domingo, março 20, 2011

Afinal de que lado está a Rússia na questão em torno da Líbia?

A situação em torno da Líbia deteriora-se de hora para hora, não sendo, neste momento, possível avaliar quais as consequências deste conflito. Isto, em grande parte, porque as Nações Unidas ou potências capazes de influirem no rumo dos acontecimentos demoraram demasiado tempo a tomar medidas adequadas.
Se a decisão de criar uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia fosse tomada nas primeiras semanas do conflito, quando a oposição ao coronel Khadafi controlava parte significativa do país, talvez o ditador já estivesse nas mãos do Tribunal Penal Internacional, no outro mundo ou, no melhor dos casos para ele e a família, algures na Bielorrússia ou na Venezuela.
A fim de encontrar um consenso, a decisão de sanções militares contra Khadafi foi tomada quase um mês depois do início do conflito, quando o coronel já teve muito tempo para reagrupar as suas forças.
Agora, este atraso talvez vá custar mais uns milhares de vítimas humanas.
Neste conflito, tal como já vem acontecendo há muito, Moscovo tenta agradar a gregos e troianos, arriscando-se a perder posições em regiões onde tinha fortes interesses económicos.
Como é sabido, a Rússia absteve-se na votação do segundo pacote de sanções contra o regime de Khadafi, posição também tomada por Pequim e que abriu caminho à intervenção militar internacional.
Quando esta começou, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia veio lamentar isso, sublinhando que a resolução do Conselho de Segurança da ONU tinha sido mal preparada.
Será que a diplomacia russa já não sabia, quando se absteve, que a resolução estava mal preparada ou que a resposta de alguns países ocidentais e árabes seria uma intervenção militar?
Hoje, Domingo, veio exigir a suspensão da ofensiva , apelando às forças estrangeiras para que suspensam o “uso indiscriminado” da força que, afirma Moscovo, já matou civis.
Numa declaração do porta-voz da diplomacia russa, Alexander Lukachevitch, os ataques aéreos excedem o mandato dado pelo Conselho de Segurança, que aprovou a criação de uma zona de exclusão aérea e autorizou todas as medidas necessárias para proteger a população civil.
O porta-voz afirmou que os ataques aéreos atingiram alvos não-militares na capital líbia, Tripoli, e noutras cidades. Em consequência, disse, 48 civis morreram e mais de 150 foram feridos, além de um centro médico ter sido parcialmente destruído.
Será que o Kremlin não entendia, quando se absteve, que as bombas, por enquanto, ainda não reagem às roupas civis ou às fardas militares?
Esta falta de clareza nas posições de Moscovo (e penso que também de Pequim) deve-se ao facto de a diplomacia russa tentar jogar em vários tabuleiros, esperando colher sempre alguns frutos, independentemente do resultado da contenda. Será que o Kremlin acredita que Khadafi ainda pode ganhar esta guerra?
Normalmente, este tipo de política "maleável" acaba por não dar grandes resultados.
O Kremlin tem-se manifestado claramente contra a chamada "intervenção militar humanitária" e, por isso, fiquei "surpreendido" ao ver que Moscovo se absteve no Conselho de Segurança da ONU. Ou será que não quis fazer a figura de defensor de um regime criminioso e mentecapto como é o de Kahdafi? Pelos vistos, não sabe bem o que fazer e opta por decisões que supostamente permitem estar sentado em dois bancos ao mesmo tempo.
Neste contexto, é também curioso assinalar a posição de uma certa esquerda face ao conflito na Líbia.
Segundo a Agência Lusa, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, manifestou hoje a solidariedade do seu partido para com o povo líbio, defendendo uma “solução política” que ponha “fim à agressão imperialista” naquele país.
“Perante a agressão imperialista à Líbia e ao seu povo, queremos dizer que somos solidários com o povo líbio”, afirmou o líder comunista.
Jerónimo de Sousa abordou a questão da Líbia durante o discurso que proferiu num almoço comemorativo dos 90 anos do PCP, realizado em Mora, distrito de Évora, e que juntou cerca de 1 500 militantes e simpatizantes do partido no Alentejo.
Mas que "povo líbio"? Aquele que estava a ser massacrado e oprimido pelo coronel ou a família de Khadafi e o seu regime.
Voltamos à velha história, o imperialismo agride Khadafi, enquanto os tanques soviéticos libertaram Praga. Na cabeça de certos senhores nada muda, tudo parece conservado e congelado.









