segunda-feira, agosto 30, 2010

Blog dos leitores (Tudo será definido este Outono)

Artigo traduzido e enviado por Cristina Mestre

"Vzgliad

Terminou esta sexta-feira o prazo de entrega das listas eleitorais nas comissões eleitorais locais. A 10 de Outubro deverão ter lugar 7.841 eleições de diferentes níveis e referendos locais e, em seis regiões – Tuva, Belgorod, Kostroma, Novossibirsk, Magadan e Tcheliabinsk – serão reeleitos os parlamentos locais.
O politólogo Dmitry Orlov, director da Agência de Comunicações Políticas e Económicas, concedeu uma entrevista ao jornal Vzgliad, em que fala da situação dos partidos no início do novo ciclo eleitoral, sobre as forças que podem não sobreviver até 2012 e sobre o papel que o Kremlin pode exercer neste processo. Há poucos dias, o politólogo publicou um relatório, “O Elo Fraco e a Nova Estratégia do Kremlin”, dedicado a estas questões.
Vzgliad: Por que razão este relatório foi escrito agora, quando falta ainda mais de um ano até à campanha eleitoral das parlamentares (Duma de Estado)?
Dmitry Orlov: A causa é evidente: começa uma nova temporada política, a configuração do espaço político está a mudar, começa em Outubro um grande ciclo de campanhas eleitorais, que terminará com as eleições presidenciais em Março de 2012. É importante o facto de em Setembro começar a fase activa do grande ciclo eleitoral e, por isso, a redistribuição de forças políticas, a sua influência, o surgimento de novas figuras políticas, tudo isso será definido neste Outono.
Vzgliad: No relatório fala-se muito sobre o papel do Kremlin, que definirá de facto quais os partidos irão existir e quais os que irão abandonar o palco político. A seu ver, a maioria dos eleitores confia plenamente no Kremlin e continua a desempenhar um papel passivo?
D.O.: O relatório não afirma que o Kremlin definirá tudo pelos eleitores. O Kremlin cria certos limites e coopera com outros jogadores políticos, expressa algumas preferências e realiza-as. Gostaríamos de ressaltar que o sistema político existente, de que fala o dirigente adjunto da Administração do presidente, Vladislav Surkov, não significa que os assentos na Duma de Estado sejam distribuídos. Para ocupar um lugar no Parlamento é necessário resistir a uma forte concorrência política. Chega um momento em que as forças oposicionistas já não podem contar com quaisquer preferências especiais. Agora, a concorrência política é um assunto dos próprios partidos.
Vzgliad: No relatório diz-se que “a realização do projecto de direita tem como ponto de partida a decisão do Kremlin sobre a criação de um partido liberal leal”. Por outras palavras, um partido de direita poderá aparecer na Duma de Estado só com apoio do Kremlin?
D.O.: Ao contrário da oposição tradicional – o Partido Comunista, o Partido Liberal Democrata e o partido Rússia Justa, um projecto de direita só é viável se for apoiado pelo Kremlin. Isto tem a ver com o fraco apoio eleitoral, com a dificuldade organizativa e com o problema da liderança.
Vzgliad: Cito outra frase do relatório: “Se, por quaisquer razões, um dos três partidos oposicionistas no Parlamento se transformar em “elo fraco” (inclusive do ponto de vista da compreensão dos desafios da modernização), nada poderá deter o Kremlin de fazer um “jogo de expulsão” em relação a qualquer jogador”. Quer isto dizer que o Kremlin é o único promotor verdadeiro da modernização do país?
D.O.: É absolutamente evidente que o Kremlin está no centro do processo de modernização. Tenho em vista o Kremlin no amplo sentido da palavra – o presidente e o Governo. Mas o poder precisa do apoio de um partido que assuma a responsabilidade e vote a favor dos projectos de lei frequentemente impopulares, mas necessários para a modernização.
Hoje, nominalmente, todos os partidos se manifestam pela modernização, mas, quando chegar a altura de votar os projectos de lei, o poder poderá contar apenas com a Rússia Unida. A oposição no nosso país é populista e não irá apoiar decisões não populistas.
Vzgliad: Quem, a seu ver, poderá tornar-se líder da direita?
D.O.: Não posso por enquanto referir um nome concreto. Se o referir, a carreira política desta pessoa será afectada. Mas considero pouco provável que seja Kudrin. Kudrin não é popular entre os eleitores democráticos de direita. Embora seja adversário da Rússia Unida, tal não o torna num líder político popular.
Vzgliad: Uma parte do relatório é dedicada ao eleitorado de protesto que se divide em duas partes: aqueles que receberam pouco do poder e aqueles que apoiam posições políticas diferentes das que o poder defende. O relatório não menciona a classe dos chamados “novos zangados”, embora fale pormenorizadamente sobre eles, por exemplo, o ideólogo da Rússia Unida, Alexey Tchadaev...
D.O.: Penso que actualmente esta classe não tem importância sociológica. Pode haver muitos descontentes com algumas decisões do poder ou acções da burocracia, digamos 15% da população urbana. Mas quantos deles irão votar, levando em consideração que a população urbana e a classe média não participam frequentemente nas eleições? Considero que, no máximo, votará um em cada cinco descontentes. Por outras palavras, trata-se de 3%, ou seja de um grupo sociologicamente pouco importante, em qualquer caso, agora.
Os “novos zangados” não influirão no clima eleitoral nem nestas eleições regionais, nem nas eleições parlamentares ou presidenciais. Influirão nos ânimos sociais, na “cozinha”, mas não nos resultados das eleições. Tal não significa, porém, que diferentes forças políticas não devam trabalhar com eles.
Vzgliad: O relatório refere o partido Rússia Justa como um elo fraco do sistema político. Se este partido enfraquecer, para onde irá, a seu ver, o seu eleitorado – para o partido governante ou para a oposição?
D.O.: Penso que os antigos partidários da Rússia Justa irão votar em medida igual na Rússia Unida, no Partido Comunista e no Partido Liberal Democrata.
Ao mesmo tempo, a Rússia Justa pode não perder a força. Se lutar na ala esquerda, pode transformar-se num partido socialista normal, fazendo recuar o Partido Comunista. Mas o partido deve livrar-se do seu líder, Serguey Mironov, que simplesmente não é popular entre as pessoas.
Vzgliad: A direcção da Rússia Unida declarou recentemente que nas próximas eleições não irá utilizar “alavancas administrativas”. Na sua opinião, irão alterar-se neste caso os resultados do partido governante e em que grau?
D.O.: A meu ver, é pouco importante que o partido obtenha nas eleições 52 ou 57 por cento. Hoje em dia, estão criadas condições iguais para um jogo justo. Os pequenos partidos devem em condições iguais superar o predomínio do partido governante, mas a Rússia Unida tentará manter com todas as forças este predomínio. E penso que irá consegui-lo.
As minhas previsões em relação às eleições parlamentares em 2011 são referidas no relatório: a Rússia Unida obterá de 65 a 70%, o Partido Comunista – de 10 a 15%, o Partido Liberal Democrata e a Rússia Justa – de 7 a 10% cada um.

