Peço desculpa aos meus leitores, por ter deixado passar sem qualquer texto o dia 27 de Maio, que as autoridades angolanas apresentam como o dia da tentativa de golpe militar de Nito Alves. Eu, pessoalmente, inclino-me a pensar que não se tratou de um golpe, mas de luta entre fracções no interior do MPLA, tal como aconteceu na URSS nos anos 30 do séc. XX.
Considero que se tratou de uma provocação de Agostinho Neto, Lúcio Lara e outros dirigentes angolanos para terem pretexto para liquidar os que consideravam os seus mais perigosos concorrentes. No fundo, pode-se comparar à forma como Estaline liquidou os seus adversários no seio do Partido Comunista.
Neste caso, Nito Alves era uma espécie de Trotski angolano.
O coronel soviético Vladimir Varganov, que prestava assistência militar ao Governo angolano nessa altura, recorda nas suas memórias recentemente publicadas"Nós fomos os primeiros no Sul de Angola":
“O nosso trabalho complicou-se depois da tentativa de golpe de Estado de 27 de Maio de 1977, cuja causa foi a luta fraccionista no interior do Bureau Político do MPLA. Nito Alves dirigiu a oposição. Uma parte dos militares das FAPLA apoiavam as suas ideias. Nós desconhecíamos a essência das divergências. Só depois da derrota da oposição surgiu uma grande quantidade de publicações sobre o fraccionismo de Nito Alves e dos seus adeptos. Vários homens foram detidos também na nossa região militar, nomeadamente o comissário político da região militar por mim aconselhado, membro do CC e do Conselho Revolucionário Santos; o comandante do serviço de defesa anti-aérea, mais nove pessoas que nós conhecíamos pessoalmente.Talvez estivessem implicados muitos que desconhecíamos, incluindo civis. O major Ivadi, comandante da região militar, fugia às perguntas a este propósito. Por isso desconhecíamos o seu posterior destino. Segundo fontes não oficiais, muitos foram fuzilados junto do precipício Tuandaval (com uma profundidade de 400 metros)”.
“Infelizmente, é preciso dizer que muitos dos fuzilados tinham estudado na União Soviética”, sublinha ele, acrescentando: “Depois dos acontecimentos de Maio, observámos alguma desconfiança face às nossas recomendações das pessoas a quem dávamos conselhos. Elas não se apressavam a cumpri-las, esperando confirmação do centro, regra geral, um mês”.
Varganov recorda uma reunião de comissários políticos das FAPLA,realizada no Huambo em Julho de 1977: “Ficámos fortemente impressionados com Lúcio Lara, secretário do CC, externamente muito semelhante a F.E.Dzerjinski [criador da polícia secreta soviética, JM], tão decidido e abnegado. Depois de terminada a conferência, ele reuniu os comissários político de todas as regiões e armas, ouviu os nossos desejos e propostas. A reunião começou às 22.45 e terminou às 0.30. Trabalhámos à luz de candeeiros a gás, porque destacamentos da UNITA tinham feito explodir vários postes de alta tensão.
Eis as notas que conservei das palavras finais de Lúcio Lara obre os resultados da região. Ele agradeceu aos conselheiros pelo trabalho, pela vontade de transmitir os seus conhecimentos, bem como comunicou que: - as propostas e notas críticas ajudarão a resolver uma série de questões, de que se deve ocupar urgentemente Dino Matros, comissário político das FAPLA, nomeado para o lugar de Bakalov, executado depois da tentativa de golpe… - o destino da 9ª brigada (que passou para o lado de N. Alves) por enquanto ainda não foi resolvida, mas os cubanos actuaram correctamente ao desarmá-la e isolá-la… - os livros inimigos irão ser retirados…”
3 comentários:
russia?
Não sei se entendi bem essa passagem:
/Dino Matros, comissário político das FAPLA, nomeado para o lugar de Bakalov, executado depois da tentativa de golpe/
Será que o autor quer dizer que um tal Bakalov (russo? búlgaro?) foi executado pela ala Netista? Acho pouco provável que um camarada socialista da URSS / Bulgária seria executado em Angola. Ou é uma alcunha de algum angolano? Alguém me pode elucidar?
Caro Jest trata-se do pseudónimo de um conhecido militar angolano.
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