quarta-feira, março 10, 2010

Aquisição de armamentos estrangeiros provoca forte discussão na Rússia.

O Governo da Rússia considera ser “normal” a aquisição de armamentos no estrangeiro, mas a oposição comunista considera essa decisão “perigosa” e apela à “espionagem tecnologógica”.

“A Rússia comprou sempre determinado material de guerra a outros países e não vejo nada que nos impeça de fazer isso hoje”, declarou Serguei Ivanov, vice-primeiro-ministro do Governo russo, ao justificar, na câmara baixa do Parlamento, a possível aquisição de porta-helicópteros franceses Mistral por Moscovo.

“Não tem nada de vergonhoso comprar determinadas armas a outros países se a Rússia não as pode produzir agora”, acrescentou ele, sublinhando que “na indústria militar russa, utilizamos 65 por cento de peças estrangeiras e, nos sectores civis, até 90 por cento”.

Moscovo adquiriu aviões não pilotados a Israel depois da guerra com a Geórgia, em Agosto de 2008, e prepara-se para comprar quatro porta-helicópteros Mistral a França.

A deputada comunista, Svetlana Savitskaia, antiga cosmonauta soviética, considerou que “isso irá reflectir-se negativamente na capacidade defensiva da Rússia”.

“Nós desaprendemos a produzir armamentos? Se não sabemos alguns segredos que outros países detêm, para isso temos a espionagem militar e técnica. Encarreguem-na disso, senhores do Governo”, propôs ela respondendo a Ivanov.

O general na reserva Leonid Ivachov, presidente da Academia dos Problemas Geopolíticos, considera que “esses navios são para passeio, não são militares, não estão protegidos com meios de defesa anti-aérea”, acrescentando que “não se compreende quem ganha com essa política”.

Anatoli Tsiganok, dirigente do Centro de Prognóstico Militar, considera que o navio francês não serve para a realização de operações de desembarque de tropas, como alega o Ministério da Defesa da Rússia, e sublinha: “algum dos funcionários públicos recebeu um grande suborno”.

12 comentários:

Pippo disse...

"Anatoli Tsiganok (...) considera que o navio francês não serve para a realização de operações de desembarque de tropas(...)."

Acho estranha essa afirmação quando os navios da classe Mistral são, precisamente, Porta-aviões de ataque, especialmente concebidos para o apoio a operações anfíbias. A USN tem navios similares da classe Tarawa.

É discutível a necessidade da Rússia em ter este tipo de embarcações, já que não tem grande necessidade de projecção de força para cenários longe do "estrangeiro próximo", mas de modo nenhum poderemos questionar as capacidades deste tipo de navios.

HAVOC disse...

Totalmente positiva a aquisição dos navios de comando da Classe Mistral pela Rússia. Realmente, os estaleiros russos na Península de Kola estão precisando assimilar novas tecnologias para que possa ser cumprido a meta, divulgada á 3 anos atrás, de dotar a Marinha Russa de 4 Porta-Aviões

Caso vocês não saibam, a aquisição destes navios franceses visa o conhecimento sobre a tecnologia ocidental, com relação ao casco do navio, aos sistemas integrados, para capacitar os estaleiros russos á iniciarem a construção destes porta-aviões...

A Rússia logo terá que substituir o grande Admiral Kuznetsov, que cumpriu a sua missão com ternura, patrulhando o Mar do Norte. Para isso, os estrategistas russos decidiram que a melhor solução seria adquirir tecnologia naval externa, para assimilar o "Know How" e assim transferir esta tecnologia para seus novos porta-aviões.

Realmente, é triste o estado atual dos estaleiros russos, pois, por falta de investimentos, acabaram ficando defasados e a tecnologia usada hoje, por exemplo, nos navios fragatas de classe NEUSTRASHIMY, sendo os últimos á serem incorporados pela Marinha Russa.

Porém meus amigos, a defasagem russa na construção de navios de guerra é apenas nas suas estruturas, pois seus sistemas bélicos continuam na "Ponta de Lança"!!

Vocês alguma vez já ouviram falar nos canhões navais AK-130?? E nos C.I.W.S da classe AK-630? E nos C.I.W.S da classe KASHTAM? Estes sistemas possuem um poder de fogo diabólico, muito mais poderosos que os similares americanos, como o PLANAX CIWS...

E é exatamente por isso que estes novos navios da classe MISTRAL estão vindo sem sistemas bélicos, pois será muito mais poderoso com estes sistemas russos no qual eu me referi!

Esse URSO deve ainda ser levado a sério. Em qualquer lugar, á qualquer hora!!!

Não brinquem com os russos!

Jorge Almeida disse...

É curioso que nenhum dos "especialistas militares" que comentam neste blogue, designadamente o Alone Hunter (mas não só), ainda não tenham vindo comentar esta mensagem.

Tenho para mim que Anatoli Tsiganok é que acertou com a estória do suborno a algum funcionário

PortugueseMan disse...