30 comentários:

everardo disse...

Caro Milhazes,

De que lado, afinal, está mesmo a Russia quando da invasão da Libia?

O ilustre amigo sabe que a Russia desde a instalação da democracia não planeia incursões, invasões, etc., identificando-se desta forma como país de paz e amigo dos povos, diferente dos componentes da NATO, União Européia, USA, que já há muito teem provado para que vieram.

O ilustre José Milhazes deve saber que a partir de 1991 até os dias de hoje, os USA e a NATO teimam em querer que a Russia venha assumir papel de subalterno deles, e como prova, os conflitos nos Balcãs, as investidas no Iraque, Afeganistão, na Geórgia (Geórgia, ao sul da Russia), e por último em África muçulmana.

Todos este conflitos são para testar a paciência do povo russo ao mesmo tempo atraí-lo para o "cheiro do queijo".

Os comandantes militares russos já identificaram o problema, de origem no Pentágono, e não se dispuseram a caminhar junto com aquela gente.

Eu tenho dito algumas vezes que os USA tentam atrair a Russia para desmantelar seu poderia militar a fim de chegarem à China mais fortes.

O povo russo deve agradecer seus militares no Dia da Vitória pela sua notável consciência em favor da paz, apesar ainda das obrigações democráticas que se impunham. No mais tudo bem.

É isto meu caro. um abraço do everardo, de Teresina-Brasil.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Everardo, a sua lógica faz-me lembrar um dito da minha terra, que parafraseado, daria o seguinte: no caso da Líbia, também os EUA, NATO e UE preparam o fogo de artifício, lançam os foguetes e ainda aproveitam as canas.
Mas será que foram os imperialistas que organizaram e oprovocaram os levantamentos na Líbia? Que é feito das massas populares? Ou o marxismo só serve para algumas análises?
Quanto ao desmantelamento do poderio militar russo, bem, o melhor é eu ficar por aqui. Você deve ler que esse poder anda pelas ruas da amargura.

Anónimo disse...

Estava mesmo a ver que a comunidade internacional ia decidir-se depois de Kadafi aniquilar todos os que sã contra ele. Mas o que é que a Rússia queria depois de deixar passar a resolução na ONU. Paninhos quentes para o Kadafi? Claro que só podem e devem fazer aquilo que já deviam ter feito, que é ajudar o povo líbio a libertar-se do ditador. E a Rússia também devia ter ajudado. Claro que há interesses por causa do petroleo, mas desta vez não foi o ocidente que despoletou a revolta. E os libios também têm direito à liberdade e à prosperidade. Portanto, a comunidade internacional tem o dever de ajudar a retirar o ditador o mais depressa possivel de forma a evitar mais derramamento de sangue de forma inutil.
A Russia devia apoiar o Ocidente nesta questão, até para também mandar um sinal para muitos outros ditadores por todo o mundo que tem 99,9% da riqueza dos paises onde 99,9% da população é pobre. Aí é que as coisas poderiam começar a mudar.

Pedro disse...

Mais uma vez a Rússia adopta um comportamento de contenção, de alguma cobardia.
Este ataque de verdadeiros animais a um pais com pouco poder militar devia ter uma forte oposição da China e da Rússia. Deviam votar contra na ONU e não e abster-se.

Estes animais da NATO parecem aqueles muidos da escola que se juntam vários e batem num mais pequeno, pober e ainda lhes roubam o pouco que tem.
Os Politicos do paises de NATO são uns verdadeiros sanguinários.
Se houvesse justiça deveriam ser enforcados. O que fizeram com os dirigentes Nazis no julgamento de Nuremberga era o que deviam fazer a Sarkozi, Berlusconi, Cameron, Obama, Bush, Barroso e muitos outros.
Que mal nos fez o Gadaffi? Alguém que me responda a esta questão sem roderios e artimanhas.