Artigo original: http://vzgliad.ru/politics/2010/8/27/428255.html

2 comentários:

António disse...

É absolutamente espantoso como é que alguém pode dissertar, com nuances sociológicas, sobre a paródia de sistema parlamentar imposto pelo Kremlin sem chamar as coisas pelos devidos nomes. Uma posição muito mais honesta seria pura e simplesmente assumir o carácter autocrático e totalitário do regime e não fingir que existe alguma espécie de concorrência democrática cujos resultados dependem de um conjunto abrangente de factores da sociedade em geral.

Entristece-me que alguém tenha o descaramento de debitar páginas e páginas de análises estéreis sobre o futuro político da Rússia, quando tudo pode ser resumido à frase “o Kremlin é que manda: o que este quiser é o que vai acontecer e tudo o resto, venha donde vier, é totalmente irrelevante”. Ponto final.

A palavra “democracia” vem do grego e significa literalmente “poder do povo”. Ao menos, tenham um pouco vergonha na cara e não chamem bugalhos aos alhos.

Seja como for, parabéns e obrigado à Cristina pelo esforço de tradução.

António Campos

Jest nas Wielu disse...

Cerca de 100 delinquentes atacaram o festival de rock “Tornado” em Cheliabinsk
http://a-stelmah.livejournal.com/236140.html
http://cyxymu.livejournal.com/783895.html