sexta-feira, novembro 05, 2010

A Rússia poderá vir a fazer parte da NATO?

Durante a sua visita a Moscovo, o secretário-geral da NATO, Anders Forgh Rasmussen, disse que não vale a pena teorizar sobre a possível adesão da Rússia à Aliança Atlântica. Hoje, o deputado socialista português, João Soares, defendeu que “a Rússia deveria fazer parte da NATO”, alegando que essa seria “uma opção fundamental” na resposta aos desafios da organização e uma decisão “de grande audácia estratégica”.
Estou plenamente de acordo com o deputado socialista por várias razões.
Primeiro, a NATO não tem futuro sem uma política clara em relação à Rússia e a intervenção militar no Afeganistão é uma prova disso. Sem uma estreita cooperação entre Moscovo e Bruxelas, será impossível conseguir atingir o que quer que seja na Ásia Central. Por isso, é necessário começar a delinear uma política comum em relação ao Afeganistão e à Ásia Central em geral depois das tropas da NATO abandonarem o território desse país.
Segundo, a segurança europeia passa sempre pela participação da Rússia nos assuntos do Velho Continente como país aí situado. Por conseguinte, também aqui é necessário uma cooperação mais profunda, tanto mais se realmente existirem as ameaças de mísseis e de difusão de armas nucleares de que tanto se fala.
A terceira razão, a que chamaria "cínica", consiste em que o convite da NATO à Rússia colocaria o Kremlin numa situação muito melindrosa. Obrigaria os dirigentes russos a manifestarem as suas verdadeiras intenções face à Aliança Atlântica e eles perderiam um forte espantalho utilizado para assustar grande parte da população do país.
Estou convencido de que seria o pior que se poderia fazer ao Kremlin, pois considero que ele não ousaria dar uma resposta inequívoca.
Não porque a maioria da população seja contra a adesão do país à NATO, porque os dirigentes russos não se preocupam com a opinião, mas por outras razões.
O Kremlin ficaria com muito menos poder de manobra no campo internacional. Os generais russos não gostariam muito da ideia, pois gostam de ser eles a mandar e a gerir as grandes somas atribuídas à reforma militar e à modernização das Forças Armadas russas. Além do mais, a aproximação dos sistemas de fabrico de armamento seria uma longa dor de cabeça.
A minha posição pode parecer paradoxal, mas é fruto da realidade. A NATO pode fazer o convite sem esperar uma resposta imediatamente, mas, ao mesmo tempo, ir ao encontro da Rússia em campos importantes para ambas as partes.
E apenas mais uma nota para terminar. Não posso deixar de apoiar aqui as palavras do deputado social-democrata José Pacheco Pereira, quando afirma que em Portugal se discute muito pouco em termos de Defesa e Segurança. 
Sei que atravessamos uma profunda crise económica, política e social interna, mas, mesmo assim, temos de prestar atenção a outros problemas importantes. 



24 comentários:

PortugueseMan disse...

...A terceira razão, a que chamaria "cínica", consiste em que o convite da NATO à Rússia colocaria o Kremlin numa situação muito melindrosa...

Meu caro,

Que grande confusão que para aqui vai. Então a NATO não coloca a questão ao Kremlin porque ficaria numa situação melindrosa?

E porque a NATO não tentou? todos os países à volta foram convidados. Só a Rússia não para não os melindrar? Meu caro...

Você por acaso está a esquecer-se que ainda CONTINUAM milhares de ogivas nucleares apontados um ao outro e nem nisso são capazes de se entenderem?

A Rússia entra na NATO e depois? vamos ser todos amigos? vamos deitar as armas fora? não vamos precisar de milhares de mísseis afinal estes apenas foram criado para combater o outro.

AMBOS continuam a fabricar armas para combater o outro.

Que interessa o Afeganistão? isso é apenas uma das situações. E se depois for o Irão? e se depois for a Coreia do Norte?