Persegue o seu povo?Eu tenho visto reportagems e mais reportagens e só vejo multidões em apoio dele.

Uma minoria revoltosa que começou a violência e ele ripostou é motivo para um ataque cobarde pelos paises ricos?
Se esse fosse o motivo teriam de atacar muitos mais paises, pois por todo o lado existem conflitos internos. Até em Espanha com a ETA. Devia atacar Madrid porque o governo espanhol persegue os Etarras?Pensem um pouco antes de debitarem aqui o que a máquina de propaganda nos tenta impor diariamente nos Jornais e TV's.

Poque é que os cobardolas da NATO não atacaram a China quando foi o massacre de Tianamen?Porque são cobardolas. Porque não atacaram a Russia quando foi a guerra com a Georgia ou a guerra da Tchechénia?
Porque são cobardolas de gravata.

Também já li e ouvi relatos de que as condições de vida na Libia são das melhores de africa e até ao nível de paises europeus. Porque tanta mentira descarada.
Antes eram as armas de Destruição Maciva egora repetem até á exaustão que o Gadaffi massacra o seu povo, quando na realidade temos a maioria do povo com Ele.

A Rússia e China mais uma vez estiveram mal. Tem de se juntar e falar melhor entre eles pois são a unica esperança que resta no mundo cada vez mais dominado por uma pequena elite que tem todo o desprezo por vidas humanas e que provocam rios de sangue por todo o lado apenas para expandir o seu poder.

PortugueseMan disse...

Isto é complicado meu caro.

E não há boas opções.

A decisão da Rússia de se abster na votação não quer dizer que quer agradar a gregos e troianos.

A posição da Rússia pode ser simplesmente que deve ser o próprio povo a decidir o seu destino. Ou este é capaz ou não de tirar de lá o ditador.

E a situação tal como está não sei se será muito melhor. Tudo depende de quantos estão do lado de khadafi e pelos vistos não são só mercenários do lado dele, há também muitos líbios.

Se ele tem parte da população do lado dele, uma intervenção externa vai prolongar o conflito. Aquilo é uma guerra civil e do ar não vão distinguir um civil de um civil armado e de que lado está.

Se Khadafi não pode usar os aviões e tanques, usa carros, motas, autocarros, etc.

Enfim, não há boas soluções para o problema.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro PM, boa justificação para a abstenção russa. Quanto ao resto, estou de acordo consigo.
Pedro, você deve sintonizar um só canal televisivo, o oficial líbio.

PortugueseMan disse...

Caro PM, boa justificação para a abstenção russa. Quanto ao resto, estou de acordo consigo...

Caro JM,

Quanto à justificação, detecto um "tom" irónico na sua resposta??

Pedro disse...

"Pedro, você deve sintonizar um só canal televisivo, o oficial líbio."

Senhor Milhazes, isto não é nada. Leu os meus argumentos?Então deve concordar que a NATO tem de começar a atacar muitos mais paises certo?

Eu não vi nenhum canal libio pois nem sequer nenhum site. Algumas coisas que falei passaram em canais Portugueses, mas também vi coisas em outros canais internacionas.

E se quiser pode também consultar a pagina da wikipedia sobre o indice de desenvolvimento humano.

A LIBIA tem está considerada em Categoria de "Desenvolvimento humano elevado"

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_pa%C3%ADses_por_%C3%8Dndice_de_Desenvolvimento_Humano.

Portanto tente arranjar alguns argumentos concretos para defender os Senhores da Guerra.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro PM, acertou na ironia. A coligação internbacional devia, inicialmente, distribuir passaportes dos seus países aos líbios para depois ter o argumento de ir em ajuda dos seus cidadãos, como fez a Rússia na Ossétia do Sul em 1998.
Caro Pedro, eu nunca defendi a guerra como forma de solução de problemas. No caso da Líbia, pode reler um texto que publiquei neste blog no início da crise.
Considero sim que a criação de uma zona de exclusão aérea devia ter sido tomada no início, quando a oposição a Khadafi controlava parte significativa na Líbia.
Concordo que uma intervenção militar terrestre poderá ter consequências muito negativas.
Quanto ao regime líbio, não há bem estar da população que justifique a eternidade de Khadafi no poder. O mesmo se diga em relação a outros regimes da zona como Arábia, Saudita, etc.