Hum, há mesmo forte discussão na Rússia ou são apenas os comunistas que estão a fazer barulho?

Quanto à espionagem...

Bom, acho que a Rússia ganha uns pontos em fazer negócios com a França do que andar a espiar e minar as relações entre os dois, para isso já basta o desgaste causado por espionagem dos EUA à França.

Há aqui muito mais do que comprar material.

É importação de tecnologia, é dividendos políticos, estamos a falar de compra de armamento a um membro da NATO.

O que abre a porta a que membros da NATO adquiram também armamento russo, como a Grécia faz por exemplo.

Será que os comunistas também reclamam pelo o facto da Sukhoi estar a fazer um avião civil em parceria com os franceses? se calhar também reclamam...

Bom deveria ser isolar a Rússia do resto do mundo pelos vistos.

Jest nas Wielu disse...

2 PortugueseMan

Hoje tocaste um ponto importante, os comunistas (russos e não só), acham perfeitamente nornal roubar as coisas dos outros (expropriação dos expropriadores), mas já levam muito mal, quando eles próprios são forçados a devolver os bens roubados.

E como alguns “manchas” do socialismo são coisas heriditárias, como decerto se lembra, toda aquela a vontade com que o exêrcito russo se dedicou às pilhagens na Geórgia em Agosto de 2008.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro PM, não são só os comunistas que pensam assim, por isso citei outros analistas. O problema é que isso pode levar ao enfraquecimento do complexo militar russo, que deixa de fabricar e até de investigar, e à corrupção.
No entanto, se as coisas forem bem geridas, a compra de armamentos ao estrangeiro tem aspectos positivos. Veja, por xemplo, as novas tecnologias.

PortugueseMan disse...

Caro JM,

...O problema é que isso pode levar ao enfraquecimento do complexo militar russo...

Não vai. Não temos estaleiros às moscas, temos estaleiros em actividade. Actualmente está muita coisa em actividade e a ser produzida.

Se me disserem que a Rússia vai comprar 4 bichos destes à França onde apenas vai dar o dinheiro e recebe os 4 com fita de embrulho, aí concordo que para um país produtor de armamento como a Rússia é, não faz sentido nenhum.

Agora, encomendar 4, onde 2 ou três têm que ser feitos na Rússia a música é outra. Depois dos russos verem como os franceses constroem um, vão ter que aplicar as novas metodologias na Rússia e ver quanto tempo e como sai um feito lá.

O que vai ser interessante, pois o estaleiro que fôr selecionado para construir os restantes, terá que mostrar que os faz tão bem como os franceses e no mesmo espaço de tempo.

No final, os russos vão absorver novos conceitos e integrar nos seus o que traz mais valias.

A Rússia produz todo o tipo de material, não é por comprar uns "Mistrais" que vai significar que estão a abandonar o desenvolvimento.

Se formos fazer uma lista do que têm andado a desenvolver, dá para perceber bem, que é dos sectores onde mais investimento e dinheiro tem caído.

Eles estão com muito armamento novo, e temos fábricas a ser modernizadas com material de ponta. E com material de ponta, digo com o melhor que existe seja ele russo ou não.

E faz sentido. Se num determinado produto a Rússia, já consegue produzir com a qualidade requerida em alguns segmentos, não vai prejudicar TODO um produto só porque não domina um dos segmentos. Se esse segmento russo está atrasado e precisa de mais tempo e dinheiro para evoluir, a Rússia vai buscar ao estrangeiro até ser auto-suficiente.

Em relação a analistas, não existem analistas que pensem que isto positivo tendo em vista os objectivos pretendidos?

HAVOC disse...

Para vocês avaliarem como funciona a mente dos estrategistas russos, gostaria de citar um exemplo: Ano passado, em agosto ou setembro, um AN-32, voando sobre o Mar Báltico, entrou no espaço-aéreo alemão. Levou 17 minutos para que um PANAVIA TORNADO alemão decola-se e intercepta-se o avião cargueiro russo. Isso é fato,e não foi casual, foi proposital, pois os russos estavam testando as capacidades da NATO... do tipo "Quick Reaction". E foi muito ruim!!!

Ano passado, se não me engano, um TU-160 BLACKJACK chegou á menos de 15 minutos de distancia do território britânico no Mar do Norte, e só recuou por ordens superiores. Os britânicos não tiveram a capacidade de identificar uma aeronave do porte de um TU-160 BLACKJACK e nem chegaram á lançar um avião para interceptar!!!

Isso é impressionante!!! Se fosse em uma situação de conflito real, as cidades de Lossiemouth, Elgin e a Ilha de Orkney seriam completamente varridas do mapa, dentro do envelope de alcance dos mísseis de cruzeiro RADUKA KH-55!!!

E o mais impressionante de tudo isso, é que na cidade de Lossiemouth existe uma base-aérea equipada com caças TORNADO e TYPHOON!!!

