governantes comportamentos e leis que prejudiquem estes. Vou dar exemplos:

1 - Para se participar na política strictu senso um indivíduo tem de pertencer a um partido político. Lá dentro, se quiser subir ou ser uma voz activa, ou deita os escrúpulos para trás das costas e faz acordos com o diabo ou é eliminado politicamente; se for um tipo demasiado honesto, inteligente e independente é eliminado politicamente; se não estiver disposto a dar uma facada nas costas do melhor amigo é eliminado politicamente; e assim por diante. Atenção: não falo por falar, falo (infelizmente) por experiência própria.

2 - Eu voto num partido porque só posso votar num partido. Não posso votar "naquele tipo que eu sei que é bestial e que me vai representar mesmo bem" porque isso não me é permitido. Mas as pessoas deveriam ter a possibilidade de poder votar em pessoas, e não em partidos.

3 - Os partidos apresentam os seus programas eleitorais, ganham e depois não cumprem nem metade do que prometeram. Ora, na minha óptica, um programa eleitoral é um contrato social. Quem não cumpre um contrato tem de ser punido. Mas na política, quem não cumpre o contrato não o é. Na pior das hipóteses não é reeleito, mas continua com o tacho na política (vide Santana Lopes, a Manuela e em breve o nosso excelentíssimo e digníssimo Sr. "Enginheiro");

4 - os deputados não representam o povo. Isso é uma ilusão. O povo é obrigado a votar nos partidos políticos, e os partidos, ou melhor, quem manda nos partidos, com base no seu sistema interno, decide quem são os seus deputados no Parlamento. Ou seja, eu não elejo o deputado Zé ou o deputado Manuel, quem eleje, quem o escolhe, é quem manda no partido onde eu votei, o que depois nos remete para o ponto 3.

5 - Quem se abstem de votar não tem direito a abrir a boca. Mas quem vota em branco foi lá e votou. Mas não votou em nenhum dos partidos. Ora, porque é que os votos em branco não elegem assentos vagos no Parlamento? O voto foi válido, expressou uma opinião clara, deveria ter expressão em termos de lugares "em branco". Mas isso não acontece, o que implica que as pessoas que votaram em branco não vêm a sua vontade reconhecida.

6 - Se um grupo de cidadãos (olhe, até podem ser todos, se quiser) propuser uma lei que imponha objectivos rígidos aos nossos políticos (uma espécie de SIADAP), e puna os incapazes com expulsão do Governo/AR, multas e proibição de ocupar cargos políticos, bem como ocupar cargos em empresas públicas ou privadas auferindo rendimentos superiores aos que auferiam antes de irem para as lides políticas, será que tal lei seria aprovada pelas suas potenciais vítimas?
Algo me diz que não.

7 - formas de luta legais: Abaixo-assinados (não servem para nada); greves (só servem para o Estado/empresas pouparem uns trocos com os salários que não são pagos); greves de zelo (foram muy democraticamente proibidas); manifestações (não servem para nada);... fazer o quê, então?

Peço desculpa pela extensão do texto mas tinha de o dizer, e muito mais fica por ser dito.

Ab,

MSantos disse...

António não vou rebater as suas convicções (é coisa que nunca faço) que embora diferentes das minhas respeito. Em matéria de convicções, pessoalmente estou mais preocupado em demonstar porque penso o que penso.

A sua frase é muito clara: "Criticar ou sufocar os críticos do regime...". Continuo a insistir que ninguém deve estar acima da crítica, mas se é essa a sua opinião, muito bem.

Relativamente a quem tenta ou insiste em desvirtuar o debate, na minha opinião a melhor arma é ignorar. Geralmente as pessoas que usam destes procedimentos independentemente da facção política ou outra que tenham, querem é chamar a atenção sobre si devido à sua fraca autoestima, e o pior que lhes podemos fazer é deixá-los ficar a falar sozinhos o que lhes vai reduzir ainda mais a pouca que ainda têm. Eu pessoalmente é o que procuro fazer, não me tenho dado mal e inclusivé já apelei aos outros leitores para não entrarem nestas polémicas estéreis. E claro, ás vezes sou mauzinho e dou respostas na base da ridicularização e da caricatura.

