Texto enviado por António Campos:
"No passado dia 2, a agência France Presse citou o ministro das finanças Russo, Alexei Kudrin, o qual apelava aos seus constituintes que fumassem e bebessem mais, com a justificação de que o aumento do consumo destes produtos ajudaria a aumentar as receitas fiscais aplicáveis a programas sociais.
De acordo com a noticia, Kudrin afirmou: "se fumar um maço de cigarros, estará a contribuir mais para ajudar a solucionar problemas sociais, nomeadamente, resolvendo o problema demográfico, desenvolvendo outros serviços sociais e sustentando as taxas de natalidade[…] As pessoas deveriam entender que os que bebem e os que fumam estão a fazer mais para ajudar o estado".
Não sei a que estado de desespero o ministro das finanças terá chegado que o tenha levado a incentivar comportamentos que, ainda que possam ter um valor fiscal imediato, têm custos gigantescos no médio e longo prazo sobre toda a população, tanto a nível de gastos acrescidos de assistência médica como da elevação da taxa de mortalidade e consequente perda de produtividade e de receitas fiscais. Para não falar nos custos sociais transversais. Na prática, o que Kudrin está a propor é que a população cometa suicídio colectivo para que alguns possam receber subsídios de natalidade agora.
Pelos vistos, o futuro não tem o menor interesse para Kudrin.
Será que alguém é capaz de explicar se existe alguma lógica neste apelo? Ou simplesmente os níveis de absurdo da máquina estatal russa estão a atingir patamares Orwellianos?
4 comentários:
Não, António, lógica não existe nenhuma. Aliás, estas palavras do ministro estão a suscitar grande polémica e indignação na imprensa russa.
Resolvi traduzir alguns comentários que li hoje num fórum e que mostram bem os que as pessoas pensam.
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Dmitry: - Afinal, o aumento dos impostos indirectos sobre o tabaco e a vodka é efectuado pelo Ministério das Finanças não só para engrossar o Orçamento mas também para fazer sentir aos consumidores destes produtos que eles dão um grande contributo para a solução dos problemas sociais do país. E eu que por ingenuidade pensava que o tabaco e o álcool eram os grandes inimigos da natalidade!
Tendo em conta as tentativas “para inglês ver” do presidente no que respeita à luta contra o alcoolismo e tais declarações do mister Kudrin (não sou capaz de lhe chamar nem senhor, nem camarada), a verdadeira política dos nossos governantes torna-se perfeitamente clara. Parece que nós somos demasiados para o gosto deles. Para mais, há que preparar as eleições de 2012: bêbados e dependentes do tabaco são mais sugestionáveis e fáceis de controlar.
Lá que o alcoolismo e o tabagismo levem no nossos país 400.000 vidas todos os anos, parece que isso afinal até é bom: o Governo gastará menos dinheiro com o povo e será mais fácil controlar os que restam.
E eu, que sou parvo, não bebo, não fumo, gasto dinheiro no ginásio! Como irá passar o Orçamento sem o meu rico dinheirinho? ……………………………….
Anatoly Baranov, redactor do Fórum MSK:
_Não, Dmitry, você não é parvo! Você simplesmente não consegue compreender que a sua vida, a sua saúde e o seu bem-estar não fazem de maneira nenhuma parte das prioridades do Estado que actualmente existe na Rússia.
Parece que agora o ministro Kudrin encontrou uma maneira de os cidadãos da Rússia baterem as botas de forma rápida e com o máximo benefício: beber e fumar mais. Se o Governo conseguir fazer aprovar uma lei de legalização das drogas “leves”, Kudrin irá com certeza passar a propagandeá-las.
Ainda bem que a humanidade se libertou a tempo do hábito do canibalismo, senão o ministério das finanças já estaria com certeza a fazer planos de produção de salsichas e outros derivados...
Agora, diga-me lá Dmitry, como é que um cidadão normal, ou seja, que não tenha ainda o cérebro embebido em álcool, deve encarar um tal Estado?
Cara Cristina, Kudrin quer resolver uma série de problemas ao mesmo tempo, nomeadamente, a diminuição da esperança de vida que permite economizar dinheiro com o pagamento de reformas. Parafraseando António Variações: "Quando o poder não tem juízo, o povo é que paga!"
Isto quase me leva a gritar: "Surrealistas! Venham viver para a Rússia! Abaixo o realismo previsível! Todos os dias uma acção, no mínimo, surrealista!".
Passámos do "surrealismo socialista" para o "surrealismo capitalista"
Creio que assistimos ao nascer de uma nova corrente político-filosófica, o "surrealismo dialéctico"…
Este apelo absurdo de Kudrin é certamente motivado pelo pânico gerado pela "tensão" fiscal a que o orçamento russo está sujeito. Lembremo-nos de que o défice actual é de cerca de 5,4% do PIB e que a Rússia está com dificuldade em se financiar no exterior, uma vez que é vista como apresentando um elevado risco politico. Por outro lado, os preços do petróleo estão a descer nos mercados internacionais, o que só agrava a situação.
Comentário interessante do economista Craig Pirrong: "A Rússia está na situação em que as suas opções fiscais incluem induzir a população a suicidar-se mais rapidamente para aumentar as receitas fiscais, e vender quotas em empresas estatais a grande desconto, o qual reflecte a sua incapacidade de proteger os compradores. Com o preço do petróleo em queda, a pressão para tomar estas opções azedas só pode aumentar".
A questão central aqui é que, mesmo numa perspectiva estritamente financeira, os custos de tal comportamento, no médio a longo prazo, são infinitamente maiores do que as receitas geradas no imediato. A conclusão óbvia é a de que o executivo russo, como aliás já demonstrou em inúmeras outras ocasiões, não tem o MENOR interesse no futuro da população.
António Campos
Eu tenho quase a certeza que esse senhor andou a ver episódios atrasados da série "Yes Prime Minister"!
Num deles (The Smoke Screen), o ministro da Saúde pretende dinamizar uma campanha anti-tabágica. Sir Humphrey, o secretário do PM, contrapõe essa proposta afirmando que "se aqueles que morrem devido ao tabaco vivessem até uma idade avançada, as suas reformas custariam mais ao Tesouro do que actualmente custam os seus cuidados de saúde", concluindo que "em termos financeiros, faz todo o sentido que eles continuem a morrer ao ritmo actual".
Creio que nesse mesmo episódio alguém dizia que o consumo de tabaco era bom pois os impostos gerados pelo tabaco financiavam os Ministérios da Saúde e do Desposto, ou seja, "o tabaco faz bem à Saúde"!
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