sexta-feira, abril 29, 2011

Contributo para a História de Portugal (Navegadores russos e Império Colonial Português) 3ª parte



Notas importantes sobre as colónias portuguesas do Brasil e de Macau estão contidas no livro “Viagem de circum-navegação no navio “Neva” em 1803-1806”, escrito pelo almirante Iúri Lissianski, que comandava o segundo barco da expedição de Kruzenshtern (6).

É também de assinalar “Cartas de marinheiros russos do Brasil para o Sr. N.N”, escritas pelo oficial Makar Ratmanov (7).

Entre 1807 e 1809, o veleiro “Diana”, sob o comando do tenente Vassili Golovnin, realizou mais uma viagem à volta do mundo, tendo o oficial russo publicado o diário de bordo com informações interessantes sobre o Brasil.(8) Mas voltaremos mais abaixo a este oficial da marinha russa, durante a sua segunda viagem, quando passa pelos Açores...


... Passadas as guerras napoleónicas, a Rússia volta novamente às viagens de circum-navegação. Entre 1819 e 1821, Fabian Gottlieb Thaddeus von Bellingshausen comanda uma expedição que, entre outros objectivos, descobre a Antártida.
Bellingshausen deixou-nos um diário de bordo com algumas notas  sobre a vida no Rio de Janeiro: “A cidade, embora situada de forma bastante correta, mas as ruas, na sua maioria, são estreitas; há algumas praças boas e casas de dois andares; no andar de baixo estão lojas ou oficinas, tais como: merceneiros, sapateiros, alfaiates, polidores de pedras, ourives de prata e ouro, etc. Nos andares estão as habitações. O lixo e todas as porcarias são atirados directamente para as ruas; ao fim da tarde, quando escurece, é impossível andar perto das casas sem correr o risco de ser molhado do andar de cima; na cidade, em geral, é evidente uma sujidade horrível”. (21)
O oficial russo fica impressionado com o peso da religião na vida do Rio de Janeiro: “Todas as colinas estão ocupadas por mosteiros, que enfeitam o aspecto externo da cidade. Pode dizer-se que só quase os monges gozam aqui de ar saudável e das agradáveis vistas das alturas. Durante a nossa permanência, quase diariamente víamos nas ruas e templos procissões; a julgar por isso, um estrangeiro desprevenido concluiriado gosto  dos habitantes locais para festas”.
O tráfico de escravos não passou despercebido ao oficial russo: “Aqui encontram-se várias tendas onde se vendem negros: homens, mulheres e crianças. Quando se entra nessas tendas asquerosas, vê-se várias filas de negros sentados, cobertos de tanga, os pequenos à frente e os grandes atrás. Em cada tenda encontra-se permanentemente um dos portugueses ou dos negros anteriormente trazidos; é dever desse guarda tentar apresentar esses infelizes da melhor e mais alegre forma quando chegam os compradores. Ele tem na mão um chicote ou uma vara; quando faz um sinal, eles levantam-se, depois saltam entoando canções de dança; se algum deles, segundo o vendedor, olha, salta ou canta de forma insuficientemente alegre, ele incute-lhe vivacidade com a vara. O comprador, depois de escolher o seu escravo, tira-o da fila, vê-lhe a boca, apalpa-lhe todo o corpo, bate-lhe com as mãos em diferentes partes e, depois desses exames, ficando convencido da resistência e saúde do negro, compra-o. Na nossa presença foi vendido um por 200 taleres espanhóis. Na tenda feminina está tudo disposto da mesma ordem, mas com a diferença de que as negras estão cobertas à frente por um pequeno pedaço de tecido azul e algumas tèm também os peitos cobertos. Na tenda entraram connosco uma velha e uma jovem menina; eram portuguesas. Depois de combinarem o preço de uma jovem negra, viram-lhe a boca, levantaram-lhe as mãos e afastaram o pedaço de tecido do peito; finalmente, a velha apalpou a barriga com ambas as mãos; parece que o preço pedido pelo dono era demasiadamente grande e elas não compraram essa negra e foram para outra tenda. A revista, a venda, a sujidade, o cheiro nauseabundo exalado pelos numerosos escravos e, finalmente, a vigilância bárbara com chicote ou vara, tudo isso provoca nojo em relação ao dono desumano da tenda”. (22)
Os comandantes dos navios russos, que chegaram a 2 de Novembro de 1821, foram recebidos pelo rei D.João VI a 9 do mesmo mês: “o rei honrou-me com algumas perguntas sobre o Rio de Janeiro, sobre o porto, sobre o objectivo da nossa viagem, e, depois das saudações normais, fez uma vénia e nós curvámo-nos até à cintura e recuámos sem virar as costas, enquanto o rei, que se afastava de nós, virava-se de todas as vezes para receber a vénia”. (23)

5 comentários:

Anónimo disse...

"Os comandantes dos navios russos, que chegaram a 2 de Novembro de 1921, foram recebidos pelo rei D.João VI a 9 do mesmo mês:"

Dr Milhazes, esta data, 1921, parece não estar correcta?

Cpmts


Nuno

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Nuno, tem toda a razão, já emendei o erro. Obrigado.

Jest nas Wielu disse...

KGB nos estados Bálticos (documentos de arquivos da KGB):
http://www.kgbdocuments.eu/index.php?244582505

Jest nas Wielu disse...

Putin e as crianças (comparar com Obama):
http://drugoi.livejournal.com/3546247.html

anónimo_russo disse...

"Blogger Jest nas Wielu disse...

KGB nos estados Bálticos (documentos de arquivos da KGB):
http://www.kgbdocuments.eu/index.php?244582505"


Até quando vai invadir temas interessantes com os seus "fora do tema"?

Atrocidades dos nacionalistas ucranianos sob comando de Bandera (UPA) contra polacos. Não é recomendavel ver às mulheres e, especialmente, às crianças.


http://www.topwar.ru/129-zverstva-upa-istreblenie-polskogo-naseleniya.html