Esse tipo de coisa não tem como deixar de divulgar em massa!!!!

Com relação á aquisição destes navios franceses, eu concordo veementemente com o que relatou o tal do "Portuguese MAN", é exatamente isso. Os russos estão defasados na construção de cascos de navios, na estrutura em sim, que já incorporam novas tecnologias que os russos não possuem. E é aí que entra essa aquisiçao!!!

Não se enganem!!! Isto é a longo-prazo!!! É o mesmo que está ocorrendo agora aqui no Brasil, onde estão para ser incorporados novos caças-supersônicos, entre os F/A-18 SUPER HORNET, JAS-39 NG e DASSAULT RAFALE F3!!!

Daqui á 20 anos, nós teremos os nossos próprios caças!!! Estamos pagando por isso, e será á longo prazo!!!

MSantos disse...

"O general na reserva Leonid Ivachov, presidente da Academia dos Problemas Geopolíticos, considera que “esses navios são para passeio, não são militares, não estão protegidos com meios de defesa anti-aérea”, acrescentando que “não se compreende quem ganha com essa política”."

A visão deste general reflete bem a filosofia soviética dos anos 70/80, de construir navios híbridos como foram os Cruzadores/porta-helicópteros classe MOSKVA ou os cruzadores de aviação/porta-aviões classe KIEV/BAKU em que um só navio tinha que estar preparado para suster qualquer ataque e ser a escolta de si próprio.

Para bem deles (soviéticos) nunca puseram à prova essa recambolesca teoria.

O facto disso ainda ser defendido por essas pessoas de então, só revela a sua extrema ortodoxia dogmática. Em bom português, o general não evoluiu nada e não tem consciência do mundo em que vive.

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

Quanto ao sr Tsiganok também me parece que não está muito conhecedor do que está a falar.

Os navios do tipo do MISTRAL (LHD - Landing Helicopter Dock) possuem uma doca interna onde leva barcaças ou hovercrafts de assalto, podem inclusivé levar tropas e blindados à costa e retornar ao navio mãe para levarem mais reforços.


Além disso, este tipo de navios possui a dimensão aérea que também pode transportar tropas e/ou proporcionar poder de fogo e cobertura aérea aos fuzileiros que desembarcam na costa. Podem também servir como postos de comando, navios-hospital, providenciadores de apoio em catástrofes como é o caso de terramotos etc. Além de proporcionarem à nação possuidora a capacidade de intervir à distância não só em ataque mas em missões de paz.

Estes navios polivalentes são a grande utilidade das marinhas de guerra, hoje em dia. Antigamente este e outros modelos de menor porte existiam só nas superpotências ou grandes potências navais como é o caso do Reino Unido ou a França. A URSS tinha a classe IVAN ROGOV.

Países como a Espanha e Holanda têm navios de menor porte com esta função (classe ROTERDAM) e é ambição da marinha portuguesa também os possuir naquilo que é conhecido como o NAVPOL (navio polivalente logístico) e até neste momento há vozes a dizer que teria ajudado muito na catástrofe da Madeira.

Como tal e resumindo, a marinha russa está a ter uma postura correcta ao abordar o assunto tal como uma verdadeira potência marítima, que rompe com a tradição desfazada e soviética.

A compra tem a ver com o facto de a Rússia territorial ter perdido a capacidade de construção de navios de aviação que eram construídos nos estaleiros ucranianos do Mar de Azov.

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

Apenas mais um ponto:

Em vez de megalomanias de grandes porta-aviões sem frota de escolta e suporte à altura só para impressionar incautos, teria sido mais inteligente que os russos tivessem prosseguido com o desenvolvimento do caça de aterragem/descolagem vertical YAK-141 (que dizem as más línguas, foi através dele que os americanos desenvolveram o F-35/JSF) e nestes navios providenciarem as devidas alterações e em caso de necessidade fariam também de porta-aviões para dar cobertura aérea às frotas. Teriam então um navio completíssimo e de grande amplitude de funções.

Teria sido dinheiro melhor empregue do que em grandes porta-aviões que a Rússia não tem vocação para operar e em megacruzadores que não são mais do que grandes alvos nos radares e sonares para serem afundados.

E poderiam construir a respectiva frota de escolta com as novas fragatas GORSHKOV.

Cumpts
Manuel Santos

eleuterio disse...

Parece-me bem a aquisição de cascos de navios estrangeiros. Já as opções estratégicas são duvidosas.
Não nos podemos esquecer que os russos, a par do T-50, desenvolvem drones de combate, que são estrategicamente superiores aos meios convencionais (MIR Stark, salvo erro).
A industria naval russa não consegue suprir a marinha com os meios de suiperficie adequados. Há duas Gorshkov em construção, sendo que a marinha necessita de 10...
A opção é óbvia. Os sistemas de armamento, têm de ser russos, muito superiores aos ocidentais...