...O Kremlin ficaria com muito menos poder de manobra no campo internacional. Os generais russos não gostariam muito da ideia, pois gostam de ser eles a mandar e a gerir as grandes somas atribuídas à reforma militar e à modernização das Forças Armadas russas. Além do mais, a aproximação dos sistemas de fabrico de armamento seria uma longa dor de cabeça...

Menos poder no campo internacional?? Mas porque razão?? Bom, pelo menos reconhece que tem poder internacional...

A ver se eu percebo, você pensa que na hipótese da Rússia entrar na NATO (completamente impossível), alguma vez iria perder o controlo sobre as suas forças armadas? Mas o que o faz pensar em tal coisa? Baseia-se em quê para pensar assim? está completamente fora da realidade. Onde foi você buscar tal coisa?

...A minha posição pode parecer paradoxal, mas é fruto da realidade...

Mas que realidade é esta? será que estamos no mesmo mundo?

A NATO NÃO É uma organização europeia. A NATO são um conjunto de países liderados pelos EUA. Não existe aproximação possível.

O problema não está na NATO, está no facto de NÃO EXISTIR uma organização militar europeia. A Europa não consegue se entender nisto.

Deveria haver sim uma organização militar europeia e esta sim iria cooperar com os EUA, a Rússia e com quem quisesse. Só que não existe. E enquanto estivermos não existe entendimento possível.

E o Afeganistão não interessa. se sair de lá a NATO, podem convidar os chineses. Os americanos não podem estar no Afeganistão porque os russos não o querem.

Os EUA e Rússia têm interesses opostos. A NATO não é uma organização que possa albergar estes dois oponentes.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro, eu não escrevi que a NATO não fez o convite, mas eu considero que se a NATO fizesse esse convite, colocaria o Kremlin numa situação melindrosa.
Eu nunca escrevi que a Rússia não tem importância internacional, mas, se aderisse à NATO, teria menos poder de manobra, pois precisaria de coordenar a sua política com a Aliança.
Eu estou a favor da criação de forças armadas europeias, mas acho isso é pouco real porque a UE anda aos papéis e não tem política de segurança e de defesa comum.
Quanto à sua afirmação que: "Os americanos não podem estar no Afeganistão porque os russos não o querem", é claramente um exagero, pois, como sabe, quando a URSS lá foi, e era mais forte que a Rússia, teve de se retirar.
Se a Rússia e a NATO não elaborarem um programa de acção para a Ásia Central depois da retiradas das tropas da Aliança do Afeganistão, verá que Moscovo se envolverá em conflitos complicados.
Os chineses no Afeganistão? Eles, por enquanto, deixam à NATO e à Rússia a tarefa de rirarem as castanhas quentes do lume, mas vamos ver se a situação se complicar nas suas fronteiras.
Sei que é muito difícil imaginar a Rússia na NATO, mas volto a insistir que é precisou cooperação mais estreita. E isso será bom para os dois lados.
Estou de acordo que os Estados Unidos e a Rússia têm interesses opostos, mas, em numerosas áreas, terão de chegar a acordos. Pode ser muito devagar, mas é inevitável.

PortugueseMan disse...

...mas eu considero que se a NATO fizesse esse convite, colocaria o Kremlin numa situação melindrosa...

Isso é ficção científica meu caro. Mas podemos ir por aí. Quer dizer que a partir desse momento a Rússia poderia passar a vender armamento a qualquer aliados dos EUA sem problemas certo? sabe qual seria o rombo para as empresas de armamento americanas, se tivesse que competir com o armamento russo? melindroso para o Kremlin? os americanos nem equipamento europeu aceitam! Se calhar teriamos que pesar melindre a melindre...

...mas, se aderisse à NATO, teria menos poder de manobra, pois precisaria de coordenar a sua política com a Aliança...

Precisava? para? situações como a Geórgia? o que se faria para este caso?

...Quanto à sua afirmação que: "Os americanos não podem estar no Afeganistão porque os russos não o querem", é claramente um exagero, pois, como sabe, quando a URSS lá foi, e era mais forte que a Rússia, teve de se retirar...

Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Os russos não querem os americanos na àrea, como tal só precisam de tornar caro a presença deles na zona. É o que está a acontecer. Isto não é um concurso de quem é o mais forte no Afeganistão. A realidade é esta, os americanos não têm um pé firme nesta zona. não há bases de confiança, os americanos dependem do Paquistão e da Rússia para lá estarem. Se fechar estes dois acessos, a NATO só tem que fazer as malas e sair. uma coisa é mandar bombardeiros B-52 fazer umas "limpezas", outra é manter milhares de homens e equipamento sem apoio logístico,não há volta a dar.

...Se a Rússia e a NATO não elaborarem um programa de acção para a Ásia Central depois da retiradas das tropas da Aliança do Afeganistão, verá que Moscovo se envolverá em conflitos complicados...

Sabe, a história da Rússia não tem sido propriamente um mar de rosas. Quando o problema chegar, eles lidarão com eles. AGORA, o problema russo é a presença americana em cima de linhas energéticas...

...Os chineses no Afeganistão? Eles, por enquanto, deixam à NATO e à Rússia a tarefa de rirarem as castanhas quentes do lume, mas vamos ver se a situação se complicar nas suas fronteiras...

Os chineses não entram sem convite russo e os chineses não são uma democracia. Não têm que parecer bem aos seus eleitores. Se eles entrarem lá a coisa pode ficar feia. Mas para que é que eles vão lá entrar, se isso ainda não os está a afectar? Não têm razão para lá entrar excepto se as suas linhas de abastecimento forem comprometidas.

...Sei que é muito difícil imaginar a Rússia na NATO, mas volto a insistir que é precisou cooperação mais estreita. E isso será bom para os dois lados.
Estou de acordo que os Estados Unidos e a Rússia têm interesses opostos, mas, em numerosas áreas, terão de chegar a acordos. Pode ser muito devagar, mas é inevitável.


A Rússia não vai entrar na NATO, a Rússia poder entrar numa outra organização mas que não seja liderada pelos os EUA. Mas, sabe isso já existe. É a ONU. Mas aqui sabe quem ficaria melindrado ao ver as suas forças armadas aos comandos da ONU? veja se adivinha.

Agora você pensar na Rússia a integrar uma organização onde os EUA lideram é fantasia. Os EUA mandam na NATO, os alemães vetaram a entrada da NATO no Iraque e foi o que se viu. Os EUA não aceitam algo partilhado. Têm que ser eles a mandar. A partir daqui é IMPOSSÍVEL pensar ver a Rússia entrar numa organização deste tipo.

E já hoje a NATO e a Rússia entram em acordos e nunca precisaram de estar na mesma equipa.

E não é inevitável, é impossível.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro PM, mas já se tornou evidente que os EUA não dão conta dos recados sozinhos, assim como a Rússia não tem capacidade de resolver sozinbha os problemas da Ásia Central. Olhe para o Cáucaso do Norte, veja o que lá se passa e tire a conclusão.
Quanto à Geórgia, reconheço que é um caso bicudo, tanto mais depois da asneira feita pelos EUA e a UE ao reconhecerem o Kosovo.

PortugueseMan disse...

...já se tornou evidente que os EUA não dão conta dos recados sozinhos, assim como a Rússia não tem capacidade de resolver sozinbha os problemas da Ásia Central. Olhe para o Cáucaso do Norte, veja o que lá se passa e tire a conclusão...

Não misture as coisas. A Rússia está a defender o seu território. Os EUA quando quiserem vão embora para a sua terra e aquilo que fique a arder.

Os russos nunca poderão ir embora, o Cáucaso está dentro do seu território.

Se os EUA não dão conta do recado, então que não tivessem lá entrado. E fizeram asneira da grossa em ter lá entrado. Abriram duas frentes, Afeganistão e Iraque, ameaçaram a Coreia do Norte e o Irão e como se isto não bastasse, apesar de estarem dependentes do Paquistão para aceder ao Afeganistão, foram tentar vender armamento à India, ao mesmo tempo que negavam vendas ao Paquistão.