Sobre a decadência das nossas ditas democracias, nunca na vida poderia ter feito melhor exposição que o Pippo fez. Lá está descrito todo o actual situacionismo a promover as máquinas partidárias e os medíocres (que ele até enumerou).

Sobre as forças pressionadas a desaparecer o exemplo é muito fácil: desde os anos do PREC até aos governos de Cavaco fomos governados por um partido que na altura era socialista. Independentemente se governou mal ou bem, governou democráticamente e nos piores anos da nossa história recente. Sobre a sua legitimidade democrática acho que ninguém põem em causa. Com a queda do muro, os ditos opinion makers conseguiram associar tudo o que era socialismo à ideologia comunista mais as suas nefastas consequências e tenebroso passado. Hoje em dia, as pessoas estão como que mentalizadas a refutar tudo o que contém algo socialista, esquecendo-se que muita da história da Europa Ocidental do pós-guerra foi construída nessas governações socialistas que contribuiram e muito para o bem estar social e progresso económico caractrísticos destes países. Hoje em dia alguém conseguiu aniquilar toda essa facção apenas por conotações.

E na minha opinião isto é perigosíssimo pois pode permitir aos Stalins e Hitlers que ocupem o poder legitimamente e com capa democrática sem qualquer necessidade de repressão.

Sobre a natureza do regime russo concordo com muitas das vossas críticas mas a questão que se coloca é tomando a dimensão geográfica, o caldo de culturas/etnias com mil e um problemas e conflitos e a inércia económica resultante de 70 anos de economia centralizada mais as presentes conjecturas geoestratégicas que a cercam será possível outra alternativa? e qual?

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

Apenas uma correcção: os ditos governos do PREC até cavaco também foram ocupados pela AD e coligações com os socialistas mas mesmo na altura, todos estes partidos seguiam mais ou menos a via socialista dados os ventos que sopravam na altura.

Cumpts
Manuel Santos

Anónimo disse...

Caro Manuel Santos,

Tal como tenho vindo a mencionar, os sistemas democráticos estão MUITO longe de ser perfeitos e é óbvio que há muito a fazer. Todos também sabemos que a política é usada como trampolim de ambições pessoais para muitos, o que também acaba por desvirtuar o sistema. Mas a participação popular e as oportunidades para todos participarem é significativa. Exemplos disso são o número de movimentos cívicos que resultaram em novos partidos que concorreram às últimas eleições em Portugal, que infelizmente não obtiveram suficiente apoio popular em grande medida porque veicularam mensagens confusas (e por vezes patetas) e eram lideradas por indivíduos pouco carismáticos ou sem competências demonstradas. Ou simplesmente por desinteresse da população pelo processo democrático. Lembra-se da última campanha eleitoral? Teremos nós percebido o que queriam realmente o MMS, o PH, o PND, ou mesmo o neonazi PNR (para além de querer dar um chuto na emigração e adoptar uma postura isolacionista)? Em contrapartida, o BE, partido aliás no qual tenho votado nos últimos anos, tem vindo a crescer e possui 8 deputados na assembleia.

Outro exemplo recente da eficácia da pressão popular é dado pelas alterações que a administração Obama está a introduzir na reforma do sistema de saúde, como consequência do descontentamento manifestado (nas ruas) pela população.

O problema fundamental da Rússia, na verdade, é muito simples e não tem nada que ver com dimensão territorial, falta de experiência democrática ou tensões étnicas. O verdadeiro problema foi mencionado por Medvedev após assumir o cargo, quando referiu o “niilismo legal” no qual o país está mergulhado. Este cancro vem dos tempos de Yeltsin, quando se iniciaram reformas económicas liberais, sem qualquer intenção de estabelecer um quadro legislativo e um sistema judicial independente que apoiasse a sua implementação. Porque é que meia dúzia de indivíduos se apoderou de uma grande parte da propriedade estatal a preços de saldo e depois comprou poder político para garantir a sua sobrevivência? Porque puderam fazê-lo e ninguém os impediu. Tal coisa aconteceria em qualquer país do mundo que não implementasse um sistema legal/judicial de controlo para regular a transição.

