domingo, setembro 20, 2009

Terrorismo não poupa líderes religiosos muçulmanos


Dois agentes do centro de combate ao terrorismo do Ministério do Interior da Inguchétia, república do Cáucaso do Norte russo, foram hoje assassinados a tiro, tendo um terceiro sido ferido com gravidade.
“”Desconhecidos atacaram a tiro um automóvel na estrada federal “Kavkaz”, que transportava agentes do centro de luta contra o terrorismo do Ministério do Interior da Inguchétia. Dois agentes morreram no local e um foi hospitalizado com ferimentos”, informa a agência Interfax, citando fontes da polícia.
Na Karacthaievo-Tcherkéssia, outra república do Norte do Cáucaso, desconhecidos assassinaram a tiro Ismail Bostanov, conhecido teólogo muçulmano.
“O assassinato do dirigente espiritual teve lugar de manhã na cidade de Tcherkess. O seu automóvel estava parado perto de um semáforo quando foi atacado a tiro por desconhecidos. Ismail Bostanov faleceu e o seu filho foi ferido e internado num hospital”, informa a polícia de Karatchaievo-Tcherkéssia.
Segundo a polícia, uma das possíveis causas do assassinato de Bostanov, vice-presidente da Direcção Espiritual dos Muçulmanos de Karatchaevo-Tcherkéssia e Stavropol, reitor do Instituto Islâmico, teria sido as suas críticas ao wahhabismo, corrente radical do Islão.
“Durante as investigações, um dos motivos fundamentais do assassinato de Ismail Bostanov é o facto de ele ter combatido activamente o wahhabismo na região”, declarou Nikolai Ossiak, ministro do Interior da Karatchaievo-Tcherkéssia.
Bostanov foi assassinado no dia em que os muçulmanos celebram a festa de Eid-ul-Fitr, que marca o fim do Ramadão, uma das duas grandes festividades do calendário do Islão.
Nos últimos, o Cáucaso do Norte tem assistido a uma forte onda de terrorismo, ligado a movimentos separatista de cariz islâmico radical.

12 comentários:

Pippo disse...

Corrigir "Nos últimos [tempos? anos?], o Cáucaso do Norte".


Depois de formar núcleos de guerrilha, a insurgência tem de criar um "muro" entre a população e as autoridades. Para isso é necessário que os quadros políticos/religiosos do Governo sejam eliminados, abrindo assim espaço para a insurgência poder operar sem oposição, "trabalhando" o povo que é o seu alvo.

Dadas as características sociais dos caucasianos (muçulmanos, muitos deles piedosos) e o tipo de guerra (separatista-nacionalista/religiosa), os clérigos são alvos prioritários para os radicais, isto porque são eles, mais do que as autoridades temporais, quem pode desviar as massas das correntes extremistas que a guerrilha procura implantar no seio do povo.

anónimo russo disse...

Pippo disse...
Corrigir "Nos últimos [tempos? anos?], o Cáucaso do Norte".


"Depois de formar núcleos de guerrilha, a insurgência tem de criar um "muro" entre a população e as autoridades. Para isso é necessário que os quadros políticos/religiosos do Governo sejam eliminados, abrindo assim espaço para a insurgência poder operar sem oposição, "trabalhando" o povo que é o seu alvo.

Dadas as características sociais dos caucasianos (muçulmanos, muitos deles piedosos) e o tipo de guerra (separatista-nacionalista/religiosa), os clérigos são alvos prioritários para os radicais, isto porque são eles, mais do que as autoridades temporais, quem pode desviar as massas das correntes extremistas que a guerrilha procura implantar no seio do povo."

Acho que não é preciso dar uma importáncia excessiva ao fator religioso. È por isso que não acredito muito em algum futuro para os movimentos radicais religiosos-separatistas, desde que o crescimento economico da Rússia continue (o que acho inevitavel). No maximo os atos terroristas, utilizando jovens kamikaze de uns 18-19 anos, como acontece agora.

Roman disse...

Eu sou do Cáucaso. Aquela gente é mesmo complicada, sim senhora. Mas realmente há poucos radicais, aliás patrocinados do estrangeiro, (geralmente).

Pippo disse...

Isso é interessante, Roman. Provém de que zona do Cáucaso? Diz que a gente por lá é complicada em que sentido?

Se me disserem que o islamismo tem poucas hipóteses na Ásia Central, acredito, pois a influência estrangeira é fraca e os povos turcos, islamizados sob os esforços dos sufis (sobretudo da confraria Naqshbandiyyah), não são muito dados a excessos jihadistas.

Os caucasianos também sofreram forte influência dos sufis, os quais se opõe, ontem como hoje, aos salafitas (wahabitas). Contudo, o sufismo checheno, por exemplo, está associado a uma ideia de resistência, quer aos russos, quer até à autoridade estatal, o que não é de espantar pois, segundo o Islão mais puro, a política é inerentemente "impura" (e olha que eles até têm razão!).

Contudo, as alianças políticas com as tariqas é prática corrente na Chechénia. Os Kadirov, por exemplo, são aliados de uma destas irmandades (penso que a Naqshbandiyyah, mas posso estar enganado).