São asneiras atrás de asneiras, que a única coisa que fizeram foi atiçar ainda mais os extremismos. Uma criança que em 2001 tinha 10 anos e que viveu os bombardeamentos e perdeu familiares, tanto no Afeganistão como no Iraque, sabe que idade tem hoje? sabe em que ambiente viveu durante estes anos? Quantos e quantos que nada têm a ver com terrorismos, estão hoje nas fileiras a destilar ódio?

PortugueseMan disse...

...Quanto à Geórgia, reconheço que é um caso bicudo, tanto mais depois da asneira feita pelos EUA e a UE ao reconhecerem o Kosovo...

Se fosse só a Geórgia...

Mas considero esse episódio ultrapassado, não existe muito a fazer aí, agora será uma questão politica de como aceitar a nova situação.

Mais grave é a questão anti-míssil, e mostra claramente que as coisas não estão nada bem entre os EUA e a Rússia.

E nem com a Europa. A Europa está demasiado silenciosa relativamente a um sistema que também a deve proteger. Um verdadeiro caso bicudo. Os EUA decidiram que iriam colocar um sistema destes na Europa a roçar a fronteira da Rússia e não se preocuparam muito com a opinião dos países europeus, tinham ali uns países desejosos de terem presença americana e agora temos o caldo entornado. Não sei como vai ser isto. Os europeus não têm sistemas destes e colocar o quer que seja em território europeu, só vai pôr em causa a própria segurança europeia.

Estamos com um problema sério e mais tarde ou mais cedo a Europa vai ter que tomar decisões a nível militar.

Pippo disse...

JM, acho que nem vocêm nem o João Soares estão a ver bem a coisa ao acharem que a entrada da Rússia na NATO seria uma opção fundamental para a Organização, ou que forçaria a Rússia a assumir posições.
Como diria o Pacheco Pereira, "essa não é a questão essencial".

A questão essencial, já apontada pelo PM, é saber "quem manda". Quem é que manda na NATO? Os EUA. Os outros opinam, estrebucham, fazem fita e batem o pé, mas os EUA têm a palavra final e não há mais conversas.

Os EUA quiseram ir para o Afeganistão, e a NATO apoiou. Os EUA quiseram ir para o Iraque, houve discussão e foi o que foi. Mas recuemos um pouco mais: os EUA quiseram apoiar os seus "proxies" do UÇK e a NATO arrasou a Sérvia; os EUA quiseram apoiar os seus aliados bosníacos e a NATO fez uma limpeza às forças sérvias bósnias.

Portanto, um país manda e os outros, ou o seguem (RU, Polónia, etc.) ou então refilam e sofrem as consequências.
Imaginemos agora que temos a Rússia no jogo. O que faria a NATO caso o ainda presidente da Geórgia voltasse a armar-se em parvo? Teríamos uma esquadra norte-americana a bombardear Tbilissi? Fuzileiros portugueses e holandeses a ocupar Sukumi?

Agora repare: temos duas grandes potências com interesses divergentes e alguns eventualmente - eventualmente - confluentes. Acha que isso é razão suficiente para a Rússia ser convidada para a NATO?

Imagine também que o dinheiro realmente interessa. Como é que seria a standartização dos calibres na NATO? Quem é que mandaria neste processo? E caso tivesse de ser a Rússia a ceder, quem é que pagaria a reconversão? Está a ver a Polónia, a Turquia ou os países bálticos a pagarem a reconversão do equipamento russo para o padrão NATO? E está a ver os EUA a perderem contratos atrás de contratos por não serem capazes de competir com os preços praticados pelos russos? E imagina como seria se os europeus ocidentais começassem a investir em consórcios com os russo, por exemplo no PAK FA?