Anónimo disse...

(Parte II)

Independentemente da sua legitimidade democrática, Putin teve de facto uma oportunidade de ouro para solucionar este problema. Herdou um país em acelerada recuperação económica após o colapso de 1998 (contrariamente aos mitos oficiais, a recuperação iniciou-se a ritmo rápido com Primakov como primeiro ministro, ainda no ano de 1998, e não com Putin) e um forte crescimento dos preços do crude nos mercados internacionais e até se lhe toleravam tendências autoritárias, desde que tal facilitasse o tão necessário “arrumar da casa”. Singapura é um bom exemplo de um estado autoritário que resultou em benefícios materiais e sociais para os seus habitantes.

O que aconteceu em vez disso? Após um curto período de tímidas reformas económicas e NADA para reforçar o sistema judicial, assistiu-se a uma nova redistribuição maciça de propriedade tendo os siloviki e os oligarcas vassalos do regime como beneficiários. Assistiu-se a uma neutralização quase total dos meios de comunicação. A corrupção é maior do que nunca, ultrapassando mesmo os níveis dos anos negros de Yeltsin, e mais grave porque agora os subornos medem-se em milhares de milhões de dólares. As infra-estruturas de saúde continuam tão más ou piores do que anteriormente (os 13,7 mil milhões de dólares pagos a Roman Abramovich pela sua parte na Sibneft seriam suficientes para modernizar o sistema de saúde do país inteiro). Em mais de 10 anos, a extensão de estradas pavimentadas cresceu 0,01% (não existe ainda sequer uma auto-estrada Moscovo-S. Petersburgo). A expectativa de vida continua em níveis terceiro-mundistas e assiste-se a uma pandemia de SIDA que o governo se recusa a atacar seriamente (estimativas não oficiais apontam, por exemplo, para taxas de infecção de 20% no total da população de Irkutsk). O PIB cresceu, não pela modernização industrial, mas pelo aumento dos preços das matérias-primas, e quando ajustado pela paridade do poder de compra, coloca-o a níveis de países como o Uruguai. A gigantesca Gazprom, responsável por 20% da capitalização bolsista russa e por 10% do PIB (sabia que partes-chave desta empresa, tal como a subsidiária seguradora, os fundos de pensões e os interesses nos media, foram vendidas a interesses controlados por amigos de Putin a preços tão baixos que fazem parecer o esquema de “empréstimos por acções” de Yeltsin parecer uma brincadeira de crianças?) é um monstro decrépito com uma infra-estrutura a cair aos bocados e um exemplo de gestão incompetente e falta de transparência. E a lista é interminável. Basta sair de Moscovo e visitar cidades como Ekaterinburgo, Volgogrado, Omsk e Irkutsk para perceber rapidamente que as coisas estão praticamente na mesma e, quando mudaram, não foi para melhor.

Nenhum destes factos consegue ser justificado através dos “suspeitos habituais” de extensão territorial, falta de experiência democrática e tensões étnicas. A única justificação é a de que o poder foi tomado por um estado cleptocrático, corrupto e, acima de tudo, incompetente e imune a escrutínios, por ser capaz de manipular a lei e a sociedade civil em proveito próprio. Daí a importância de não desviar o debate para bairrismos tolos, porque há milhares que questões pertinentes a responder, a mais importante das quais é: terá o “milagre económico” de Putin pés de barro? E se sim, porque é que continua no poder?

António Campos

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro António Campos, estou completamente de acordo com a sua análise.

Pippo disse...

Então as condições de vida na Rússia pioraram desde 1990?

Já agora, Antonio Campos, onde é que viu que o PIB russo estava ao nível do Uruguai? Em 2008 o PIB-PPC russo estava logo abaixo da Alemanha (dados do FMI e BM).

Anónimo disse...

Ele está a referir-se ao per capita da Rússia é o mesmo do Uruguai. O mesmo de 20 anos atrás.

Ele tem razão em parte ao dizer sobre as condições de vida do povo russo, houve melhora apenas da renda enquanto outros indices estagnaram-se. O que indica que a melhora económica não esteve a fazer melhoras nos serviços públicos.

