A União Soviética apoiou a realização dos acordos de Alvor até às vésperas da independência de Angola, defendendo a criação de um Governo com representantes do MPLA, FNLA e UNITA, escreve Oleg Najestkin nas suas memórias.
Este ex-agente secreto soviético recorda que foi enviado, no início de novembro de 1975, por Moscovo a Luanda para se encontrar com Agostinho Neto e convencê-lo a aceitar uma coligação tripartidária.
“Estive no Ministério dos Negócios Estrangeiros e na Secção Internacional do Comité Central do Partido Comunista da URSS antes de partir para Brazzaville. Fiquei surpreendido com o facto de dirigentes responsáveis desses órgãos, através dos quais passava uma enorme torrente de informação, olharem de forma limitada, míope, para os acontecimentos em Angola”, escreve no livro nas memórias “No círculo de fogo do bloqueio”.
“Em Angola”, continua o agente secreto da altura, “tinha lugar uma guerra, a CIA realizava a sua operação, ocorria uma intervenção estrangeira, mas a mim diziam-me que a atitude da URSS para com o MPLA só podia orientar-se pelas decisões das respetivas conferências internacionais sobre a criação de uma coligação trilateral”.
Segundo Oleg Najestkin, era-lhe recomendado que exercesse “influência sobre (Agostinho) Neto para levá-lo a reconciliar-se com (Holden) Roberto e (Jonas) Savimbi, bem como restabelecer a coligação trilateral”.
Porém, quando chega a Brazzaville, o espião soviético recebeu instruções “mais suaves”: “eu já não devia exercer influência sobre Neto, mas sondar junto dele a possibilidade dessa coligação e a atitude do MPLA face a ela”.
Alguns horas depois, Najestkin recebe instruções ainda mais favoráveis a Neto e com uma assinatura de “alto nível”: “eu devia, em nome do Governo soviético, dizer a Neto que a URSS estava disposta a reconhecer Angola como Estado soberano logo após a proclamação da independência sob a direção do MPLA”.
Depois de numerosas peripécias, o agente soviético chega a Luanda e consegue um encontro com o dirigente do MPLA.
“Depois de saudações mútuas, Neto olhou para mim com um ar duro e interrogativo. Que veio aqui fazer? Tentar novamente convencer a unir-se com os inimigos da revolução de Angola e com os dissidentes do seu movimento, que traíram a causa pela qual tinha sido derramado tanto sangue?”, recorda o agente.
Najestkin explicou a Agostinho Neto que na direção soviética havia os que defendiam a coligação com a UNITA e a FNLA, mas havia os que tinham outra posição e, por isso, ele tinha vindo a Luanda para comunicar a posição oficial do Kremlin, ou seja, o reconhecimento do poder do MPLA.
“Pedimos-vos que nos enviem urgentemente armas de infantaria para armar os cubanos que chegaram a Angola para defender a sua independência. As autoridades portuguesas em Angola compreendem a situação”, pediu então o futuro primeiro Presidente angolano.
O Acordo de Alvor foi assinado em Janeiro de 1975 entre o Governo português e os três principais movimentos angolanos, MPLA, UNITA e FNLA, para a partilha de poder após a independência, mas não foi respeitado pelas partes, que deram depois início à guerra civil que haveria de durar cerca de três décadas.
2 comentários:
«As autoridades portuguesas», aqui está o busílis da questão!
Foi pena nesta encruzilhada histórica, em que a democracia podia ter uma oportunidade, algums «autoridades» tivessem alinhado no comboio da guerra fratricida...
Claro... Rosa Coutinho e o armamento furtado do Grafanil que foi parar ás mãos ods "sandokans" ainda proto "poder popular do Mpla...foi por essa altura que os cubanos começaram a desembarcar pelo Caxito.. e começaram os recrutamentos entre os jovens do Mpla com cursos de formação na !º região militar do Mpla...nos Dembos.. acima de Catete, para o litoral...O resto interior do Norte era dominio da upa-fnla e mais tarde da coligação com aUnita e o apoio do Ex-Zaire...
Um desses roquets roubados no grafanil veio disparado da D.Amélia (base doMpla junto ao hospital de S. Paulo... alojar-se no tecto de um apartamento n salvo erro no oitavo andar mesmo por baixo e ao lado do apartamento onde vivia um enigmático chinês ou coreano--que eu hoje penso ser agente secreto do Sol Nascente...Era na minha casa em luanda à senado da Cãmara ao marçal...
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