Os problemas estratégicos que apresentou (Afeganistão, Cáucaso, etc.) estão para além do espectro de actuação real da NATO, isto é, estão para além das suas capacidades. A NATO, uma organização defensiva, não tem capacidade de projecção de força para se manter num TO, numa modalidade ofensiva, por muito tempo. A NATO não pode deter nem os taliban, nem os boiviki chechenos, porque não tem a capacidade de combater a essência política e religiosa do problema. Portanto, essas questões são irrelevantes para o caso.

A questão relevante, caso a Rússia entrasse para a NATO, é saber: quem é que irá mandar? Se a Rússia entrar, o poder norte-americano na Organização desaparecerá. E os EUA não estarão dispostos a isso.

PS - enviei-lhe um artigo sobre o Quirguistão para publicação...

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro PM, estou de acordo com o seu último comentário, excepto quanto diz que existe grande diferença entre a situação no Cáucaso do Norte e na Ásia Central. A Rússia não está separada da Ásia Central pelo oceano, mas faz fronteira com ela. Se ela não pode sair do Cáucaso, também não pode sair da Ásia Central. A única diferença consiste em que o Cáucaso é território seu e na Ásia Central há toda uma série de Estados independentes, mas muito instáveis.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Pippo, não recebi, reeivi-me o texto.

MSantos disse...

Para além de tudo o que já foi dito, a questão que se deve colocar é o que é a NATO hoje em dia?

A NATO deixou de ter razão de existência a partir do momento da queda do muro e do fim da URSS e dos regimes comunistas na Europa de Leste.

Mesmo nos seus membros existe a discussão de quais os propósitos actuais da Aliança. Penso que até um dos pontos a debater na cimeira de Lisboa será a sua razão de existência.

Isto tudo do ponto de vista oficial, claro.

Na prática, a NATO após a o fim da URSS serviu apenas para manter o domínio militar norte-americano sobre o continente europeu, servindo assim de patamar para alcançar toda a plataforma euroasiática e proteger nesse imenso espaço os interesses norte-americanos.

A Europa será sempre a chave do domínio mundial e até agora a grande luta das superpotências foi sempre para a incluir nas suas respectivas esferas.

Ainda há também um velhinho trauma do 7 de Dezembro de 41(reavivado pelo 11 de Setembro) em que após os EUA se terem alheado do continente europeu, tiveram uma guerra quase a bater-lhes à porta derivada do que aí se passou.

Na mentalidade americana, a Europa será sempre uma espécie de adolescente incapaz de conduzir os seus destinos e propenso para a deriva totalitária.

Além disso nas duas últimas décadas os EUA criaram um complexo que os faz crer que se abdicarem do domínio mundial, será a própria nação americana que estará ameaçada.

Isto aliado a uma ofensiva de carácter económico que neste momento é o principal braço de ataque.

A própria Rússia é um impecilho a estas ambições porque representa um Estado com uma dimensão euroasiática capaz de a tornar numa superpotência (ao contrário da China que muito dificilmente deixará de ser apenas uma grande potência regional). Tem também a tradição de ser um Estado forte e autocrático, não aceitando os modelos económicos que lhe querem impôr, tendo o risco acrescido de criar o seu próprio espaço, disputando riqueza, recursos e energia.

Voltando ao assunto da harmonização de equipamento, seria toda a indústria militar russa que teria de perecer, na melhor situação produzindo modelos sob autorização.

A grande estratégia porventura será o próprio desmembramento do Estado russo em países mais pequenos e controláveis e mesmo na hipótese de surgirem Estados dissidentes, mais fáceis de isolar, como aconteceu com a Sérvia.

Mal ou bem a NATO hoje em dia é para proteger estes interesses e como tal, encará-la como uma organização benévola que se destina à defesa dos parceiros de igual para igual, seja Europa ou EUA é na melhor das hipóteses, um exercício de ingenuidade.

O descalabro total reside no facto de haver políticos eminentes, chefes de estado e grandes pensadores a acreditar na possibilidade de integração da Rússia na Aliança.