A Urss estava entre os 30 países com os melhores IDH até 1990, hoje a Rússia já não figura nem entre os 70 melhores. É um facto, infelizmente!
Putin não esteve a fazer nada de bom pela Rússia, quem fez algo de bom foi o ouro negro (leia-se petróleo).

Pippo disse...

Foi lapso meu. Uma semana de trabalho intensivo dá nisto :o)

A minha pergunta era se as condições de vida na Rússia tinham piorado desde 1999.

MSantos disse...

António Campos, a minha percepção pessoal é que nós países ocidentais já fomos mais democráticos do que fomos em tempos, em particular nos anos 80.

Mesmo assim havia alguma moralidade e recordo-me que era impossível casos como o ajuste directo da LISCONT, existir um governo em funções com o peso da suspeita do FREEPORT (ou será FREEPOR?) ou algum ministro armar-se em esperto com assuntos de sisa e outros. Poder podiam mas eram logo corridos no dia seguinte.

Sobre o que apontam aos líderes russos como já afirmei, estou totalmente de acordo com o que referem, mas a minha opinião é que também não se pode cair no simplismo de negligenciar os tradicionais factores culpados que na prática revelam-se totalmente impeditivos.

Se o são em Portugal (ex: a velha questão cultural do tio cunha, corrupção, tráfico de influências etc) e são autênticos monstros que paralisam tudo, não quero imaginar estes e outros tantos num país como a Rússia.

Pelo que me apercebi, os líderes russos estão mais ou menos conscientes dos problemas endémicos mas como que são ou querem ser impotentes perante o trabalho colossal que teriam pela frente.

Um exemplo é eles já se terem percebido que os oligarcas são uma cambada de incapazes e inúteis que nem uma loja de rebuçados seriam capazes de gerir quanto mais dinamizar a economia russa.

Como o António parece conhecer bem o país, deixo-lhe a pergunta que também pode ser extensível ao José Milhazes de qual seria a alternativa ao presente governo se é que ela existe no panorama político russo.

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

Apenas mais uma questão: se a GAZPROM é responsável por 10% do PIB russo, inclui também os resultados líquidos da venda do petrólio/gáz?

Se sim tinha ideia que o peso seria significativamente maior.

Cumpts
Manuel Santos

Anónimo disse...

O leitor anónimo das 17.39 acertou no ponto. As rendas efectivamente aumentaram. Quanto ao resto, talvez o melhor seja citar uma série de dados do relatório “Putin: os resultados”, escrito por Boris Nemtsov e Vladimir Milov, publicado em finais do ano passado, deixando aos leitores a tarefa de decidir.

Não surpreendentemente, esta publicação foi virtualmente censurada na Rússia.

Durante a presidência de Putin, a extensão total de estradas pavimentadas efectivamente diminuiu em cerca de 50.000 km; neste momento, a extensão de estradas na Rússia é 60% da da França, metade da do Japão e um décimo da dos Estados Unidos (em termos absolutos). A proporção de estradas em mau estado era de 26% em 2000 e passou para 46% em 2005, ainda que o orçamento para reparações tenha subido quase quatro vezes.

Entre 1992 e 2000, o decréscimo da população foi de 2 milhões; entre 2000 e 2006, foi de 3,5 milhões.

A expectativa de vida do homem russo é de 59 anos e o número de mortes por doenças infecciosas e cancro não diminuiu durante o reinado de Putin; as mortes por doenças do tracto digestivo aumentaram 80%.

As mortes por causas externas são duas vezes mais elevadas do que na China ou no Brasil e 4-5 vezes mais elevadas do que nos países ocidentais.

A Rússia está agora no top-10 mundial do número de assassínios; as taxas de incidência criminal, que estavam a descer na segunda metade da década de 1990, estão de novo ao nível dos piores anos da década de 90 (1994-1995). Tudo isto apesar do aumento de quase 10 vezes do orçamento para as forças de segurança entre 2000 e 2006.

O número de crimes contra o indivíduo subiu 170% relativamente ao ano 2000.

O número de mortes na estrada subiu 60% relativamente ao ano 2000.