O assassinado, Ismail Hadji Bostanov, era descrito pelos rebeldes chechenos como um "murtad" (apóstata) e "inimigo de Allah", que prosseguia políticas anti-islâmicas.

Os principais líderes religiosos russos (O Conselho dos Muftis da federação Russa, o Patriarca Ortodoxo Kirill e o Rabi Berl Lazar condenaram veementemente este ataque.

Roman disse...

Sou da cidade de Maykop, que é a capital da república caucasiana Adygueia. A nação titular - adygues (circassianos) que contam ~25% da população da república. Temos também muitos arménios (instalados há muito), chechenos, inguches, daguestanianos (geralmente estudantes). O desenvolvimento económico está bastante fraco, devido às mesmas causas das outras repúblicas caucasianos - clãs, corrupção, incompetência. As pessoas (uma determinada parte, aliás bastante grande) são muito violentes, criminosas, desrespeitosas, nacionalistas e, dizendo sinceramente, estúpidos. Também são muito bem formadas fisicamente (temos muitos campeões de luta, boxe e etc.). P. ex. só numa aldeia (aúl) circassiana Panakhes há 160 atletas profocionais. São conciderados musulmanos, mas realmente não os são verdadeiros. Não fazem "namaz" e muitos até comem porco, embora as escondidas. Portanto, dizendo a sério, quase não há radicais religiosos. Nas repúblicas vizinhas Karacháevo-Cherkéssia e Kabardino-Balkária a situação é quase a mesma. Ossétia do norte pratica cristianismo ortodoxo, por isso tb não tem radicais, só que tem conflitos velhos com Ingushétia. Esta última já é outro caso diferente, tanto como Chechénia e Daguestão. São repúblicas mesmo islámicas e efectivamente têm muitos problemas de radicalismo. Mas as causas principais são as mesmas, já acima mencionadas. E mais o desemprego quase total. É porque aquela gente não está habituada de trabalhar. Imagine só, há 10 anos atrás, quando Chechénia estáva de facto "independente", lá havia a crua escravidão e "justiça" de chariate. Os métodos principais de ganhar dinheiro eram assaltos de comboios, razias para regiões vizinhas com intento de cativar os escravos e o gado, venda das drogas, controlo mafioso dos bazares, impressão das moedas falsas e etc. Claro que hoje em dia os investidores não querem investir nestes “oásises”. Acho que a razão económica é principal para formação do extremismo, mas que tb se aplica às religiosas e étnicas. Também não se pode esquecer da influência estrangeira.

anónimo russo disse...

Pippo disse...
Isso é interessante, Roman. Provém de que zona do Cáucaso? Diz que a gente por lá é complicada em que sentido?

Se me disserem que o islamismo tem poucas etc..."

Pippo, no fundo não são muito religiosos e não vivem para allah, mas para si. È a ideia que tenho deles. A gente lá é complicada no sentido de que nem sempre é facil comunicar com eles.
Eu, pessoalmente, nunca estive na Tchetchenia, mas, uma vez, numa conversa com a pessoa que lá esteve, eu disse, que, deve ser, não bebem alcool. Aquela pessoa só sorriu em resposta e me sugeriu a perguntar aos nossos conhecidos comuns, até parentes meus, uma família que viveu muito tempo em Grozni sobre isso. Por isso não ficarei surpreendido se voce entende melhor no islão que algum daguestanense ou tchethceno (estou a exagerar). Para os tchetchenos, segundo eu entendo, muito mais valem os laços de sangue e as tradições que qualquer religião (não estou a falar de alguns jovens radicais).

Pippo disse...

"Para os tchetchenos [...]muito mais valem os laços de sangue e as tradições que qualquer religião".

Sim, é sabido que entre os povos daquela região as ligações familiares são muitíssimo importantes. Como ficou demonstrado, as filiações no campo religioso podem mudar, já que políticos chechenos houve que trocaram alianças com irmandades sufis por alianças com salafitas, e novamente para sufis. Mas os laços familiares entre os povos das montanhas são realmente muito fortes.

Roman, é de Maykop? Interessante. Esse foi um dos alvos dos alemães na 2ª GM e que determinou o seu erro em Estalinegrado (como forma de dominar o Norte do Cáucaso).
Referiu os arménios... são um povo estraordinário! Existem há mais de 2000 anos, foram dos primeiros a abraçar o Cristianismo e estão em todo o lado! Comparáveis a eles só mesmo os judeus, os gregos e... os portugueses, pois claro! Nós somos bem mais moderns mas também estamos em todo o lado :o)

É igualmente curioso referir a capacidade física dos caucasianos. De facto, Azeris, Arménios e afins são muito virados para os desportos de força bruta (vários campeões de halterofilismo, etc.). Qual será a razão para isso? Alimentação? Ou serão os ares?