Cumpts
Manuel Santos

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro MSantos, você colocou uma questão muito importante: qual o sentido da existência da NATO depois da guerra fria?
Uma das possibilidades será a revisão da sua doutrina militar e política, bem como uma cooperação mais profunda com a Rússia. Isso já devia ter sido feito quando da dissolução do Tratado de Varsóvia.
Vamos ver o que vai propôr a Cimeira de Lisboa, mas não espero muito.

Pippo disse...

Caro JM, a revisão da Doutrina da NATO, operada há já alguns anos, permitindo intervenções "out of area", foi o que a levou a realizar uma guerra de agressão contra a Sérvia em 1999 e uma guerra, ao abrigo do art.º 5º do Tratado, no Afeganistão.

Pippo disse...

JM reenviei o artigo para zemilhazes@hotmail.com

Wandard disse...

Com todo o respeito, esta revisão da doutrina militar da Otan, serve apenas para justificar a invasão de países mais fracos cuja soberania está sendo ultrajada, como aconteceu com o Iraque, através de provas forjadas quanto a armas de destruição em massa e no Afeganistão sob a égide da luta contra o radicalismo islâmico ou o terrorismo exercido pela rede Al Qaeda. Na verdade o objetivo principal era colocar a mão literalmente, nas reservas de petróleo do Iraque e atender aos interêsses de um punhado de empresários ocidentais tanto da indústria militar, segurança privada e construção civil por exemplo, esta no caso para reconstruir o país destruído pelas armas que os primeiros ganharam dinheiro vendendo ao governo dos Estados Unidos após a destruição do país. Quanto ao Afeganistão sabe-se que o forte não é o petróleo, mas sim cobre, ferro, cobalto e principalmente o lítio e todos que possuem algum conhecimento sabe que estas reservas foram mapeadas desde o período da ocupação soviética cuja expulsão contou com o investimento de 1 bilhão de dólares dos Estados Unidos em armas e treinamento aos Mujahedeen (atual Taliban. Em suma fica a pergunta em relação à "nova doutrina"temos uma "Coligação" ou uma "Quadrilha" especializada em usurpar os recursos naturais de nações soberanas pobres, ou quem sabe a prática de um colonialismo no século XXI.

Wandard disse...

"Voltando ao assunto da harmonização de equipamento, seria toda a indústria militar russa que teria de perecer, na melhor situação produzindo modelos sob autorização.

A grande estratégia porventura será o próprio desmembramento do Estado russo em países mais pequenos e controláveis e mesmo na hipótese de surgirem Estados dissidentes, mais fáceis de isolar, como aconteceu com a Sérvia."

Caro M Santos,

Isto foi o que foi tentado nos anos 90.

Abraço,

Anónimo disse...

Os gregos antigos chamavam bárbaro a quem não era civilizado em termos helénicos. Não era só pelas línguas diferentes que soavam a ba-bar-barr, daí o nome. Era pelo comportamento. É um pequeno passo o que separa a civilização da barbarie, o humano da besta.Se isto é feito por um grupo pró-Kremlin, o que será então o Kremlin?

PortugueseMan disse...

Caro PM, estou de acordo com o seu último comentário, excepto quanto diz que existe grande diferença entre a situação no Cáucaso do Norte e na Ásia Central. A Rússia não está separada da Ásia Central pelo oceano, mas faz fronteira com ela. Se ela não pode sair do Cáucaso, também não pode sair da Ásia Central. A única diferença consiste em que o Cáucaso é território seu e na Ásia Central há toda uma série de Estados independentes, mas muito instáveis.

Caro JM,

Mas existe uma grande diferença entre intervir DENTRO do território e FORA do território. O Afeganistão está longe das fronteiras russas (não estão ligados fisicamente) e o facto de haverem países instáveis politicamente, não podemos esquecer (como diz) que são INDEPENDENTES.