Apesar dos petrodólares, o fundo de pensões estáencontra-se deficit profundo: em 2007 era de 88,2 mil milhões de rubos, em 2009 será de 251,4 mil milhões.

O valor da pensão média é de 162 dólares.

O rácio entre a pensão real média e o salário médio era de 33% em 2000, descendo para 24% em 2008;

Mais de 20% das queixas contra o estado junto do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos têm origem na Rússia; em mais de 90% desses casos, o Estado perdeu.

Em 2007, as despesas orçamentadas para a saúde e a educação constituíam 9% do orçamento de estado. Em 2009 serão de 7,5%

Os custos do aparelho burocrático e de segurança estatal passaram de 4 mil milhões de dólares em 2000, para 39 mil milhões em 2008 (3 vezes o montante atribuído à totalidade dos “Projectos Nacionais”). Existem agora mais de 600.000 funcionários públicos.

Projecto Nacional Saúde: de acordo com um inquérito levado a cabo pelo Levada-Center, apenas 14% dos inquiridos se mostraram satisfeitos com os cuidados de saúde, enquanto que 72% pensam que a situação está na mesma ou pior.

Projecto Nacional Casa Acessível: o custo de um apartamento standard de 54 m2 subiu de 4,3 anos o rendimento médio de uma família em 2005 para 5,3 anos actualmente.

Projecto Nacional Agricultura: o crescimento da actividade agrícola na Rússia é o mais baixo de todos os países da CEI (2%); 45% dos alimentos consumidos na Rússia são importados; em 2004, essa percentagem era de 20%.

O salário médio mensal nominal em Moscovo é de 20 mil rublos; no Daguestão, o salário médio é de 4500 rublos; em menos de um terço das regiões, a média é igual ou superior ao salário médio na totalidade do país (11000 rublos/mês); em 4-5 regiões da Rússia, a população tem um nível de vida comparável ao ocidental. Nas restantes, o nível de vida é semelhante ao do México.

Anónimo disse...

(Parte II)

Durante o reinado de Putin, o número de PMEs, os motores das economias desenvolvidas, não aumentou. Encontra-se estacionário em 7 empresas por 1000 habitantes; Na EU, o número é de 45 por 1000 habitantes, enquanto que no Japão o número é de 50 e nos EUA de 75.

O salário médio russo subiu de 80 dólares por mês em 2000 para mais de 400 actualmente. Em contrapartida, o número de bilionários subiu exponencialmente: em 2000, a lista Forbes não tinha um único russo. Em 2007, esse número era de 53, com uma fortuna avaliada em 282 mil milhões de dólares.

Apesar das imensas receitas da venda directa dos hidrocarbonetos, o crescimento do PIB russo, antes da crise económica mundial, era um dos mais baixos de toda a CEI; em 2000, a taxa de crescimento era a segunda. Aliás, este crescimento é o mesmo de 1999, antes de Putin subir ao poder e dos preços do petróleo terem disparado nos mercados internacionais.

António Campos

Anónimo disse...

Caro Manuel Santos, o problema é que agora os oligarcas são o governo!

Relativamente aos 10% do PIB da Gazprom, este é o valor correspondente a 2008. Nesse ano a empresa produziu 550 mil milhões de metros cúbicos de gás, 32 milhões de toneladas de petróleo e 11 milhões de condensados (GPL e similares). Tendo em conta que cerca de 35% do PIB russo deriva da venda directa de hidrocarbonetos em geral, e que o crude tem também um peso muito significativo nas exportações, diria que o valor está mais ou menos em linha com o esperado. No entanto, dada a natureza obscura das ramificações de propriedade das empresas de hidrocarbonetos russas (é extremamente difícil estimar quem é realmente dono do quê), a resposta poderá ser mais complicada. Seja como for, 10% do PIB teriam sempre que envolver a venda directa de hidrocarbonetos.

Quanto à solução: lembro-me que Putin afirmou no início do seu primeiro mandato, se não estou em erro, qualquer coisa como: “só aceitamos uma ditadura: a ditadura da lei”. Ora bastava seguir tal afirmação à letra.