A questão do consumo do alcool é controversa. O Alcorão (Quran) não o proíbe, mas desaconselha, pois entorpece os sentidos e altera o estado mental. Já o consumo do porco, isso´sim, é mesmo proibido, é haram.
Creio que muita dessa maltinha fanática sofre de três problemas:
1 - não sabem árabe (e tanto o Alcorão como a Hadit são em árabe);
2 - não sabem nada da sua religião, seguindo ao invês o seu "guia" e tudo aquilo que ele lhes diz;
3 - têm propenção para a violência.

Com estas características, só mesmo uma sólida, sábia e permanente educação social e religiosa é que pode travar a expansão do extremismo religioso. Creio que é isso que o Conselho dos Muftis da Federação russa pretende fazer, mas por vezes pagam o preço, como aconteceu neste caso.

Ab,

anónimo russo disse...

Pippo disse...

"É igualmente curioso referir a capacidade física dos caucasianos. De facto, Azeris, Arménios e afins são muito virados para os desportos de força bruta (vários campeões de halterofilismo, etc.). Qual será a razão para isso? Alimentação? Ou serão os ares?"


Eu acho que, em primeiro lugar, o Roman está a referir-se aos caucasianos do Caucaso do Norte, e não aos arménios e azeris. Há uma grande diferença, ao meu ver, entre a mentalidade dos arménios e de alguns dos povos do Caucaso do Norte.

Mais uns factos interessantes sobre tchetchenos e o islão

1. O primeiro presidente separatista tchethceno, que ocupava esse cargo quando começou a primeira guerra, Djohar Dudáev, foi general (!) do Exército Sovietico e, no seu tempo, sendo piloto militar, bombardeava tranquilamente o Afeganistão islamico, pelos vistos, sem grandes remorsos.
2. O segundo presidente, Aslan Maskhádov (este já pouco poder tinha) foi tenente coronel do exército sovietico.
3. Um dos separatistas mais famosos e ainda vivos (vive em Londres), Zakáev, foi ator do teatro soviético em Grozny.

A minha opinião pessoal é que todo aquele movimento separatista do início dos anos 90 muito pouco ou nada tinha a ver com a religião.
Embora, sim, apareceram logo os "lideres religiosos", a maioria veio do estrangeiro.

Pippo disse...

Bem, o Dudayev provavelmente ligava tanto à religião como o meu cão. Enfim, talvez até menos. Ele era nacionalista e tão só e apenas isso.
Penso que o Zakayev não esteve, pelo menos directamente, ligado ao atentado no teatro onde apresentavam o Nord-Ost.

A sua opinião coincide com a minha: o que começou como mero separatismo nacionalista rapidamente adquiriu, por motivos políticos, o carácter de Jihad, e depois foi a guerra religiosa que "substituiu" a política, muito por influência dos islamitas estrangeiros e de quem os apoiava.

anónimo russo disse...

Pippo disse...
"Bem, o Dudayev provavelmente ligava tanto à religião como o meu cão. Enfim, talvez até menos. Ele era nacionalista e tão só e apenas isso.
Penso que o Zakayev não esteve, pelo menos directamente, ligado ao atentado no teatro onde apresentavam o Nord-Ost.

A sua opinião coincide com a minha: o que começou como mero separatismo nacionalista rapidamente adquiriu, por motivos políticos, o carácter de Jihad, e depois foi a guerra religiosa que "substituiu" a política, muito por influência dos islamitas estrangeiros e de quem os apoiava."


Em geral, sim. Mas eu não estou disposto a dar demasiada importáncia ao fator religioso nas Repúblicas em questão. E é exatamente por isso que não acredito que esses movimentos (se há movimentos, e não sómente grupos extremistas) tenham um futuro sério. Quanto à Tchetchenia, toda essa construção ativa das mesquitas etc, promovida por Kadirov, segundo me parece, é uma tentativa de criar ou encontrar alguma ideia nacional thcethcena.

Por sinal, eu até posso compreender em parte as ideias de Dudaev, era a ápoca do fim da União Soviética, muitos pensavam que bastava só ficar independentes e logo se tornavam um país próspero etc. Tanto mais que os tchetchenos sofreram na época de Estaline etc.

Roman disse...

Pippo disse...

o que começou como mero separatismo nacionalista rapidamente adquiriu, por motivos políticos, o carácter de Jihad, e depois foi a guerra religiosa que "substituiu" a política, muito por influência dos islamitas estrangeiros e de quem os apoiava.

É exactamente isso que aconteceu.

Pippo disse...

O Dudayev só fez aquilo que quase toda a gente fez: a URSS (e a Rússia) estavam em processo de implosão, o poder estatal federal era fraco ou nulo, e havia todas as condições para ele decretar a independência da Chechénia. Aliás, o homem penso que já tinha tido uma experiência de nacionalismo na Estónia, ou algo assim do género, e viu como as autoridades soviéticas já não tinham capacidade e vontade para impôr o seu poder.
Portanto, ele agarrou a oportunidade, nada mais.

Estivesse eu nas mesmas circunstâncias, e se fosse um homem corajoso, faria o mesmo. Ou então, também nas mesmas condições e com a mesma coragem, quem sabe, optaria pela Rúussia, tal como fez o Said-Magomed Kakiyev.