PortugueseMan disse...

Caro PM, acertou na ironia. A coligação internbacional devia, inicialmente, distribuir passaportes dos seus países aos líbios para depois ter o argumento de ir em ajuda dos seus cidadãos, como fez a Rússia na Ossétia do Sul em 1998...

Meu caro,

Vamos imaginar que você não concorda com uma intervenção externa.

Não tem proposta melhor para oferecer.

E vetar a resolução seria o mesmo que dizer que está do lado do Khadafi e desta vez são os franceses que pedem, para que seja aprovado.

Será que para si não existe o cenário de abstenção para caso algum?

E essa sua comparação com a Ossétia do Sul é muito pobrezinha meu caro.

Quanto a interesses na Libia, ninguém está inocente. Ou você sabe exactamente de que lado está a colição internacional?

Se existir uma parte significativa da população do lado do Khadafi o que pode fazer a coligação?

anónimo russo disse...

"Mas que "povo líbio"? Aquele que estava a ser massacrado e oprimido pelo coronel ou a família de Khadafi e o seu regime."

Claro que aqeles "grandes democratas" que estão agora a bombardear a Líbia só pensam na felicidade do povo líbio (como no Iraque algum tempo atras). Sem dúvida. As bombas democraticas, como sempre, semeiam a felicidade e a paz.

O que me aínda surpreende um pouco é como os média ocidentais tratam a sua população: tudo em preto e branco, os "rebeldes" bonzinhos contra um tirano sangrento, as "forças democraticas" internacionais a "libertar" mais uma vez mais um povo (como se sabe, o que conseguem melhor é libertar de uma vez de todos os sofrimentos desta vida, lançando bombas nas cabeças).
Se as posições de khadafi tinham sido tão fracas, nem o exercito o podia ajudar, acho eu. Parece, que nem tudo é tão simples. Mas a população ocidental pode dormir tranquilamente ao comer mais uma sanduiche de MCDonalds e ao ver mais um noticiário onde as "forças da democracia e da paz", como sempre, bombardeiam alguem muito mau e "lutam pela felicidade" de mais um povo. Um ambiente informativo e uns média iguais aos média sovieticas. Parabens.

Pedro disse...

Sr Milhazes, ainda bem que também não concorda com esta ofensiva sem sentido.
Em realação ao que disse:

"Considero sim que a criação de uma zona de exclusão aérea devia ter sido tomada no início, quando a oposição a Khadafi controlava parte significativa na Líbia."

Eles falaram em Zona de exclusão aérea, mas em vez disso o que fizeram?Começaram a bombardear Tripoli. Isto é que é impor zona de exclusão aérea?

Até nem com isso eu concordaria mas se de facto fizessem apenas isso de impor a tal zona a coisa ainda passava, mas parece que estavam mortinhos por ver coisas a rebentar.
Como pode haver tanta insanidade?
E aquele Sarkozy, a querer mostrar serviço a ser o primeiro a atiçar as coisas? Já ouvi dizer que o Gadaffi financiou a campanha eleitoral do Gadaffi, e é isto que recebe como recompensa. A França que sempre foi moderada em relação a outras aventuras no passado borra agora a pintura toda.

A politica ocidental tem de mudar, tem de ser muito mais pacifica.
Estamos a dar uma imagem péssima noutros paises, damos uma imagem de invasores, que só nos movemos por interesses petroliferos e geoestratégicos. Só que não somos nós, os povo, os culpados, são os que detem o poder pela força e pelo poder fincanceiro. São mentiros, falsos, matreiros.
Pelos povos em si havia paz, porque a maioria das pessoas ocidentais é pacifica e os outros povos do mundo também.

Wandard disse...

