As guerras informativas, muito frequentes nos anos 90 do séc. XX, regressaram à luta política na Rússia, sendo Iúri Lujkov, presidente da Câmara de Moscovo, o principal “alvo a abater”.
O dirigente da capital russa é acusado de corrupção e de favorecimento das empresas da sua esposa, Iúlia Baturina, a mulher mais rica da Rússia e uma das mais ricas do mundo.
Tudo começou em Agosto, quando Moscovo se viu envolta por uma densa nuvem de fumo proveniente dos incêndios florestais nos arredores da cidade. Nessa altura, segundo algumas fontes, Lujkov estava a passar férias nos Alpes austríacos.
Quando regressou à capital russa, o primeiro-ministro Vladimir Putin elogiou a sua decisão de ter suspenso as férias, mas o Presidente Dmitri Medvedev criticou-o pelo atraso na reação aos acontecimentos.
Iúri Lujkov reagiu publicamente e declarou que o Kremlin lhe deu um “pontapé”.
Uma fonte anónima do Kremlin, citada pelas três principais agências de informação russas, acusou o dirigente moscovita de “tentar dividir” o dueto Putin-Medvedev e, na passada sexta-feira, o Presidente russo aconselhou-o a “passar para a oposição”.
Nesse mesmo dia, a Televisão Independente (NTV), controlada pela gasífera russa Gazprom, apresentou o documentário “O segredo está no boné” (os bonés são das peças de vestuário preferidas do dirigente de Moscovo), onde se acusa Lujkov de estar rodeado de corruptos e de dar preferência à esposa, cuja empresa Inteko tem fortes interesses na construção civil na capital.
No sábado, o mesmo canal mostrou uma reportagem sobre a restauração do monumento “Operário e Camponesa”, um dos símbolos da cidade. Segundo o jornalista, os trabalhos, realizados por uma das empresas de Iúlia Baturina, custaram quase quatro mil milhões de rublos (cem milhões de euros).
Hoje, o canal público “Vesti 24” acusou a Câmara de Moscovo de estar por detrás da demolição de edifícios históricos ligados a personalidades como os escritores Mikhail Bulgakov e Alexandre Pushkin, ou o compositor Rimski-Korsakov.
Outro canal público “Rossia” promete mostrar, no principal serviço de notícias, um documentário “O bolo repartido”, também sobre a corrupção em Moscovo.
O canal TVTs, controlado por Iúri Lujkov, reagiu aos ataques considerando que tem lugar “uma campanha cada vez mais semelhante às campanhas do período das guerras informativas dos anos 90” e revelando que o dirigente moscovita, mesmo durante as férias, acompanhava a situação na cidade.
Boris Grizlov, que, tal como Lujkov, dirige o Partido Rússia Unida, comentou que as acusações devem ser “atentamente analisadas”.
Porém, Liubov Sliska, vice-presidente da Duma Estatal (câmara baixa do Parlamento) da Rússia e também dirigente do Partido Rússia Unida, considera que “Lujkov deixou passar o momento oportuno para se demitir”.
Os analistas consideram que estes ataques a Lujkov são mais um episódio da luta entre Medvedev e Putin pelo cargo de Presidente da Rússia nas eleições de 2012.
“Aqui decide-se qual será o candidato. Se Medvedev conseguir afastar Lujkov, reforçará as suas posições. Caso contrário, se os homens de Putin vencerem nesta contenda, Putin será o candidato nas presidenciais”, defende a politólogo Maria Litvinovitch, em declarações à rádio Eco de Moscovo.
3 comentários:
Este tema tem sido muito discutido na imprensa e na sociedade russas.
Diga-se em abono da verdade que já há muitos anos que os moscovitas se indignavam com a impunidade e compadrio reinantes no governo (câmara municipal)da capital, especialmente por a mulher de Lujkov ter acumulado uma enorme riqueza, produto do favorecimento que as suas empresas beneficiavam (e beneficiam). Mas, por muito que as pessoas se indignassem,Lujkov continuava impassível e serenamente a ser reeleito ao longo dos anos (o que não admira, porque todos sabem muito bem que na Rússia não é difícil fazer eleger o político "conveniente").
Mas só agora, quando Medvedev achou que ele se devia ir embora, é que a coisa está a tomar outros contornos, o que prova mais uma vez que as coisas não mudam na Rússia quando o povo quer mas quando "alguém de cima" quer.
As guerras informativas na Rússia são um fenómeno muito especial, produto da manipulação que a maioria dos órgãos de comunicação social sofre por parte do poder: não nos esqueçamos que Ieltsin só foi reeleito devido à utilização maciça das televisões por parte de Berezovsky, que alguns anos mais tarde, também pôs Putin no poder. A televisão na Rússia é crucial para os políticos ascenderam ao poder. Com uma população sugestionável e pouco crítica, domina o país aquele que dominar as televisões. Foi por isso que Putin, quando ascendeu ao Kremlin, rapidamente percebeu que tinha de afastar Gussinski e Berezovski,donos de canais independentes de televisão. Estes não tiveram outro remédio senão entregar as suas empresas a "amigos" do Kremlin e exilar-se em Londres e Israel.
A emissão de programas deliberadamente comprometedores, muitas vezes feitos por encomenda e generosamente pagos, passando por cima de todas as regras jornalísticas, é o dia-a-dia da Rússia. Muitas vezes os cidadãos sentem-se confusos, sem saber se poderão dar ou não crédito a determinada informação mas, no geral, conseguem perceber que esta muitas vezes é apenas o "instrumento" para determinadas operações políticas.
Mesmo assim, ao nível da imprensa escrita e da Internet, há alguns órgãos que são relativamente independentes e onde há bons jornalistas que seguem as regras deontológicas.
Diria que as guerras informativas na Rússia irão agudizar-se este ano e no próximo, porque está em jogo algo muitíssimo importante: quem irá mandar no país após 2012.
off top:
“Não te metes com os ucranianos”, o conselho sábio do filme The Italian Job ("Um Golpe em Itália"):
“Listen to me man... if there's one thing that I know, is never to mess with Mother Nature, mother-in-laws or mother 'freaking' Ukrainians...”
http://www.youtube.com/watch?v=
X-I7DMSz9Hs
++
Don't Mess With Albanians & Ukrainians (YouTube):
http://www.youtube.com/watch?v=
cnDtOk-_tAM
Os media lá os põem, os media de lá os tiram.
Lujkov será julgado pela História pela destruiçäo que causou à História Urbana de Moscovo. Ele fez a uma metrópole o que os taliban fizeram às estátuas do Buda.
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