Em boa verdade, a expressão “niilismo legal” criada por Medvedev quase 10 anos depois da chegada de Putin ao poder deveria ser suficiente para mostrar que o reinado foi um falhanço total que as próximas gerações pagarão muito caro.

António Campos

Anónimo disse...

Quanto a alternativas, é difícil de dizer porque não existe actualmente uma sociedade civil funcional que gere talentos políticos com verdadeiras oportunidades governativas.

Na qualidade de observador externo, parece-me que Boris Nemtsov poderia ser um bom presidente. É um liberal com profundos conhecimentos da economia e parece que o seu posto como governador da região de Nizhny-Novgorod, no qual liderou uma série de reformas económicas foi um relativo caso de sucesso.

É também um candidato que chegou a reunir um significativo apoio popular, ainda que tenha sido indirectamente desacreditado após o crash de 1998, quando exercia funções de vice primeiro ministro responsável pela reforma do sector energético. Creio no entanto que esse descrédito foi injusto.

António Campos

Pippo disse...

Mantenho a minha pergunta:

Onde é que está publicado que o PIB russo está ao nível do Uruguai? Em 2008 o PIB-PPC russo estava logo abaixo da Alemanha (dados do FMI e BM)...

Os dados referidos constam em que publicação?

MSantos disse...

"ainda que tenha sido indirectamente desacreditado após o crash de 1998, quando exercia funções de vice primeiro ministro responsável pela reforma do sector energético"

Provavelmente foi isso que o fez abandonar a crença cega no neo-liberalismo (mantendo-se liberal) e também passou a ver as "ajudas em exprimentações económicas" vindas do Ocidente, com outros olhos.

Talvez seja esse ponto de equilíbrio que o possa tornar no homem indicado, de facto.

Cumpts
Manuel Santos

Anónimo disse...

Caro Manuel Santos, o fracasso das reformas liberais dos anos 90 na Rússia não teve que ver com as reformas em si. O problema foi que as mesmas foram realizadas sem o devido enquadramento legal. E quando não há lei e/ou forma de a fazer cumprir, surgem sempre oportunistas que se aproveitam da situação.

Ainda que tenham cometido diversos erros de palmatória, o grupo de Gaidar e Chubais era, na minha opinião, basicamente bem-intencionado. Infelizmente, confiaram demais nas capacidades de auto-regulação dos mercados (ou seja, após um período caótico de transição, as coisas vão automaticamente ao lugar) e, antes do crash de 1998, decidiram associar-se aos oligarcas numa tentativa de assegurar a sua sobrevivência política (que, pensavam eles, lhes daria tempo para levarem as reformas até ao fim). Tal fez a sua independência ir por água abaixo.

Depois, se adicionar à sopa um grupo de bancos de investimento americanos que via nas privatizações da Rússia uma oportunidade de fazer (muito) dinheiro fácil, aproximamo-nos da receita para o desastre que aconteceu.

Após a crise económica deste ano, não creio que alguém, no seu juízo perfeito, ainda advogue excessivo liberalismo e desregulamentação nos mercados financeiros. A tendência é para mais apertadas regulamentação e supervisão, para o fim dos paraísos fiscais e, o que resulta sempre bem politicamente, para a inversão da deslocalização da produção em países com mão de obra barata. As leis da concorrência e dos conflitos de interesses estão também a ficar mais apertadas.

Veja o que acaba de acontecer com a Porsche. Se tivesse acontecido o mesmo na Rússia nos anos 90, muitas das desgraças que então aconteceram não teriam acontecido.

António Campos

MSantos disse...

Esse modelo de expriências económicas de choque causou muitos estragos aonde foi aplicado, e não só na Rússia. Outros países de leste também sofreram.

Todos os economistas verdadeiramente bem intencionados abandonaram esse modelo por muito partidários que fossem no início.

É por isso que o velhinho Keynes, Samuelson e cia estão a destronar Friedman, Sachs e cia.

Foram as medidas keynesianas embora à escala global que salvaram o mundo de uma nova depressão.

Está defenitivamente provado que qualquer sistema humano quando deixado em roda livre, forçosamente descamba.

Cumpts
Manuel Santos

Anónimo disse...