Caro Sr. Milhazes,

A abstenção não foi somente da Rússia e sim dos BRIC mais a Alemanha, além disso a resolução que foi aprovada foi referente à criação de uma "Zona de Exclusão Aérea", salvo a nomenclatura bonita, na prática trata-se de uma operação militar aérea cujo objetivo seria impedir que a aviação líbia levantasse vôo para atacar as posições rebeldes, operação por sinal tão bem entendida pelos militares líbios que imediatamente declararam um cessar fogo com o objetivo de não terem sua Força Aérea e respectivas bases aéreas atacadas pela "COALIZÃO". Acima de qualquer discussão, primeiramente a ONU cada vez mais mostra ser um organismo fantoche, a começar pela sua sede localizada nos Estados unidos, quando deveria estar em um país neutro, em segundo pela escolhas dos Secretários Gerais, que praticamente são definidos de acordo com os interêsses dos Estados Unidos. Outro detalhe que deve ser levado em consideração à situação da Líbia sem desconsiderar é claro a ditadura de Kadhafi, é que estes "protestos" e a consequente rebelião, mostrou a presença do lado opositor de homens com treinamento militar e que não são integrantes das forças líbias, e a intrigante participação do lado rebelde de mercenários da Blackwater e Halliburton em Benghazi e Tobruk. Ao que tudo indica o desespero da França, Eua e Grã-Bretanha foi o de ver que kahafi terminaria vencendo a suposta guerra civil, visto que os mercenários ucranianos ex-integrantes Spestnaz da era soviética, mostraram-se superiores aos homólogos da "Nação mais poderosa do mundo"

Por fim a ação da "Coalizão", não tem nada de mal preparada, é interessante como a diplomacia busca palavras suaves e calculadas para expor determinadas situações, tanto que atacaram um dos palácios de kadhafi, que com certeza deve ser um centro militar importante para a decisão 1973 da Onu, um alvo decisivo para garantir uma "ZONA DE EXCLUSÃO AÉREA". o que vemos aqui é continuidade do que os Estados Unidos tentaram nos anos 80 e já conseguiram com o Iraque, retirarem seus opositores no Oriente Médio do caminho para terem acesso livre ás abundantes reservas de petróleo, agora mais ainda com a participação dos aliados europeus que voltam a repetir sua atuação dos tempos das cruzadas, na época com a desculpa de Jerusalém, mas cujo objetivo eram as rotas comerciais e as riquezas do oriente. Nada mudou, apenas a hipocrisia se tornou cada vez mais latente, a cultura europeia melhorou e o palavreado se tornou mais floreado para justificar assassinatos, invasões, e o roubo dos recursos de nações soberanas.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caros leitores, eu sempre escrevi que em Direito Internacional não há amigos, nem moral, mas simplesmente interesses. E isto diz respeito a todos os membros da comunidade mundial.
Além da criação de uma zona de exclusão aérea, a resolução da ONU sublinha que“os Estados membros podem tomar todas as medidas necessárias para proteger os civis e as zonas povoadas sob a ameaça de ataque”, ou seja, é muito mais abrangente. Por isso, os países que se anbstiveram na votação sabiam que o resultado seria este.
Caro PM, a comparação entre a Ossétia do Sul e a Líbia não é assim tão pobrezinha como possa parecer. A operação da Rússia na Ossétia do Sul não teve autorização de ninguém, queira você ou não, tratou-se de uma ingerência militar externa nos assuntos da Geórgia.
Mesmo que tenham sido as tropas georgianas as primeiras a entrarem na Ossétia do Sul, esta região é, segundo a ONU, parte do território georgiano.
Por isso, à luz do Direito Internacional, a intervenção na Líbia é muito mauis legítima, a não ser que você me queira dizer que a Rússias tem direitos especiais no antigo espaço soviético.
Quanto à política dos países ocidentais em relação ao regime de Khadafi, nunca a defendi nem a apoiei, e não ficaria surpreendido se se viessem, a provar acusações de de Khadafi financiou este ou aquele político. A política da Grã-Bretanha face ao coronel, por exemplo, é outro exemplo da imoralidade nas relações internacionais.
Porém, não concordo com os defensores da política do senhor Khadafi, que o querem apresentar como um cordeirinho manso. Neste sentido, a esquerda comunista tem sido particularmente activa. Pergunto, o que fez e o que faz Khadafi com os militantes de esquerda comunista? É isso mesmo: mata-os como fez e faz em relação aos outros opositores.
Por isso, é preciso separar as águas: a intervenção militar internacional pode ser criticada e até condenada, mas não pode ser utilizada para branquear o regime do coronel. Sejamos consequentes.