O que você pede é que a Rússia ajude na invasão ao Afeganistão. E aqui levanta-se outra questão, será que desde que se arranje uma justificação, podemos atacar um país? e para um caso destes já não há problema que a Rússia participe? Desde que tenha o aval dos EUA é porque as intervenções são bem intencionadas?

Será que por cada acto de terrorismo que aconteça neste mundo e se identifique um país que tenha participado, automaticamente vamos ter bombardeamentos, seguido de invasão?

A Rússia além de não querer os EUA no terreno, não quer ficar com a batata quente, pelo facto de ter participado nesta asneirada que os EUA decidiram fazer. Porque a Rússia intervindo ou não intervindo, nunca poderá fazer o que os EUA vão fazer mais tarde ou mais cedo, que é fazer as malas e irem embora.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro PM, eu não apoiei, nem apoio a invasão do Afeganistão por quem quer que seja.
Digo sim que a Rússia deve ajudar a resolver o problema para que, quando a NATO abandonar o Afeganistão, o conflito não se alastre à Ásia Central e ao seu território.

PortugueseMan disse...

Digo sim que a Rússia deve ajudar a resolver o problema para que, quando a NATO abandonar o Afeganistão, o conflito não se alastre à Ásia Central e ao seu território.

Nesse caso meu caro, a minha opinião é ligeiramente diferente.

A Rússia deve participar no problema em conjunto com os países da zona, não com uma potência externa com interesses duplos na zona.

O Afeganistão é um país ocupado. A Rússia deve intervir não dentro, mas fora do país, ou então vai ficar na mesma situação que a NATO, atolado numa guerra de atrito sem fim.

PortugueseMan disse...

Caro JM,

Você leu na altura este artigo? é de Agoste deste ano:

US armed forces in Central Asia – built to last

The US plans to build military training centers in Tajikistan and Kyrgyzstan...

...plans to build military facilities on the territory of five states of the region...

...US Central Command’s counter-narcotics fund was to allocate more than $40 million for the construction of military training centers in the cities of Osh (Kyrgyzstan) and Karatoga (Tajikistan), a canine center and helicopter hangar near the city of Alma-Ata (Kazakhstan)...

...It is known that Pentagon is working on the plan to deploy elite units of its special troops in Central Asia namely four battalions of the 3rd Special forces (airborne) group which has a long experience of fighting in Afghanistan...

...In addition to Central Asia the US plans to deploy its forces in Southern Caucasus - in particular early warning radars in Georgia. It is expected that besides the radars Pentagon may locate a land military base and a naval base in Georgia with 25,000 servicemen...

...In 18 months the Americans are to build a united operational center, residential blocks, a communication hub, a center for tactical operations, storage facilities, a training center, a medical center, repair facilities a center for logistics, a canteen, recreation facilities and a doghouse. They plan to put the complex into operation in late 2012 early 2012...

...By locating its special troops, surveillance equipment and other forces in Central Asia and in the Caucasus after the withdrawal of its troops from Afghanistan in 2011 the US will ensure its military presence right besides Russia’s “belly” near the northern border of Iran and the western border of China. Here the Americans plan to deploy an intelligence network which will ensure control over the situation in the most important points of Eurasia.

http://en.beta.rian.ru/international_affairs/20100812/160172555.html

Esta análise e caso se aproxime da realidade implica que as relações entre a Rússia e os EUA vão piorar EXPONENCIALMENTE nos próximos anos.

Repare, num contexto destes não é possível pensar em qualquer tipo de ajuda à NATO no Afeganistão. A prioridade russa é tirar os americanos dali para fora. Os russos, os chineses, os iranianos, os indianos, nenhum deles vai querer a presença deles, porque pode forçar a movimentos militares de outros países. Por exemplo, movimentações chinesas em direcção à Ásia Central, vai OBRIGAR a uma reacção por parte dos indianos, pois a China e o Paquistão dão-se muito bem e AMBOS são uma ameaça à Índia. Olhe para o panorama, estão a juntar-se a maior parte dos países com armas nucleares na zona... um autêntico barril de pólvora.

