quinta-feira, março 03, 2011

Revoluções “infiltraram-se” nos países de África através dos canais de tráfico de droga



A enorme concentração de tráfico de droga no Norte de África não só ameaça a União Europeia, mas desestabiliza também a situação em todo o continente africano, o que já provocou golpes de Estado numa série de países, declarou hoje Victor Ivanov, diretor do Serviço Federal de Controlo de Drogas da Rússia (SFCDR).

“E devo dizer que a situação que se cria não é nada simples. Nas últimas décadas, no “baixo-ventre  mediterrânico” dos países da União Europeia formou-se um grande potencial destrutivo devido às drogas, que constitui uma enorme ameaça aos habitantes da UE”, disse Ivanov durante uma visita a Roma.

Segundo ele, em África, principalmente na região do Saara, confluem várias correntes potentes de tráfico de drogas.

“Primeira, trata-se do tráfico cada vez mais poderoso de cocaína da América Latina através dos Estados da África Ocidental e Setentrional para a Europa. A segunda corrente é de heroína e entra na Europa também através do Norte de África”, frisou.

Além disso, Ivanov fala de um terceiro fluxo, de haxixe, que é produzido em Marrocos e também entra na UE através do Norte de África.

“Em grande parte, a enorme concentração desses tráficos no Norte de África, por um lado, ameaça os cidadãos da UE, e, por outro lado, destabiliza a situação em toda a África”, acrescentou.

Segundo o SFCDR, foram precisamente esses tráficos e a luta pelo seu controlo que “provocaram golpes de Estado numa série de países de África”.

“Basta recordar os acontecimentos na Guiné, o golpe de Estado na Guiné-Bissau, que terminou com o assassinato do presidente, o golpe no Níger e na Mauritânia”, precisou.

“Segundo os nossos dados, foram precisamente os tráficos e o movimento gigante de drogas, que originaram criminalidade organizada, cartelização, que conduziram à destabilização da situação na Nigéria, Costa do Marfim, provocaram convulsões na Argélia, Tunísia, Líbia e Egito”, acrescentou.

O chefe SFCDR explicou que as drogas têm duas consequências conhecidas: influência negativa na saúde e na ordem pública.

“Mas há uma terceira consequência que está ligada ao movimento global de grandes quantidades de drogas: problemas ligados à desestabilização das situações políticas, dos regimes, que têm sérias consequências políticas”, sublinhou.

“Figuralmente falando, pode-se dizer que a revolução nesses países infiltraram-se pelos canais de tráfico de drogas”, concluiu Ivanov.

P.S. Os dirigentes russos já apresentaram quatro justificações para as "revoluções" no Norte de África e no Médio Oriente. O Presidente Medvedev atribuiu a "eles", sem exemplicar; o vice-primeiro-ministro russo; Iúri Setchin, acusou o "Google"; o ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, atribui os levantamentos à pobreza e outros problemas sociais; Victor Ivanov fala do narcotráfrico. 
Em que ficamos?

1 comentário:

Pippo disse...

JM, em lugar de simplesmente se indagar sobre "em que ficamos, poderia ter feito uma análise das declarações relativamente à situação que se vive naqules países.

Penso que Victor Ivanov está a ligar duas situações distintas.
Na minha opinião, extrapolar o gravíssimo problema do tráfico na África Ocidental e Sahel para os problemas sócio-económicos no Magrebe e Macherreque é um exagero.

A análise de Ivanov relativamente aos primeiro grupo de países está correcta: os carteis de tráfico fazem política naqueles territórios, fazem circular quantias avultadíssimas de dinheiro e têm por objectivo destabilizar a região de molde a poderem facilitar as suas actividades. Onde o poder do Estado é fraco, o crime prolifera. Por isso é que a Guiné-Bissau é um paraíso para os carteis internacionaisde cocaína;
Contudo, o que espoletou as actuais revoluções no Norte de África foram as más condições económicas e as frustradas expectativas de vida de boa parte da população activa daqueles países, aliadas à percepção de que isso só ocorre porque são os mesmos que se têm mantido na cadeira do poder à décadas.
É óbvio que não existe aqui qualquer ligação ao tráfico de droga, o que não impede os grupos de traficantes de desejarem convulsões sociais para apanharem eventuais oportunidades.
Duvido, contudo, que elas surjam.