PortugueseMan disse...

Caro Wandard,

Relativamente à zona da exclusão aérea a resolução do ONU, vai bem mais além que isso:

Ponto 4 da resolução 1973:

4. Authorizes Member States that have notified the Secretary-General, acting nationally or through regional organizations or arrangements, and acting in cooperation with the Secretary-General, to take all necessary measures, notwithstanding paragraph 9 of resolution 1970 (2011), to protect civilians and civilian populated areas under threat of attack in the Libyan Arab Jamahiriya, including Benghazi, while excluding a foreign occupation force of any form on any part of Libyan territory, and requests the Member States concerned to inform the Secretary-General immediately of the measures they take pursuant to the authorization conferred by this paragraph which shall be immediately reported to the Security Council;

Parece-me que ficaram com carta branca para atacarem o que quiserem, só não podem lá meter os pés, isso fica para os rebeldes.

PortugueseMan disse...

Caro JM,

Caro PM, a comparação entre a Ossétia do Sul e a Líbia não é assim tão pobrezinha como possa parecer. A operação da Rússia na Ossétia do Sul não teve autorização de ninguém, queira você ou não, tratou-se de uma ingerência militar externa nos assuntos da Geórgia.
Mesmo que tenham sido as tropas georgianas as primeiras a entrarem na Ossétia do Sul, esta região é, segundo a ONU, parte do território georgiano.


Não misture as coisas meu caro. A Rússia já tinha autorização para se mexer e ela já estava no terreno.

E isso é RECONHECIDO.

O que a Rússia procurou foi uma resolução clara que desse o aval para poder entrar pela Geórgia adentro e atacar as forças militares da Geórgia que participavam na ofensiva.

A Rússia era uma força de interposição na zona e mandatada para isso. Não me venha com essa de ingerência militar externa. Eles estavam lá para impedir o conflito entre ambas as partes.

Queira você ou não, a Rússia podia fazer o que fez, excepto entrar no território da Geórgia em perseguição das forças atacantes.

Não existe comparação entre a Líbia que é um regime ditatorial e a Geórgia que é uma democracia e um país dividido, com forças de manutenção de paz (na altura) no terreno.

PortugueseMan disse...

...
a resolução da ONU sublinha que“os Estados membros podem tomar todas as medidas necessárias para proteger os civis e as zonas povoadas sob a ameaça de ataque”, ou seja, é muito mais abrangente. Por isso, os países que se anbstiveram na votação sabiam que o resultado seria este...


Caro JM,

Está tudo muito certo, mas num fim de semana já lançaram mais de 200 mísseis Tomahawk, fora os mísseis e bombas lançados pelos os aviões.

Está a existir um grande bombardeamento, em várias zonas. A mim faz-me pensar que a facção pró-Khadafi é maior do que a imprensa nos diz. Neste caso podemos considerar que um ataque em grande escala não visa proteger os civis, mas sim alterar o curso da guerra civil.

Bom, mas o mandato da ONU, VISA proteger os civis, usando todos os meios excepto o uso de forças terrestres, mas se os ataques estão a ser mais do que isso, podemos considerar então que o que está a ser feito é acabar com o regime, tomar partido de uma das partes.

Mas se os rebeldes começarem a bombardear as zona pró Khadafi, onde estão civis pró Khadafi, estes também vão ter que ser atacados.

Tanto se pode dizer que a coligação está a proteger os civis, como se pode dizer que a coligação está a participar na guerra.

E temos aqui material para muitos mais civis morrerem.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro PM, as forças militares russas não tinham mandato nenhum para invadir a Ossétia do Sul e,depoios, o território da Geórgia propriamente dito. Deviam desempenhar a missão de capacetes azuis, mas foram sempre parciais no conflito.

PortugueseMan disse...

...Deviam desempenhar a missão de capacetes azuis, mas foram sempre parciais no conflito...

Se deviam desempenhar a missão de capacetes azuis, e vamos esquecer a parte do "parcial" que você "esquece-se" que do outro lado a Geórgia não estava a actuar sózinha, mas para si isso não deve contar como coisa parcial, diga-me num ataque em grande escala como a que vimos pela forças da Geórgia, qual a missão dos capacetes azuis?