"Esse modelo de expriências económicas de choque causou muitos estragos aonde foi aplicado, e não só na Rússia. Outros países de leste também sofreram."

Sim e que países? pode apresentar casos concretos?

Que eu saiba também trouxe muito progresso económico e muitas multinacionais puderam establecer-se e obter lucros consideráveis.
E isso não prova o triunfo do keynesianismo sobre o mercado livre pois este ainda vai voltar e em força. A crise vai ser vencida.

Anónimo disse...

Caro Manuel Santos, mais uma vez, o modelo das reformas económicas não teve nada que ver com o fracasso do "capitalismo" na Rússia nos anos 90. A menos que ao total e impune desrespeito pela lei decidamos chamar "excessivo liberalismo".

Aliás, é essa a falácia que muitos russos engolem ao confundirem uma coisa que mais se assemelha ao Wild West americano com capitalismo e democracia.

Sem a implementação dos mecanismos que assegurem uma sociedade civil funcional, QUALQUER modelo económico está destinado ao fracasso. Se tivéssemos que inventar um nome para definir as experiências capitalistas russas dos anos 90, acho que "vale-tudo, até arrancar olhos" seria um adjectivo adequado. Modelos keynesianos sem sociedade civil iriam dar exactamente ao mesmo.

António Campos

MSantos disse...

Se o caro anónimo se dignar a estudar o que aconteceu na Polónia, em que inicialmente Lech Walesa abraçava tudo o que vinha do Ocidente ficando por fim a ser mais um ilustre desiludido.

Informe-se também sobre Jeffrey Sachs um ilustre "guru" responsável por vários "milagres" económicos mais concretamente no aconselhamento em países como a Bolívia e Polónia onde aplicou as suas doutrinas do choque (leia-se: aproveitar situações caóticas para impor reformas económicas que de outra forma seriam inconcebiveis de aceitar pelas populações).

O Sr Sachs é um bom orador e documenta de uma forma muito atractiva as suas expriências ("O fim da pobreza", "Comon Wealth")mas omite sempre os gigantescos dramas humanos e as mazelas que ficam nas economias por onde passa. Aquilo que no Ocidente se passou educadamente a designar por danos colaterais.

Nos anos seguintes à expriência de Sachs, a Polónia não viveu uma crise mas sim uma depressão no sentido técnico do termo com 30% de quebra na produção industrial e desemprego nos 25% (um quarto da população activa). Tudo isto só foi melhorado nos últimos anos devido à implementação de outras políticas mais regulamentadoras do mercado.

E na economia não basta só ver o bem estar das empresas e das corporações. É necessário avaliar paralelamente o bem estar dos cidadãos. Caso contrário a existência só da primeira condição vai conduzir forçosamente ao colapso.

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

António Campos, a natureza das ditas reformas implicava a total ausência de regulamentação e controlo. Lembre-se que tudo aquilo foi patrocionado pelos gurus ocidentais como aquele que eu referi no post anterior (aliás também aqui ele foi protagonista).

Essa é a grande incongruência entre neo-liberalismo e Estado de Direito mas há muita gente que se recusa a encarar este facto.

Gaidar e Chubais fizeram entradas de leão e tiveram saída de gatinho e a Rússia ficou com uma crise económica brutal por controlar. Embora o não admitam abertamente, muitos deles deixaram de acreditar neste modelo.

Com a devida regulamentação e legislação nunca nada disto poderia ter sido feito.

Mikhail Gorbachov tinha por sonho constituir um processo de 15 a 20 anos em que misturava mercado livre, mantendo indústrias chave sob o controlo público. O objectivo final era constituir uma sociadade social-democrata e liberal baseada no modelo escandinavo que ele na sua interpretação muito própria designava "o verdadeiro farol socialista para toda a humanidade".

Mas infelizmente a sede de "democracia" foi grande, e hoje a Rússia não é mais que o produto destas expriências resultantes do oportunismo de Ieltsin. Mesmo até o tão censurado Putin não passa dum produto disso mesmo.

Mas obviamente e como sempre e no meio de algumas verdades referidas isto é só a minha opinião.

Cumpts
Manuel Santos