O artigo sugere que estas movimentações por parte dos americanos estejam finalizadas em 2012. Em 2012, já se prevê um republicano na Casa Branca, as coisas só vão PIORAR.

E se vai haver algum tipo de movimentações na Geórgia, como o artigo sugere, então eu mudo a minha opinião sobre a perigosidade da Geórgia. A Geórgia pode colocar frente a frente os EUA, coisa que não pode acontecer.

Meu caro, os anos passam e a situação está cada vez pior. Vamos alegremente a caminho de um conflito de proporções gigantescas.

MSantos disse...

"E se vai haver algum tipo de movimentações na Geórgia, como o artigo sugere, então eu mudo a minha opinião sobre a perigosidade da Geórgia. A Geórgia pode colocar frente a frente os EUA, coisa que não pode acontecer."

Pois é, caríssimo.

E nem será necessária uma administração conservadora.

O que poderá manter os democratas no poder será o facto das forças da direita norte-americana estarem divididas entre os conservadores propriamente ditos e os extremistas do Tea Party.

No entanto Obama está gasto, desmoralizado e até desacreditado. Obama é um homem bom a tentar aplicar as suas políticas moderadas num país de tendências extremadas e radicalizadas.
Até faz lembrar Gorbachov nos últimos dias da URSS.

Em contrapartida a Dª Hillary é praticamente o nº2 da administração dado Joe Biden ser uma caricatura de si mesmo.

A forma como tem visitado vários países com a sua posse "imperial" e a atitude arrogante de dar lições aonde vai aliada à forma como quase fez perigar a eleição do partido democrata em torno da sua ambição pessoal é ilustrativo do carácter da senhora.

E concerteza não hesitará em fazer acordos tácitos mesmo com o inimigo (conservadores).

Nem quero especular qual será a política de uma administração dirigida por tal pessoa.

O que parece evidente é que os moderados, razoáveis e conciliadores estão a caminho de deixar a Casa Branca.

Pessoalmente tenho um mau presentimento sobre isto tudo.

Mas tomara que me engane.

Cumpts
Manuel Santos

PortugueseMan disse...

Pessoalmente tenho um mau presentimento sobre isto tudo.

Mas tomara que me engane.


Caro MSantos,

Eu também estou pessimista, as coisas não vão melhorar, antes pelo o contrário.

Cumprimentos,
PortugueseMan

Pippo disse...

[i]Pessoalmente tenho um mau presentimento sobre isto tudo.

Mas tomara que me engane.

Caro MSantos,

Eu também estou pessimista, as coisas não vão melhorar, antes pelo o contrário.[/i]

Isto lembra-me a fase dourada do promeiro mandato da Administração Bush, quando todos ainda pensavam que o Colin Powell ia conseguir mandar nalguma coisa... coitado, o tipo foi rapidamente suprimido pelos Wolfowitz e afins!

Atenção, que eu nem sequer digo que o Obama seja bom, ou sequer bonzinho. O que o tipo tem é imagem e uma bela e bem colocada voz. Mas na política isso não basta, e da mesma forma que um homem pode ser avaliado pelos amigos que tem, um Presidente pode e deve ser avaliado pela equipa que o suporta.

MSantos disse...

Nem de propósito:

Num artigo no site porta-voz dos conservadores, estes questionam a modernização das FAs americanas e os seus objectivos e de especial realce, o terceiro:

"The U.S. as Global Leader—Not Policeman

The Independent QDR Panel’s report highlighted the enduring U.S. national security interests, which include:

- Defending the American homeland;

- Assuring access to the sea, air, space, and cyberspace;

- Preserving a favorable balance of power across Eurasia that prevents authoritarian domination of that region;

-Providing for the global “common good” through actions, such as humanitarian aid, development assistance, and disaster relief. "

http://www.heritage.org/Research/Reports/2010/11/Shaping-the-Future-The-Urgent-Need-to-Match-Military-Modernization-to-National-Commitments

Cumpts
Manuel Santos