Anónimo disse...

Caro Everardo,

O que se passo na Geórgia?

Pippo disse...

Caro JM, as forças militares russas não invadiram a Ossétia do Sul. Os russos já lá estavam e as unidades proveniente do Norte do Cáucaso vieram repor o status quo ante, alterado com a invasão (essa sim, uma verdadeira invasão) por parte das forças georgianas, que não estavam presentes naquele território há quase 20 anos.

A invasão da Geórgia, propriamente dita, voi um extravasamento da actuação das forças russas, plenamente justificável sob a óptica militar, similar à invasão da Coreia do Norte em finais de 1950 pelas forças da NU.

Em comparação com a situação na Líbia temos, portanto, duas situações diferentes: uma em que o interveniente "estrangeiro" já estava no terreno (e com mandato para tal) e foi atacado pelo invasor; e outra em que os intervenientes estrangeiros não têm interesses imediatos no terreno e foram mandatados para fazer "o que for necessário" com vista a salvaguardar a vida de civis.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Pippo, a Rússia tinha mandato para manter separadas as partes do conflito (Geórgia e Ossétia do Sul) através de destacamentos regulares. Em, Agosto de 2008, entraram na Ossétia do Sul tropas russas que quase chegaram a Tbilissi sem qualquer tipo de mandato de ONU ou OCSE. São coisas completamente diferentes.
Além disso, a intervenção russa levou à divisão de um país, em arrepio das normas internacionais.
E se a Rússia teve direito de fazer autênticos massacres na Tchetchénia em nome da defesa da integridade territorial, porque é que a Geórgia já não tem o mesmo direito de defender a sua unidade?
As normas do Direito Internacional deveriam ser cumpridas por todos, mas o direito da força impôs-se no Kosovo, na Geórgia, etc.

Pippo disse...

Caro JM, está a confundir as coisas.

Quem, em Agosto de 2008, entrau na Ossétia do Sul de forma violente foram os georgianos, e não os russos. Estes estavam quietinhos sem fazer mal a ninguém, nos seus postos ou nos seus quartéis, e foram atacados de surpresa. Se os russos tivessem esperado por uma resolução da ONU já os georgianos estariam a tapar o túnel de Roki com betão.
Quanto ao passeio até Tbilissi, se os russos o quisessem te-lo-iam feito. Sob a lógica militar, o que eles fizeram fez todo o sentido.
Portanto, só tem razão numa coisa: são, de facto, coisas completamente diferentes.

A intervenção russa não levou à divisão de um país, este já estava "de facto" dividido, faltava apenas o seu reconhecimento "de jure". Foi a actuação violenta dos georgianos que levou ao espoletar da situação de separação e do reconhecimento legal.

E quanto à legitimidade que a Rússia tem e a Geórgia não tem, há umas diferenças assim pequeninas, que o JM sabe bem quais são. É que, da última vez que soube, os ossetinos não andavam a explodir bombas em Tbilissi, a fazer reféns em hospitais em Gori ou a exportar revoluções nacionalistas ortodoxas para outras partes da Geórgia. Já os Chechenos...

anónimo russo disse...

"Blogger Jose Milhazes disse...

Caro Pippo, a Rússia tinha mandato para manter separadas as partes do conflito (Geórgia e Ossétia do Sul) através de destacamentos regulares. Em, Agosto de 2008, entraram na Ossétia do Sul tropas russas que quase chegaram a Tbilissi sem qualquer tipo de mandato de ONU ou OCSE. São coisas completamente diferentes.
Além disso, a intervenção russa levou à divisão de um país, em arrepio das normas internacionais.
E se a Rússia teve direito de fazer autênticos massacres na Tchetchénia em nome da defesa da integridade territorial, porque é que a Geórgia já não tem o mesmo direito de defender a sua unidade?"



Vitimas entre a populaçao civil na Tchetchnia não foi um "massacre". Tanto mais que, segundo entendo, quem quisesse tinham tempo de fugir. Eu até conheço um pouco uma pessoa que é um parente de uns parentes meus, já velho, que não se sabe por que raio, sendo russo, decidiu ficar em Grozny no inverno de 1994-1995. Ninguem o massacrou. Claro que, segundo entendo, teve de se esconder nos caves durante algum tempo. Mas foi uma guerra.

Zuruspa disse...

A Rússia alinha pela maioria dos países, näo gosta do Kadafi, mas näo está a ver que a alternativa seja melhor.

Pelo menos sabe-se bem de que lado está o "Ocidente": do lado de quem lhe deixa apropriar-se do petróleo!
Parece é que os rebeldes perdoaram a dívida à França... e será que a Portugal?

A Líbia é estranha. É o país africano com maior Índice de Desenvolvimento Humano. É do petróleo? A Nigéria também o tem, e veja-se o IDH deles...
Tem (tinha) 30% de desemprego, mas haviam largos milhares de tunisinos e egípcios lá a trabalhar (que os rebeldes foram assaltando, se näo matando, ao pör-se em fuga.
E os tais 30% de desempregados recebem subsídios de desemprego bem alto para os padröes magrebinos.
A repressäo do regime era muito normal para os padröes africanos. Bem pior é a da Argélia, para näo falar de... Costa do Marfim, Nigéria, ...

Depois, o Kadafi é mau, mas näo se sabe quem está por detrás dos rebeldes. Alguns que eram "políticos moderados" afinal säo fundamentalistas islämicos. E os rebeldes começaram por matar polícias e assaltar quartéis, fazendo uma insurreiçäo *armada*. Näo os vejo muito pacíficos, antes pelo contrário, e os imigrantes que o digam.
Na Tunísia e Egipto, e também no Barain e Iemen, o povo todo saiu à rua *sem armas*, e assim continuou. Na Líbia a revolta é essencialmente na Tripolitänia, regiäo do petróleo, que desde 1969 se opös à república--tanto que hasteiam a bandeira da monarquia feudal, e näo a da República Árabe (parecida com a do Egipto). Li que desde que o regime abriu ao Ocidente, a contrapartida foi privatizar muita da indústria do petróleo, o que meteu muitos chefes da tribo tripolitana fora das apetecidas direcçöes das empresas. Logo querem ser é o califa em vez do califa, serem eles os ditadores, näo têm nada a ver com democracia.

Há aqui algo muito mal-cheiroso. Para além da nafta.

Anónimo disse...

"Caro PM, as forças militares russas não tinham mandato nenhum para invadir a Ossétia do Sul e,depoios, o território da Geórgia propriamente dito" - tem razao sr. Milhazes, por isso a Russia devia ser bombardeada pela NATO, nao?
Kaddafi deve sair mas tem que ser o povo libio a po-lo na rua, ha outras formas de ajuda ... e o Bahrain? Arabia Saudita? A Siria se houver manifestacoes, talvez seja bombardeada...

Jest nas Wielu disse...

Claro, é como as sanitas /sapatos / talheres georgianas, que em 2008 eram “libertadas” pelo 58° exército russo ...

Anónimo disse...

Voces são informados e inteligentes, usem as informações e inteligencia de voces para acharem solução quando as armas das grandes potências se voltarem contra o Brasil para saquearem a nossa água petróleo ou seja nossas riquezas naturais, não fiquem só esnobando conhecimentos que os simples não estão por dentro. Um abraço a todos.

Anónimo disse...

para aquela perguntinha porque nao atacam a russia.
e porque quem tem c. tem medo, pois a resposta seria catastrofica.porque nao intervir na africa, la estao a dezenas de anos matando gente, aides espalahando a morte por toda africa, doencas das mais variadas por la se propagam.para julgar o gadaffi, ou outro qualquer, tem que ser incluidos os arrogantes senhores da guerra.
ja mataram o sadam,os nazistas, os facistas, quem sera a bola dez o iraniano?.va de retro sacanaz.

Anónimo disse...

tem rato na cozinha da O N U.
quem sera a bola da vez, o iran, venezuela ,brasil ???
quem quem sera. disseram uma vez, que americano nao faz trato com terroristas, o que sera da dilminha hein hein, afinal, o brasil tem muito mais riquezas a saquear que a libia.